No dia em que se celebram os 25 anos da criação da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, o presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados do Brasil, Aécio Neves, escreve sobre as origens da criação do grande grupo lusófono
Há
25 anos germinava uma semente plantada há mais de meio século na política
brasileira: nascia, em Lisboa, a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa –
CPLP. Costuma-se remontar o processo de criação da CPLP à histórica cimeira de
São Luís do Maranhão, que reuniu, pela primeira vez, chefes de Estado e de
governo dos países de língua portuguesa. No entanto, nesse primeiro jubileu de
prata, gostaria de resgatar a herança de Agostinho da Silva, o principal
semeador de nossa Comunidade.
O
professor Agostinho, como é conhecido entre nós, brasileiros, deixa Portugal em
1944 e busca abrigo no Brasil, onde se naturalizou em 1958. Ao chegar, encontra
terreno fértil para o resgate de tradições locais e, por meio destas, relançar
a universalidade da lusofonia. Neste Brasil da década de cinquenta, quando
fervilhavam ideais de autonomia e desenvolvimento, Agostinho aproxima-se de
duas figuras chaves na política brasileira: Afonso Arinos de Melo Franco e José
Aparecido de Oliveira. Ali começa a germinar a semente cujo primeiro broto, no
Brasil, é a Política Externa Independente, com seu viés africanista e o apoio
ao processo de descolonização. A partir desta semente de autonomia no
universalismo, semeada por Agostinho, chegamos à cimeira de São Luís, em 1989,
e à fundação formal da CPLP, em 1996.
Fomos
sete na criação. Hoje, somos nove países que buscam aprimorar sua capacidade de
cooperação. E estamos bem acompanhados: nesses 25 anos, 18 nações amigas se
tornaram Estados associados à CPLP. Neste “mundo, mundo, vasto mundo”, como
diria o poeta Carlos Drummond de Andrade, mais do que países, nossa língua
reúne povos. Essa era a principal mensagem do professor Agostinho e dos Centros
de Estudos Afro Orientais que fundou nas universidades brasileiras.
Também
em Agostinho devemos buscar inspiração para enfrentarmos os desafios do
presente. Para ele, todo projeto de comunidade terá sempre três “S” em sua
raiz: saber, sustento e saúde. E, nestes eixos, nossa CPLP buscou aprofundar
sua cooperação. Temos, hoje, uma cooperação em agricultura e segurança
alimentar bem estruturada, por meio do Conselho de Segurança Alimentar e
Nutricional (CONSAN) e do compartilhamento de experiências na produção de
alimentos. Mas podemos avançar também no compartilhamento de tecnologias de
sustentabilidade da produção.
Na
área de saúde, tão central no contexto atual, aprovamos o Plano Estratégico de
Cooperação em Saúde. Mas também podemos fazer mais. O presente desequilíbrio entre
vacinados e não vacinados no mundo é inaceitável. Temos, no Brasil,
instituições capazes de contribuir para aumentar a produção mundial de vacinas
e medicamentos.
Para
isso, o Congresso brasileiro trabalhou com afinco e aprovou a modernização da
nossa lei de patentes, permitindo que, em situações de pandemia, possamos
avançar de forma rápida e conjunta na produção e distribuição de medicamentos.
Nossa
cooperação na agenda de clima também precisa se aprofundar. O Brasil tem matriz
energética limpa e larga experiência em tecnologias verdes. Devemos avançar a
transferência de tecnologia dentro dos países da CPLP. Não será discriminando a
agricultura tropical que vamos superar os desafios da mudança do clima. Não nos
esqueçamos de que milhares de cidadãos em nossos países dependem da agricultura
para gerar renda e sustento.
Os
tempos não são fáceis e extremismos abundam mundo à fora. Mas nós, na
lusofonia, vamos iniciar nossa jornada rumo aos próximos 25 anos da CPLP já de
posse do recém-concluído Acordo sobre Mobilidade entre os Estados Membros da
CPLP, celebrado em julho deste ano, em Luanda. Quanto mais mobilidade, maior
nosso sentimento de pertencimento a nossa comunidade e maiores são as trocas
entre os povos.
Diante destes desafios, o Congresso Nacional no Brasil prepara-se para aprofundar nossa cooperação parlamentar. Nossos parlamentos congregam a pluralidade e a riqueza de nossas sociedades. É nos Parlamentos que a língua se manifesta em sua forma mais concreta, aquela da ação política e a da transformação da realidade. À luz da herança de Agostinho da Silva, é com profunda honra que saúdo a todos, em nome da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara dos Deputados do Brasil, e os convido a homenagearmos os 25 anos da nossa Comunidade de Países de Língua Portuguesa. Aécio Neves – Brasil in “Semanário Expresso”
Aécio Neves -
Presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos
Deputados do Brasil
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