Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

segunda-feira, 31 de outubro de 2022

Macau - Jovens da RAEM são o futuro das relações sino-lusófonas, defendeu Liu Xianfa


O Comissário do Ministério dos Negócios Estrangeiros sublinhou que para desempenhar bem esse papel, os mais novos devem estar cientes da visão correcta da história. O responsável do Governo Central falou durante a cerimónia de encerramento do programa de intercâmbio juvenil entre a China e os Países de Língua Portuguesa, que contou com a participação de 50 alunos.

O Comissariado do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, juntamente com o Governo da RAEM, promoveu o programa de intercâmbio juvenil entre a China e os Países de Língua Portuguesa, que teve lugar de 26 a 28 de Outubro.

Esta sexta-feira, durante a cerimónia de encerramento do programa e entrega dos prémios do concurso de vídeos curtos, o Comissário do Ministério dos Negócios Estrangeiros sublinhou a importância dos jovens no futuro e, em particular, no futuro das relações sino-lusófonas. “Ponto de encontro das culturas chinesa e ocidental, e também ponte de ligação entre a China e os países de língua portuguesa, Macau desempenha um papel insubstituível na promoção do intercâmbio cultural entre a China e o Ocidente, bem como no intercâmbio e cooperação entre a China e os países de língua portuguesa. Espera-se que os jovens de ambos os lados possam aprender com os pontos fortes de cada um e aprender uns com os outros, de modo a contribuir para o desenvolvimento comum e a prosperidade da China e dos países de língua portuguesa”, notou Liu Xianfa, acrescentando que o evento serve como “uma oportunidade para fortalecer os intercâmbios, reforçar a amizade e formar bons jovens embaixadores da amizade sino-portuguesa”.

No que à entrega dos prémios do concurso de vídeos curtos diz respeito, o primeiro lugar foi atribuído, em ex–aequo, ao grupo May – composto por duas estudantes angolanas e uma estudante chinesa radicada no Brasil -, da Universidade de Macau, e à aluna da Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau (MUST) Cheang Son In, num concurso em que participaram 33 equipas, umas formadas em grupo, outras individuais.

Zhang Congyi, uma chinesa oriunda do norte da China, mas radicada no Brasil desde criança, foi uma das vencedoras do grupo May. A jovem admitiu aos jornalistas que “a finalização do vídeo demorou bastante, mas valeu muito a pena”. “Reflectimos muito sobre o intercâmbio cultural entre a China e os países de língua portuguesa. A cultura e o pensamento são bastante diferentes, mas mesmo sendo diferentes podem cooperar muito bem”, referiu.

Já a sua colega de grupo, a angolana Augusta Mateus Mendes, nascida em Luanda, admitiu que o que se ouve antes de se vir, pela primeira vez, para a China é muito diferente daquilo que realmente se vê quando se chega cá. “Aquilo que maioritariamente nós ouvimos no nosso país, que não vamos gostar, que são etnias diferentes e culturas diferentes. Eu pude ver que não. Vale pena ter de viver realmente a vida daquele país, daquele povo. Com esta actividade pude ganhar muito conhecimento. Pude ter uma percepção diferente daquilo que é a economia dentro da China e fora da China, dentro do meu país. É uma satisfação levantar o prémio e dizer que valeu a pena Angola estar em colaboração com a China”, notou.

De acordo com a organização, os vídeos curtos foram uma forma de os jovens expressarem as suas emoções, “e os jovens chineses e portugueses não são excepção”. Um dos júris da competição, o sinólogo brasileiro Giorgio Sinedino, afirmou que “os vídeos participantes apresentam histórias reais com a voz do povo, e os seus pontos de vista são objectivos, precisos e sinceros. Espalham em voz alta a amizade entre os países de língua portuguesa e a China sem fronteiras, e também desempenhou um papel, no papel de Macau como país. O papel especial da ponte sino-portuguesa”.

O evento serviu ainda para levar os jovens numa visita à Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau para ver o projecto no local, “sentir a vitalidade da construção da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau e o sucesso na prática de ‘Um País, Dois Sistemas’”. Tempo ainda houve para uma visita à plataforma de serviços de cooperação empresarial entre a China e os países de língua portuguesa, para a prática desportiva, para uma visita à Universidade Politécnica de Macau, outra ao Museu de Macau, diversas palestras sobre a cultura oriental e ocidental de Macau, política externa chinesa e actividades de vivência cultural como fazer culinária portuguesa ou escrever caligrafia chinesa. Gonçalo Pinheiro – Macau in “Ponto Final”


 

Portugal – Immunethep vai testar nova vacina multibacteriana em humanos

Financiamento superior a 2 milhões de euros atribuído pelo Conselho Europeu de Inovação vai permitir à Immunethep avançar com os primeiros ensaios clínicos em humanos da Paragon Novel Vaccine (PNV)


A Immunethep, uma empresa spin-off da Universidade do Porto responsável pela conceção da primeira vacina eficaz e totalmente voltada para a prevenção de infecções provocadas por todos os serotipos de um conjunto de bactérias, foi uma das 75 startups selecionadas pelo Conselho Europeu de Inovação (EIC) para receber financiamento ao abrigo do programa EIC Accelerator.

A startup portuense receberá, inicialmente, 2,5 milhões de euros, ficando elegível para um investimento de capital adicional do EIC Fund que totaliza mais de 17 milhões de euros. A Immunethep destacou-se, assim, entre mais de 1000 candidaturas provenientes de toda a Europa.

O EIC Accelerator é um programa que pretende investir e financiar, através do Fundo do EIC, startups ou pequenas empresas que se encontrem a desenvolver e acelerar inovações disruptivas.

O valor do financiamento será aplicado nos primeiros ensaios clínicos em humanos da Paragon Novel Vaccine (PNV), sendo a primeira vez que uma vacina multibacteriana entra em ensaios clínicos.

O processo de candidatura da Immunethep demorou cerca de 1,5 anos, com várias fases que culminaram numa entrevista frente ao júri do programa. Ao longo de todas essas fases os projetos foram avaliados segundo critérios como mérito científico, potencial disruptivo e capacidade de criação de valor, em cujos a spin-off U.Porto se destacou, sendo uma das escolhidas.

Os dados clínicos observacionais obtidos no âmbito deste acordo foram também um fator relevante para o sucesso da candidatura ao EIC, contam os responsáveis da Immunethep. Além disso, referem, foi também muito importante a colaboração da SNAP! Partners e da Margrit Schwarz que atualmente incorpora o “Advisory Board” da spin-off U. Porto.

A abordagem disruptiva da tecnologia da Immunethep também já captou o interesse de empresas farmacêuticas, como a Merck-Sharp-Dome (MSD), com quem já estabeleceram um acordo de colaboração.

Investigação nascida na Universidade do Porto

A PNV é um produto que tem origem numa investigação que começou na Universidade do Porto, mais precisamente no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) num grupo liderado pela investigadora Paula Ferreira da Silva. A investigação deu, depois, origem à formação da empresa Immunethep (com o selo Spin-off U.Porto), a quem a invenção foi licenciada. A Immunethep foi fundada por Pedro Madureira, membro da equipa de investigação e atual Diretor Científico da Immunethep, e pela Venture Catalysts.

Entretanto – e com o apoio da U.Porto Inovação, que continua a apoiar o processo, a tecnologia já foi patenteada em mais de 40 territórios, entre eles Portugal, Estados Unidos, Canadá, Japão, mais de 30 países europeus e também Índia e Hong Kong, sendo a única tecnologia “made in U.Porto” patenteada nestes dois últimos territórios.

Pedro Madureira, realça a importância desta conquista: “A Índia é um dos países onde a incidência de infeções bacterianas é muito elevada e onde, anualmente, morrem cerca de 200 mil pessoas por doenças causadas por este tipo de infecções”.

Uma esperança contra as infeções bacterianas

Explicando de forma relativamente simples, a PNV é a primeira vacina eficaz e totalmente voltada para a prevenção de infeções provocadas por todos os serotipos de um conjunto de bactérias, incluindo multirresistentes, com o objetivo de abranger toda a população desde recém-nascidos até idosos.

Foi desenvolvida com base na descoberta de um novo mecanismo de imunossupressão partilhado por algumas das bactérias mais perigosas e mortais (Staphylococcus aureus, Streptococcus pneumoniae, Klebsiella pneumoniae, Escherichia Coli e Streptococcus do grupo B). Baseada no conhecimento deste mesmo mecanismo bacteriano, a Immunethep está também a desenvolver o produto UNImAb – anticorpos monoclonais – que podem ser usados como tratamento em pessoas já infetadas.

Como referido acima, os próximos passos incluem “finalizar o desenvolvimento do UNImAb (anticorpos) e entrar com a PNV (vacina) em ensaios clínicos”, refere Pedro Madureira.

O investigador e empresário acrescenta que, uma vez que esta parte do processo implica um “investimento significativo”, o reconhecimento do EIC chega numa altura fundamental. Os ensaios clínicos que agora preparam vão permitir avaliar a segurança, imunogenicidade e eficácia da vacina, fazendo com que a Immunethep seja a primeira empresa no mundo a ter uma vacina multibacteriana nesta fase de desenvolvimento, de acordo com o relatório de vacinas da Organização Mundial de Saúde (OMS) de 2021.

Segundo um estudo publicado pelo The Lancet, só em 2019, perto de 5 milhões de pessoas em todo o mundo morreram devido a doenças causadas por infecções bacterianas. Dessas, mais de 1,27 milhões de mortes foram resultado direto da resistência antimicrobiana, tornando fundamental mudar o panorama.

Segundo o relatório da OMS sobre a resistência a antibióticos, prevê-se que, se não ocorreram mudanças significativas na forma como novos medicamentos são desenvolvidos para enfrentar o que chamam de “pandemia silenciosa”, em 2050 a resistência antimicrobiana será a maior causa de morte do mundo, superando o cancro. Universidade do Porto – Portugal

Mais notícias sobre a empresa biotecnológica Immunethep publicadas no blogue “Baía da Lusofoniaaqui e aqui.

Eduardo Fontes: a poesia como evocação da infância

Poeta faz com versos nada herméticos uma viagem ao tempo da inocência

                                                                                                    

                                                                       I

Para comemorar o centenário de seus pais, os poetas Humberto Pinheiro Fontes e Maria do Carmo Alencar Oliveira Fontes, ambos nascidos em 1917, o poeta cearense Eduardo Fontes lançou Devaneios (Fortaleza, Editora Expressão Gráfica, 2017), seu 17º livro, que traz prefácio de Anderson Braga Horta, da Associação Nacional de Escritores (ANE), de Brasília, e ilustrações do artista plástico Descartes Gadelha. Poeta bastante conhecido no Nordeste, talvez porque em seus versos nada herméticos e extremamente líricos sempre se mostrou muito preocupado em exaltar suas origens, Fontes, mais uma vez, confirma sua opção por uma simplicidade que faz evocar nos leitores os anônimos menestréis de tempos mais amenos.

Como observa Braga Horta no prefácio, todas as qualidades de seus livros anteriores estão presentes nesta obra, especialmente a simplicidade, como o poeta cearense Francisco Carvalho (1927-2013) já havia ressaltado ao comentar Rua da Saudade (1998), destacando que Fontes “adota uma carpintaria extremamente simples na construção do vigamento de seus poemas, de tal forma que eles se nos apresentam com excepcional lucidez e transparência”. Um exemplo do que disseram estes poetas é o poema “Vozes celestiais”, que consta deste livro:

“Ouvi vozes celestiais / vindas do espaço: / – Delete a mágoa, / a desesperança, / a amargura! / Tudo o que nos desconjura! / Delete o coração duro, de pedra, / e abrace a ternura! / Delete o ódio, a vingança, / o ressentimento, / e crie uma página / no facebook da alma / para as virtudes do perdão / e da magnanimidade! / Jogue para a lixeira / todas as ofensas recebidas, / e olhe para o Alto / onde brilham os astros!...”

 

                                                                  II

Devaneios é também uma espécie de resposta do poeta à idade que avança sobre todos nós, ou seja, o lamento de um tempo perdido que ele deixou de aproveitar por comedimento ou por excessiva obediência aos pais e aos avós, que também foram poetas. Por isso, não fica a dourar a vida vivida, antes prefere se deixar ferrar pelo cravo da nostalgia, como se pode constatar no poema “Mocidade” em que diz:

“Se moço fora / quantos erros teria evitado! / Quantos erros teria cometido! Quantas infrações, quantos pecados, / quantos mais, quantos mais! / Quanto mais teria enxovalhado / os fiscais da vida, / as comadres e seus compadrios! / Quanto mais teria protestado... / Uma parte de mim se foi / por medo do padre da freguesia, / do vizinho e do confrade... / E por isso metade de mim / deixei pelo caminho... / Podia ter aprontado mais, / bebido mais, / namorado mais, / e não ser o homem contido / em suas potencialidades! / Podia ter sido mais, / muito mais!”   

A infância é mesmo tema recorrente na obra de Eduardo Fontes, pois, afinal, é do silêncio de uma época que a poesia se alimenta, como observou o grande crítico e ensaísta português Eduardo Lourenço (1923-2020) em suas Obras Completas. Tempo e Poesia, vol. III (Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 2016, pág. 687), lembrando que “só a poesia revela aquilo mesmo que a própria ficção é obrigada a silenciar para existir”. Leia-se o poema “Crianças”:

“Amo as crianças / e sempre as amarei, / e me vejo nelas / em alguns instantes!... / Nos seus olhos, / na sua inocência, / na sua pureza! / Deus, quando nasceu, / se fez criança! / E não existe poeta / sem uma criança / escondida no seu eu!...”

A evocação da infância e, por conseguinte, da casa dos pais chega a ser mesmo uma marca especial na poesia de Fontes, como se comprova no poema “Devanear”, do qual saiu o próprio título da obra. Não constitui uma simples visão romântica, mas a representação de um sonho que parece persegui-lo e faz questão de lhe devolver ao tempo da inocência, como se pode ver no poema abaixo:

        “Devanear é sentir / o enlevo das coisas, / sem buscar os porquês... / E deixa a alma livre, plainar, / como pássaro, no espaço! / Sentir o vento / a bater nas faces, / e a reger a orquestra / farfalhante das árvores! / Devanear / é trazer da casa paterna / a algaravia dos sons / que o tempo não sepultou!...


                                                                  III

Bacharel em Direito e em Administração, Eduardo Fontes (1947) é autor de uma vintena de livros, entre os quais se destacam: Exaltação à vida (poesia, 1967); O alpinista (poesia, 1970); O Lagamar que eu conheci (ensaio, 1974); Vitrais (poesia, 1979); O teatro de Carlos Câmara (1982); As pouco lembradas igrejas de Fortaleza (história, Prêmio João Brígido, 1983); Pequena história do Tribunal de Contas do Ceará, em parceria com Antônio de Pádua Saraiva Câmara (1985); Cantos do outono (poesia, 1995); Rua da Saudade (poesia, 1998); Pelas mãos da poesia (2000); Na esquina da vida (crônicas, 2007); Cancioneiro de mim (poesia, 2012)|; Último trem para Pasárgada (poesia, 2013); Relicário da saudade (poesia, 2014); O baile da palavras (poesia, 2015); e Ciranda poética (2018).

Membro fundador da Academia Fortalezense de Letras, participou do grupo Sin de Literatura que, na década de 1960, mexeu com o movimento artístico-cultural de Fortaleza. É cronista do Diário do Nordeste, de Fortaleza. Adelto Gonçalves - Brasil

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Devaneios, de Eduardo Fontes, com prefácio de Anderson Braga Horta e capa e ilustrações de Descartes Gadelha. Fortaleza: Expressão Gráfica e Editora, 150 páginas, 2017. E-mail da editora: arte@expressaografica.com.br E-mail do autor: eduardohumbertofontes@gmail.com

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Adelto Gonçalves é mestre em Língua Espanhola e Literaturas Espanhola e Hispano-americana e doutor em Letras na área de Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo (USP) e autor de Gonzaga, um Poeta do Iluminismo (Nova Fronteira, 1999), Barcelona Brasileira (Lisboa, Nova Arrancada, 1999; São Paulo, Publisher Brasil, 2002), Bocage – o Perfil Perdido (Lisboa, Caminho, 2003; Imprensa Oficial do Estado de São Paulo-Imesp, 2021), Tomás Antônio Gonzaga (Imesp/Academia Brasileira de Letras, 2012),  Direito e Justiça em Terras d´El-Rei na São Paulo Colonial (Imesp, 2015), Os Vira-latas da Madrugada (Rio de Janeiro, José Olympio Editora, 1981; Taubaté-SP, Letra Selvagem, 2015) e O Reino, a Colônia e o Poder: o governo Lorena na capitania de São Paulo 1788-1797 (Imesp, 2019), entre outros. E-mail: marilizadelto@uol.com.br







Portugal - Plataforma desenvolvida na Universidade de Coimbra permite prever efeito da combinação de fármacos para tratar o cancro

Investigadores do Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra (CNC-UC) desenvolveram uma nova plataforma online, Synpred, capaz de utilizar algoritmos do campo da inteligência artificial para prever combinações de fármacos anticancerígenos.


Atualmente, o desenvolvimento de resistência farmacológica no cancro é uma problemática comum que resulta de uma variedade de fatores, como por exemplo, da sobre-exposição a fármacos anticancerígenos. Irina Moreira, líder do estudo, investigadora do CNC-UC e docente do Departamento de Ciências da Vida da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), explica que, «na área clínica, o problema da resistência a fármacos é minimizado administrando, não um, mas uma combinação de fármacos com efeito sinérgico, isto é, fármacos que em conjunto reforçam a ação um do outro, aumentando a sua eficácia e reduzindo efeitos secundários». Porém, perceber «quais as combinações farmacológicas que operam de forma segura e eficaz, além de ser complexo, é um processo altamente dispendioso e demorado», acrescenta a investigadora.

Para dar resposta a este problema, a equipa de Irina Moreira desenvolveu a plataforma Synpred com o objetivo de antecipar a resposta biológica da combinação de fármacos anticancerígenos. A investigadora esclarece que, no desenvolvimento do modelo de previsão, «foram utilizados dados de farmacologia de compostos com potencial atividade anticancerígena e dados de base biológica, entre outros, respeitantes a linhas celulares de vários tipos de cancro bem caracterizados. Depois, utilizou-se uma panóplia de algoritmos computacionais, gerando, no final, métodos combinados com uma capacidade de previsão melhorada».

Ao contrário de outros métodos existentes, o Synpred explora seis modelos diferentes para caracterizar as combinações de fármacos com efeito sinérgico, avaliando qual o melhor para incluir no desenvolvimento deste tipo de modelos de previsão.

O estudo, publicado na revista GigaScience, pretende criar condições para substituir a administração de elevadas doses de fármacos anticancerígenos, por concentrações reduzidas de pares de fármacos mais específicos, evitando potenciais efeitos secundários do uso desta medicação por tempo prolongado, como o desenvolvimento de resistência farmacológica. «O Synpred é altamente específico, e permitiu verificar, por exemplo, a importância do tipo de tecido celular (pele, pulmão, etc.) como fator determinante nas combinações de fármacos com efeito sinérgico», sublinha Irina Moreira.

Esta nova tecnologia representa um avanço na área, constituindo uma plataforma pública interativa que pode ser utilizada de forma intuitiva, através do website.

Para além de Irina Moreira, a equipa contou com os investigadores António Preto, Pedro Matos-Filipe e Joana Mourão, também investigadores do CNC-UC. O trabalho foi financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) através do projeto “Aplicação de Deep Learning ao processo de investigação de novas drogas anticancerígenas”. Universidade de Coimbra - Portugal


domingo, 30 de outubro de 2022

Moçambique - Floresta fóssil de Tete entre um dos 100 primeiros Geossitios mundiais


A floresta fóssil de Tete foi distinguida como um dos 100 primeiros Geossitios mundiais pela União Internacional para as Ciências Geológicas. Segundo o director do museu de geologia o reconhecimento coloca Moçambique na rota de atracão de mais turistas e investidores.

Trata-se da maior floresta fóssil de idade pérmica de África, ou seja, tem cerca de duzentos e cinquenta milhões de anos.

Descoberta na faixa entre os distritos de Cahora Bassa e Mágue, na Província de Tete, a floresta já faz parta dos 100 primeiros geossítios considerados patrimónios mundiais da humanidade através da União Internacional para as Ciências Geológicas.

Segundo o director do museu de geologia, o feito poderá contribuir para atracão de turistas e investidores. Moçambique é o país com mais registos de florestas fossilizadas do Pérmico e encontra-se entre as seis áreas com mais registos de troncos fossilizados, sendo as restantes África do Sul, Namíbia, Brasil, Antárctica e Zâmbia. In “O País” - Moçambique

 

França - Timor foi “a única vez em que a comunidade portuguesa no país se exprimiu sobre um assunto político”

O Presidente da Associação France Timor-Leste, Carlos Semedo, deu uma entrevista ao programa “Expressões coletivas” do LusoJornal, onde disse que a luta pela independência de Timor foi provavelmente a única vez em que a Comunidade portuguesa de França se exprimiu sobre assuntos políticos.

“Expressões coletivas” é um programa realizado em parceria com a Coordenação das coletividades portuguesas de França (CCPF) e Lurdes Rodrigues entrevistou esta semana a Associação France Timor-Leste, sediada em Paris, e que dá continuidade ao movimento Agir por Timor, criado em 1989, numa época em que o mundo estava comovido com a tragédia do povo timorense.

Este ano comemora-se o 20º aniversário da Independência de Timor. Como surgiu a associação Agir por Timor?

CS - Timor foi uma colónia portuguesa até 1974. Estava a caminhar para a independência, em 74-75, quando foi ocupada de uma maneira extremamente violenta pelos vizinhos indonésios que enviaram forças armadas, com todos os meios disponíveis. Nos anos de ocupação, até 88-89 dizimaram cerca de 40% da população de Timor, uns diretamente, no combate, outros pela fome. A situação era extremamente difícil, era uma tragédia para o povo de Timor, e uma tragédia ainda maior porque estava fora da informação internacional. Não havia autorização para os jornalistas internacionais irem a Timor, a não ser, evidentemente, aqueles que iam conduzidos pelo próprio Exército indonésio, para dizerem que tudo ia bem. Nenhum outro jornalista internacional pode entrar lá desde o momento da ocupação até 1989.

Então, o que aconteceu em 1989?

CS - Em 1989 aconteceu quase um milagre! O Papa João Paulo II resolveu anunciar que ia à Ásia e que ia estar na Indonésia e em Timor. Com ele seguiu uma comitiva de jornalistas de vários países, entre os quais alguns jornalistas franceses. Nós estávamos mais ao corrente da situação do que se estava a passar em Timor, porque havia aqui já um pequeno grupo que se chamava “A Paz é Possível em Timor Oriental”, uma associação de solidariedade para com Timor Oriental. Era um grupo muito reduzido e nós decidimos criar um movimento público para manifestar nas ruas de Paris e junto de instituições em França. Porque havia também, em França, pessoas que estavam a seguir o que acontecia em Timor. Foi o arranque da nossa associação. A constituição da associação Agir por Timor coincidiu precisamente com a altura em que o Papa estava em Timor. Nós organizámos aqui em Paris uma primeira manifestação, uma conferência de imprensa, e fomos distribuir panfletos para o Parvis des Droits de l’Homme [ndr: no Trocadero], em várias línguas, para alertar a opinião pública internacional, com os nossos fracos meios, para lançar esse momento de chamada de atenção sobre o que se estava a passar em Timor.

Como se desenvolveu a associação Agir por Timor?

CS - A associação Agir por Timor procurou encontrar parcerias com várias associações, com várias ONG francesas e desde o início ficámos em contato com as associações portuguesas e com o movimento associativo português aqui de Paris. E essa é uma particularidade, porque em França, a solidariedade para com o povo timorense teve a implicação das associações portuguesas e de outros movimentos portugueses que estavam aqui, em particular queria salientar que foi um papel muito importante o das associações afiliadas na CCPF e o da própria CCPF [ndr: Coordenação das Coletividades portuguesas de França] que acolheu, durante mais de 10 anos, o Centro de documentação sobre Timor-Leste, onde trabalhou uma pessoa a meio tempo, a receber jornalistas, estudantes… A história da associação France Timor-Leste é inseparável da história da CCPF. Até 2002, os Portugueses estiveram sempre presentes neste movimento.

A associação era só constituída por Portugueses?

CS - Havia Portugueses, Franceses e até Indonésios, no início havia também Marroquinos, enfim havia várias pessoas. Individualmente eram pessoas muito conhecedoras, mas enquanto estruturas associativas, aquilo que deu a participação maciça na rua, foi a presença portuguesa. As associações, mas não só, também o Sindicato dos professores de português no estrangeiro participou sempre nas nossas atividades, o Sindicato dos trabalhadores consulares, as Universidades onde havia leitorados de português e as Associações de estudantes lusófonos, os Jornalistas de língua portuguesa aqui na região parisiense e não só. A associação Agir por Timor fornecia informação, intervinha em quase todas as rádios comunitárias que havia ao sábado e ao domingo por essa França inteira, nós estávamos muito presentes nesses pequenos media locais, que tocavam a Comunidade portuguesa.

Havia então associações, sindicatos, rádios,…

CS - Eu queria destacar o grupo de jornalistas que trabalhavam na altura na Radio France Internacionale (RFI), onde há programas em língua portuguesa para os emigrantes de França, mas também para o Brasil e para a África, assim como as emissões em língua francesa para o mundo inteiro. Nós estávamos em contato com toda esta gente, eles estavam extremamente atentos ao que lá se passava e acompanharam-nos na nossa atividade. Havia também pontos de apoio que não eram forçosamente associativos, como por exemplo o João Heitor, que tinha uma livraria no Quartier Latin [ndr: a livraria LusoPhone, na rue du Sommerard]. A livraria do João Heitor era um ponto de encontro, de discussão e de difusão de informação sobre Timor. Ali cruzava-se muita gente que vinha das associações, das universidades, dos movimentos políticos… era uma espécie de zona de convívio intelectual e militante.

Então como vai ser comemorado do 20º aniversário da Independência?

CS - No dia 12 de novembro temos uma iniciativa que celebra uma data infelizmente trágica, que foi o massacre de Santa Cruz, no cemitério de Díli, que teve a particularidade de ter sido filmada por um jornalista, Max Stahl, que faleceu há 1 ano [ndr: faz hoje, dia 28 de outubro precisamente um ano que faleceu]. Ele filmou esse massacre e difundiu as imagens no exterior. Em 1991 houve uma espécie de sobressalto em Portugal e na opinião pública em geral sobre a questão de Timor. Foi uma espécie de redescoberta de duas coisas: primeiro que o assunto de Timor não estava encerrado, Timor não tinha sido pacificado, integrado na Indonésia, havia uma resistência forte em Timor. Segundo, era a juventude timorense que estava a resistir, a parte mais viva do país estava na rua, a protestar contra a invasão e isso foi uma espécie de choque emocional para muita gente que pensava que a situação de Timor já tinha sido resolvida. Foi um incentivo para muita gente, como nós, para retomar o combate e prosseguir.

Essa foi então outra data importante…

CS - A primeira data importante foi a de 1989, com a visita do Papa, depois, em 1991 foram as manifestações e o filme de Max Stahl. Em 1996 foi o Prémio Nobel da Paz, atribuído a José Ramos Horta e ao Bispo D. Carlos Ximenes Belo. Tudo isto foram incentivos e em 1998-99 foi aquilo que se esperava há muito tempo. A ditadura militar que estava instalada na Indonésia e que tinha massacrado não só Timorenses, mas os próprios Indonésios, foi desmantelada pela própria juventude indonésia que veio para a rua para exigir o fim daquela ditadura. Isso permitiu abrir novamente o dossier de Timor-Leste, com Portugal pronto para negociar com a Indonésia e com a ONU a ser o sítio de acolhimento das negociações.

Até ser constituído um Governo provisório da ONU.

CS - Em 1999 acontece o referendo, uma consulta popular feita aos Timorenses, que foram finalmente consultados pela ONU, sobre se queriam continuar integrados na Indonésia ou se queriam a Independência, e de maneira maciça, 80% dos Timorenses que puderam votar, votaram pela Independência. A seguir veio efetivamente um período de transição, em que a Indonésia regressou para o país, deixando Timor completamente destruído. Foi necessário reconstruir Timor a partir das cinzas e isso foi obra da ONU até 2002. Há um Governo de transição de que fazem parte altos funcionários da ONU, o mais conhecido foi o Brasileiro Sérgio Vieira de Melo, mas havia outros de outras nacionalidades. Era um Governo internacional. Entretanto houve eleições e um Presidente foi eleito democraticamente: Xanana Gusmão. Foi eleito por uma esmagadora maioria da população e o poder foi transmitido da ONU para o novo Presidente eleito em 2002.

É nessa altura que acaba a associação Agir por Timor e nasce a Associação France Timor-Leste?

CS - A associação France Timor-Leste foi criada no dia 20 de maio de 2002, no Senado francês, em Paris, precisamente no dia em que a Independência foi proclamada em Timor. A associação tem o mesmo número de anos de vida que o próprio país. De realçar que Timor foi o primeiro país do terceiro milenário, é um dos países mais jovens no mundo e nós temos um certo orgulho, hoje, de termos ajudado, modestamente, com os nossos pequenos meios, mas de termos ajudado nessa caminhada e Timor, embora seja um país com muitas dificuldades, porque é pobre, subdesenvolvido, acaba por ter aspetos extremamente avançados, como por exemplo, do ponto de vista das liberdades e direitos humanos, é certamente um dos países mais avançados da Ásia, porque fez a sua Constituição mais recentemente, com standards internacionais… Por exemplo, em Timor, a igualdade da mulher é um facto transversal, constitucional, desde a Independência. Há uma percentagem de Deputadas muito elevada, até em relação aos países da Europa. Este é um aspeto positivo, mas há muitas dificuldades, porque não têm recursos, ainda não têm uma possibilidade de governança, como acontece num país antigo como são os nossos países europeus.

O que difere a associação France Timor-Leste da associação Agir por Timor?

CS - Até 2002, muitas vezes nós fomos os porta-vozes dos Timorenses aqui em França. Falávamos em nome dos Timorenses, embora não fôssemos Timorenses. A partir do momento em que existe uma diplomacia timorense e um Governo eleito, com Parlamentares, nós deixámos de ter qualquer papel de representatividade de Timor e passámos a ser uma associação de solidariedade para com Timor, passámos a desenvolver alguns projetos, como por exemplo a implementação da escolaridade, construiu-se uma escola em Timor com o apoio da Federação das associações portuguesas de França (FAPF) e da UNESCO, foi construída uma escola numa zona onde o Governo não tinha previsto construir, ajudámos a formar Timorenses para se tornarem professores de língua francesa, ajudámos a implementar o ensino da língua francesa, apoiámos com bolsas de estudo alguns casos pontuais de estudantes timorenses que não tinham meios para avançar, desenvolvemos uma estratégia de apoio aos pescadores da ilha de Ataúro, para melhorarem as técnicas de pesca… Isto é, tomámos algumas iniciativas e uma série de projetos durante cerca de 10 anos. Depois, reduzimos a nossa solidariedade lá e continuámos a desenvolver aqui ações que permitem dar a conhecer Timor.

De que tipo de projetos está a falar?

CS - Temos feito a edição de livros. Por exemplo, todos os livros do Luís Cardoso, um escritor timorense baseado em Lisboa – que ganhou no ano passado o Prémio Oceanos, que é o segundo maior prémio de língua portuguesa – vão sendo publicados em francês e vários, os últimos e o próximo, que já está traduzido e que vai sair agora, faz parte das nossas intenções para a celebração do 20º aniversário. Chama-se “O Plantador de Abóboras” e a tradução francesa é da Catherine Dumas, que é membro da associação. O livro deve sair no início de 2023.

Quais foram os momentos que mais o marcaram nestas ações sobre Timor?

CS - Foram as manifestações. Sobretudo as manifestações de setembro de 1999. Foi uma coisa impressionante, estávamos em permanência em frente da Embaixada da Indonésia, todos os dias, todo o dia, com comícios, intervenções, deslocações à Embaixada, protestos e uma grande manifestação na Place de la Bastille, em setembro de 1999, também com uma quantidade impressionante de gente e até uma outra em frente do Banco Mundial. Mas há um momento que me parece interessante: quando Suharto, o antigo ditador indonésio veio a Paris – não na qualidade do Presidente da Indonésia, mas porque era, na altura, o Presidente do Movimento dos não-alinhados – no final dos anos 90, um pouco antes de cair da cadeira, para utilizar uma linguagem portuguesa, ele estava instalado no Hotel Crillon e nós organizámos uma manifestação na Place de la Concorde, exatamente em frente da janela, no primeiro andar, onde estava o Presidente Suharto. No meio da nossa manifestação estavam todos os funcionários da Indonésia aqui em Paris, a filmarem e a fotografarem para nos impressionarem. Estavam a tentar remover a nossa vontade. É inesquecível para mim e para alguns de nós, porque fomos presos pela Polícia francesa e fomos identificados no Comissariado mais próximo. Não houve consequências, mas não tinha sido pedida autorização para a manifestação, evidentemente, porque não teríamos tido autorização. Decidimos fazer uma manifestação ilegal e fizemos muito bem. Ora, alguns anos mais tarde, em 2002, Xanana Gusmão recebeu o prémio da UNESCO pela luta pela paz, o Prémio Félix Houphouët-Boigny e veio aqui a Paris para receber esse prémio em 2003. Quando o Presidente Jacques Chirac soube que Xanana Gusmão vinha a Paris, transformou a visita à UNESCO, numa visita de Chefe de Estado e Xanana Gusmão foi, evidentemente, com a comitiva dele, exatamente para o primeiro andar do Hotel Crillon. E foi um dos grandes prazeres da minha vida: estar ao lado de Xanana Gusmão, na mesma varanda onde tinham estado os Indonésios a filmarem-me, quando eu estava a manifestar na Place de la Concorde, com os meus companheiros da associação Agir por Timor. Este é um momento muito simbólico.

Era então uma associação de lobbying

CS - A nossa associação foi desenvolvendo várias atividades de lobbying, junto das autoridades francesas e internacionais. Depois disso, houve algumas dificuldades em Timor, nos anos 2000, porque era um país muito novo, não havia uma elite muito coesa, havia fricções, partidarismos, houve um início de guerra interna, e nós tivemos uma precaução em não nos ingerirmos, de maneira nenhuma, nos assuntos internos de Timor. Porque houve muita gente que perdeu a vida pela independência de Timor e nós tínhamos de ser os primeiros a respeitar essa Independência.

Estes dias foi organizado um colóquio sobre os anos de solidariedade com Timor onde participou a associação e o Carlos Semedo fez uma intervenção sobre o papel das Comunidades portuguesas de França na solidariedade para com Timor. O foi lá dizer?

CS - Essa foi uma maneira de celebrar o 20º aniversário da Independência, foi participar nesse Colóquio internacional que teve lugar na Fundação Oriente, em Lisboa, para fazer uma resenha histórica do que foram os 25 anos de solidariedade internacional para com os Timorenses. A minha intervenção foi sobre um ponto que tem sido pouco estudado: em geral, a solidariedade em cada país é dirigida por nacionais do próprio país, em França, houve uma distorção sobre isso porque foram os Franceses, claro, houve até Indonésios que estavam exilados aqui, mas houve sobretudo muita gente portuguesa que teve um papel de primeiro plano nessa solidariedade. Foi a primeira vez que isso foi apresentado em público para ser discutido. A emigração portuguesa em diapasão com o que se estava a passar em Portugal e que ia acompanhando através dos órgãos de comunicação social. Nunca nenhuma associação me disse ‘não quero falar em Timor’, e consultei centenas delas, nunca ninguém me disse ‘não quero’. Às vezes diziam-me ‘não tenho meios’, mas nunca me disseram que não. Quem esteve muito envolvido foram precisamente os jovens, a juventude que estava na universidade, jovens trabalhadores portugueses, a Cap Magellan, em cujo Fórum houve todos os anos intervenções e um stand da nossa associação, sempre se falou de Timor na Rádio Alfa, havia um grupo de jovens que faziam programas e uma boa parte deles faziam parte da associação Agir por Timor. Os estudantes lusófonos estavam extremamente implicados. Eu lembro-me de uma ida a Strasbourg, que foi espetacular, na Universidade, era uma Semana de cultura portuguesa em que os estudantes lusófonos tiveram um papel enorme, a mesma coisa na Universidade de Pau. Foi provavelmente a primeira vez em que, enquanto portugueses, a Comunidade se exprimiu sobre um assunto político, saindo dos interesses imediatos da própria Comunidade. Timor não fazia parte dos interesses imediatos da Comunidade, não tratava da cultura portuguesa, nem tratava do ensino do português aos filhos dos emigrantes, tratava de um assunto diferente e foi provavelmente o único momento em que houve uma espécie de consenso da Comunidade portuguesa em França sobre um assunto que foi extremamente político, uma questão de Direito internacional, uma questão de Direitos dos Homens e foi aquilo que eu tentei dizer nesta conferência internacional.

Estão previstos mais eventos sobre os 20 anos da Independência de Timor?

CS - Vamos então editar o livro “O Plantador de Abóboras” de Luís Cardoso, que vai ser editado em breve em França. Há um outro livro sobre uma história escrita por um francês, no século 19, mas que se passa em Timor e nós vamos certamente publicar. Tínhamos uma série de projetos, mas com o Covid, eles foram impossíveis. Alguns ainda se podem realizar, como uma homenagem, por exemplo, ao Max Stahl. Temos entrevistas exclusivamente em língua francesa que foram montadas por um realizador de Marseille, que está a terminar um filme sobre Timor. Há uma atividade parlamentar franco-timorense e nós temos colaboração com a Assemblée Nationale, francesa assim como com um grupo de investigadores do CNRS que trabalham em permanência em Ataúro, há uma série de projetos que não posso desenvolver agora.

Para acompanhar as atividades da associação, basta seguir o blogue aqui. Pode contactar por mail: francetimorleste@gmail.com. Lurdes Rodrigues – França in “LusoJornal”

 

Eu sei


 






Vamos aprender português, cantando

 

Eu sei

 

Eu sei, tudo pode acontecer

eu sei, nosso amor não vai morrer

vou pedir aos céus, você aqui comigo

vou jogar no mar, flores pra te encontrar

 

Não sei porque você disse adeus

guardei o beijo que você me deu

vou pedir aos céus, você aqui comigo

vou jogar no mar, flores pra te encontrar

 

You say goodbye, and I say hello

you say goodbye, and I say hello

 

Não sei porque você disse adeus

não sei

guardei o beijo que você me deu

vou pedir aos céus

você aqui comigo

vou jogar no mar, flores pra te encontrar

 

You say good-bye, and I say hello

you say good-bye, and I say hello

 

Oh oh

Yeah yeah yeah oh

yeah yeah yeah


Papas da Língua – Brasil



Vamos recordar, cantando

Eu sei

sábado, 29 de outubro de 2022

Bermudas - 25% da população tem ascendência portuguesa

Muitos portugueses a residir nas Bermudas, mas também bermudenses interessados na cultura portuguesa, desistem de visitar ou conhecer Portugal porque as suas cartas de condução não são válidas em território português, lamentou a cônsul honorária

Andrea Moniz-DeSouza, cônsul honorária de Portugal em Hamilton, capital da Bermuda, a principal ilha no arquipélago britânico das Bermudas, onde 25% da população tem ascendência portuguesa, considera que esta situação prejudica muito os portugueses que ali residem e também o turismo em Portugal.

Nas ilhas das Bermudas – onde os primeiros portugueses chegaram em 1849 – a comunidade portuguesa está “bem integrada” e destaca-se pela forma como mantém viva as tradições portuguesas.

São, aliás, estas atividades culturais que fazem com que muitos bermudenses e cidadãos de outros países que vivem nas Bermudas fiquem curiosos em relação a Portugal e manifestem vontade de visitar este país.

Contudo, tanto os lusodescendentes como os naturais das Bermudas e de outros países, que para ali emigraram, desistem de visitar Portugal porque as suas cartas de condução, tiradas no território britânico, não são válidas em Portugal, acontecendo o mesmo aos portugueses que visitem as Bermudas.

“Imagine o que é visitar Portugal [continente] e os Açores, região de onde são oriundos 95% dos emigrantes portugueses nas Bermudas, e não poder alugar um carro. Muitos não estão para isso e optam por outro destino”, disse Andrea Moniz-deSouza.

A advogada lamenta este entrave que, segundo afirmou, faz com que muitos lusodescendentes que não conhecem Portugal não o façam para não ficarem privados de conduzir e de se deslocar de carro.

“Já é difícil manter os mais jovens ligados às iniciativas culturais – o grande desafio das associações de emigrantes – e esta impossibilidade de conduzir em Portugal contribui para um maior afastamento”, apontou.

Andrea Moniz-deSouza, que já esteve à frente de movimentos associativos nas Bermudas, como o Clube Vasco da Gama, fundado em 1935, afirmou que tenta alterar esta situação há uma década, tendo transmitido a ideia aos sucessivos governos, regional e nacional.

“O que nos dizem é que as Bermudas têm de mudar para Portugal mudar”, avançou.

A Lusa questionou o gabinete do ministro das Infraestruturas e da Habitação, que confirmou a inexistência de qualquer protocolo adicional relativo à vinculação à Convenção de Genebra sobre Trânsito Rodoviário de 1949, nem à Convenção de Viena de 1968.

A mesma fonte referiu que entre o território britânico e Portugal “não é aplicável o regime de reciprocidade no reconhecimento de títulos de condução”.

Segundo o Ministério das Infraestruturas e da Habitação, as cartas de condução obtidas nas Bermudas “não são válidas para a condução de veículos” em Portugal.

Questionado pela Lusa, fonte oficial do governo dos Açores indicou que “esta matéria não é da competência do governo dos Açores, mas sim da exclusiva responsabilidade do Governo da República”, pois está relacionada com “a relação direta entre Estados”.

“A pedido da comunidade portuguesa da Bermuda, que é quase exclusivamente de origem açoriana, já sensibilizámos deputados dos Açores à Assembleia da República para colocarem a questão ao Governo da República”, disse a mesma fonte, acrescentando: “A resposta formal foi enviada pelo Governo ao parlamento, há um ano, evocando o princípio da reciprocidade e resumindo que Portugal só pode reconhecer as cartas de condução da Bermuda quando a Bermuda reconhecer as cartas de condução de Portugal”.

Para Andrea Moniz-deSouza, além dos entraves à ligação entre os lusodescendentes e a sua terra de origem, nomeadamente os Açores, o turismo português também perde com este obstáculo.

“Os bermudenses têm muito interesse em conhecer Portugal, principalmente quando assistem às nossas manifestações culturais, como as festas do Senhor Santo Cristo dos Milagres e do Divino Espírito Santo, tradicionais dos Açores e que reproduzimos no arquipélago”, disse.

Mas a curiosidade não é suficiente para ultrapassar o impedimento de conduzir em Portugal, referiu a jurista, lamentando que o turismo fique a perder devido a um obstáculo que, “com boa vontade”, poderia ser ultrapassado. In “Bom dia Europa” – Luxemburgo com “Lusa”


São Tomé e Príncipe - Prepara-se para elaborar a primeira lista indicativa do seu património cultural e natural

Com o apoio da UNESCO, quadros técnicos de diversos sectores sociais começaram a ser formados desde o dia 24 de outubro, para fazer o levantamento dos sítios e manifestações culturais que deverão ser classificados como bens patrimoniais do país.



Sónia Carvalho, ponto focal da UNESCO em São Tomé e Príncipe, disse ao Téla Nón que a equipa de quadros técnicos que começou a ser formada pela UNESCO, considera que a definição da lista indicativa de património cultural e natural do país vai ser um desafio interessante.

«Nós somos um país muito rico, tanto a nível da cultura como a nível da natureza. Temos muito por onde pegar, para definir a lista indicativa», afirmou Sónia Carvalho.

Ponto focal da UNESCO acrescentou que o arquipélago são-tomense tem bens naturais únicos no mundo. «Temos muitas espécies de animais e de plantas que são únicos no mundo, que só existem em São Tomé e Príncipe».

No entanto com tanto património cultural e natural São Tomé e Príncipe, faz parte de um pequeno grupo de países do mundo que não tem uma lista indicativa do seu património. Somália e a Guiné Equatorial, são outros 2 países africanos cujo património natural e cultural é desconhecido pela UNESCO.

Charles Akibodé, consultor da UNESCO e especialista para a classificação de sítios africanos a património mundial, revelou para o Téla Nón a importância que tem São Tomé e Príncipe no contexto cultural, económico e natural a nível mundial.


«Hoje São Tomé e Príncipe faz parte dos poucos lugares do mundo onde existe biodiversidade. Com o aquecimento global e as mudanças climáticas, São Tomé e Príncipe é um paraíso para estudar», confirmou o consultor da UNESCO.

Mais ainda «São Tomé e Príncipe mudou o paladar do mundo, com o chocolate. O cacau saiu daqui», acrescentou Charles Akibodé, ao destacar o papel desempenhado pelo arquipélago africano no desenvolvimento da economia colonial.

A UNESCO vê as duas ilhas do golfo da Guiné como exemplo para um mundo onde a natureza está a desaparecer e as alterações climáticas a dominarem tudo.

«Para nós São Tomé e Príncipe é um paraíso para estudar. Trabalhando somente com o património natural, São Tomé e Príncipe pode ser uma universidade para a ciência no mundo. Para pessoas virem cá estudar a questão das mudanças climáticas, e também tem fauna e flora únicas no mundo», frisou o consultor.

Lista indicativa é uma lista orientadora das riquezas históricas, culturais e naturais do país. A criação da lista indicativa do património de São Tomé e Príncipe, vai impulsionar o turismo.

«Tendo uma lista indicativa no sítio da UNESCO, as pessoas vão querer cá vir para visitar esses sítios. É um contributo importante para a economia do turismo», pontuou Charles Akibodé

A UNESCO acredita que uma semana depois da formação dos quadros técnicos nacionais, o país terá pela primeira vez, a lista indicativa dos seus bens patrimoniais cultural, histórico e natural. Abel Veiga – São Tomé e Príncipe in “Téla Nón”  


Cabo Verde - Zizas Brito lança o seu primeiro álbum denominado “Nha Alma”

A cantora salense Zizas Brito está a promover o primeiro álbum denominado “Nha Alma”, dedicado aos cabo-verdianos, em especial a ilha do Sal. Com dez faixas musicais, o álbum apresenta vários duetos. O videoclipe da música “Sal”, uma das faixas do álbum, já está disponível no Youtube

A ideia do álbum surgiu em 2019, depois de um tradicional convívio familiar, nos EUA, em que Zizas e seu esposo, o tocador de violão Fifi Montrond, decidiram montar um estúdio com alguns mestres da música cabo-verdiana como Kaku Alves, Michel Montrond, KhalyAngel, Vando Pereira, Nádia Alves, entre outros, dando origem ao primeiro álbum de Zizas Brito.

O trabalho, de 10 faixas, é dedicado aos cabo-verdianos, em especial aos da ilha do Sal, de onde Zizas é natural, sendo que o videoclipe da faixa “Sal” já está disponível no Youtube.

Família de artistas

Zizas pertence a uma família de artistas e tem-se inspirado ao longo da sua trajetória musical, em músicos e instrumentistas locais, nomeadamente no avô e tios. Pelo caminho, teve a oportunidade de conhecer o renomado Ildo Lobo, uma das suas inspirações.

O trabalho foi produzido pela Strela Verdi Productions. Ricénio Lima – Cabo Verde in “A Nação”