Neste
dia 09, José Maria Neves foi empossado como quinto Presidente da República de
Cabo Verde perante a Assembleia Nacional, cerimónia à qual assistiram, na
cidade da Praia, os chefes de Estado de Portugal, Angola, Guiné-Bissau, Gana e
Senegal.
“Juro
por minha honra desempenhar fielmente o cargo de Presidente da República de
Cabo Verde em que fico investido, defender, cumprir e fazer cumprir a
Constituição, observar as leis e garantir a integridade do território e a
independência nacional”, disse José Maria Neves, ao ler a declaração de
juramento prevista na Constituição para a tomada de posse.
O
Presidente cabo-verdiano defendeu, durante o seu discurso de tomada de posse,
que ninguém deve ser prejudicado profissionalmente por causa das suas ideias,
opções políticas ou outras escolhas e comprometeu-se a defender a oficialização
do crioulo.
Num
discurso lido em português e crioulo e interrompido várias vezes por aplausos
na Assembleia Nacional, na cidade da Praia, ilha de Santiago, José Maria Neves
agradeceu a quem o seguiu no seu já longo percurso político que o conduziu ao
cargo de chefe de Estado, o quinto de Cabo Verde.
O
ex-primeiro-ministro manifestou preocupação com o estado do país e os “enormes
desafios” que enfrenta, uma vez que “vive uma situação de crise, revelada e
agravada pela pandemia” que teve “efeitos profundos nos planos económicos
social e emocional”.
E
expressou o seu cuidado com indicadores como a dívida e o défice públicos, que
atingiu “níveis preocupantes”, assim como as “elevadas taxas de desemprego e
manchas significativas de desemprego”.
A
prioridade social é, por isso, a “reconstrução do país neste ciclo doloroso do
período pós pandemia”, disse, classificando esta uma “tarefa exigente que exige
a colaboração de toda a nação”. José Maria Neves disse que este é “um tempo de
cerrar fileiras” e para “todos juntos” darem o seu melhor para o progresso de
Cabo Verde.
“Precisamos
de soluções e respostas que vão ao encontro das pessoas”, referiu, defendendo
um debate “com sinceridade e sentido de resultados”, pois “não se pode discutir
com duas pedras nas mãos”, o que “não é salutar nem produtivo”.
Recordando
os feitos dos cabo-verdianos em áreas como a cultura, desporto, academia, inovação
e tecnologias, José Maria Neves defendeu “mais eficiência na execução e
eficácia nos resultados”.
“Não
podemos nos contentar com a mediania. Não podendo ser perfeitos, devemos
procurar todos os dias a perfeição”, afirmou.
Neste
seu primeiro discurso como Presidente da República, José Maria Neves elegeu
como uma das suas “preocupações fundamentais” a justiça que, apesar dos
“investimentos feitos ao longo dos anos” se traduz num “descontentamento da
sociedade” com a sua morosidade, ou quando não existe de todo.
E
defendeu uma total independência da comunicação social. “É notável o caminho
percorrido nestes 46 anos de independência, mas nem todos os ganhos estão a
salvo”, advertiu, preconizando uma imprensa livre e democrática, tanto nas mãos
do setor público, como privado.
Palavras
de José Maria Neves também contra a “clivagem simplista” entre os setores
público e privado, optando antes por uma aposta em parcerias entre o Estado e o
privado, “setores fundamentais da economia”.
A
questão dos transportes, muito problemática em Cabo Verde, não foi esquecida
pelo novo Presidente da República, que calcificou este um “caso paradigmático”.
José
Maria Neves defende “uma forte ação junto de países asiáticos e países do golfo
pérsico”, além de um reforço do relacionamento com instituições como a NATO e
uma “máxima atenção” à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).
Para
último, José Maria Neves reservou uma sua “preocupação fundamental”: A língua
cabo-verdiana. “Vou estar na linha de frente do combate para a oficialização do
nosso crioulo”, levando em conta as variantes de todas as ilhas.
A
terminar, José Maria Neves prometeu ser “um ouvidor geral da República, um
Presidente presente e atuante, um Presidente de afeto, com quem todos podem
contar”.
Presidentes
Conforme
prevê a Constituição de Cabo Verde, José Maria Neves tomou posse perante a
Assembleia Nacional, reunida em sessão especial de investidura, na presença de
delegações representando governos de vários países e dos Presidentes das
Repúblicas de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, de Angola, João Lourenço, da
Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, do Gana, Nana Akufo-Addo, e do Senegal,
Macky Sall.
Marcam
presença na cerimónia, ainda, o vice-Presidente do Brasil, general Hamilton
Mourão, o Secretário do Trabalho dos Estados Unidos da América, Marty Walsh, a
ministra para a Igualdade de Género, Diversidade e Igualdade de Oportunidades
de França, Elisabeth Moreno, o presidente da Câmara dos Deputados da
Guiné-Equatorial, Mohaba Messu, o presidente da Assembleia de São Tomé e
Príncipe, Delfim Neves, o secretário-executivo da Comunidade dos Países de Língua
Portuguesa (CPLP), Zacarias da Costa, e o presidente da Comissão da Comunidade
Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), Jean Claude Kassi Brou.
José
Maria Neves nasceu em Santa Catarina, ilha de Santiago, em 28 de março de 1960,
autarquia pela qual foi eleito presidente da Câmara em março de 2000.
Antes
foi deputado à Assembleia Nacional, de 1996 a 2000, pelo Partido Africano da
Independência de Cabo Verde (PAICV), que passou a liderar em 2000. Venceu as
eleições legislativas no ano seguinte, fazendo o PAICV regressar ao poder em
Cabo Verde, uma década depois, assumindo o cargo de primeiro-ministro (2001 a
2016).
Com
formação em Administração Pública, assumiu depois as funções de professor na
Universidade de Cabo Verde e criou a Fundação José Maria Neves para a
Governança, instituição dedicada à promoção das liberdades, à consolidação da
democracia e do estado de direito, à boa governação, à efetividade das
políticas públicas e ao desenvolvimento sustentável dos pequenos estados
insulares.
“O
essencial é trabalhar com todos. Serei um Presidente aberto a todas as
sensibilidades políticas e sociais. Um Presidente que dialogará com o Governo,
fará as articulações necessárias, será um fator de construção de consensos e
procurará mobilizar toda a nação global cabo verdiana, nas ilhas e a diáspora,
para que todos unidos possamos fazer face aos desafios com que Cabo Verde se
confronta neste momento”, afirmou José Maria Neves, em entrevista à Lusa após
as eleições presidenciais de 17 de outubro, que venceu à primeira volta.
O
PAICV, desde 2016 na oposição, apoiou a candidatura de José Maria Neves, sendo
o Governo cabo-verdiano, liderado pelo primeiro-ministro, Ulisses Correia e
Silva, suportado pelo Movimento para a Democracia (MpD, maioria parlamentar).
A
Comissão Nacional de Eleições (CNE) cabo-verdiana proclamou José Maria Neves
vencedor das sétimas eleições presidenciais de Cabo Verde ao registar 95974
votos, equivalente a 51,7% do total.
A
eleição presidencial em Cabo Verde obriga a uma maioria absoluta de votos
validamente expressos para a vitória à primeira volta. Sem essa maioria, os
dois candidatos mais votados disputam uma segunda volta, o que aconteceu pela
última vez em 2011, na primeira eleição do Presidente, Jorge Carlos Fonseca.
Com
a totalidade das 1294 mesas de voto apuradas, no arquipélago e na diáspora, a
CNE anunciou ainda, após a reunião de apuramento geral, que o também antigo
primeiro-ministro (1991 a 2000) Carlos Veiga ficou em segundo lugar, com 78612
votos (42,4%), seguindo-se Casimiro Pina, com 3346 votos (1,8%), Fernando Rocha
Delgado, com 2518 votos (1,4%), Hélio Sanches, com 2185 votos (1,1%), Gilson
Alves, com 1410 votos (0,8%) e Joaquim Monteiro, com 1403 votos (0,7%).
A
votação de 17 de outubro registou uma taxa de abstenção de 52,01%, pelo que
votaram apenas 191335 eleitores, no arquipélago e na diáspora, dos 398690 que
estavam inscritos, enquanto 4295 votaram em branco (2,24%) e foram considerados
nulos 1592 (0,83%).
A
estas eleições já não concorreu Jorge Carlos Fonseca, que cumpriu o segundo e
último mandato como Presidente da República, mas registou-se um recorde de sete
candidatos presidenciais, quando o máximo anterior foi de quatro.
Cabo
Verde já teve antes da eleição de José Maria Neves quatro Presidentes da
República, desde a independência de Portugal em 1975, sendo o primeiro o já
falecido Aristides Pereira (1975 – 1991) por eleição indireta, seguido do
também já falecido António Mascarenhas Monteiro (1991 – 2001), o primeiro por
eleição direta, em 2001 foi eleito Pedro Pires e 10 anos depois Jorge Carlos
Fonseca.
O
presidente português também declarou que vai convidar o novo Presidente de Cabo
Verde a realizar uma visita de Estado a Portugal no início de 2022. “Espero
ainda esta tarde ter uma bilateral com o Presidente e convidá-lo para ir a
Portugal no começo do ano que vem. Era muito bom para nós ter o irmão
Presidente cabo-verdiano numa visita de Estado”, disse Marcelo Rebelo de Sousa,
no final da cerimónia. In “Mundo Lusíada” – Brasil com “Lusa”
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