Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

segunda-feira, 22 de novembro de 2021

Macau - Peça de teatro portuguesa “Se Eu Vivesse Tu Morrias” estreia na RAEM, traduzida para cantonense

“Se Eu Vivesse Tu Morrias”, uma peça de teatro de Miguel Castro Caldas, foi adaptada e traduzida para cantonense e vai estrear, com três sessões, no fim-de-semana de 27 e 28 de Novembro, no Teatro da Caixa Preta. A peça, que teve de ser adaptada para o público de Macau, procura trazer ao território “mensagens profundas e filosóficas” mais típicas das obras europeias


”Se Eu Vivesse Tu Morrias” é o nome da peça de teatro que vai estrear no Teatro da Caixa Preta no dia 27 e 28 de Novembro. No primeiro dia há duas sessões, uma às 15h e outra às 20h. No segundo dia, a sessão é às 15h.

O projecto, organizado pelo grupo Theatre Farmers e pela Associação de Irmandade de Teatro Criativo, é uma adaptação da peça portuguesa com o mesmo nome, criada por Miguel Castro Caldas, procura com esta vinda a Macau, promover a diversidade artística e a inclusão cultural dos espectadores locais, nomeadamente da população chinesa, uma vez que foi traduzido na íntegra para cantonense.

Dinis Chan, tradutor e actor na peça a estrear em Macau, explicou ao Ponto Final que este é um projecto de promoção da cultura portuguesa no Oriente. “O título deste espetáculo é tirado do pseudo-epitáfio de Robespierre: ‘Passante, não chores a minha morte, se eu vivesse tu morrias’”.

O tradutor refere que, na interpretação original em Portugal, é oferecido um livro à plateia para ler ao mesmo tempo do espectáculo. Em Macau, contudo, optou-se por não se incluir esta parte. Em vez disto, foi introduzida a língua gestual, que, segundo Dinis Chan, serve para evitar confusão e para o público não “ficar cheio de coisas para ler e ver’”.

“Com este espetáculo queremos evidenciar a não-presença, a fantasmagoria, o outro acontecimento que não é aquele que os actores costumam afirmar como o aqui e o agora. Pôr ainda mais o morto em cena. Não vamos convocar os mortos para a vida, vamos convocar-nos a nós para lá. E, para isso, pedimos ajuda ao texto que nos leve nesta viagem de morte”, aponta o actor.

A peça, que tem como mensagem principal “uma coisa viva e uma coisa que morre”, conta a história de uma mulher, Lídia, que está dentro de dois homens – Filinto, o seu marido, e Lago, o seu namorado. “Se um dele existir, o outro terá de morrer?”, questiona a peça. “A peça é bastante filosófica, não é como uma história tradicional”, assinala.

Questionado acerca da razão pela qual quis trazer esta peça portuguesa a Macau, Dinis Chan indica que tudo começou quando conseguiu entrar em contacto com Rui Teigão, da Direcção Geral das Artes, e apresentou-lhe o plano, explicando-lhe quais eram as suas expectativas. Com isto, Rui Teigão recomendou as peças de Miguel Caldas.

“Depois de uma discussão colectiva da equipa de produção, decidimos em conjunto fazer esta peça, porque se inseria nos nossos requisitos, que não podia ter muitos actores a participar, já que a Caixa Preta só serve para pequenos espectáculos e nem pode ser algo muito curto nem muito comprido”, realça. O mais importante, aponta, Dinis Chan, é que, a peça teria de ser uma obra estrangeira que nunca tinha sido traduzida para chinês e teria de ter sido premiada, frisa o tradutor.

“Quando voltei de Portugal para Macau comecei a fazer trabalhos na área luso-chinesa e reparei que a comunidade chinesa não tem muito conhecimento de Portugal nem da cultura portuguesa e a única impressão de Portugal para muitos chineses é só ligada a ‘coisas tradicionais’, tipo azulejos, pastel de nata, bacalhau, etc.” diz, acrescentando: “Parece-me que poucas pessoas têm conhecimento de como é o teatro moderno de Portugal e achei uma boa oportunidade para a comunidade chinesa de ter um novo prisma para conhecer ‘Portugal’, aproveitando ao mesmo tempo, uma diferente forma de arte, de um país estrangeiro”.

Dinis Chan, que em Maio deste ano participou noutro projecto de teatro com uma peça francesa “Au Bord de la vie”, de Gao Xinjian, refere que pessoalmente gosta muito de teatro europeu, por ter geralmente mensagens profundas e filosóficas, mesmo que em Macau os espectadores não percebam muitas vezes a mensagem e, por isso, não seja tão bem recebida. “Este tipo de obra para Macau é sempre muito experimental”, refere.

Questionado sobre se houve dificuldades na tradução, o próprio responde: “Sem dúvida que houve, tenho de admitir que é uma peça complicada para traduzir, aliás as obras literárias são sempre difíceis de traduzir porque tem de se manter o estilo. Especialmente nesta peça que tem imensas metáforas, implicações sexuais, por exemplo”.

Dinis Chan reitera a dificuldade de traduzir uma peça desta natureza literária para chinês: “Foi difícil, pois a linguagem é muito coloquial em certas partes, visto que há conversas com palavrões e com descrições implicitamente sexuais, sem falar que, culturalmente, também é muito complicado”, nota. “O que faz sentido em Portugal, não vai fazer sentido aqui para a comunidade chinesa e tem de se adoptar outra forma ou mudar o ‘objecto’ para atingir o mesmo efeito”, descreve.

“No cantonense, nós escrevemos de uma forma, mas falamos de forma. Neste caso nós temos de equilibrar entre a beleza da literatura e a compreensão popular. Se traduzirmos numa forma muito coloquial e vulgar, perde-se a beleza literária, se traduzirmos muito literalmente, vai ser difícil compreender”, conclui. Os bilhetes têm o custo de 120 patacas e estão à venda através dos grupos organizadores. Joana Chantre – Macau in “Ponto Final”



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