Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

quarta-feira, 31 de agosto de 2022

Portugal - Fecha acordo que prevê garantias de 400 ME para investimentos nos países lusófonos

O Governo português vai formalizar, em Maputo, um acordo denominado “Compacto Lusófono”, que envolve garantias na ordem dos 400 milhões de euros para cooperação económica com Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP).

Este será um dos principais acordos fechados durante a estada do primeiro-ministro, António Costa, em Maputo (na quinta e sexta-feira), e que será assinado à margem da V Cimeira Luso-Moçambicana, em Maputo.

“Esperamos poder assinar, à margem desta cimeira, um importante acordo que viabiliza o Compacto Lusófono – um acordo que permite garantias no valor de 400 milhões de euros para o investimento nos PALOP. Não se aplica apenas a Moçambique, embora este país tenha uma expressão muito significativa no contexto dos PALOP e terá, com certeza, muitas oportunidades” através deste programa, declarou à agência Lusa o secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação, Francisco André.

O Compacto Lusófono é uma iniciativa lançada no final de 2017 pelo Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) e pelo Governo português para financiar projetos lançados em países lusófonos com o apoio financeiro do BAD e com garantias do Estado português, que assim asseguram que o custo de financiamento seja mais baixo e com menos risco.

O principal objetivo da iniciativa é aumentar o desenvolvimento do setor privado nos seis países africanos de língua portuguesa – Angola, Guiné-Bissau, Cabo Verde, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Guiné Equatorial – através de três instrumentos: mitigação de risco para desbloquear investimento, financiamento direto de investimentos privados e assistência técnica para reforçar o crescimento do setor privado.

A divisão será feita tendo em conta os projetos apresentados, segundo fonte do Governo, não sendo especificado o montante para cada país.

O programa de António Costa em Moçambique, além da componente política e institucional, incluirá um fórum de negócios e investimento – um seminário económico que visa aproximar e criar oportunidade de trabalho conjunto entre empresas portuguesas e moçambicanas.

“As empresas portuguesas têm estado sempre presentes em setores estratégicos e há uma grande vontade de criar cada vez mais melhores condições, uma atmosfera boa, para o investimento e para as parcerias luso-moçambicanas. Queremos incentivar os empresários dos dois países a aproveitarem as oportunidades de investimento que existem em Moçambique e em Portugal”, defendeu Francisco André.

O secretário de Estado apontou como setores “fundamentais para a economia moçambicana os casos da energia, infraestruturas, agroalimentar, serviços financeiros e banca”.

“Este seminário serve bem para demonstrar a capacidade e a resiliência das empresas portuguesas, que estiveram sempre presentes em Moçambique ao longo dos anos, quando foi mais fácil, mas também quando foi menos fácil. As empresas portuguesas sempre resistiram, nunca abandonaram Moçambique e estiveram sempre a trabalhar em conjunto com os seus parceiros moçambicanos”, sustentou.

Francisco André salientou depois as “boas perspetivas” de negócio que se abrem a prazo no mercado moçambicano, designadamente ao nível do gás natural.

“Prevê-se que possa haver um período de expansão económica em Moçambique”, assinalou.

Desta forma, para o secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros, “é preciso encorajar, criar incentivos e proceder à revisão de instrumentos financeiros que já existem hoje para o apoio às empresas portuguesas e ao seu investimento em Moçambique”.

“Vamos rever dois fundos já existentes, tornando a sua utilização mais fácil para gerar mais sinergias entre os dois países no campo económico”, acrescentou. In “Mundo Lusíada” – Brasil com “Lusa”

 

UCCLA - Lançamento do livro “A cidade que tudo devorou” de Amadu Dafé


Uma viagem ao desconhecido é o que nos propõe Amadu Dafé, na sua nova obra “A cidade que tudo devorou” que será lançada no próximo dia 7 de setembro, às 18 horas, no auditório da UCCLA. Como referido na capa do livro “uma história confusa, caótica nunca é escatológica, porquanto do caos nasce a ordem, a amoralidade da natureza”.

Com a chancela da Nimba Edições, o livro contará com as intervenções de Amadu Dafé, Isaiete Jabula, Sumaila Jaló e Tony Tcheka.

O lançamento do livro terá transmissão em direto através da página do Facebook da UCCLA em: 

https://www.facebook.com/UniaodasCidadesCapitaisLinguaPortuguesa

De referir que este evento decorre no âmbito da exposição “Olhares da Guinendade - Artes da Guiné-Bissau” patente na UCCLA - Mais informações disponíveis na ligação: https://www.uccla.pt/noticias/exposicao-olhares-da-guinendade-artes-da-guine-bissau-na-uccla

Sinopse:

O tempo é tudo o que não é eterno. A definição é tautológica, o mesmo que dizer, ou melhor, uma outra forma de explicar a mesma coisa, sem significações; o tempo é um sonho infindável, uma péssima forma de estar acordado. A cidade que tudo devorou conta duas histórias em duas narrações alternadas entre as falas de N´sunha e Sprança, sendo a última uma voz criada pela primeira para relatar as consequências que um livro da sua autoria teria sobre a política e a sociedade guineense.

Um bom livro na hora certa! Contar estas histórias, desnudá-las, é fazer frente a um mar de contradições que saltam à vista quando se levanta a ponta do véu das sociedades secretas como tem vindo a fazer este jovem escritor. As aberrações e contradições que ressaltam quando o olhar clínico do escritor perscruta as muralhas do poder, onde as traições e a lei espartana do mais forte imperam. O cardápio das maldades canibalescas de eliminação de adversários que ressalta deste livro, altamente recomendável, ganha um pendor de relevo pela forma de contar e descrever os cenários que os torna de uma enorme verosimilhança. Está-se perante uma linguagem fluída, rica, fascinante, diversificada e de bem-contar, que prende o leitor. Este livro é uma viagem ao desconhecido com um timoneiro perspicaz num “leme de boa pena” que negou o obscurantismo e romanceia verdades escamoteadas.

Tony Tcheka

Biografia do autor:

Amadu Dafé é natural de Ingoré, norte da Guiné-Bissau. Membro da AEGUI - Associação de Escritores da Guiné-Bissau e do Centro PEN da Guiné-Bissau. Encontra-se atualmente a desempenhar funções como Técnico Superior na Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS), entidade responsável pela gestão do Serviço Nacional de Saúde em Portugal. Licenciado e mestrando em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa; formado em Contabilidade pela Escola Nacional de Administração da Guiné-Bissau. Editor/Organizador de "Florbela Espanca - Alma Sonhadora irmã gémea de Fernando Pessoa, Manufactura Editora, 2021. Autor de "Ussu de Bissau", Manufactura Editora - obra finalista do Prémio Literário Fundação Eça de Queiroz e BCP 2021. Autor de Jasmim, Manufactura Editora, 2020 - Obra a ser traduzida para a língua alemã. Autor de "Magarias", Esfera do Caos-Editores, 2017. Coautor de "fora de jogo", KuSiMon Editora, coletânea de contos, em edição comemorativa dos 25 anos da Editora, 2019. Duas vezes vencedor do Prémio Literário José Carlos Schwarz, 2017 e 2015. Vencedor do Prémio Literário Internacional Conto Infantil - Matilde Rosa Araújo, 2012.


 

terça-feira, 30 de agosto de 2022

Macau - Novo mercado quer ajudar produtos lusófonos a superar crise

Macau vai acolher no fim de semana a primeira edição do Mercado Lusófono, para promover 24 empresas que vendem produtos oriundos dos países de língua portuguesa, disse ontem à Lusa um dos organizadores. Heiman Sou disse que o evento irá contar com oito expositores de produtos alimentares, incluindo vinho, azeite e mel de Portugal, café de Timor-Leste, sal marinho de Angola e caju de Moçambique.

O mercado terá ainda 16 expositores de outros produtos, entre os quais cerâmica, artesanato, sabonetes, fragrâncias e decoração, acrescentou o director-geral da Sardinia Macau, empresa que também revende produtos portugueses em Hong Kong e na China continental.

Além da entrada ser livre para os visitantes, também a participação no evento, no Albergue da Santa Casa da Misericórdia, é gratuita para os expositores.

O objectivo é “apoiar” as empresas que vendem produtos dos países de língua portuguesa “a aumentar as suas vendas e ao mesmo tempo recuperar o otimismo dos consumidores”, sublinhou a organização do Mercado Lusófono. “O recente surto pandémico criou um desafio sem precedentes para todas as empresas em Macau, especialmente as pequenas e médias empresas”, acrescentou a organização, num comunicado.

Macau enfrentou a partir de 18 de Junho o pior surto de covid-19 desde o início da pandemia, levando a uma queda de 98,8% em termos anuais no número de visitantes em Julho, afectando fortemente a economia da região, dependente do turismo.

A situação financeira tornou-se “bastante má, ali na corda bamba”, disse Asai Cheung, sócio fundador da PRRC Portuguese Restaurants & Retail Concepts, que opera vários restaurantes e lojas portuguesas. Este ano, a política de zero casos imposta por Pequim tem levado à imposição de confinamentos em várias cidades, incluindo na capital financeira, Xangai, e “prejudicado” os importadores de produtos lusófonos, disse Heiman Sou. “Tivemos de apostar em promover os nossos produtos em diferentes cidades da China continental”, acrescentou o empresário.

O Mercado Lusófono conta com o apoio do Consulado-Geral de Portugal em Macau e Hong Kong, da Livraria Portuguesa em Macau e do Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau.

A primeira edição tem como alvo prioritário os residentes, mas Heiman Sou espera que o evento se torne “um atrativo turístico no futuro”, com “diversos espetáculos culturais e mais expositores”. “Tudo depende mesmo da resposta dos expositores e dos visitantes. Esperamos organizar [o Mercado Lusófono] pelo menos duas vezes por ano ou mesmo uma vez por trimestre”, acrescentou o empresário.

Outro objectivo futuro é expandir o evento para além do Albergue da Santa Casa da Misericórdia, disse Asai Cheung. O empresário quer ainda lançar outros eventos ligados à cozinha, incluindo um festival de gastronomia lusófona. In “Ponto Final” - Macau

 

Brasil - Países de língua portuguesa reúnem-se para discutir alimentação escolar

O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), em parceria com o Centro de Excelência contra a Fome do Programa Mundial de Alimentos (WFP) no Brasil e da Agência Brasileira de Cooperação (ABC), do Ministério das Relações Exteriores, promoveu na passada semana reunião on-line com representantes de diversos países de língua portuguesa para discutir as melhores práticas de alimentação escolar na Cooperação Sul-Sul trilateral.

O evento contou com representantes de Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Angola, Moçambique e Timor-Leste, além do Brasil.

Cada país apresentou suas políticas, programas e iniciativas bem-sucedidas, como foi o caso da “experiência de uso da ferramenta PLUS para desenvolver menus para um estudo de viabilidade”, promovida por Angola, e o “desenvolvimento de um programa de alimentação escolar sensível à nutrição”, feito por São Tomé e Príncipe.

“O papel das nutricionistas no Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE)” foi o tema apresentado pelo representante do Brasil. O PNAE é um programa nacional descentralizado de alimentação escolar que garante um mínimo 30% de seus recursos financeiros para a compra de alimentos de agricultores familiares e que serve de inspiração para diversos países que buscam diminuir a desnutrição crônica, a má nutrição e a pobreza alimentar.

Os participantes puderam trocar conhecimentos e apoiar uns aos outros na elaboração de novas estratégias para que os programas de alimentação escolar possam ser aprimorados.

Uma nova reunião está prevista para acontecer em outubro de 2022 sobre os programas de alimentação escolar vinculados à agricultura local (Home-Grown School Feeding – HGSF), que associam refeições escolares a alimentos locais produzidos por pequenos agricultores. In “Mundo Lusíada” - Brasil

 

UCCLA - Apresentação dos vencedores do Prémio Revelação Literário UCCLA–CMLisboa


Vai ter lugar, no dia 2 de setembro, pelas 18 horas, a apresentação dos vencedores da última edição do “Prémio de Revelação Literária UCCLA-CML - Novos Talentos, Novas Obras em Língua Portuguesa”, no pavilhão da APEL da Feira do Livro de Lisboa.

Na ocasião serão lançados os dois livros premiados: “Caligrafia”, texto de poesia da autoria de Alexandre Siloto Assine (brasileiro, de 34 anos) e “Três Dias em fevereiro”, um romance de Ricardo Manuel Ferreira de Almeida (português, de 49 anos).

No final será anunciada a abertura da próxima edição do Prémio de Revelação Literária UCCLA-CML - Novos Talentos, Novas Obras em Língua Portuguesa.

Pode aceder aqui às informações sobre a última edição do Prémio.


 

segunda-feira, 29 de agosto de 2022

Internacional - O mais brasileiro dos personagens da Disney faz oitenta anos de vida

Por muito pouco, o Zé Carioca não foi um… tatu a comer insectos. Em Agosto de 1941, os desenhadores Franklin Thomas e Norman Ferguson, que acompanharam Walt Disney na sua viagem ao Brasil, chegaram a fazer esboços de um simpático tatu-bola a tocar pandeiro.

No entanto, de tanto ouvir piada de papagaio, algumas delas contadas pelo jornalista Gilberto Souto, Walt Disney mudou de ideia e optou por outro animal da fauna brasileira para representar o país num dos seus próximos filmes: o papagaio.

A visita do ‘pai’ do Mickey Mouse ao Brasil começou em 17 de Agosto de 1941 quando ele, a mulher, Lillian, e uma equipa de 16 profissionais, oito desenhadores e oito animadores, desembarcaram no Rio de Janeiro. Do aeroporto Santos Dumont, parte da comitiva seguiu para o Hotel Glória, o primeiro cinco estrelas do Brasil; e parte para o Copacabana Palace, um dos mais tradicionais da orla carioca.

O motivo oficial da visita de Walt Disney ao Brasil foi a divulgação de “Fantasia” (1940), a terceira longa-metragem de animação dos estúdios Disney. A estreia no dia 23 de Agosto, no Pathé Palácio, na Cinelândia, Centro do Rio, foi tão famosa que contou até com a presença do então Presidente da República Getúlio Vargas e da primeira-dama Darcy Vargas.

No dia seguinte, Walt Disney tirou o dia de folga para visitar o Grémio Recreativo Escola de Samba Portela. Saiu de Copacabana às cinco da tarde e seguiu para Madureira. Na Azul e Branco, assistiu a um ensaio da escola fundada em 1923 e conheceu o sambista Paulo Benjamin de Oliveira, o Paulo da Portela.

Reza a lenda que este Paulo, teria sido uma das fontes de inspiração para o Zé Carioca. Mas, não foi a única. A ideia do papagaio, por exemplo, foi baseada no comediante Manuel Vicente Alves, o Dr. Jacarandá (1869-1948), um tipo folclórico das ruas do Rio. Ele gostava de usar, entre outros adereços, casaco, chapéu-palheta, gravata-borboleta e guarda-chuva. “Pode confiar em mim”, gostava de dizer aos clientes. “Sou igual a jacarandá: pau para toda obra”.

Na sua passagem pelo Rio, Walt Disney conheceu alguns brasileiros ilustres. O compositor Heitor Villa-Lobos foi um deles. O cartunista José Carlos, foi outro. Durante um jantar no Copacabana Palace, J. Carlos deu de presente ao visitante a ilustração de um papagaio a abraçar o Pato Donald. Premonição para Walt Disney?

“Ao longo desses 80 anos, o Zé Carioca sofreu muitas alterações no visual. Trocou o tradicional casaco e a gravata-borboleta, por pulôver ou camiseta branca. Numa fase, usou boné. Noutra, ténis”, exemplifica o investigador Marcus Ramone. “É o meu personagem Disney favorito. Ao contrário de outras aventuras em quadradinhos da Disney, que se passavam em Patópolis, as do Zé desenrolavam-se no Rio de Janeiro.

Havia muitos elementos familiares ao público brasileiro, a começar pela condição social do personagem”.

Mas, o Zé Carioca não estaria completo se não fosse o músico paulista José do Patrocínio Oliveira, o Zezinho. Um dos integrantes do conjunto musical Bando da Lua, que acompanhava a cantora Carmen Miranda, foi ele quem emprestou a voz ao Zé Carioca no filme “Salud, Amigos (1942)”, que marcou a estreia do mais brasileiro dos personagens da Disney no cinema.

Ao todo, Walt Disney e a sua trupe passaram 23 dias no Rio.

Na sede da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), um dos repórteres quis saber se a viagem tinha motivação política. “Não me preocupo com esses assuntos. Bastam-me os meus próprios problemas para me preocupar bastante…”, respondeu o entrevistado, segundo o jornal O Globo, de 19 de Agosto de 1941.

Polémicas à parte, Walt Disney não veio ao Brasil só para lançar Fantasia. A viagem fazia parte da Política de Boa Vizinhança, estratégia política adoptada pelo presidente Franklin Roosevelt para angariar a simpatia de aliados latino-americanos na Segunda Guerra Mundial.

“O Zé Carioca surgiu com uma perspicácia que beira a malandragem. Além disso, é um fã que adora o Pato Donald. Isso demonstra o que é, no entendimento dos artistas da Disney, ser um ‘bom amigo'”, analisa o historiador Alexandre Maccari Ferreira, doutorando em Comunicação pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).

Poucos dias antes de desembarcar no Rio, Walt Disney teve a oportunidade de ouvir, pela primeira vez, o samba-exaltação “Aquarela do Brasil”, de Ary Barroso. Foi em Belém (PA), onde o avião em que viajavam pousou para abastecer. Estava hospedado no Grande Hotel, na capital paraense, quando notou que o conjunto musical só tocava canções estrangeiras. Intrigado, pediu ao maestro que executasse alguma música típica do Brasil. O pianista, então, arriscou alguns acordes de Aquarela do Brasil, composta dois anos antes. Walt Disney só veio a conhecer o compositor no último dia de sua visita ao Rio.

O primeiro comentário que ouviu a respeito de Aquarela do Brasil não foi lá muito encorajador. “O coqueiro que dá coco? Você queria que ele desse o quê?”, desdenhou o cunhado. Ary encolheu os ombros. De lá para cá, Aquarela do Brasil teve 322 regravações: de Carmen Miranda a Elis Regina, de Bing Crosby a João Gilberto, de Frank Sinatra a Plácido Domingo.

Zé Carioca e Aquarela do Brasil estrearam juntos no cinema. Foi no dia 24 de Agosto de 1942, quando os cinemas brasileiros exibiram Saludos Amigos. Nos EUA, a estreia só aconteceu seis meses depois, em 6 de Fevereiro de 1943. Zé Carioca fez tanto sucesso que voltou a dar o ar da sua graça em duas outras longas-metragens: The Three Caballeros (1944) e Melody Time (1948). In “Jornal Tribuna de Macau” – Macau com “Agências Internacionais”

 

Timor-Leste - Combate à subnutrição foi a prioridade máxima do arranque do mandato do Presidente da República

O Presidente timorense disse ontem que o combate à subnutrição infantil foi a prioridade máxima do arranque do seu mandato, mostrando-se convicto que dois programas a implementar ajudarão a resolver o problema em cinco anos


“A prioridade máxima logo no arranque foi o combate à subnutrição infantil. É imperativo moral e ético o combate à extrema subnutrição infantil”, disse José Ramos-Horta, em entrevista à Lusa, por ocasião dos seus primeiros 100 dias de mandato, marcados no fim de semana.

“Não há para mim alguma prioridade maior que esta. É uma questão ética e moral, mas é também um investimento no futuro deste país e todos aplaudiram: o Governo e os parceiros internacionais”, vincou.

Ramos-Horta disse que desde que tomou posse viu já “muitos sinais claros de que isto vai avançar”, com o Governo a incluir o combate nas suas prioridades para 2023, sendo que mesmo depois das eleições legislativas “qualquer que seja o Governo” deverá manter essa prioridade.

Explicou ter desenvolvido “uma parceria forte com a Unicef que fez um plano concreto”, que prevê apoiar crianças ainda na fase de gestação e da nascença até aos três anos para combate o nanismo e o raquitismo.

“Isso custa 10 milhões de dólares por ano, durante cinco anos. Ao mesmo tempo, um outro projeto de 27 milhões por ano, durante cinco anos, para abrir 400 ou 500 escolas pré-primárias porque 70% das crianças timorenses não frequentam o pré-primário”, disse. “Com menos de 200 milhões de dólares, em cinco anos podemos eliminar a subnutrição infantil”, afirmou.

Desde que tomou posse, Ramos-Horta tem vindo a apostar numa aproximação crescente à população, com a abertura simbólica dos portões do Palácio Presidencial a crianças, vendedores ambulantes e artistas.

Uma agenda intensa que inclui ainda dois pedidos de fiscalização de constitucionalidade ao Tribunal de Recurso e esforços de diálogo com vários quadrantes políticos.

O chefe de Estado disse que depois da sua eleição e tomada de posse, e no quadro da promessa de campanha de dissolução do parlamento e convocatória de eleições antecipadas, acabou por prevalecer o “realismo e o pragmatismo”.

Inicialmente, disse, a sua preocupação e de Xanana Gusmão – líder do CNRT, principal partido que apoiou a sua candidatura – era garantir que as cerimónias de tomada de posse e dos 20 anos da restauração da independência, em 20 de Maio, “decorressem em total normalidade, civilidade”.

Uma visita à Indonésia estreou as visitas ao estrangeiro de Ramos-Horta, que incluirão ainda este mês uma deslocação à Austrália, posteriormente uma participação na Assembleia Geral da ONU e, em novembro, uma visita prevista a Portugal.

Os primeiros 100 dias de mandato ficaram marcados por alguma polémica, nomeadamente a decisão de se encontrar com ex-líderes pró-integracionistas e das milícias responsáveis por parte da violência antes e depois do referendo de independência, em 1999.

Um encontro na metade indonésia da ilha de Timor-Leste que, disse, foi “mal interpretado por algumas organizações não-governamentais”, mas que defendeu como medida para resolver “uma herança” da administração transitória da ONU que governou Timor-Leste entre o referendo e a independência, em 2002.

“O ambiente foi extremamente positivo. […] Tenho por hábito em qualquer sítio onde tenho ido, e irei, havendo comunidade timorense, encontro-me sempre com os timorenses. Não vou fazer exceção de não me encontrar com os timorenses que estão na Indonésia”, disse. “Eles querem, não necessariamente voltar de vez. Muitos têm filhos ali, alguns são avós, mas querem pelo menos a possibilidade, a liberdade de poderem visitar Timor-Leste, sem medos do legado de indiciamento feito pela UNTAET. Esta é a minha preocupação”, disse.

Ramos-Horta defendeu que o Estado timorense deveria “ter a coragem” de dar instruções à Procuradoria-Geral da República para arquivar os processos que envolvem essas pessoas, medida que se insere nos esforços de reconciliação levados a cabo em Timor-Leste.

“Se vamos fazer julgamento comecemos com nós próprios. É uma caixa de Pandora. Comecemos com o massacre de Aileu, de 1975, quando pessoas que nunca fizeram mal a ninguém, foram massacrados, da UDT. Depois em Same, ou depois a crise interna da Fretilin ao longo de anos em que tantos da Fretilin foram mortos por questões de ideologia e acusações”, afirmou. “Então vamos julgar só os indonésios, só as milícias de 1999? Conhecemos tantas experiências pelo mundo fora. Timor-Leste, se não tivesse feito a política de moderação e reconciliação, não seria o que é hoje”, disse. António Sampaio - Agência Lusa in “Ponto Final”



UCCLA - Lançamento do livro "Os Tesouros do Pico Cão Grande" de Mirian de Deus


Os valores humanos, a valorização e proteção da cultura, fauna e flora são os ingredientes do livro "Os Tesouros do Pico Cão Grande" da autora são-tomense Mirian de Deus, que será lançado no dia 1 de setembro, às 17 horas, no auditório da UCCLA.

E porque nesse dia a autora assinala 22 anos de vida, haverá diversos momentos musicais pela cantora Khira, pelo rapper Pekagboom e pelo cantor Celso Baía.

O livro será apresentado pela escritora Alice Goretti Pina e haverá diversas intervenções.

Sinopse:

Este livro conta a história da Albertina Nglandji, uma menina escolhida para proteger os tesouros do Pico Cão Grande. Nesta história, a autora faz questão de focar nos principais valores humanos, na valorização e proteção da cultura, da fauna e da flora. O livro vem dar aos leitores a oportunidade de fazerem uma pequena viagem a São Tomé e Príncipe usando apenas a imaginação.

Biografia da autora:

Mirian de Deus nasceu em São Tomé e Príncipe, no dia 1 de setembro de 2000. Filha de Maria Izilda Cabral Gomes Duarte e de Manuel Argentino da Madre de Deus, natural de São Tomé. Ficou órfã dos pais aos 5 anos, em julho de 2006, vítimas de acidente de viação. Foi criada no Bairro do Hospital pelos familiares e num colégio de Madres onde aprendeu muito sobre viver em comunidade.

Em 2018, Mirian de Deus recebeu uma bolsa de estudos da Fundação Calouste Gulbenkian, em cooperação com a Fundação Mãe Santomense, para fazer o curso de Bioquímica na Universidade de Évora, em Portugal.

Em 2020, lidando com diversas crises existenciais, encontrou refúgio nos poemas e nas histórias que criava, e desde então nunca mais abandonou a sua paixão. Extremamente comprometida e apaixonada pelas crianças, os seus poemas e histórias são maioritariamente dedicados à proteção e educação das crianças.

Em 2021, lançou a sua primeira obra poética intitulada “Pérolas Soltas”, na UCCLA

(https://www.uccla.pt/noticias/apresentacao-do-livro-perolas-soltas-de-mirian-de-deus-na-uccla). 

No mesmo ano, ingressou na Universidade Nova de Lisboa para fazer o seu mestrado em Bioquímica.


 

domingo, 28 de agosto de 2022

Portugal – Descoberto esqueleto de dinossauro de 82 pés de altura


Um homem que faz obras no seu quintal em Portugal descobriu um osso fossilizado, que agora foi identificado como um esqueleto de dinossauro de 82 pés de comprimento – possivelmente o maior já encontrado na Europa. De acordo com um comunicado de imprensa.

A descoberta inicial remonta a 2017 na cidade portuguesa de Pombal, informou a Associação Americana para o Avanço da Ciência em comunicado divulgado esta quarta-feira.

Paleontólogos de Portugal e Espanha que trabalham no local desde então dizem que os ossos podem ter sido de um dinossauro saurópode com 10 metros de altura e 24 metros de comprimento.

Os saurópodes eram dinossauros herbívoros de quatro patas com longos pescoços e caudas que viveram do Jurássico Superior ao Cretáceo Inferior, cerca de 160 a 100 milhões de anos atrás.

Um homem que trabalhava no seu quintal em Pombal, Portugal, em 2017, encontrou alguns fósseis, que levaram à descoberta de um enorme esqueleto de dinossauro.

Em agosto, paleontólogos coletaram costelas de 3 metros.

A equipa internacional de pesquisadores passou mais de uma semana no início de agosto coletando partes importantes do esqueleto maciço, incluindo as vértebras e as costelas.

“Não é raro encontrar todas as costelas de um animal como este, muito menos nesta posição, mantendo a sua posição anatómica original”, afirmou Elizabeth Malavia, investigadora pós-doutorada na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, no comunicado.

As costelas têm cerca de 3 metros de comprimento, tornando-se “a maior costela de saurópode atualmente conhecida na Europa e uma das maiores descritas em todo o mundo”.

O esqueleto provavelmente pertencia a um dinossauro saurópode que vagueou pelo território do Portugal moderno entre 160-100 milhões de anos atrás.

Com base na preservação e posicionamento dos ossos retirados do local, os investigadores suspeitam que possa haver mais fósseis enterrados no quintal de Pombal, e planeiam continuar a escavação no próximo ano.

As partes esqueléticas recuperadas serão limpas, afixadas no laboratório, documentadas e estudadas antes de serem exibidas no museu, disse Melfaya à Newsweek. Alícia Simões – Portugal in “Revista Port”


 

Portugal - Cientistas da Universidade de Coimbra identificam região cerebral com potencial de alteração precoce na doença de Alzheimer

A descoberta abre caminho para o desenvolvimento e teste de terapêuticas direcionadas à redução da neuroinflamação na doença de Alzheimer


Uma equipa multidisciplinar de cientistas da Universidade de Coimbra (UC) e do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), coordenada por Miguel Castelo-Branco (UC) e por Isabel Santana (CHUC), descobriu um hotspot triplo de patologia cerebral na doença de Alzheimer. A descoberta pode ter implicações muito relevantes em termos de terapias futuras, dado que identifica, com clareza, um alvo cerebral de alteração precoce, implicado na perda de memória, que pode ser estudado diretamente e de forma focada em novos ensaios terapêuticos.

Miguel Castelo-Branco, investigador da Faculdade de Medicina e do Centro de Imagem Biomédica e Investigação Translacional do Instituto de Ciências Nucleares Aplicadas à Saúde da Universidade de Coimbra, revela que a descoberta abre caminho «para o desenvolvimento e teste de terapêuticas direcionadas à redução da neuroinflamação na doença de Alzheimer».

A região cerebral identificada chama-se cíngulo posterior e demonstra, em fases muito iniciais da doença de Alzheimer, alterações tripartidas únicas: inflamação neuronal, acumulação de amiloide e atividade neuronal aparentemente compensatória. «A região identificada é crítica, pois serve de pivô em processos de memória de curto e longo prazo que sabemos estarem crucialmente afetados na doença de Alzheimer», reitera o investigador da Universidade de Coimbra.

Esta descoberta no cérebro humano foi demonstrada in vivo, através de um conjunto de técnicas avançadas de imagem funcional e cerebral: o PET duplo (que mede, no mesmo doente, neuroinflamação e deposição de amiloide) e a ressonância magnética funcional para medir a atividade cerebral em tarefas de memória. Este estudo contou com a participação de pessoas em fases muito iniciais da doença de Alzheimer e pessoas saudáveis com as mesmas características sociodemográficas.

A investigação contou ainda com o envolvimento de Nádia Canário e Lília Jorge, primeiras autoras do estudo, e de Ricardo Martins, investigadores do Centro de Imagem Biomédica e Investigação Translacional do Instituto de Ciências Nucleares Aplicadas à Saúde da UC.

Os resultados da investigação estão disponíveis no artigo científico “Dual PET-fMRI reveals a link between neuroinflammation, amyloid binding and compensatory task-related brain activity in Alzheimer’s disease”, agora publicado na revista Communications Biology. Universidade de Coimbra - Portugal


Devolva-me




Vamos aprender português, cantando

 

Devolva-me

 

Rasgue as minhas cartas

e não me procure mais

assim será melhor meu bem

 

O retrato que eu te dei

se ainda tens não sei

mas se tiver devolva-me

 

Deixe-me sozinho

porque assim eu viverei em paz

quero que sejas bem feliz

junto do seu novo rapaz

 

O retrato que eu te dei

se ainda tens não sei

mas se tiver devolva-me

 

Rasgue as minhas cartas

e não me procure mais

assim vai ser melhor meu bem

 

O retrato que eu te dei

se ainda tens não sei

mas se tiver devolva-me


Deixe-me sozinho

porque assim eu viverei em paz

quero que sejas bem feliz

junto do seu novo rapaz

 

O retrato que eu te dei

se ainda tens não sei

mas se tiver...

Devolva-me

 

O retrato que eu te dei

se ainda tens não sei

mas se tiver...

Devolva-me

 

O retrato que eu te dei

se ainda tens não sei

mas se tiver...

Devolva-me, devolva-me, devolva-me

 

Adriana Calcanhotto - Brasil

 

Composição:

Lilian Knapp e Renato Barros – Brasil



Vamos recordar, cantando

Fico assim sem você


sábado, 27 de agosto de 2022

Cabo Verde - Vladimir Cândido lança “Metades Poemas do Amor - Tributo à Mulher Cabo-verdiana”

Cidade da Praia – O escritor Vladimir Cândido lançou na Biblioteca Nacional de Cabo Verde – Praia, a sua sexta obra “Metades Poemas do Amor- Tributo à Mulher Cabo-verdiana”, uma homenagem à mulher cabo-verdiana, em especial à sua mãe recentemente falecida.

À Inforpress, o escritor natural da ilha de São Vicente explicou que neste título, composto por 152 páginas, encontram-se poesias de todo estilo, mas exclusivamente de amor.

“Eu sempre escrevo aquilo que sinto, e também aquilo que está à minha volta. É um tributo à mulher cabo-verdiana, em especial à minha mãe, que faleceu recentemente, porque eu sempre quis fazer algo direccionado à mulher cabo-verdiana, sendo que eu nasci no Dia da Mulher cabo-verdiana, 27 de Março”, disse Vladimir Cândido.

O escritor, que tem como pseudónimo literário “O Pensador”, revela que esta homenagem é uma promessa de longa data que agora se cumpre, sublinhando que tem um “amor incondicional” pela mulher cabo-verdiana.

O autor perspectiva que “tudo corra bem”, sendo que tem vindo a trabalhar na promoção da obra, e espera encantar o público com a sua poesia.

Por outro lado, revelou que “Metades Poemas do Amor- Tributo à Mulher Cabo-verdiana” demorou quase seis anos para ser lançado porque “infelizmente a sociedade cabo-verdiana não está ainda preparada para apoiar a área da literatura”.

“Mesmo quando vamos pedir uma parceria com uma empresa, quando falamos que é para lançamento de um livro temos muito pouca atenção”, afirmou.

“Infelizmente”, lamentou o poeta, a sociedade cabo-verdiana ainda “não está tendo acesso” à literatura, o que, argumentou, cabe a cada escritor, a cada poeta, fazer com que haja esta mudança.

Vladimir Cândido lembrou que literatura é uma arte, a poesia é uma arte como qualquer outra, daí a necessidade de promovê-las, bem como, de modo geral, promover a cultura cabo-verdiana.

Vladimir Cândido é um jovem escritor que sempre teve um amor incondicional pela leitura e principalmente pela escrita e a poesia romântica sempre foi a sua maior paixão.

Mestre em Línguas, Literatura e Culturas, árbitro de futebol nacional e revisor de monografias, entre outros, já participou em vários concursos literários a nível regional, nacional e internacional, tendo já vencido alguns. In “Inforpress” – Cabo Verde

 

Angola – Análise às declarações dos observadores das organizações internacionais africanas ao desenrolar do ato eleitoral

O que disseram os observadores das organizações internacionais regionais africanas.

Devido a manipulação dos factos e discursos (especialmente em língua inglesa) na nossa comunicação social pública, cria-se a falsa ideia de que todos os observadores declaram estas eleições livres, justas e transparentes.

No entanto, foi surpreendente a forma crítica como, especialmente as missões da SADC, da UA, da associação das comissões eleitorais da nossa região, da região dos Grandes Lagos e da ECCAS se pronunciaram tão assertivamente, sobre os flagrantes desvios dos padrões eleitorais previstos nos instrumentos continentais e na nossa própria Constituição e algumas leis.

Entre muitos aspectos referiram-se, abertamente à vergonha da parcialidade da comunicação pública, na cobertura das campanhas a favor do partido no poder, à estranha interferência do Mat no processo eleitoral, da composição partidarizada da nossa CNE e lamentaram, em alguns casos, que recomendações anteriormente feitas neste sentido, tivessem voltado a ser ignoradas. Recomendaram, finalmente, como lhes compete, que todos os conflitos eventualmente subsequentes, sejam resolvidos no quadro dos mecanismos legais previstos.

Só não se pronunciaram, naturalmente, sobre o como o nosso TC, da forma como foi composto e se subordina ao partido no poder (preferiria dizer ao “sistema”), poderá decidir com imparcialidade, na última instância das controvérsias. Claro que seria exigir-lhes demais. Assim como o seria se lhes pedíssemos que se pronunciassem sobre a “atipicidade” das nossas estranhas e deletérias eleições parlamentares/presidenciais ou vice-versa. Marcolino Moco - Angola

 

Silas Corrêa Leite: a poesia como libertação da alma

                                                                     I

Autor multifacetado, Silas Corrêa Leite (1952) volta às livrarias com novo livro de poemas, Lampejos (Belo Horizonte, Sangre Editorial, 2019), que reúne 25 peças em que o poeta coloca em prática a poesia como libertação da alma. E o faz como uma forma de ter em mãos um mundo mais tranquilo que o mundo de todos os dias, alheando-se dos momentos difíceis por meio da busca do sonho e do desejo. 

Em outras palavras: a palavra poética seria a ponte por onde a alma do poeta passaria para o futuro, ou seja, para a vida eterna, como se constata no poema que tem por título exatamente “Morte” e no qual ele diz que: Quando a morte vier me buscar / estarei sentado à beira do caminho / Escrevendo meu último poema para o luar cor de prata / com minha lupa de restos de calendários vencidos... / A morte – a mais bela mulher que jamais vi – dirá, / toda vaidosa e pintada para a guerra das estrelas / – Vamos, poeta, se apresse, vamos, é hora... / Eu a olharei, entregue, e a tomarei nos braços / Então a abraçando forte e seguro como uma ilha eterna de / estúdio de luz / E finalmente  assim embarcaremos na canoa furada da noite, / e juntos / Como unha e carne / seremos um só / Como um voo de Ícaro para o céu de todas as honras...

Com imagens triviais, Silas Corrêa Leite explora temas como o mar e o tempo, a vida e a morte, a alma e o corpo, o “eu” poético e o amor em todos os níveis, inclusive o amor filial e o maternal e o paternal, com versos bem lapidados, às vezes até enveredando pelo barroco, para concluir com explosões épicas, pois, se algo sabe fazer com quase perfeição, é a maneira habilidosa com que manipula as palavras. 

Leia-se, por exemplo, este poema que leva por título “Saudade”: Mãe, às vezes, quando vou dormir ensimesmado / Na fronha de algodão cor de neve / encardida – com lágrimas de saudades de ti / Ainda parece que vejo teu rosto; / parece que no pano a tua voz como uma cantilena terreal / me diz / – Dorme, guri, dorme... / Então eu fecho os olhos chorando escondido da vida / E minha saudosa lembrança de ti / abraça minha angústia noturna no travesseiro / E acaricia com tintas de imenso amor eterno / o desalinho de minha saudade de órfão triste.

 

                                                                    II

Liricamente épicos e epicamente irônicos, os seus poemas não têm a vocação de chocar o leitor, mas, antes de tudo, atraí-lo, de maneira sibilina, para a arte de amar o próximo. Seguindo um ensinamento de Goethe (1749-1843), Silas Corrêa Leite faz também da dor um poema, como se pode ver em “Ausências”, que abre o livro: Quantas vezes, em silêncio, / te pedi perdão, no íntimo / Mas não reconhecias/ minha voz na tua alma. / Já era tarde demais. /Fiquei / Me fingindo de morto / Mas eras uma saudade viva. / Eu tinha morrido naquele dia / que disseste Adeus, / dentro de ti / e ficaste. Ficaste como uma corda estendida no abismo / do que restamos nós.

A ansiedade diante do que pode ser o fim atravessa todo este pequeno volume, pois “o verdadeiro poema é uma fulgurante agonia ou um êxtase precário, conciliação impensável e todavia existente da nossa realidade e do nosso sonho”, como observou o professor e filósofo luso Eduardo Lourenço (1923-2020), ao comentar a poesia de Eugénio de Andrade (1923-2005) em Obras completas. Tempo e poesia, vol. III (Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 2016, p. 127).

É o que se pode intuir de “Último poema”, que encerra a obra de Silas Corrêa Leite: Quando farei meu último poema? / Pergunto a mim mesmo / Um lápis de marceneiro na mão / Uma borracha em formato de coração / e uma folha de papel de pão. / O destino como um esquilo serelepe diz, vá em frente / O ocaso como uma lesma lerda agoniza e pede perdão. / Sem escrever não sou nada / Sou bananeira que já deu goiaba... / Escrevivi cada ilha, cada janela, chorume, porão... / Vai se ver até já morri / e mal-e-mal / sou só mesmo esse um último poema de rastro de travessia / deixado no chão.

 

                         III

Nascido em Monte Alegre, hoje Telêmaco Borba, no Paraná, e tendo vivido sua juventude na mítica cidade paulista de Itararé, localizada na divisa entre os Estados de São Paulo e Paraná, Silas Corrêa Leite é poeta, romancista, letrista, professor aposentado, bibliotecário, desenhista, jornalista, resenhista, ensaísta, conselheiro diplomado em Direitos Humanos e membro da União Brasileira de Escritores (UBE), além de blogueiro e ciberpoeta.

De origem humilde, foi aprendiz de marceneiro, tendo começado a escrever aos 16 anos. Em 1970, migrou para São Paulo, onde se formou em Direito e Geografia, sendo especialista em Educação pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, além de ter cursado extensões e pós-graduações nas áreas de Educação, Filosofia, Inteligência Emocional, Jornalismo Comunitário e Literatura na Comunicação, curso este que fez na Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP).

Nos últimos tempos, o romancista lançou também Gute-Gute, barriga experimental de repertório (Rio de Janeiro, Editora Autografia, 2015); Goto, a lenda do reino encantado do barqueiro noturno do Rio Itararé (Florianópolis, Clube de Autores Editora, 2013), romance pós-moderno, considerado a sua melhor obra; Tibete, de quando você não quiser ser gente, romance (Rio de Janeiro, Editora Jaguatirica, 2017); O lixeiro e o presidente (Curitiba, Kotter Editorial, 2019), romance social; Ele está no meio de nós (Curitiba, Kotter Editorial, 2018);  e Transpenumbra do Armagedon (São Paulo, Desconcertos Editora, 2021).

Em 2018, publicou Planeta Bola – futebolices, catecismo corinthiano & acontecências (Porto Alegre, Editora Simplíssimo), que reúne croniquetas, comentários, poemas e homenagens a antigos atletas do Sport Clube Corinthians Paulista, de São Paulo.

Como poeta e ficcionista, consta de mais de cem antologias, inclusive no exterior, como na Antologia Multilingue de Letteratura Contemporanea, de Treton, Itália, Christmas Anthology, de Ohio, Estados Unidos, e Revista Poesia Sempre, da Fundação Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Seu texto “O estatuto do poeta” foi vertido para o espanhol, inglês, francês e russo.  

É autor do primeiro livro interativo da Internet, o e-book O rinoceronte de Clarice, que reúne onze ficções, cada uma com três finais, um feliz, um de tragédia e um terceiro politicamente incorreto, que virou tema de tese de mestrado na Universidade de Brasília (UnB) e de doutoramento na Universidade Federal de Alagoas (UFAL). Foi finalista do Prêmio Telecom, em Portugal, em 2007.

É autor ainda, entre outros, de Porta-lapsos, poemas (São Paulo, Editora All-Print, 2005) e Campo de trigo com corvos, contos (Joinville-SC, Editora Design, 2005), obra finalista do prêmio Telecom, Portugal 2007, e O homem que virou cerveja, crônicas hilárias de um poeta boêmio (São Paulo, Giz Editorial, 2009), livro ganhador do Prêmio Valdeck Almeida de Jesus, Salvador-Bahia, 2009. Adelto Gonçalves - Brasil

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Lampejos, de Silas Corrêa Leite. Belo Horizonte: Sangre Editorial, 32 páginas, 2019. Site: www.sangreeditorial.com.br Site do autor: poetasilascorrealeite.com.br E-mail do autor: poesilas@terra.com.br 

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Adelto Gonçalves, jornalista, mestre em Língua Espanhola e Literaturas Espanhola e Hispano-americana e doutor em Letras na área de Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo (USP), é autor de Gonzaga, um poeta do Iluminismo (Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999), Barcelona brasileira (Lisboa, Nova Arrancada, 1999; Publisher Brasil, 2002), Bocage – o perfil perdido (Lisboa, Editorial Caminho, 2003; Imprensa Oficial do Estado de São Paulo – Imesp, 2021), Tomás Antônio Gonzaga (Imesp/Academia Brasileira de Letras, 2012),  Direito e Justiça em terras d´el-rei na São Paulo Colonial (Imesp, 2015), Os vira-latas da madrugada (José Olympio Editora, 1981; Letra Selvagem, 2015) e O reino, a colônia e o poder: o governo Lorena na capitania de São Paulo 1788-1797 (Imesp, 2019), entre outros. E-mail: marilizadelto@uol.com.br