Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

quinta-feira, 30 de setembro de 2021

Cabo Verde - “Cerâmicas de Cabo Verde” de João Lopes Filho vai ser lançado em Portugal


Cidade da Praia – O livro “Cerâmicas de Cabo Verde”, de João Lopes Filho, vai ser lançado esta sexta-feira, em Lisboa, tendo como apresentadores os professores Filipe Themudo Barata, Pedro da Conceição e a ceramista Jacira da Conceição.

Segundo uma nota de imprensa do Centro Cultural de Cabo Verde (CCCV), em Lisboa, nesta obra o autor analisa as técnicas de fabrico utilizadas nos diferentes centros oleiros, procurando distinguir as técnicas herdadas de séculos atrás, das inovações introduzidas no séc. XX na produção cerâmica em Cabo Verde.

Para descrever pormenorizadamente os sistemas de produção neste arquipélago, o autor criou quatro subcapítulos: primeiro é dedicado à “Produção Artesanal”, incluindo os centros oleiros de Fonte Lima, na ilha de Santiago (que é apresentado como exemplo do fabrico em Trás-do-Monte, Ribeirão Carriço e Laranjinha dos Engenhos) e o do Rabil, na ilha da Boa Vista.

O segundo subcapítulo analisa o que denomina “Fase de Transição”, referindo-se aos centros localizados em São Domingos, na ilha de Santiago, e no Morro, na ilha do Maio.

O terceiro subcapítulo, intitulado “Cerâmica de Estúdio”, dá a conhecer um projecto inovador, iniciado em 1979, por Leão Lopes, da Cooperativa “Atelier-Mar”, na ilha de São Vicente.

Segundo a mesma fonte, o quarto subcapítulo dedica-se ao sistema que se denomina “Produção Industrial” na ilha da Boa Vista, quer na Praia de Chaves, quer na Oficina-Escola de Rabil.

O autor da obra debruça-se ainda sobre aspectos relacionados com a decoração das peças, formas e funções das mesmas e a comercialização do produto final.

Filho de João Lopes, jornalista e escritor que integrou o movimento Claridade, João Lopes Filho nasceu em 1950, na Ribeira Brava (São Nicolau).

É professor universitário, antropólogo, etnólogo, historiador e romancista.

Preside a Fundação João Lopes e é membro fundador e vice-presidente da Academia de Ciências e Humanidades de Cabo Verde e da Academia Cabo-verdiana de Letras. In “Inforpress” – Cabo Verde


 

Brasil - Senado celebra obra que reúne panfletos da época da independência


Na última segunda-feira em Brasília, o Senado promoveu sessão especial remota para o lançamento da obra inédita Vozes do Brasil: a linguagem política na Independência (1820-1824).

O livro reúne 20 panfletos publicados entre 1820 e 1824, conhecidos como panfletos da Independência, que foram impressos, na época, no Brasil e em Portugal. O material pertence a Biblioteca Oliveira Lima, da Universidade Católica da América, em Washington, nos Estados Unidos. A reunião também foi destinada a celebrar o 199ª aniversário de independência do país, celebrado em 2021.

O requerimento para que a sessão pudesse ser realizada foi de autoria do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), coordenador da Comissão Especial Curadora destinada a elaborar e viabilizar a execução das comemorações em torno do tema “O Senado Federal e os 200 anos da Independência do Brasil”.

Na abertura da sessão, o senador disse que os arquivos de Oliveira Lima foram entregues à Universidade de Washington ainda na década de 1920 e, após cem anos, esses documentos voltam ao Brasil, para que os brasileiros possam entender como foi esse processo de formação da sua independência.

Randolfe Rodrigues classificou o lançamento da obra como uma apresentação da “certidão de nascimento” do país, e afirmou que este é o evento mais importante a menos de um ano das comemorações do bicentenário de independência.

“O nosso 199º aniversário da independência, às vésperas do bicentenário, deveria ser celebrado para que nós refletíssemos sobre o País a que chegamos, as conquistas que tivemos, a República, a democracia. O 199º aniversário, que antecede o bicentenário, não deveria servir para pedir o banimento da nossa democracia; não deveria servir para pedir o fechamento das instituições do Estado democrático de direito, Congresso, Supremo Tribunal Federal; não deveria servir para fazer apologia a restaurações autoritárias. O 199º aniversário deveria servir para nós refletirmos e pensarmos que nação somos e qual nação nós queremos daqui a cem anos, quando estivermos no nosso terceiro centenário como Nação independente. O nosso 199º aniversário deveria servir para celebrar, para refletir, mas principalmente para celebrar as conquistas” afirmou Randolfe, que presidiu a sessão especial.

O parlamentar salientou que a realização da obra só foi possível graças aos esforços da diretora da Biblioteca Oliveira Lima, Nathalia Henrich, que também participou da sessão solene.

Nathália Henrich destacou em sua fala que o livro servirá não apenas aos especialistas que não podem se deslocar até Washington pessoalmente, para visitar e consultar a coleção, mas também aos professores, estudantes e público em geral.

As autoras da obra, as professoras Heloísa Starling e Marcela Telles de Lima, realizaram uma seleção criteriosa dos documentos do acervo da Oliveira Lima Library, com um objetivo em mente:

“Elas disseram que o sentimento que permeava a obra era o de ouvir as vozes dos brasileiros que lutaram pela liberdade no País. As vozes foram muitas e foram variadas, expressaram um projeto de País, ideias sobre Governo e política, assim como conceitos muito mais difusos como soberania, igualdade, liberdade e representação, e a preocupação em trazer essas vozes que permaneceram tanto tempo caladas, já que esses textos até hoje não haviam sido republicados para o grande público, e eles voltam ao Brasil” explicou.

Nathalia Henrich acredita que as diversas instituições envolvidas no lançamento estão cumprindo com seu papel cívico de promover o conhecimento, acercar o público brasileiro não apenas de documentos que são fonte para a história do país, mas também enriquecido da pesquisa séria e rigorosa que acompanha.

“Nós concretizamos assim o desejo do nosso fundador, o historiador e diplomata Manuel de Oliveira Lima, quando decidiu doar sua biblioteca à Universidade Católica da América, aqui em Washington, e criar um espaço de difusão do conhecimento sobre a história e sobre a cultura do Brasil nos Estados Unidos, que irradiaria de volta para o Brasil e também iluminaria o mundo” ressaltou em sua fala na sessão solene.

A diretora da biblioteca Oliveira Lima ressaltou a importância da obra para o Brasil em meio ao momento de crise política e de pandemia.

Histórias da época

Heloísa Sterling, professora da Universidade Federal de Minas Gerais e uma das autoras da obra, lembrou em sua fala durante a sessão que os panfletos reunidos na obra mostram que, na efervescência daqueles anos, eles eram materiais acessíveis a todos.

“Você pode surpreender a cidade inteira numa única manhã. Você vai lá, prega o panfleto com cera de abelha na parede e na porta de uma residência, nos lugares de maior circulação de pessoas, mas os panfletos também podem ser distribuídos de mão em mão. E, numa sociedade como a brasileira em que largas parcelas da população eram pouco instruídas ou nem mesmo letradas, os panfletos davam a volta aos obstáculos e baixavam os grandes temas da conjuntura ao nível das ruas. Eles eram lidos em voz alta também na porta das igrejas, nas lojas, nas tabernas, nas casas de alcouce, que são os prostíbulos, nas reuniões públicas, nas praças. Olha que legal: um grande debate sobre as visões e os projetos de Brasil” lembrou a professora.

Para o jornalista e escritor Eduardo Bueno, membro da Comissão Especial Curadora do Senado, uma celebração da independência dessa grandeza não é feita só pelo Poder Executivo, Legislativo e Judiciário.

“É feita por nós da sociedade civil, por nós! Nós somos agentes históricos. Nós temos que exercer a nossa cidadania e nós que temos essa responsabilidade. Já que estamos nesta Comissão, nós temos a obrigação de fazer com que isso chegue aos alunos e chegue com uma história libertária, uma história envolvente, uma história que apaixone e uma história que leve à reflexão, porque o único jeito de construir um país menos injusto do que este é com o conhecimento” salientou em seu discurso.

Também fizeram uso da palavra o presidente do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos, Francis Bogossian e o presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, Ildeu Moreira. A sessão contou com a presença virtual de senadores e da Diretora-Geral do Senado Federal, Ilana Trombka, que também compõe a Comissão Especial.

Os textos foram disponibilizados, em formato facsimilar, ao Senado por meio do acordo de parceria com a Biblioteca Oliveira Lima. O acordo de colaboração foi firmado em evento on-line no último dia 17 de agosto, a partir da iniciativa da Comissão Especial Curadora.

O livro será vendido na Livraria do Senado, por R$ 32, segundo a Agência Senado. In “Mundo Lusíada” – Brasil com “Agência Senado”


 

Portugal - Equipa da Universidade de Coimbra regressa ao Curdistão iraquiano para nova campanha arqueológica


Uma equipa de cientistas da Universidade de Coimbra (UC) parte, no sábado, 2 de outubro, para o Curdistão iraquiano, onde vai realizar uma nova campanha arqueológica no âmbito do “Projeto Arqueológico de Kani Shaie – KSAP”.

A equipa do Centro de Estudos em Arqueologia, Artes e Ciências do Património (CEAACP), liderada por Maria da Conceição Lopes e André Tomé, retoma assim os trabalhos arqueológicos iniciados em 2013 e interrompidos desde 2018.

O projeto, que conta com vários parceiros internacionais, entre os quais Steve Renette, da University of British Columbia, no Canadá, e a Direção Geral das Antiguidades de Sulaimania, tem sido financiado nos últimos anos por instituições nacionais e americanas. Nos próximos três anos o financiamento é assegurado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT).


Kani Shaie é uma pequena colina arqueológica situada no centro de um pequeno vale que «marca a transição entre a planície de Kirkuk e a cadeia montanhosa de Zagros. Formada por vários níveis de ocupação humana ao longo de vários milénios, os trabalhos desta campanha incidirão nos contextos do 5º milénio a.C., um período que marca o aparecimento de “proto-cidades” em algumas partes do mundo mesopotâmico e de grande desenvolvimento das redes comerciais de longa distância que distinguirão o milénio seguinte», explicam os investigadores do CEAACP.

«É, aliás, precisamente desse quarto milénio o achado mais significativo encontrado em Kani Shaie até ao momento: uma pequena tabuinha numérica de argila datada de 3400 a.C., a primeira e única encontrada na região», indicam Maria da Conceição Lopes e André Tomé.

A campanha arqueológica que agora se inicia servirá para dar resposta a algumas questões que exigem resposta imediata e para preparar uma campanha mais alargada na próxima primavera. Universidade de Coimbra - Portugal




 

quarta-feira, 29 de setembro de 2021

Macau - Instituto de Formação Turística será unidade de protecção da gastronomia macaense

Depois da China ter incluído três itens da RAEM na Lista de Património Cultural Intangível Nacional, o Instituto de Formação Turística de Macau foi agora designado como unidade de protecção da Gastronomia Macaense


O Departamento da Cultura e do Turismo do Conselho de Estado da República Popular da China divulgou na sexta-feira a lista de unidades de protecção de manifestações culturais classificadas como Património Intangível Nacional. O Instituto de Formação Turística (IFT) de Macau foi designado como unidade de protecção do património da Gastronomia Macaense.

Sendo “um produto histórico importante da intersecção das culturas chinesa e ocidental em Macau ao longo de mais de quatrocentos anos”, a Gastronomia Macaense reflecte as mudanças económica, cultura e social do território, sublinhou a instituição de ensino superior. Para o IFT, a inclusão da Gastronomia Macaense na Lista Nacional de Manifestações Representativas do Património Cultural Intangível da China “enriqueceu” o estatuto de Macau como membro da Rede de Cidades Criativas da UNESCO na área da Gastronomia, grupo que integra desde Novembro de 2017, bem como contribuiu para alargou os recursos turísticos do território.

Nesse sentido, o IFT assegurou que irá implementar as orientações de trabalho, cujas prioridades assentam nos princípios de “proteger, salvaguardar e desenvolver”, em consonância com a “Lei do Património Cultural Intangível da República Popular da China” e os requisitos inscritos no documento de “Opiniões sobre o reforço da salvaguarda do Património Cultural Intangível”, divulgado pelo Conselho de Estado da China.

A instituição de ensino sediada em Mong-Há recordou ainda que tem desenvolvido várias iniciativas relacionadas com a promoção, educação e defesa da herança da cultura gastronómica de Macau. No ano passado, foi criada na biblioteca do IFT uma sala dedicada à Base de Dados da Cozinha Macaense, exibindo documentos relacionados, como receitas manuscritas.

Recorde-se que, em Junho do corrente ano, a China actualizou a Lista de Património Cultural Intangível Nacional com a inclusão de três categorias declaradas pela RAEM – a Gastronomia Macaense, o Teatro em Patuá e as Crenças e Costumes de Tou Tei – tendo o Instituto Cultural defendido que a decisão consolida o papel do território como “uma base de intercâmbio e cooperação para a promoção da coexistência multicultural”. Com a actualização da lista, o número de manifestações culturais intangíveis na China subiu para 1557. Catarina Chan – Macau in “Jornal Tribuna de Macau”


Luxemburgo – Aprendizagem de português, um dos cursos mais procurados no Instituto Nacional de Línguas

Neste semestre de outono, que arrancou na semana passada, o INL oferece mais de 520 cursos de línguas para adultos, em Limpertsberg, Belval e Mersch. Do programa do centro consta a aprendizagem do alemão, inglês, chinês, espanhol, francês, italiano, holandês, luxemburguês e português, sendo que estes dois últimos são os idiomas mais procurados.

O Instituto lança um apelo às pessoas interessadas em aprender uma língua estrangeira, uma vez que ainda há vagas disponíveis para a aprendizagem de todas as línguas que constam no programa. Note-se que os cursos são acessíveis a adultos, sendo que é preciso submeter-se a um teste online para que possa ser estabelecido o nível de conhecimento da língua.

Uma rentrée marcada por algumas novidades, nomeadamente o “e-learning do luxemburguês”. Está a ser elaborado uma plataforma em que é possível aprender a língua de Dicks, de forma gratuita e acessível a todos. O lançamento está previsto para 2022. Outra novidade: cerca de 50 turmas vão funcionar em “blended learning”, um misto de aulas presenciais e à distância. In “Contacto” - Luxemburgo  

 

Cabo Verde – Escritora Vera Duarte recebe prémio Literário Guerra Junqueiro Lusofonia 2021


Cidade da Praia – A escritora cabo-verdiana Vera Duarte Pina recebe no dia 02 de Outubro o Prémio Literário Guerra Junqueiro Lusofonia 2021, em reconhecimento pela sua “luta no activismo literário e cultural sobre os direitos humanos”.

Este prémio é promovido no âmbito do Freixo Festival Internacional de Literatura, um evento de referência cultural para a literatura em língua portuguesa.

Instituído desde 2017, em Portugal, o primeiro prémio foi atribuído a Manuel Alegre, seguindo-se Nuno Júdice, em 2018, e José Jorge Letria em 2019.

Em 2020, o prémio foi entregue a Ana Luísa Amaral.

Ainda em 2020, o prémio foi alargado aos restantes países da lusofonia, tendo sido o Presidente da República, Jorge Carlos Fonseca, agraciado com este prémio.

Este ano, para além de Vera Duarte, foram distinguidos com o Prémio Literário Guerra Junqueiro Lusofonia, Albertino Bragança (São Tomé e Príncipe), Abraão Bezerra Batista (Brasil) Abdulai Sila (Guiné-Bissau), Luís Carlos Patraquim (Moçambique), Agustín Nze Nfumu (Guiné Equatorial), João Tala (Angola) e Xanana Gusmão (Timor-Leste).

Guerra Junqueiro assumiu um papel político e social de relevo na sua época, revolucionando e inspirando a formação de poetas e escritores do século XX.

Este prémio literário, que tem Guerra Junqueiro como patrono, pretende destacar e evidenciar todos aqueles que partilham dos mesmos ideais, e que utilizam a escrita para defender as causas que foi, em tempos, a luta deste grande poeta português.

“Vera Duarte Pina é conhecida e reconhecida nas lutas que encabeça em defesa dos direitos humanos. E não é possível dissociar a vida literária de Vera Duarte Pina com o ativismo literário e cultural a que nos habituou ao longo dos anos”, referiu a curadora do Prémio, Avelina Ferraz.

O evento acontece na Biblioteca Nacional de Cabo Verde, na Cidade da Praia, no dia 02 de Outubro, as 17:00, e será apresentada por Norma Lima. In “Inforpress” – Cabo Verde


 

Espanha - Amadores descobrem tesouro romano no fundo do mar da baía de Portitxol

Um conjunto de 53 moedas de ouro dos séculos IV e V foi descoberto graças a um achado casual na baía de Portitxol, na Espanha. Será estudado, restaurado e exposto no museu local


Todos os Verões, os cunhados Luis Lens e César Gimeno e respectivas famílias passam as férias em Xàbia, um dos principais pontos turísticos da província de Alicante, na costa mediterrânea da Espanha.

O seu principal hobby é praticar o mergulho com snorkel, “um equipamento técnico de 10 euros que consiste numa máscara, tubo, barbatanas e calções”, brinca Lens.

O seu objectivo é desfrutar do panorama submarino e “limpar o lixo” que encontram à passagem. No último 23 de Agosto, um brilho numa rocha na baía de Portitxol, a cerca de sete metros de profundidade, fez Lens imaginar que tinha encontrado “o que parecia ser uma moeda de 10 cêntimos de euro”.

Continuou a mergulhar e decidiu resgatá-la. “Estava num pequeno orifício, como de um gargalo”, relata. Ao subir a bordo, limpou-a e descobriu “uma imagem antiga, como um rosto grego ou romano”, e pensou que era uma jóia perdida.

Lens e Gimeno mergulharam de novo no local do achado e, “com um saca-rolhas de um canivete suíço, do barco”, trouxeram à superfície em “algumas horas” o que afinal configurou um tesouro formado por 53 moedas de ouro da época do fim do Império Romano, entre os séculos IV e V, “encravado em uma fenda na rocha”.

Trata-se de um dos maiores conjuntos da Europa com essas características, segundo os especialistas.

Os descobridores do tesouro, em conclave familiar, decidiram no dia seguinte notificar a descoberta à autarquia de Xàbia. “Levamos as oito moedas que tínhamos encontrado num pote de vidro com um pouco de água de mar”, rememora Lens. A partir daí, ele e o cunhado voltaram três vezes ao local das moedas, acompanhados por especialistas em arqueologia submarina da Câmara, da Universidade de Alicante (UA) e da Guarda Civil espanhola.

Em três momentos, tiraram do fundo do mar 53 moedas, três pregos provavelmente de bronze e restos de chumbo muito deteriorados, que parecem fazer parte de um cofre, conforme detalha a UA. “É algo incrível, o sonho de toda criança de encontrar um tesouro”, descreve Lens.

“Os conjuntos de moedas de ouro não são habituais”, afirma Jaime Molina, catedrático de História Antiga da Universidade e responsável científico por uma escavação que há três anos vem investigando a baía de Portitxol, “onde os barcos procedentes da Bética [Andaluzia] aportavam antes de partir para as Baleares, a caminho de Roma”.

Menos comum ainda é que esses tesouros se encontrem em “perfeito estado de conservação”, como o resgatado pelos dois cunhados. A equipa liderada por Molina conseguiu identificá-las e relacioná-las com os imperadores Valentiniano I (3 moedas), Valentiniano II (7), Teodósio I (15), Arcádio (17) e Honório (10). Também há uma peça sem identificar.

“Não há restos de navios afundados na zona onde foram achadas”, observa Molina, “por isso provavelmente tratou-se de uma ocultação voluntária perante a chegada dos bárbaros” à costa da Península Ibérica, “neste caso, os alanos”. “Este achado fala-nos de um contexto de medo, de um mundo que se acaba, o do Império Romano”, sentencia.

Segundo os indícios, as moedas devem ter pertencido a “um dominus, um grande proprietário, um latifundiário da região”. Entre os séculos IV e V, “as cidades estão em declínio e o poder deslocara-se para as grandes propriedades no campo”, declara o catedrático da UA. “O comércio apaga-se e as fontes de riqueza passam a ser a agricultura e o gado”, prossegue.

Perante o avanço dos bárbaros, um destes senhores da época terá “decidido juntar as moedas de ouro, que não circulavam, mas eram acumuladas para fixar a riqueza de uma família”, num cofre que afundou na baía. “E a seguir deve ter morrido, porque não voltou para resgatá-lo”, especula Molina.

Depois do seu estudo, no qual tentarão determinar “a fundição onde foram cunhadas, entre os anos 360 e 409, a liga utilizada e sua circulação”, ou seja, “toda a informação de história económica” que as peças puderem oferecer, o tesouro será restaurado pelo Instituto Universitário de Arqueologia e de Património Histórico da Universidade de Alicante e depois deve ser exibido no Museu Arqueológico e Etnográfico Soler Blasco, em Xàbia.

O governo da Comunidade Valenciana, onde fica Alicante, já destinou 17800 euros para a escavação subaquática do lugar da descoberta. E as famílias de Lens e Gimeno recordarão para sempre uma “aventura única e excepcional”… In “Jornal Tribuna de Macau” – Macau com “Agências internacionais”


terça-feira, 28 de setembro de 2021

Moçambique - Reconstrução de Cabo Delgado vai custar 300 milhões de USD

O Governo, através do Primeiro-Ministro, Carlos Agostinho do Rosário, apresentou esta segunda-feira o Plano de Reconstrução de Cabo Delgado aos parceiros de cooperação. De acordo com o Executivo, o Plano está orçado em cerca de 300 milhões de USD, dos quais aproximadamente 200 milhões de USD serão investidos em acções de curto prazo, incluindo acções de impacto imediato. O plano será executado em três anos.

O Primeiro-Ministro explicou que as acções de curto prazo compreendem um período de um ano para sua implementação. Dentro destas acções de curto prazo, Do Rosário destacou as acções de impacto imediato, chamados “quick wins”, que dizem respeito à reposição da administração pública, unidades sanitárias, escolas, energia, abastecimento de água, saneamento, telecomunicações, vias de acesso, identificação civil, apoio psicossocial, auto-emprego, sobretudo para jovens, de entre outros.

Além de definir claramente as acções estratégicas de assistência humanitária e de reconstrução de curto e médio prazos com os respectivos orçamentos, o Primeiro-Ministro frisou que o Plano também clarifica como é feita a coordenação da implementação das actividades entre os sectores do Governo e entre estes com os parceiros tanto a nível central como a nível local.

“A nível central, gostaríamos de deixar claro que a coordenação da implementação do Plano será garantida pelo Conselho de Ministros, através dos mecanismos já existentes. Os membros do Conselho de Ministros irão se deslocar ao terreno, de forma rotativa, para acompanhar e apoiar as autoridades locais na implementação das acções de assistência humanitária e de reconstrução dos distritos do norte de Cabo Delgado”, afirmou Do Rosário.

Segundo António Carlos Do Rosário, o Plano complementa as acções que já estão a ser implementadas na província de Cabo Delgado, no âmbito do Plano Económico e Social (PES) e da Agência de Desenvolvimento Integrado do Norte (ADIN), no contexto do desenvolvimento das províncias do norte do nosso país, assim como do Instituto Nacional de Gestão de Desastres (INGD) no âmbito da assistência humanitária.

Para além das acções previstas no Plano em questão, o Primeiro-Ministro explicou, durante a sua alocução, que decorrem actividades de reconstrução dos distritos devastados pelo terrorismo, localizados a norte de Cabo Delgado.

Do Rosário destacou a assistência em bens alimentares e não alimentares, incluindo kits de abrigo para as populações dos distritos de Quissanga, Nangade, Macomia, Palma e Mocímboa da Praia; retoma gradual do pagamento do subsídio social básico no âmbito da protecção social nos distritos de Nangade, Mueda, Quissanga, Ibo e Macomia; reposição da subestação de Oasse que viabilizou o restabelecimento do fornecimento de energia em Mueda, Nangade e Mocímboa da Praia; reabertura de um banco comercial em Mueda e restabelecimento da rede de telefonia móvel em Mocímboa da Praia e Palma; e a reabilitação (curso) da estrada 19 de Outubro-Quissanga Sede.

Refira-se que o distrito de Mocímboa da Praia é o mais devastado pelos ataques terroristas, neste momento, encontrando-se quase desabitado. A sua vila, por exemplo, está abandonada desde Agosto de 2020, quando os terroristas assaltaram e controlaram àquele ponto estratégico da província de Cabo Delgado. In “Carta de Moçambique” - Moçambique

 

Portugal – Estado e Google assinam contrato de concessão do novo cabo submarino com ligação à África do Sul

O contrato de concessão para a instalação do novo Cabo Submarino Equiano, para ligar Portugal à África do Sul, foi assinado na segunda-feira entre o Estado português e a Google Corporation.

Com uma vigência de 25 anos, os títulos de concessão foram assinados pela Direção-Geral dos Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos (DGRM)​​​​​​, em representação do Estado Português, e a Blue Path Technology Unlimited Company, empresa mandatada para o efeito pela Google LLC.​​​​​​​

De acordo com a DGRM, em comunicado, o Cabo Submarino Equiano, um investimento da multinacional Google Corporation, “deverá começar a operar em 2022” e vai ter “uma extensão de 15 mil quilómetros”.

O cabo de fibra ótica vai permitir ligar Portugal à África do Sul, com ligações intermédias a Accra (Gana), Lagos (Nigéria), Swakopmund (Namíbia) e Santa Helena (Rupert’s bay).

A amarração do cabo Equiano, nome atribuído em referência a Olaudah Equiano, escritor e abolicionista nigeriano que foi escravizado em criança, vai ser feita na praia da Califórnia, em Sesimbra (Setúbal), ligando depois à Estação de Cabos Submarinos já existente no concelho e, a partir daí, “ao ‘backbone’ terrestre”.

“O processo de autorização do cabo Equiano segue-se ao processo similar do cabo EllaLink, que já liga Portugal ao Brasil, posicionando cada vez mais o território nacional” como ‘porta de entrada’ da Europa “para ligações digitais de última geração”.

O objetivo é criar “oportunidades únicas para Portugal e um acesso mais rápido de empresas europeias aos mercados americano e africano”, pode ler-se no comunicado.

Segundo a DGRM, a assinatura dos “Títulos de Utilização Privativa, no regime de concessão”, do cabo Equiano resultou de “um processo prévio de autorização para utilização do Espaço Marítimo Nacional, instruído no Balcão Eletrónico do Mar”.

Os novos cabos submarinos de fibras óticas visam “disponibilizar banda ultra larga de transporte de dados e responder às novas gerações de aplicações informáticas e novos conceitos de computação, como por exemplo o ‘cloud computing’, ‘e-commerce’ ou ‘vídeo on-demand’, e ao crescente número de utilizadores” a nível global, disse a DGRM. In “Mundo Lusíada” – Brasil com “Lusa”

 

Internacional - Universidade de Coimbra participa em estudo sobre a evolução das desigualdades na mortalidade na Europa e nos EUA

Nas últimas décadas, registou-se uma evolução bastante favorável nos indicadores da desigualdade na mortalidade em Portugal, permitindo que o país se tivesse aproximado dos restantes países da Europa. Esta é uma das conclusões de um estudo internacional com a participação das investigadoras Paula Santana e Cláudia Costa, do Centro de Estudos de Geografia e Ordenamento do Território (CEGOT) da Universidade de Coimbra (UC).


A investigação centrou-se na análise da evolução das desigualdades na mortalidade nos Estados Unidos da América (EUA), em comparação com a Europa, no período compreendido entre 1990 e 2018, envolvendo cientistas de 15 universidades americanas e europeias. Através de uma metodologia comum, a análise nos diferentes países foi efetuada por grupo de idade, sexo e nível de pobreza da área de residência. No caso da população americana, o estudo incluiu também as desigualdades étnicas.

«Em 1990 a mortalidade dos portugueses era muito distinta da dos outros países europeus, principalmente entre os mais jovens, tendo-se alterado rapidamente e em 2005 as taxas de mortalidade comparavam bem com as dos países mais ricos da Europa», afirma Paula Santana, professora catedrática da UC e coordenadora do estudo relativo a Portugal.

Segundo os resultados do estudo, publicado hoje na prestigiada PNAS (Proceedings of the National Academy of Sciences), revista da Academia Americana de Ciências, na Europa «as desigualdades geográficas na mortalidade surgem, fundamentalmente, a partir dos jovens adultos. Ou seja, tornou-se evidente que para as crianças e jovens as desigualdades na mortalidade não são influenciadas pela área de residência: áreas pobres e ricas apresentam os mesmos padrões de mortalidade», referem Paula Santana e Cláudia Costa, coautoras do artigo científico.

Comparando os EUA com a Europa, os resultados são desfavoráveis para os americanos. O estudo indica que «em 1990 a esperança de vida dos americanos nas áreas mais ricas era ligeiramente inferior à esperança de vida à nascença dos europeus. No entanto, a esperança de vida era consideravelmente mais baixa para os americanos a residir nas áreas mais pobres. No caso da esperança de vida dos afroamericanos verificou-se que era sempre mais baixa, quer em áreas ricas ou pobres, quando comparada com a dos americanos e a dos europeus», declaram Paula Santana e Cláudia Costa.

Contudo, prosseguem, a evolução parece ter sido positiva ao longo do período analisado (1990-2018), observando-se que «em 2018 a diferença na esperança de vida entre americanos e afroamericanos diminuiu para quase metade, pela redução da mortalidade por tumores malignos, homicídios, SIDA e causas originadas no período fetal ou infantil.

Esta diminuição teve uma expressão mais significativa nas áreas mais pobres e nos mais jovens». Também se pode concluir que «os maiores ganhos em saúde, com reflexos no aumento da esperança de vida, se ficaram a dever à diminuição da mortalidade sensível aos cuidados de saúde, ou seja, causas de morte que foram evitadas pelo acesso adequado e respetiva resposta dos cuidados de saúde», relata Cláudia Costa.

Outra conclusão relevante sobre a realidade americana, de acordo com as investigadoras do CEGOT, é o facto de no período 2012-2018 se verificar «uma estagnação, ou mesmo uma inversão na desigualdade, o que terá consequências na diminuição do fosso na esperança de vida entre americanos e afroamericanos. Esta evidência tem impactos negativos na tendência, que vinha a ser verificada, de diminuição da diferença na esperança de vida dos americanos e dos europeus, onde as taxas de mortalidade são mais baixas, independentemente do grupo etário, sexo e área de residência».

Este estudo comparativo, nota ainda Paula Santana, evidencia que «algumas políticas que foram implementadas desde 1990 nas áreas mais pobres dos Estados Unidos tiveram consequências positivas no aumento da Esperança de Vida, nomeadamente políticas com impacto direto na melhoria do acesso aos cuidados de saúde».

Porém, conclui, «apesar da melhoria da esperança de vida da população afroamericana, o decréscimo na mortalidade ainda não é suficiente, colocando os indicadores de saúde dos EUA, estudados neste artigo, numa posição desfavorável quando comparados com os da Europa».

O trabalho agora publicado, com o título "Inequality in Mortality between Black and White Americans by Age, Place, and Cause, and in Comparison to Europe, 1990-2018", foi realizado na sequência de um estudo anterior dedicado à evolução da desigualdade na mortalidade em 11 países da OCDE, incluindo Portugal, publicado no Journal of Fiscal Studies. Universidade de Coimbra - Portugal


 

Macau - Obras do restaurante “Lvsitanvs” estão prestes a terminar

Apesar de não apontar ainda uma data para a abertura do novo restaurante “Lvsitanvs”, a presidente da Casa de Portugal em Macau mostra-se satisfeita com o facto da instalação da cozinha estar já na fase terminal. Ao Jornal Tribuna de Macau, Amélia António voltou a tecer críticas ao excesso de burocracia dos serviços administrativos

Amélia António, presidente da Casa de Portugal em Macau (CPM), adiantou ao Jornal Tribuna de Macau que está em vias de ser concluída a instalação da cozinha do restaurante “Lvsitanvs” na “Casa de Vidro”, no Tap Seac.

“Estamos na fase – esperemos nós – terminal de instalação da cozinha para que depois sejam feitas as inspecções necessárias para se obter as licenças para então podermos abrir. A partir do momento que se teve a licença de obras, em Julho e Agosto, o tempo não foi suficiente, porque as obras exigiam equipamentos de extracção do vapor e outros equipamentos que não há em Macau. Tiveram de ser importados e tudo isto tem sido muito complicado. Estamos com a esperança de que estejamos mesmo na ponta final e anunciaremos logo que estiver concluída a obra”, referiu.

A operação do espaço onde funcionará o restaurante “Lvsitanvs” foi sujeito a concurso público pelo Instituto Cultural (IC), tendo sido adjudicada à CPM em 2019. Desde então, a associação enfrentou uma série de contratempos, incluindo divergências com a Administração sobre diversas despesas, inicialmente não previstas por Amélia António.

“Tenho tido momentos muito duros de ultrapassar neste processo. O concurso foi adjudicado em Agosto de 2019 e daí até cá foi um calvário. Tem sido um rosário de dificuldades em que fomos sempre expondo as nossas razões e argumentando em relações a algumas coisas e o IC acabou por nos dar razão. Não há soluções ideais, mas isto permitiu que as coisas andassem. Tivemos de encomendar os equipamentos, que são caros, a uma empresa especializada e não íamos correr o risco de fazer essa negociação e dar sinais antes de termos a certeza de que podíamos avançar com a obra”, salientou a mesma responsável, explicando que o surto de COVID-19 em Agosto também não ajudou a acelerar o processo.

“Não somos uma empresa com capacidade para correr riscos económicos faseados e já corremos de mais mesmo assim. Temos de ser muito cautelosos a fazer as coisas e esta segunda fase do COVID-19, quando já estávamos com a obra em curso, voltou a empanar tudo um bocado. No entanto, enquanto não vir preto no branco que foi tudo aprovado digo apenas que estou optimista”, confessou.

Burocracia “dificulta” negócios

Após ter sido acordado no mês passado com o IC que as mais de 200 mil patacas de rendas pagas pela CPM, sem usufruir do espaço, seriam um adiantamento aos valores do contrato de exploração de três anos, Amélia António referiu que “há imensas coisas que podem melhorar”.

“Fazem-se exigências burocráticas que não fazem sentido. Tivemos de apresentar tudo como se estivéssemos a fazer uma obra de raiz, quando a única coisa que íamos mexer era na cozinha e apenas para colocar os equipamentos necessários. O resto das instalações não se iam alterar e mesmo assim foi preciso apresentar projecto de arquitectura, projecto de electricidade, projecto de esgotos como se estivéssemos a fazer algo do zero”, elencou.

Amélia António adverte por isso que esse tipo de exigências acaba por dificultar os negócios. “A parte burocrática, a repetição e a exigência de documentos de diferentes organismos é uma coisa que continua muito complicada em Macau. Falamos que a RAEM tem de caminhar para o ‘e-administration’, mas nada funciona em termos electrónicos. Os serviços que têm a documentação das diferentes entidades exigem que eles sejam sempre apresentados. Passamos a vida a pedir certidões, a pedir isto e aquilo para provar o que já provámos não sei quantas vezes”, alertou.

“Acho que há muito que andar e espaço para andar, mas é preciso uma grande ligação das diferentes áreas da Administração Pública. Cada área, e isto tem sido um problema ao longo dos anos e continua agora, funciona como se existisse sozinha. Não há interligação de informação e colaboração. Isto dificulta muita a vida aos administrados e dificulta os negócios” explicou. Martim Silva – Macau in “Jornal Tribuna de Macau”


segunda-feira, 27 de setembro de 2021

Clauder Arcanjo: tributo à mulher nordestina

I

Mulheres fantásticas (Mossoró: Sarau das Letras Editora; Fortaleza: Edições Poetaria, 2019), reunião de dezoito pequenos contos, do cronista, romancista, crítico literário e contista Clauder Arcanjo (1963), que constitui um tributo ao realismo fantástico tão presente nas histórias do Nordeste brasileiro, na definição do próprio autor, tem como figura central a mulher e suas habilidades únicas, que tanto intrigam os homens, que, muitas vezes, buscam em vão explicações para o seu comportamento. Não foi para tentar encontrar essas respostas que o Clauder Arcanjo escreveu estes contos, mas, principalmente, para realçar estes mistérios.

Para tanto, tratou de imaginá-las como elementos da natureza, objetos e até animais, como galinha, sapo, abelha, mas sem cair no tratamento chulo das palavras, ou ainda forças naturais, como ventania, maré e nuvem, ou sentimentos, como saudade, mostrando com leveza e bom humor os dramas que ocorrem no relacionamento entre homens e mulheres. Na visão do autor, os homens se mostram frágeis e incapazes de compreender a sensibilidade delas.

As histórias – ou causos, no linguajar popular nordestino – se dão num vilarejo, Licânia, que seria encravado no sertão do Ceará e que aqui funciona como a Yoknapatawpha, de William Faulkner (1897-1962), a Macondo, de Gabriel García Márquez (1927-2014) e a Santa Maria, de Juan Carlos Onetti (1909-1994), cidades fictícias que atuam como núcleo vital de assuntos literários ou ainda entidades míticas. Licânia, aliás, é o título do primeiro livro de Clauder Arcanjo, publicado em 2007, que reúne contos que já trazem essa ideia de reunir num local mítico histórias e personagens que se movimentam num mundo picaresco, habilidade que o autor haveria de sedimentar em Cambono (2016), romance em que presta homenagem a esse gênero tão ibérico.

No prefácio, Dimas Macedo, professor, jurista e membro da Academia Cearense de Letras, observa que Mulheres fantásticas “pode ser lido como uma reunião de crônicas e memórias, quanto fragmentos daquilo que se pode fazer com a magia das mulheres e com a áurea de suas fantasias”. E acrescenta que, para a Literatura, “as mulheres e seus arquétipos são fontes de inspiração que nunca se esgotam, especialmente quando concertadas por um escritor de talento, como é o caso do autor deste livro”.

 

                                                               II

No texto de apresentação, a poeta Kalliane Amorim ressalta a adesão de Clauder Arcanjo ao realismo fantástico, gênero que despontou na América Latina na década de 1940, mas encontrou o seu auge nas décadas de 1960 e 1970, e que, no Brasil, não alcançou o mesmo impacto, embora tenha influenciado escritores importantes como José J. Veiga (1915-1999), Moacyr Scliar (1937-2011) e, especialmente,  Murilo Rubião (1916-1991), cujos contos combinam uma visão realista do mundo com elementos mágicos que são inseridos em cenários cotidianos.

Diz Kalliane: “A incredulidade e o espanto do homem diante da mulher que se transforma em sapo, que acende uma cidade inteira, que é portal para as travessias da vida, ou diante do mais fantástico que é, nesses dias em que vivemos, estar diante de uma mulher que acolhe, escuta e alimenta, na certeza de que essa mulher pode ser qualquer uma de nós – eis a beleza do fantástico que emerge no trivial da vida, sob a pena de Clauder Arcanjo”.

O livro foi escrito em homenagem à professora potiguar Aíla Sampaio (1965-2017). Arcanjo pretendia fazer um livro em coautoria com ela, cada um escrevendo seus contos. Ele já havia escrito o primeiro e mostrado a ela, que já estava escrevendo o segundo conto, quando veio a falecer em novembro de 2017, de câncer. Por isso, o livro é dedicado a ela in memoriam.

 

                                                              III


Antonio Clauder Alves Arcanjo, ou apenas Clauder Arcanjo, nascido em Santana do Acaraú-CE, é graduado em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Ceará, Ao lado do romancista e jurista David Medeiros Leite, é um dos fundadores da editora Sarau das Letras, de Mossoró-RN, que já lançou mais de 300 livros. Produz e apresenta na TV a cabo Telecom (Mossoró) o programa cultural Pedagogia da Gestão. É membro da Academia Mossoroense de Letras, da Academia Norte-rio-grandense de Letras e da Academia de Letras do Brasil. Mora em Mossoró desde 1986. Em 2017, recebeu o título de cidadão norte-rio-grandense, que lhe foi concedido pela Assembleia Legislativa.

Por alguns anos, foi cronista semanal do jornal Gazeta do Oeste, de Mossoró, e usou durante muito tempo o heterônimo Carlos Meireles (homenagem aos poetas Carlos Drummond e Cecília Meireles) para resenhar textos literários, colaborando em sites, revistas e jornais de várias partes do País. Atualmente coordena, no Jornal de Fato, o Espaço Martins de Vasconcelos e escreve para a versão online do jornal O Mossoroense e para revista cultural Kukukaya, entre outros veículos literários.

A reunião de contos, intitulada Licânia, contos, marca a sua estreia em livro em 2007. É autor também de Lápis nas veias (2009), minicontos, Novenário de espinhos (2011), poemas, Uma garça no asfalto (2014), crônicas Pílulas para o silêncio/Pildoras para el silencio (2014), aforismos, edição em português-espanhol, com tradução do poeta peruano Alfredo Pérez Alencart, professor da Universidade de Salamanca, Espanha, Cambono (2016), romance, Separação (2017), contos, O Fantasma de Licânia (2018), novela, A província em exílio (2019), discursos, e Sinos/Campanas (2 019), poemas, com tradução também de Alfredo Pérez Alencart. Entre seus trabalhos inéditos, o autor tem obras nos gêneros poesia, crônica, minicontos, romance e resenhas literárias.

Em 2003, recebeu menção honrosa no Concurso de Poesia Luís Carlos Guimarães, promovido pela Fundação José Augusto, de Natal. No ano seguinte, foi distinguido com nova menção honrosa, desta feita na categoria contos dos Prêmios Literários Cidade do Recife. Com Pílulas para o silêncio, ganhou o Prêmio Geir Campos, da União Brasileira dos Escritores, seção do Rio de Janeiro. Adelto Gonçalves - Brasil

________________________________

Mulheres fantásticas, de Clauder Arcanjo, com prefácio de Dimas Macedo e ilustrações de Raisa Christina. Mossoró-RN: Sarau das Letras Editora/Fortaleza: Edições Poetaria, 167 págs., R$ 40,00, 2019. E-mail: clauderarcanjo@gmail.com 

_________________________________________________

Adelto Gonçalves é doutor em Letras na área de Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo (USP) e autor de Gonzaga, um Poeta do Iluminismo (Nova Fronteira, 1999), Barcelona Brasileira (Lisboa, Nova Arrancada, 1999; Publisher Brasil, 2002), Bocage, o Perfil Perdido (Lisboa, Caminho, 2003; Imprensa Oficial do Estado de São Paulo-Imesp, 2021), Tomás Antônio Gonzaga (Imesp/Academia Brasileira de Letras, 2012),  Direito e Justiça em Terras d’El-Rei na São Paulo Colonial (Imesp, 2015), Os Vira-latas da Madrugada (José Olympio Editora, 1981; Letra Selvagem, 2015) e O Reino, a Colônia e o Poder: o governo Lorena na capitania de São Paulo 1788-1797 (Imesp, 2019), entre outros. (E-mail: marilizadelto@uol.com.br




Macau - Governo promete apostar na cooperação em “campos emergentes” com países lusófonos


O Governo de Macau afirmou que quer apostar na cooperação em “campos emergentes” com os países lusófonos, no âmbito da criação do projecto da Grande Baía. A Grande Baía é uma região com mais de 80 milhões de habitantes que Pequim está a formar e que integra as regiões administrativas especiais chinesas de Macau e Hong Kong e nove cidades da província de Guangdong.

“No futuro, para além de incrementar a cooperação em campos tradicionais, como a economia, o comércio, o setor de convenções e exposições e infraestrutura, irá procurar proactivamente a cooperação em campos emergentes, como medicina tradicional chinesa, sector financeiro, as indústrias de alta tecnologia e protecção ambiental”, prometeu o chefe do Governo, Ho Iat Seng, durante uma reunião de líderes regionais, em Chengdu, na província de Sichuan.

Ho Iat Seng sublinhou que Macau pretende “maximizar o seu papel” como plataforma “de intercâmbio e cooperação, (…), aprofundando o intercâmbio cultural e a cooperação com os países de língua portuguesa e a Região do Pan-Delta do Rio [das Pérolas], bem como outras partes mundo”.

O Chefe do Executivo lembrou que vai ser realizada em outubro a reunião extraordinária ministerial do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa e que o Governo de Macau “atribui grande importância à construção da plataforma de cooperação económica e comercial sino-portuguesa”.

No discurso, Ho Iat Seng salientou as potencialidades do novo projeto da zona de cooperação em Hengqin, que vai gerida por Macau e a província de Guangdong, o compromisso de contribuir para o desenvolvimento integrado das indústrias da região e a necessidade de ser reforçada no território a “consciência nacional e o patriotismo dos compatriotas de Macau no desenvolvimento” da China. In “Ponto Final” - Macau


 

Portugal – Universidade de Coimbra obtém autorização pioneira para distribuição do Gálio-68, um isótopo essencial para o diagnóstico do cancro


A ICNAS-Produção, empresa da Universidade de Coimbra (UC), obteve autorização de distribuição do GalliUC, uma formulação de Gálio-68 produzido em aceleradores de partículas (ciclotrões), que vai revolucionar o uso deste isótopo para o diagnóstico do cancro.

A autorização foi concedida pelo INFARMED e é a primeira na Europa para o Gálio-68 e a primeira a nível mundial para um processo deste tipo, tendo inclusive obrigado à elaboração de uma nova monografia da Farmacopeia Europeia especialmente dedicada à produção de Gálio-68 em ciclotrões.

O Gálio-68 é um isótopo utilizado em exames PET (Tomografia por Emissão de Positrões) para o diagnóstico oncológico, nomeadamente em tumores neuroendócrinos e no cancro da próstata. Até agora, a única forma de obter este isótopo era através de equipamentos denominados geradores de gálio, dispositivos dispendiosos e com capacidade de produção bastante limitada. Por este motivo, existe uma escassez deste produto a nível mundial e, por vezes, os doentes têm de esperar vários meses até conseguirem realizar os seus exames.

Para o Reitor da Universidade de Coimbra, Amílcar Falcão, a autorização agora obtida representa «mais um passo para a afirmação da dimensão internacional do trabalho que é desenvolvido pela UC na área das ciências nucleares aplicadas à saúde».

Em Portugal, a ICNAS-Produção distribui, desde 2013, radiofármacos para PET preparados a partir de Gálio-68 produzido em geradores. Recentemente, resultado da sua investigação, a Universidade de Coimbra desenvolveu um processo de produção de Gálio-68 baseado em ciclotrões, o que possibilita «aumentar até 10 vezes a capacidade diária de produção, permitindo assim suprir as necessidades dos hospitais em relação a este isótopo essencial», destaca Antero Abrunhosa, investigador e Gerente da ICNAS-Produção.

O conceito desenvolvido pela UC, acrescenta, «é fortemente inovador, já que se propõe distribuir o isótopo, cabendo ao hospital cliente fazer a reconstituição do radiofármaco antes do exame. Para além de substituir os onerosos geradores, esta estratégia permite a flexibilidade de cada hospital ou clínica preparar o radiofármaco que mais lhe convém, de acordo com as suas necessidades clínicas em cada dia».

Este novo processo de produção de Gálio-68 foi patenteado pela UC e licenciado à multinacional belga IBA Radiopharma Solutions, líder europeu no fabrico de ciclotrões, que o vai comercializar em todo o mundo. «O retorno do licenciamento da patente (royalties), bem como da distribuição dos isótopos e radiofármacos, é integralmente destinado a suportar as atividades de investigação desta área na UC», conclui Antero Abrunhosa. Universidade de Coimbra - Portugal



 

Brasil - O futuro dos portos nacionais

São Paulo – Apesar das previsões catastróficas realizadas em razão dos efeitos provocados pela pandemia de coronavírus (covid-19), a reação da economia brasileira está melhor que o esperado, com indicadores que mostram crescimento. Tanto que houve dificuldades nas exportações, especialmente do agronegócio durante o segundo trimestre do ano e que persistem no segundo semestre, em consequência de uma demanda aquecida que nem mesmo os exportadores foram capazes de prever.

De acordo com dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no segundo trimestre de 2021, houve um crescimento de 9,4% nas exportações frente aos três meses imediatamente anteriores, o que representou o melhor resultado desde o avanço de 10,9% no primeiro trimestre de 2010. Com isso, tornam-se cada vez mais claros os obstáculos levantados por uma infraestrutura logística deficiente que tira a competitividade dos embarques.

Esses obstáculos, obviamente, só serão superados se houver uma diretriz política que priorize a redução da burocracia e taxas, incentive a abertura de rotas marítimas e permita a chegada de novos armadores, o que poderá estimular a competitividade e reduzir os custos dos embarques. É de se notar que, hoje no País, apenas 19 empresas armadoras dominam 97% do comércio realizado por meio do modal marítimo.

Portanto, seriam bem-vindos maiores investimentos públicos na melhoria da infraestrutura portuária, rodoviária e ferroviária, mas já existem mecanismos como as parcerias público-privadas (PPPs) e as concessões que podem acelerar esses investimentos, sem que o governo seja obrigado a mexer em seu orçamento. Prevista para o primeiro semestre de 2022, a privatização do porto de Santos, o maior da América Latina, se bem conduzida, deverá gerar, segundo o Ministério da Infraestrutura, R$ 16 bilhões em investimentos, que redundarão em melhorias como o aprimoramento dos acessos terrestres e o aprofundamento do calado, além da construção de um túnel submerso até o outro lado do canal do estuário, no município de Guarujá.

Se tudo isso sair do computador, com certeza, esse empreendimento servirá como modelo para os demais portos do País, que, hoje, com a troca de frota pelos armadores, não se apresentam em condições de receber grandes navios e tampouco os navios extras que já estão em uso em função do aumento da demanda. Tudo isso tem causado uma escassez de contêineres porque o País importa um baixo volume de alimentos refrigerados, como carnes e frutas.

Se a situação já está assim, não é difícil imaginar como haverá de ser num cenário pós-pandemia em que a demanda deverá triplicar ou até quadruplicar. Portanto, não seria um despropósito recomendar que o governo faça um tour de force para acelerar os processos de concessão dos portos organizados, fazendo o que os governos anteriores se recusaram a fazer, ou seja, não realizaram nenhuma concessão de porto público, priorizando apenas arrendamentos de pedaços de cada porto, mantendo, desnecessariamente, funções puramente empresariais nas mãos do Estado.

Seja como for, o Ministério da Infraestrutura tem cumprido bem o seu papel para reverter esse quadro. Em dois anos e meio, o governo federal já realizou 74 leilões, com R$ 80 bilhões de investimentos contratados, segundo informações da Agência Brasil. No caso dos leilões em portos, os recursos reunidos são repassados para as autoridades portuárias, sendo usados para resolver passivos, a fim de que seja possível dar o passo seguinte que é a desestatização das companhias docas. A tarefa não é fácil, levando-se em conta que, hoje, o Brasil conta com 37 portos públicos e 232 terminais dentro desses portos. Portanto, não há mais tempo a perder. Liana Martinelli - Brasil

__________________________________

Liana Lourenço Martinelli, advogada, pós-graduada em Gestão de Negócios e Comércio Internacional, é gerente de Relações Institucionais do Grupo Fiorde, constituído pelas empresas Fiorde Logística Internacional, FTA Transportes e Armazéns Gerais e Barter Comércio Internacional. E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br

 

domingo, 26 de setembro de 2021

Tiro os olhos do chão








Vamos aprender português, cantando

 

Tiro os olhos do chão

 

Contemplo a solidão

sinto o sufoco nesta imensidão

palavras ao vento

vejo o futuro, agarro o momento

 

Tiro os olhos do chão

grito e juro que não

sempre pronto a partir

sou o último a rir

 

Tiro os olhos do chão

grito e juro que não

este fogo em mim

arde e cresce sem fim

 

Rasga-me um calafrio

a sanidade está por um fio

velho de mais para aguentar

novo demais para me agarrar

 

Tiro os olhos do chão

grito e juro que não

sempre pronto a partir

sou o último a rir

 

Tiro os olhos do chão

grito e juro que não

este fogo em mim

arde e cresce sem fim

 

Tiro os olhos do chão

grito e juro que não

sempre pronto a partir

sou o último a rir

 

Tiro os olhos do chão

grito e juro que não

este fogo em mim

arde e cresce sem fim

 

Tiro os olhos do chão

grito e juro que não

este fogo em mim

arde e cresce sem fim

 

Côrte-Real – Portugal

 

Composição:

(Letra) Bruno Celta – Portugal

(Música) António Côrte-Real - Portugal