Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Macau – Festival da Lusofonia tem luz verde

 


O 23.º Festival da Lusofonia, um dos eventos da cultura lusófona em Macau, vai decorrer entre 16 e 18 de outubro, com o programa musical a destacar os grupos artísticos locais

O festival, que se realiza anualmente desde junho de 1998, vai decorrer na zona das Casas da Taipa, onde “grupos artísticos lusófonos de Macau irão proporcionar ao público diferentes géneros de música e dança no palco principal da Festa da Lusofonia e ainda música ligeira no palco instalado no Largo da Igreja do Carmo”, indicou o Instituto Cultural de Macau, entidade organizadora.

“As dez comunidades lusófonas residentes em Macau, nomeadamente de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Goa, Damão e Diu, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe, Timor Leste e comunidade macaense” vão marcar presença com expositores na zona, nos quais vão apresentar, entre outros, danças, artesanato, petiscos e bebidas típicas dos países e regiões, acrescentou, em comunicado.

O território continua a manter várias restrições devido à pandemia de covid-19, incluindo a proibição da entrada de estrangeiros na região administrativa especial chinesa.

Macau registou 46 infeções causadas pelo novo coronavírus desde o início da pandemia, mas nunca detetou qualquer surto comunitário, não existindo atualmente nenhum caso ativo.

No ano passado, o Festival da Lusofonia contou com a banda portuguesa Anaquim, concertos de Zé Manel, Karyna Gomes, Eric Daro e Miss Bity (Guiné-Bissau), Voz do Crocodilo (Timor-Leste), Grupo RM (Moçambique), Djodje e Banda (Cabo Verde), Puto Português (Angola), Black in White (Goa, Damão e Diu), Banda Leguelá (São Tomé e Príncipe) e DJ Dolores (Brasil).

Devido ao impacto da pandemia, o Instituto Cultural anunciou, na terça-feira, o cancelamento do Desfile Internacional de Macau, previsto para dezembro próximo, evento anual no qual participam habitualmente vários grupos internacionais, incluindo portugueses. In “Bom dia Europa” - Luxemburgo

Portugal - Relatório sobre o estado das plantas e fungos no mundo publicado pelo Jardim Botânico Real de Kew tem participação da Universidade de Coimbra

 


O relatório “Kew’s State of the World’s Plants and Fungi 2020” do Jardim Botânico Real de Kew (RBG, Kew), no Reino Unido, publicado hoje, tem a participação da investigadora Susana C. Gonçalves, do Centro de Ecologia Funcional (Centre for Functional Ecology – Science for People & the Planet), da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC).

Este relatório de referência internacional, que vai já na quarta edição, é um mergulho profundo no estado atual do reino das plantas e do reino dos fungos à escala global. Os novos dados, resultado de uma vasta e inédita colaboração internacional entre 210 cientistas de 42 países, mostram como nós atualmente utilizamos plantas e fungos, quais as propriedades úteis que nos faltam explorar, e o que corremos o risco de perder.

Segundo o documento, «plantas e fungos são os blocos de construção da vida no planeta Terra. Têm o potencial de resolver problemas urgentes que ameaçam a vida humana, mas esses recursos vitais estão a ser comprometidos pela perda de biodiversidade». O relatório alerta para a necessidade premente de «explorar as soluções que as plantas e fungos podem fornecer para lidar com algumas das pressões que as pessoas e o planeta enfrentam».

Este relatório apresenta, pela primeira vez, uma síntese de novas espécies para a ciência compilada tanto para plantas como para fungos. Os autores descobriram que 1.942 plantas e 1.886 fungos foram nomeados como novos para a ciência em 2019. Entre essas, estão espécies que podem ser valiosas como alimentos, bebidas, medicamentos ou fibras (ver documento SOTWPF press FINAL).

A cientista Susana C. Gonçalves participa em dois capítulos do relatório: um dedicado à importância das colaborações para assegurar um futuro sustentável para todos e outro que avalia o risco de extinção de plantas e fungos.

No capítulo que realça a importância das colaborações para assegurar um futuro sustentável para todos, a investigadora partilha o trabalho de conservação que está a ser desenvolvido em São Tomé e Príncipe no âmbito do projeto “Tesouros d’Obô”. A par da inventariação da diversidade de cogumelos, o projeto trabalha com as comunidades locais para valorizar e gerir de forma sustentável estes recursos, melhorando simultaneamente a sua qualidade de vida. «Esta abordagem centrada nas comunidades, só possível com as parcerias existentes, está a abrir caminho para uma solução duradoura na conservação da floresta e dos fungos em São Tomé e Príncipe», conta Susana C. Gonçalves.

No que respeita à avaliação do risco de extinção de plantas e fungos, que enfatiza as lacunas e enviesamentos no conhecimento atual e que comprometem medidas de conservação eficazes, a investigadora da UC, que também é avaliadora do risco de extinção de fungos para a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), indica o muito trabalho ainda por fazer: «Apenas 285 das 148,000 espécies conhecidas de fungos foram avaliadas para a Lista Vermelha da IUCN, correspondendo somente a 0,2 %». Por isso, salienta que a «Ciência Cidadã e ferramentas como a modelação e a inteligência artificial podem contribuir de forma determinante para acelerar este processo».

Quando questionada sobre as ações que podem ser dinamizadas pelos cidadãos individualmente para proteger a biodiversidade fúngica do planeta, Susana C. Gonçalves contextualiza: «se quisermos trazer a conservação dos fungos para o primeiro plano, temos de desmistificar conceitos errados que persistem em toda a sociedade, por exemplo, os fungos ainda são muitas vezes confundidos com plantas ou retratados erroneamente como inimigos, e precisamos de desafiar a indiferença em relação aos fungos. Em última análise, só nos preocupamos em proteger o que amamos».

Mais informação sobre o “Kew’s State of the World’s Plants and Fungi 2020” aqui. Universidade de Coimbra - Portugal

Nicodemos Sena e a reconstrução do mundo amazônico

                                                                              I


A Espera do Nunca Mais – uma saga amazônica, de Nicodemos Sena, romance publicado pela primeira vez em 1999 pela Editora Cejup, de Belém, chega, em 2020, a sua quarta edição em volume de 1112 páginas lançado pela Kotter Editorial, de Curitiba.  Livro de estreia, o romance, que recupera lendas e mitos, permeadas por mistério e sortilégio, matas e rios, igarapés e igapós da região amazônica, rendeu ao seu autor, em 2000, o Prêmio Lima Barreto/Brasil 500 anos, da União Brasileira de Escritores (UBE), seção do Rio de Janeiro. E foi tema de tese de doutoramento defendida na Universidade Federal do Amazonas (Ufam), em 2018, por Iza Reis Gomes Ortiz, professora de Língua Portuguesa e Literatura no Instituto Federal de Rondônia (Ifro).

Resultado de muita pesquisa, esta obra, com muita imaginação e criatividade, reconstitui o mundo amazônico e se torna um documento-denúncia que ganha cada vez mais importância na medida em que aquela região é assaltada e destruída por grupos de predadores nacionais e estrangeiros que precisam colocar sua vegetação abaixo para dar espaço ao agronegócio, especialmente às plantações de soja, principal produto de exportação brasileiro, responsável por quase 30% do total das vendas ao exterior feitas em 2019. E que, não raro, acabam por cooptar autoridades para o seu trabalho de destruição da floresta e do meio-ambiente, a partir da exploração da mão de obra semiescrava, tudo em favor do grande capital.

Dividido em três longas partes, o romance começa por levar o leitor a conhecer o mundo mágico e primitivo da floresta entre a década de 1950 e a época conturbada do regime militar (1964-1985); depois, penetra nos meandros  do mundo político-econômico marcado pela ganância dos exploradores que não hesitam em destruir o pouco que resta das culturas primitivas, desde que haja cada vez mais espaço para plantações e pastagem; e, por fim, a especulação do que será a Amazônia em breves anos, com perda total de sua identidade e as consequências que a sua destruição deverá causar ao meio ambiente de todo o planeta.

                                                                II

O romance começa em tom triunfal com a presença do caboclo Gedeão, resultado da chegada do sertanejo Silvestre Bagata à região amazônica em outros tempos para se tornar o primeiro morador branco do rio Maró. A exemplo do seu inspirador bíblico, Gedeão teria sido escolhido pelas forças divinas para resgatar a Amazônia das mãos daqueles que tramam a sua destruição. Ele tem de lutar contra Estefano Alves Barbosa, seu “padrinho”, o vilão da obra, representante das forças do mal, que seria a reencarnação do explorador e militar português Bento Maciel Parente (1567-1642), que, em 1639, comandou as chamadas ‘tropas de resgate’, que tinham por objetivo “libertar da escravidão  e salvar da morte certa os infelizes índios aprisionados por outras tribos, subjugando-os, porém, a uma nova e mais atroz escravidão”. E que fez fama pela crueldade com que dizimava as tribos indígenas.

De notar é que neste romance há também personagens femininas de grande significado: Diana, uma espécie de reencarnação das qualidades e mistérios da população amazônica; e Dora, a fazendeira que mandou construir uma escola em sua propriedade para que ela mesmo desse aulas aos tapuias e aos caboclinhos da vila de Aritapera, semeando sonhos. 

Profético, este romance a cada dia se torna mais atual, já que muitas de suas disfarçadas previsões começam a se confirmar, a partir da chegada ao poder de velhos representantes dos chamados “porões da ditadura” e seus prosélitos, que insistem em esvaziar os cofres das instituições governamentais que se dedicam à educação e à pesquisa para fomentar, através da distribuição de migalhas entre as massas famélicas, a troco de votos de cabresto, a perpetuação de uma sociedade injusta e cada vez mais ágrafa que, assim, nunca haverá de se organizar para defender os seus direitos.

É o que se deduz das palavras que encerram este livro e que, portanto, merecem ser transcritas aqui para que o leitor tenha pelo menos uma pálida ideia do estilo mítico e iconoclasta do autor: “(...) Enquanto mastigava o delicioso beiju que Matilde fizera para ela, Dora pensou que Tainacã, a estrela grande, dera aos tapuios a semente da mandioca, do milho e de outros grandes plantas que eles não conheciam. Mas de quê adiantou? Os brancos vieram e roubaram o futuro dos índios. Ela faria a diferença; daria algo que ninguém ia poder tomar. Ensinaria  as crianças tapuias a lerem e escreverem, a se defenderem no mundo hostil que estava para vir, mas também contaria as histórias antigas que os velhos gostariam de esquecer, plantando, assim, na mente das crianças, a semente dos sonhos, para que elas, ao crescerem, não ficassem como seus pais: À ESPERA DO NUNCA MAIS”.

Enfim, como observa no posfácio que escreveu para esta obra o escritor Ronaldo Cagiano, sem demérito para Márcio Souza, Dalcídio Jurandir (1909-1979), Thiago de Mello e Ferreira de Castro (1898-1974), que produziram obras antológicas sobre a Amazônia, Nicodemos Sena conseguiu “formular um diálogo com a natureza desafiadora de uma região muito explorada (e agredida) pelo homem e pouco visitada pela literatura”. É obra que veio para ficar. 

                                                               III

Nascido em 1958 em Santarém do Pará, Nicodemos Sena passou parte de sua infância entre os índios maués, na região de fronteira entre os Estados do Pará e Amazonas. Em 1977, seguiu para São Paulo, onde teve seu primeiro emprego numa indústria têxtil localizada no bairro do Ipiranga, vivendo num cortiço, onde conheceria “seres da noite” semelhantes ao que povoariam seus futuros romances. Estudando à noite, formou-se em Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) e em Direito pela Universidade de São Paulo (USP). Depois de passar pelas redações de vários órgãos da imprensa paulista, no início de 2000, recebeu convite para dirigir a redação do jornal A Província do Pará e a principal editora de Belém, a Cejup, trabalhando na capital paraense até o fim do ano, quando retornou ao Estado de São Paulo, mais especificamente à cidade de São José dos Campos.

Em 2003, saiu à luz o seu segundo romance, A Noite é dos Pássaros, igualmente recebido com entusiasmo pela crítica, publicado em forma de folhetim, em dezoito episódios semanais, de 3 de abril a 31 de julho, no jornal O Estado do Tapajós, de Santarém, e na revista eletrônica portuguesa TriploV, editada pela escritora Estela Guedes. Ainda em 2003, A Noite é dos Pássaros foi publicado em formato de livro (Editora Cejup), conquistando neste mesmo ano o prêmio Lúcio Cardoso, da Academia Mineira de Letras e, em 2004, a menção honrosa do prêmio José Lins do Rego, da UBE, seção do Rio de Janeiro.  Já o terceiro romance de Sena, A Mulher, o Homem e o Cão (Taubaté, LetraSelvagem, 2009), não só confirmou o talento do escritor como se tornou também obra de referência para o estudo temático da vida das populações marginalizadas da Amazônia (indígenas e caboclos).



Nicodemos Sena é hoje nome reconhecido fora da Amazônia, tendo se tornado verbete na Enciclopédia de Literatura Brasileira, direção de Afrânio Coutinho e J. Galante de Sousa (edição conjunta da Global Editora, Fundação Biblioteca Nacional e Academia Brasileira de Letras, 2ª edição, 2001). Em 2007, criou a editora a LetraSelvagem, que tem como objetivo incentivar o gosto pela leitura e promover a linguagem literária, além de desenvolver atividades que estimulem a tomada de consciência pelas populações, povos e etnias submetidos a qualquer tipo de dominação.

Em 2017, publicou pela editora LetraSelvagem, com prefácio deste articulista, Choro por Ti, Belterra!,  obra escrita em prosa poética e formada por 19 episódios, em que reconstituiu o dia em que fez viagem de retorno às origens, em companhia de seu pai, depois de um percurso de algumas horas pela rodovia Santarém-Cuiabá, até entrar numa estradinha de terra que leva à Estrada Um e, enfim, às ruínas da cidadezinha de Belterra, que, na década de 1940, foi dirigida pela Ford Motor Company, empresa do magnata norte-americano Henry Ford (1863-1947), que, em plena Segunda Guerra Mundial (1939-1945), tentaria fazer da extração da borracha uma atividade lucrativa, fornecendo os pneumáticos para movimentar os veículos militares. Adelto Gonçalves – Brasil

 

_____________________________ 

A Espera do Nunca Mais: uma saga amazônica, de Nicodemos Sena, com posfácio de Ronaldo Cagiano. Curitiba-PR: Kotter Editorial, 1112 páginas, 2020. E-mail: contato@kotter.com.br

 

_______________________________________________

Adelto Gonçalves é doutor em Letras na área de Literatura Portuguesa pela Universidade de são Paulo (USP) e autor de Gonzaga, um Poeta do Iluminismo (Nova Fronteira, 1999), Barcelona Brasileira (Lisboa, Nova Arrancada, 1999; Publisher Brasil, 2002), Bocage – o Perfil Perdido (Lisboa, Caminho, 2003), Tomás Antônio Gonzaga (Imprensa Oficial do Estado de São Paulo (Imesp)/Academia Brasileira de Letras, 2012),  Direito e Justiça em Terras d´El-Rei na São Paulo Colonial (Imesp, 2015), Os Vira-latas da Madrugada (José Olympio Editora, 1981; LetraSelvagem, 2015) e O Reino, a Colônia e o Poder: o governo Lorena na capitania de São Paulo 1788-1797 (Imesp, 2019), entre outros. E-mail: marilizadelto@uol.com.br

 

Portugal - Prémio de Conto Manuel da Fonseca atribuído a “Contos de Macau” de João Morgado

 


A obra “Contos de Macau”, da autoria de João Morgado, venceu a 13.ª edição do Prémio Nacional de Conto Manuel da Fonseca, instituído pela Câmara de Santiago do Cacém, no distrito de Setúbal, foi ontem divulgado.

A cerimónia de entrega do prémio ao vencedor, que assinou sob o pseudónimo “Liang”, está marcada para o dia 17 de Outubro na Biblioteca Municipal Manuel da Fonseca, em Santiago do Cacém.

A obra vencedora foi escolhida por unanimidade pelo júri, constituído pelo secretário-geral da Associação Portuguesa de Escritores, Luís Machado, presidente da Associação Portuguesa dos Críticos Literários, Manuel Frias Martins, e pelo ensaísta e crítico literário, Miguel Real. O primeiro prémio do concurso recebe um valor pecuniário de quatro mil euros e a obra será editada, no próximo ano, pela Câmara Municipal de Santiago do Cacém.

Segundo o júri, trata-se de “uma obra de grande lirismo. As narrativas dos vários contos deixam transparecer uma elevada qualidade estética e um excelente domínio da linguagem. A atmosfera da cultura oriental está muito bem representada, seduzindo a atenção do leitor”.

De acordo com o município, em comunicado, João Morgado nasceu em 1965, na Covilhã, é poeta e romancista, doutorado em Comunicação na Universidade da Beira Interior e foi distinguido com a Grã-Cruz da Ordem do Mérito Cívico e Cultural, oficializada pela República Federativa do Brasil, pelo seu trabalho de investigação sobre Pedro Álvares Cabral. “Autor premiado nas áreas do romance, poesia e conto, foi na literatura que se afirmou com os romances ‘Diários dos Infiéis’ e ‘Diário dos Imperfeitos’”, acrescentou. João Morgado passou também por Macau, em 2017, onde foi convidado para participar no Festival Literário Rota das Letras.

O Prémio Nacional de Conto Manuel da Fonseca, de caráter bienal, procura distinguir uma coletânea de contos originais, escritos em língua portuguesa, por autor natural de qualquer país que integre a comunidade lusófona. Este ano, segundo a autarquia, foram admitidos a concurso 96 obras literárias originais de autores lusófonos, verificando-se um acréscimo em relação a 2018 em que concorreram 19 trabalhos. In “Ponto Final” - Macau

terça-feira, 29 de setembro de 2020

Portugal - Cientistas da Universidade de Aveiro alertam para o lixo da pandemia

É urgente encontrar alternativas ao uso de máscaras e luvas descartáveis. O apelo é de uma equipa de cientistas da Universidade de Aveiro (UA), que nos últimos meses têm estudado o aumento de lixo e o recuo generalizado na gestão sustentável de resíduos de plástico, dois enormes efeitos colaterais derivados do combate à pandemia



Se numa primeira fase o confinamento que alastrou um pouco por todo o globo trouxe ganhos para o meio ambiente, com a redução da poluição atmosférica, numa segunda fase cedo se percebeu que o ambiente iria sofrer.  A quantidade de plásticos não reutilizáveis, entre máscaras, luvas e outros materiais de proteção, que foi preciso passar a usar na proteção diária para prevenir o contágio pelo coronavírus, aumentou exponencialmente à medida do aumento de casos. E muitos desses materiais já estão espalhados no ambiente.

Alertados para o problema, depois de verem os espaços públicos inundados por máscaras e luvas abandonadas, Joana Prata, Ana Luísa Silva, Armando Duarte e Teresa Rocha-Santos, investigadores do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM), uma das unidades de investigação da UA, publicaram três artigos científicos. No primeiro estudo, elaboraram uma série de recomendações de gestão coletiva, mas também individual, deste novo lixo que ameaça inundar rios e mares. No segundo estudo, alertam para a necessidade de encontrarem alternativas para o uso e gestão final adequados de equipamentos de proteção.  Na terceira publicação, que contou ainda com a participação de Amadeu Soares e Diana Campos, também do CESAM, os cientistas abordam os impactos a curto prazo da produção e utilização deste lixo e resumem uma série de recomendações políticas para a sua correta gestão.

Os artigos foram realizados em parceria com a Universidade de Dalhousie (Canadá), o Instituto de Diagnóstico Ambiental e Estudos da Água (Espanha) e a Beijing Normal University (China).



Espaços públicos inundados por plástico

“Fomos motivados a alertar para este assunto devido à quantidade de material de proteção pessoal descartável que encontramos em espaços públicos. O descarte correto das máscaras e luvas descartáveis foi negligenciado e estes resíduos passaram a ser encontrados nas ruas e passeios”, diz a investigadora Joana Prata.

Ana Luísa e Joana Prata, primeiras autoras destes estudos, estimaram, com base em estratégias de saúde pública, que a nível mundial são necessárias mensalmente 129 mil milhões de máscaras e 65 mil milhões de luvas. Números imensos nos quais não estão contabilizadas as batas descartáveis e outros materiais de proteção, cuja "gestão desadequada tem como resultado uma contaminação ambiental generalizada".

Para contornar o problema ambiental, a dupla do CESAM diz que é urgente encontrar alternativas sustentáveis para as máscaras, luvas e plásticos de utilização única. Que dentro do possível, esses materiais sejam reciclados depois da sua desinfeção ou quarentena, que se use preferencialmente máscaras feitas com materiais reutilizáveis e que se regresse ao caminho da economia circular que estava a ser traçado para os materiais plásticos antes de surgir a pandemia, são apenas algumas das principais recomendações avançadas pelas cientistas nos 3 estudos publicados.

Recuos na economia circular

Em muitas áreas do mundo, apontam, existiu uma reversão de leis e regulamentos que visavam a redução do uso de plásticos de utilização única, como é o caso das taxas sobre sacos de plástico finos. “Os próprios consumidores passaram a procurar alimentos embalados em plástico devido à preocupação com a possível transmissão do vírus através de objetos e maior prazo de validade”, dizem as investigadoras.

A gestão dos resíduos de plástico também sofreu grandes alterações com a escalada da pandemia: “em muitas áreas do mundo a reciclagem dos plásticos parou, noutras as entidades debatiam-se com o tratamento adequado dos crescentes resíduos hospitalares potencialmente infeciosos”.

A pandemia trouxe alterações na utilização do plástico, com aumentos e decréscimos no seu uso dependendo das aplicações. O aumento de consumo de plásticos “foi observado em embalagens alimentares, como de takeaway, e no material de proteção pessoal”.

A pandemia trouxe a urgência de se preservar a saúde no imediato e deixar para mais tarde as consequências ambientais. “Não deveríamos descontinuar uma estratégia ambiental a longo-prazo quando é compatível com as atuais medidas de combate à pandemia e contribui para a futura preservação da saúde humana. Por exemplo, não há evidencias que a utilização de luvas descartáveis seja mais eficaz do que a correta higienização das mãos”, exemplificam.

As cientistas recomendam por isso que o uso dos plásticos seja feito de uma forma responsável. Isto incluí otimização da sua produção, utilização ponderada, substituição do descartável pelo reutilizável, e gestão de resíduos eficaz e sustentável como refere a investigadora Ana Luísa.

“Situações de emergência, pelos mais variados motivos, irão repetir-se no futuro”, anteveem. Por isso, “teremos de delinear estratégias para uma produção e utilização sustentáveis dos materiais plásticos em situação de emergência. Os plásticos podem ser bons ou maus, tudo depende da forma como são utilizados e descartados”. Universidade de Aveiro - Portugal

Macau - Exposição no Clube Militar junta artistas da Lusofonia

É inaugurada hoje a Exposição de Pintura Lusófona, que se realiza pelo quinto ano seguido, no Clube Militar. Serão apresentadas 27 obras de artistas de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe, Timor e Macau. José Isaac Duarte, que faz parte da organização do evento, diz que o objectivo é trazer a Macau “artistas diversificados no estilo, nas técnicas e nos temas”.



Este é o quinto ano em que a mostra Exposição de Pintura Lusófona é realizada no Clube Militar, como parte da série “Pontes de Encontro”. São, no total, 27 obras que vão ser expostas, de artistas de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe, Timor e Macau.

A inauguração acontece hoje, às 18h30, na Galeria Ho Yin do Clube Militar de Macau. As peças ficarão expostas até dia 2 de Novembro, todos os dias, das 12 às 19 horas.

A curadoria e a produção executiva são da responsabilidade da APAC – Associação para a Promoção de Atividades Culturais. José Isaac Duarte, que faz a produção executiva da exposição, começou por dizer ao Ponto Final que a iniciativa “traz a alegria de voltar a acontecer qualquer coisa” em Macau.

A Exposição de Pintura Lusófona costuma ser a segunda da série de exposições organizadas pelo Clube Militar, intitulada “Pontes de Encontro”, que abre normalmente com uma exposição de pintura portuguesa, por altura do Dia Nacional de Portugal, que este ano não se realizou devido à pandemia. O evento “coincide, interessantemente, com o 150.º aniversário do Clube Militar”. Um aniversário “ensombrado” pelas dificuldades provocadas pela pandemia.

A organização da exposição no Clube Militar foi impactada pelo vírus: “Procuramos trazer, em geral, artistas novos, mas este ano repetimos alguns, este ano foi um ano particularmente difícil para a organização pelas razões que são conhecidas, ligadas a todas as restrições de comunicação”. Segundo José Isaac Duarte, este foi “um ano de custos elevados em termos de transportes”. “Não é a mesma coisa estar a falar directamente com os artistas, estar com eles nos ateliês, estar a ver as obras que eles estão a fazer, o que têm em acervo, etc. Tornou tudo mais difícil. É um ano difícil para as pessoas e para muitos artistas em particular”, indicou.

A exposição que é agora inaugurada segue “um modelo simples”, explicou Isaac Duarte, detalhando: “O modelo é ter um artista de cada país lusófono e de Macau a apresentar as suas obras”. O objectivo é “trazer artistas diversificados no estilo, nas técnicas e nos temas”, referiu o membro da produção da iniciativa. E, além disso, visa “servir um pouco como uma mostra da diversidade e criatividade das artes plásticas nomeadamente nas artes visuais no mundo lusófono”.



“Procuramos trazer artistas dos diferentes países, com obras recentes e com obras que, de algum modo, reflictam o estilo desse artista”, explicou Isaac Duarte, assinalando que não existe um tema unificador das obras que estarão presentes: “Esse é um trabalho dos curadores que, dentro de uma diversidade grande e dentro de um objectivo, mostrar uma diversidade de técnicas, de temas, de abordagens estilísticas etc., procurar encontrar uma exposição que no conjunto resulta equilibrada e harmoniosa”.

O artista representante de Angola é Cristiano Mangovo, que expõe em Macau pela primeira vez. O jovem artista angolano estudou Pintura na República Democrática do Congo, na Faculdade de Belas Artes de Kinshasa. Segundo explica a organização, fez uma formação com diversos artistas e participou em ‘workshops’ sobre a cenografia urbana e performance. Além disso, já expôs a sua obra em diversos países europeus, bem como nos Estados Unidos da América.

Do Brasil, o artista convidado a participar nesta exposição foi Jayr Peny, que iniciou a sua carreira profissional em 1981, depois de ter concluído a formação académica em Pintura na Universidade Federal do Rio Grande do Sul e, mais tarde, tendo estudado Desenho Artístico. Desde 81, já realizou 44 exposições individuais, nomeadamente em Portugal, Brasil, França e Estados Unidos da América.

Tutu Sousa é o artista convidado de Cabo Verde. Segundo explica uma nota da organização, Tutu Sousa é um autodidata no domínio da pintura e da escultura, contando, no seu percurso, com mais de 30 exposições individuais realizadas em Cabo Verde e no estrangeiro. Em Cabo Verde, o artista fez dezenas de pinturas de murais decorativos, nomeadamente nos aeroportos do país.

O artista convidado da Guiné-Bissau é Sidney Cerqueira, que, segundo conta a organização, desde muito cedo se dedicou à pintura. Desde 2007 tem participado em várias exposições individuais e colectivas na Guiné, bem como no Senegal, em Portugal, na Suíça, no Brasil e em Cabo Verde.

O artista local a integrar a mostra no Clube Militar será Victor Marreiros. O designer, ilustrador e artista plástico de Macau foi distinguido com mais de 200 prémios locais e internacionais. Victor Marreiros recebeu, em 1999, a “Medalha de Mérito Profissional” do Governo de Macau e, em 2004, foi agraciado com o “Título Honorífico de Valor”. A sua obra já foi exposta em mostras individuais e colectivas em mais de 15 países.



Suzy Bila é a artista convidada de Moçambique. A moçambicana concluiu o curso de Pintura e Desenho na AR.CO, em Lisboa, e é mestre em Educação pré-escolar. A artista combina, segundo a organização, o seu trabalho artístico com actividades académicas relacionadas com a aplicação da arte na educação infantil.

O artista de Portugal escolhido para expor a sua obra em Macau é Fernando Direito, que iniciou a sua carreira nos anos 60 em Moçambique e chegou a ser artista da Galeria 111. Actualmente é representado pela Galeria VALBOM, em Lisboa, e tem integrado várias colecções nacionais e internacionais, públicas e privadas.

Eva Tomé, de São Tomé e Príncipe, também vai ver a sua obra exposta em Macau. A artista estudou Estilismo, Modelação e Arte na Dinamarca. Tem exposto, desde 2000, em São Tomé, bem como noutros países.

A artista de Timor-Leste que vai expor nesta mostra será Dulce Martins, descendente de uma família tradicional timorense, conta a organização, acrescentando que se iniciou como autodidata e complementou a sua formação em cursos da UAL, da Fundação Gulbenkian e da SNBA. Dulce Martins é representada em várias instituições públicas e privadas, diz a organização da exposição de Macau.

“Esta é uma exposição que visa mostrar diversidade, sendo que nessa diversidade procuramos encontrar algum equilíbrio”, indicou José Isaac Duarte.

O responsável indicou que, no ano passado, a exposição teve cerca de 2.500 visitantes. Porém, este ano a organização espera menos: “É melhor prepararmo-nos para o pior”. “A galeria do Clube Militar tem uma localização bastante interessante do ponto de vista da cidade e dos fluxos turísticos e é visitada por muitos turistas”, apontou Isaac Duarte, ressalvando que a componente dos turistas vindos de fora deverá ser menor: “É natural que essa componente decresça. Nos feriados, vamos ver como é que a cidade está”. André Vinagre – Macau in “Ponto Final”

 

andrevinagre.pontofinal@gmail.com 

Angola - Inscrição para a obtenção da carteira profissional dos jornalistas já arrancou

Os jornalistas angolanos começaram esta segunda-feira,28, a inscrever-se no site da Comissão da Carteira e Ética (CCE) para obtenção da carteira profissional, documento que vai ser fundamental para o exercício da actividade no País, avançou hoje ao Novo Jornal a presidente da CCE.

A jornalista Luísa Rogério adiantou que o processo estará dividido em três períodos e nesta primeira fase, que vai até ao próximo Domingo dia 04, os "kotas" são prioritários, ou seja, a partir de hoje devem apenas inscrever-se os jornalistas que começaram a exercer a profissão até 1985, incluindo o tempo colonial.

"A ideia é facilitar o processo de inscrição para aqueles que começaram primeiro a exercer a profissão. Queremos que eles sejam os primeiros e quetenham também os primeiros números de carteira profissional", disse a presidente da CCE, acrescentando que "quem assim não o fizer neste período vai perder o direito de ser primeiro e terá o número da carteira já acima da casa dos mil. A ideia é atribuir os primeiros números a quem começou primeiro".

Luísa Rogério informou ainda que a CCE tem todas as condições criadas e que a carteira será em suporte físico e digital.

Quanto à segunda fase, Luísa Rogério explicou que irá decorrer de 05 a 11 de Outubro e será apenas para os jornalistas que começaram a exercer a função a partir de 1986 até ao ano 2000.

O terceiro período, será para os jornalistas que começaram a exercer a função de 2001 até à data presente.

Luísa Rogério recordou que, nos termos da Lei, as inscrições devem durar apenas três meses e quem assim não o fizer e continuar a exercer a profissão de jornalistas em Angola, vai perder esse direito.

"Daqui há três meses quem não tiver carteira profissional vai ser impedido de exercer a profissão de jornalista de acordo com a Lei e o órgão que trabalha será multado", sublinhou.

Quanto aos jornalistas reformados, Luísa Rogério disse que esses profissionais podem também solicitar a carteira para que se apresentem como jornalistas.

Cada jornalista terá de pagar 25 mil kwanzas no acto da inscrição para atribuição da carteira profissional.

Quanto ao pessoal formado em comunicação social, jornalismo, e ciências da comunicação que nunca exerceu antes a profissão, estes ficam impedidos de solicitarem a carteira e só podem fazê-lo após terem um período de estágio ou de seis meses num órgão de comunicação social

Os cidadãos estrangeiros que exercem actividade de jornalistas em Angola, também devem inscrever-se na CCE para a obtenção da carteira profissional.

A Comissão de Carteira e Ética é um organismo de direito público com competência de assegurar o funcionamento do sistema de acreditação dos profissionais da comunicação social nos termos da Lei.

Compete-lhe ainda a atribuição, a renovação, a suspensão ou mesmo cassação, nos termos da Lei, dos títulos de acreditação dos profissionais da comunicação social, bem como apreciar, julgar e sancionar a violação.

Nos termos da Lei sobre o Estatuto dos Jornalistas, para se ter acesso à profissão de jornalista em Angola tem de se ter como requisito uma licenciatura em comunicação social ou jornalismo ou ter mais de cinco anos de profissão. Fernando Calueto – Angola in “Novo Jornal”

  

Gabriel Nascente ou a libertação da metáfora

                                                                      I

Para marcar uma trajetória literária de mais de meio século, o poeta goiano Gabriel Nascente (1950) lançou, em 2019, Galáxia dos dias, uma caixa com quatro volumes com mais de mil páginas cada um, com poemas de toda uma vida, revisados e até ampliados. Publicada pela Editora Kelps, de Goiânia, a coletânea reúne a obra do poeta em verso e prosa de 1966 até 2019, ao menos aquela publicada em livros, inclusive os primeiros que estavam esgotados e não são encontrados nem mesmo em alfarrábios, ainda que de fora tenham ficado muitos poemas esparsos que saíram em revistas, jornais e antologias.

Enfim, trata-se de uma extensa coletânea que vai de Os gatos (1966) até Nunca lhe direi adeus (2018), que marcam a produção de quem fez da poesia um “instrumento para melhor compreender o mundo, dissecá-lo, fazendo-o avançar ou retroceder  às origens clássicas, com deuses e deusas, mas sempre dando ao homem a sua exata dimensão”, como bem observa no prefácio ao primeiro volume o professor Adovaldo Fernandes Sampaio, linguista e ensaísta, autor de Letras e memória – uma breve história da escrita (São Paulo, Ateliê, 2010), entre outras obras.

É de se lembrar que, para comemorar os seus 40 anos de poesia, Gabriel Nascente já havia lançado Inventário poético (2005), pela Editora Alternativa, também de Goiânia, em bem cuidada edição que reuniu o melhor de sua produção até então, de acordo com seleção feita por Aidenor Aires e Vera Maria Tietzmann Silva, que também foi responsável pela organização e pelo texto introdutório. Ao mesmo tempo, lançou com o apoio cultural da Central dos Concursos, de Goiânia, Um poeta em ação (2005), que contém sua biografia e fortuna crítica, com o qual chegou a sua 40ª obra publicada, o que resulta na média impressionante de um livro editado por ano de atividade literária.

Não se sabe de outro poeta que tenha alcançado tamanho volume de trabalho. Quinze anos depois, o balanço registra 49 livros de poesia, aos quais se deve acrescentar mais 14 de outros gêneros. Sem contar ainda os ensaios críticos sobre a sua obra escritos pelo grande escritor português Joaquim de Montezuma de Carvalho (1927-2008), reunidos em A poesia de Gabriel Nascente, publicado em 2008 pela Editora Kelps.

É verdade que quantidade não significa qualidade, mas esta é uma observação injusta quando se trata do fazer poético de Gabriel Nascente, marcado principalmente por uma preocupação existencial extravasada por um lirismo não muito comum na literatura brasileira. E que já se constata em suas primeiras manifestações poéticas, como se pode comprovar com o poema “Antes do abismo”, de Os gatos: Deste muro/ mal acabado pelos séculos,/ desta calçada estreita/ fechada pelo lodo,/ eu saí à procura/ da rosa sedutora,/ atordoado de medo,/ mas airoso de Cristo/ em mim,/ (de chutar pedras/ na cara do mundo)./ Fui crescendo/ na medida dos homens. / Fui diminuindo/ na ausência de Deus./ Mostrei/ meu reboque de amor./ Mostrei/ minha alma/ de amar estrela.

                                                                     II

Na produção de Gabriel Nascente, em muitos poemas, a natureza assume reações humanas, valendo-se o autor de uma figura de linguagem, a prosopopeia ou personificação, que só grandes mestres da literatura sabem como utilizar em seu maior grau de transcendência, atribuindo qualidades humanas a personagens não-humanos, ao transferir para árvores seus próprios traços psicológicos, como se vê nos versos de "A palmeira de Morrinhos", que faz parte do livro Os passageiros (1979): “(...) A palmeira de Morrinhos/ tem silêncio de que dormiu/ com as águas. O rosto sempre virado/ para os lábios da brisa”.

Ou  nos versos de “As bananeiras”, que consta do livro Ventania (1995): “(...) As bananeiras estão fartas e amarelas de fadiga./ Mas quando nas madrugadas as ventanias/ são impiedosas a ponto de maltratá-las,/ elas ficam a chorar de inveja dos telhados,/ porque abaixo dos telhados há corações,/ relógios e cobertores./ E por baixo das bananeiras, não (...)”.

Ou ainda nos versos de “O rio é uma flauta”, que faz parte de Cora, a pitonisa da ponte (Kelps, 2006), livro em homenagem a poeta Cora Coralina (1889-1985): “Ali é onde o rio/ vai à forca./ O parto de suas águas/ vem do oco das pedras./ E o rio, como um pulmão,/ arma seus abismos/ das vidas sem retorno. O rio é estrela rolando/ como o viver/ é pesado e fundo e leve/ na carne dos cardumes./ Manso como a sandália/ ou a casca de uma fruta/ o rio é ermo, espremido./ E suspira longo/ num corredor de terra./ O mistério de suas águas/ é tão leve como a cinza:/ o rio é levado pelas asas/ de outro rio (...)”.

Por aqui se vê que, a exemplo do que notou o professor Leodegário A. de Azevedo Filho (1927-2011) no opúsculo “Fernando Pessoa, seus heterônimos e a emergência do novo” (Porto, 2008), em relação ao heterônimo Álvaro de Campos, a poesia de Gabriel Nascente busca assumir a libertação plena da metáfora, “ao sabor das mais desencontradas sensações subjetivas”, o que o faz buscar dar vida às “personagens” não-humanas, com a prevalência do verbo sentir sobre o verbo pensar. Obviamente, Gabriel Nascente como poeta tem numerosas faces, como poderá comprovar quem fizer a longa travessia por estes quatro volumes, mas, seja como for, o que da imensa maioria destes versos sairá sempre será essa simultaneidade de sensações que, a rigor, caracteriza o seu ideal poético.

                                                                     III

Filho de um marceneiro, um dos pioneiros na construção de Goiânia, Gabriel Nascente é ainda hoje funcionário público, servindo como assessor cultural da presidência do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás. Atuou profissionalmente também no jornalismo, mas não se limitou às experiências vivenciais e profissionais em sua terra: passou uma longa temporada em São Paulo, onde trabalhou na Editora Martins como redator de textos de “orelhas” de livros de autores famosos, deu aulas em cursinhos de pré-vestibular e trabalhou na redação da Folha de S. Paulo.

Quando deixava a redação do jornal, na alameda Barão de Limeira, no centro da capital paulista, aproveitava para vender exemplares de seus livros nas noites paulistanas. Como o poeta português Manuel Maria de Barbosa du Bocage (1765-1805) e o russo Vladimir Maiakovski (1893-1930), a quem confessadamente procurou imitar em muitos de seus poemas, sempre teve a mania de ir aos bares e cafés à noite não só para declamar os seus versos como para vendê-los, pois muitas das edições de seus muitos livros foram pagas à gráfica com seus próprios recursos, o que exigiu esforços redobrados para recuperar o capital investido.

Em Goiânia, fez o jardim da infância e o curso primário no Instituto Araguaia e concluiu o ginásio industrial pela Escola Técnica Federal de Goiás, onde estudou também o curso de Eletrotécnica, equivalente ao científico, mas não fez estudos universitários. Aos 16 anos, publicou seu primeiro livro de poesias, Os gatos, mas não deixou de incursionar por outros gêneros, como ensaio, ficção, reportagens, narrativas, crônicas e poesia.

Durante o regime militar (1964-1985), chegou a morar em Buenos Aires e Montevidéu, na clandestinidade. Por essa época, em 1975, o poeta Dilermando Rocha, do Centro de Estudos Brasileiros, de Buenos Aires, traduziu para o espanhol o seu livro El llanto de la tierra, publicado em 1999, em Concepción, no Chile. Tem poemas traduzidos e publicados em diversos idiomas, dos Estados Unidos a Grécia, com extensa participação em jornais, revistas e antologias brasileiras e estrangeiras.

Foi editor de diversas revistas e jornais de Goiânia, destacando-se principalmente como editor adjunto do suplemento literário do Diário da Manhã, além de ter sido cronista durante anos de O Popular. É colaborador do Jornal Opção. Seu nome mereceu um alentado texto no livro História da Literatura Brasileira: da carta de Caminha aos contemporâneos (São Paulo, Editora Leya, 2011), do poeta e acadêmico Carlos Nejar, que lhe dedicou ainda o poema “Gabriel Nascente de Goiás”, reproduzido na contracapa de Galáxia dos dias.

Nos últimos tempos, o poeta tem encetado uma campanha pessoal para viabilizar o seu ingresso na Academia Brasileira de Letras, o que, diga-se de passagem, seria bem merecido, não fosse aquela instituição marcada por extremo favoritismo carioca. Afinal, seu labor poético tem arrancado elogios de poetas, romancistas e críticos consagrados como Ivan Junqueira (1934-2014), Ferreira Gullar (1930-2016), Olga Savary (1933-2020), Affonso Romano de Sant´Anna e Antonio Carlos Secchin, entre outros. É membro da Academia Goiana de Letras. Adelto Gonçalves - Brasil

__________________________________

Galáxia dos dias: obra reunida, de Gabriel Nascente, vols. I a IV. Goiânia: Editora Kelps, 2019.

_________________________________________________

Adelto Gonçalves é doutor em Letras na área de Literatura Portuguesa pela Universidade de são Paulo (USP) e autor de Gonzaga, um Poeta do Iluminismo (Nova Fronteira, 1999), Barcelona Brasileira (Lisboa, Nova Arrancada, 1999; Publisher Brasil, 2002), Bocage – o Perfil Perdido (Lisboa, Caminho, 2003), Tomás Antônio Gonzaga (Imprensa Oficial do Estado de São Paulo (Imesp)/Academia Brasileira de Letras, 2012),  Direito e Justiça em Terras d´El-Rei na São Paulo Colonial (Imesp, 2015), Os Vira-latas da Madrugada (José Olympio Editora, 1981; Letra Selvagem, 2015) e O Reino, a Colônia e o Poder: o governo Lorena na capitania de São Paulo 1788-1797 (Imesp, 2019), entre outros. E-mail: marilizadelto@uol.com.br

segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Moçambique - ONG portuguesa constrói escolas

Serão construídas 60 salas de aulas em 10 escolas na província de Nampula. 7000 crianças terão maior conforto e segurança nas suas salas de aula, melhorando as condições de ensino e aprendizagem. As escolas em Moçambique têm sido fortemente danificadas por desastres naturais recorrentes, desde chuvas fortes, ciclones, inundações

Com apoio financeiro do Banco Mundial, o Governo de Moçambique selecionou a ONG portuguesa Oikos para a construção de salas de aulas e infraestruturas de saneamento obedecendo a medidas de adaptação às ameaças naturais recorrentes na província de Nampula.

Serão adotadas técnicas de construção resilientes e mistas – combinando o máximo de conhecimento e recursos locais, com a construção convencional – e adotados padrões de reconstrução melhorados, o que resultará numa melhor resiliência a futuras ameaças naturais.

Pretende-se melhorar a capacidade de resposta das estruturas, principalmente aos impactos de ventos e chuvas fortes, assim como reduzir a manutenção rotineira e reconstrução recorrente das infraestruturas em cada época chuvosa e ciclónica.

A iniciativa enquadra-se na recuperação resiliente de emergência levada a cabo pela Direção Infraestruturas e Equipamentos Escolares nas províncias de Nampula, Niassa e Zambézia.

Serão parceiros o Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano; Direção de Infraestruturas e Equipamentos Escolares; e a UN-HABITAT das Nações Unidas. In “Bom dia Europa” - Luxemburgo

Cabo Verde - Pandemia de covid-19 não vai atrasar a mobilidade na comunidade lusófona

 

O ministro dos Negócios Estrangeiros de Cabo Verde, país que detém a presidência rotativa da CPLP, disse neste dia 28 que a pandemia de covid-19 não vai atrasar a mobilidade na comunidade lusófona, salientando que o dossiê já está consensualizado.

“Já não vai atrasar [a mobilidade] porque o documento já está consensualizado, o que é mais importante”, disse Luís Filipe Tavares, em declarações à imprensa, a partir da cidade da Praia, depois de uma reunião informal do Conselho de Ministros da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), por videoconferência.

O ministro cabo-verdiano, enquanto presidente em exercício do Conselho de Ministros da CPLP, disse que em dezembro vai ser realizada outra reunião extraordinária dos chefes da diplomacia dos países lusófonos para aprovação do projeto de mobilidade dos cidadãos, apresentado por Cabo Verde.

A reunião deverá ser realizada em Cabo Verde e Luís Filipe Tavares disse que o “maior desejo” do país é que seja presencial, mas se não for possível por causa da covid-19, será realizada em modo virtual.

Depois disso, o documento vai ser depois apreciado e ratificado na cimeira de Luanda, em julho de 2021, pelos chefes de Estado e de Governo da comunidade.

“Esperemos que até lá a situação da covid-19 estará resolvida, com vacinas ou uma vacina pelo menos global, para todos os países, mas há uma certeza: temos consenso na CPLP em matéria de mobilidade”, prosseguiu Luís Filipe Tavares.

Cabo Verde prolongou até 2021 a sua presidência rotativa da CPLP, após proposta de Angola, país que deveria assumir a liderança da organização lusófona em julho último.

A reunião virtual dos chefes da diplomacia da CPLP foi realizada à margem da 75.ª Sessão Ordinária da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), que este ano também decorre em formato de teleconferência devido à pandemia da covid-19.

Anualmente, os chefes da diplomacia da CPLP aproveitam a Assembleia Geral da ONU, em Nova Iorque, para se reunirem informalmente e discutirem vários assuntos relativos à comunidade lusófona.

Durante a reunião, Luís Filipe Tavares disse que foram abordadas questões como as agendas dos respetivos países, a situação da covid-19 em todos os Estados-membros, do projeto de mobilidade de Cabo Verde, questões de segurança e luta contra a criminalidade organizada nos países.

Sobre a situação da covid-19 nos nove Estados-membros da CPLP, o ministro cabo-verdiano disse que ficaram acordadas várias questões importantes para minimizar os efeitos e combater a pandemia, desde logo a partilha de informações.

“Decidimos ter uma articulação muito forte em relação à pandemia da covid-19, as melhores práticas nos respetivos países, aquilo que cada um faz. É um desafio global, e para desafios globais, temos que ter uma resposta global ou respostas globais”, salientou.

Luís Filipe Tavares recordou que os ministros da Defesa, da Administração Interna e da Saúde já debateram a questão da criação de mecanismos para fazer face às catástrofes naturais e pandemia e disse que a reflexão vai continuar.

“A articulação é muito importante, tem havido uma grande solidariedade entre os Estados-membros da CPLP. Estamos a trabalhar entre nós e articularmos as medidas de política e informarmos uns aos outros sobre aquilo que de melhor cada um está a fazer”, prosseguiu o presidente em exercício do Conselho de Ministros da CPLP.

Portugal contabiliza pelo menos 1957 mortos associados à covid-19 em 74029 casos confirmados de infecção, segundo o último boletim da Direção-Geral da Saúde (DGS).

Entre os países africanos que têm o português como língua oficial, Angola lidera em número de mortos e Moçambique em número de casos. Angola regista 174 mortos e 4718 casos, seguindo-se a Guiné Equatorial (83 mortos e 5028 casos), Moçambique (58 mortos e 7983 casos), Cabo Verde (57 mortos e 5771 casos), Guiné-Bissau (39 mortos e 2362 casos) e São Tomé e Príncipe (15 mortos e 911 casos).

O Brasil é o país lusófono mais afetado pela pandemia e um dos mais atingidos no mundo, ao contabilizar o segundo número de mortos (mais de 4,7 milhões de casos e 141741 óbitos), depois dos Estados Unidos.

Timor-Leste regista atualmente apenas um caso ativo da doença, o 28.º detetado no país desde o início da pandemia.

Na reunião desta segunda-feira, Portugal esteve representado pela secretária de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação, Teresa Ribeiro. In “Mundo Lusíada” - Brasil

Macau - “Pontes de Encontro” mostram talento lusófono no Clube Militar

 


Entre quarta-feira e o dia 2 de Novembro, o Clube Militar vai realizar mais uma edição da série de exposições “Pontes de Encontro”.

Como nos anos anteriores, o objectivo é apresentar o trabalho de um artista plástico contemporâneo de cada um dos países de língua portuguesa e de Macau. No total, serão exibidos 27 trabalhos originais, três de cada artista. A mostra é inaugurada às 18:30 de amanhã.

A representar Macau estará Victor Marreiros que já foi distinguido com mais de 200 prémios locais e internacionais na qualidade de designer, ilustrador e artista plástico. Em 1999 foi agraciado com a “Medalha de Mérito Profissional” pelo Governo da RAEM.

O artista de Portugal escolhido para representar o país foi Fernando Direito, que vive e trabalha em Lisboa, tendo iniciado a carreira nos anos 60 em Moçambique. Estarão ainda exibidas obras de Cristiano Mangovo, de Angola, Jayr Peny, do Brasil, Tutu Sousa, de Cabo Verde, Sidney Cerqueira da Guiné-Bissau, Suzy Bila, de Moçambique, Eva Tomé de São Tomé e Príncipe e Dulce Martins, de Timor-Leste. A mostra pode ser visitada todos os dias entre as 12:00 e as 19:00. In “Jornal Tribuna de Macau” - Macau












Lusofonia - Associação junta jovens advogados lusófonos

Apoiar, integrar e representar os jovens juristas dos países de língua oficial portuguesa são os principais objectivos da associação internacional de Jovens Advogados de Língua Portuguesa, cujo âmbito de adesão também integra Macau



A associação internacional de Jovens Advogados de Língua Portuguesa (JALP) “pretende assumir-se como um polo agregador e voz activa e intransigente das inquietações e interesses dos seus associados”, refere a nova associação em comunicado. Com sede em Portugal, a JALP diz querer ter “um papel relevante” no enquadramento dos jovens advogados no contexto jurisdicional lusófono e no movimento linguístico-cultural, onde considera que “se insere a nova portugalidade”.

Os órgãos sociais da JALP são compostos por advogados inscritos em diversos países que integram a Comunidade de Países de Língua Oficial Portuguesa (CPLP), entre eles, Angola, Brasil, São Tomé e Príncipe e Portugal, bem como a RAEM. O presidente da direcção da associação é Francisco Goes Pinheiro, que tem como vice-presidentes Márcia Martinho da Rosa e José Briosa e Gala. Já Nayda Silveira d’Almeida é a vogal e Natália Campos Rocha secretária-geral.

A associação adianta ainda que “podem fazer parte da JALP quaisquer advogados ou advogados estagiários devidamente inscritos nas respectivas ordens profissionais de qualquer país da CPLP, desde que a inscrição definitiva não tenha ocorrido há mais de vinte anos”.

Ainda de acordo com a mesma nota, podem integrar a JALP os membros honorários e colectivos, sendo os primeiros advogados que se notabilizaram no exercício da profissão ou no contexto da CPLP, bem como os associados colectivos, as entidades que desempenhem um papel de relevo nas jurisdições anteriormente referidas ou que prossigam interesses comuns ou similares aos prosseguidos pela associação.

Por último, a associação visa “a protecção da língua portuguesa no contexto da profissão de advogado e o futuro dos advogados e advogados estagiários na CPLP”. In “Jornal Tribuna de Macau” – Macau com “Lusa”