Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

sábado, 30 de novembro de 2019

Macau - Doutoramento em português arranca em Janeiro no Instituto Politécnico

O programa de Doutoramento em Português do Instituto Politécnico vai arrancar já em Janeiro, com 10 alunos, avançou Han Lili, ao Jornal Tribuna de Macau. A directora da Escola de Línguas e Tradução garantiu ainda que o IPM continuará a apostar em formações complementares para alunos e docentes



O primeiro doutoramento em Língua e Cultura Portuguesa, como segunda língua, do Instituto Politécnico de Macau (IPM) irá começar em Janeiro, adiantou a directora da Escola Superior de Línguas e Tradução, sublinhando que se trata de “uma iniciativa muito inovadora”.

Durante o primeiro semestre, os alunos frequentarão “um troco comum, nas áreas de formação académica, metodologias e estudos interculturais” explicou Han Lili ao Jornal Tribuna de Macau. Concluída essa fase, “já podem escolher a sua área de preferência, quer seja didáctica, no ensino de Português, cultura e literatura portuguesas ou estudos de tradução. Se preferirem podem sempre casar as várias vertentes de especialização para fazerem estudos interdisciplinares” explicou a mesma responsável.

O curso, oficializado em Julho, irá arrancar com “10 alunos, mas nas próximas edições iremos ter mais vagas”, avançou Han Lili.

Para os outros níveis de ensino, a responsável assegura que “os cursos de formação de Verão irão continuar” e que o IPM vai aproveitar as pausas lectivas para formação complementar, seja em cursos de curta duração ou conferências. No Verão, as acções de formação serão mais voltadas para os alunos que pretendem integrar o plano de mobilidade e estudantes do Continente. A instituição proporciona também formação complementar aos docentes do IPM durante o mesmo período.

A professora destacou ainda a “relação benéfica para ambas as partes” com Instituto Português no Oriente (IPOR). Dessa colaboração resultam várias iniciativas de formação e até manuais, como é o caso do Guia Lexical para Jornalistas, lançado durante o programa da “Conferência Internacional Macau e a Língua Portuguesa: Novas Pontes a Oriente”, evento também co-organizado pelo IPOR e o IPM. Sofia Rebelo – Macau in “Jornal Tribuna de Macau”

Cabo Verde - Dia Mundial da Língua Portuguesa ajuda a projetar a língua

Cabo Verde juntou-se às celebrações em todo o mundo pela oficialização do Dia Mundial da Língua Portuguesa, em 5 de maio. A comemoração anual e, agora global, foi ratificada na segunda-feira em Paris pelo Conselho Executivo da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, Unesco



Reconhecimento

Na qualidade de presidente da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, CPLP, Cabo Verde disse num comunicado que a medida é “mais um importante marco no processo de afirmação e reconhecimento da língua portuguesa no plano global”.

Para o país africano, o Dia Mundial realça a importância da “atuação diplomática concertada” dos Estados-membros do bloco lusófono, seus observadores associados, entidades da sociedade civil, autores, e produtores de cultura.

Expansão

Falando à “ONU News” momentos depois do anúncio, o secretário-executivo da CPLP, embaixador Francisco Ribeiro Telles disse que o português, falado por cerca de 280 milhões de pessoas, é uma língua em crescente expansão pelos quatro continentes.

A CPLP acredita que a decisão da Unesco traz a expectativa de que o idioma “seja uma língua, cada vez mais, relevante no contexto global e cada vez mais importante à escala mundial.”

Ao proclamar o Dia Mundial da Língua Portuguesa, a Unesco afirma que é preciso “implementar uma cooperação mais ampla entre os povos por meio do multilateralismo, aproximação cultural e diálogo entre civilizações como está estipulado nos estatutos” da agência. In “ONU News” – Nações Unidas

Luxemburgo - Empresa luxemburguesa compra companhia aérea portuguesa

A companhia aérea portuguesa EuroAtlantic Airways foi vendida à sociedade de aviação Imperial Jet (I-Jet Aviation), sediada no Luxemburgo, segundo revela o jornal Observador.

A operação de venda foi comunicada aos funcionários da EuroAtlantic, por email a que aquele jornal teve acesso. “A empresa Imperial Jet (I-Jet) liderada por Mr. Abed El Jaouni comprou as ações juntamente com o fundo de investimento Njord Partners“. Esta foi a informação passada pela transportadora aérea de serviços charter e leasing (aluguer) de aviões comerciais aos seus trabalhadores.

O acionista único, Tomaz Metello, “concretizou a venda da sua participação à I-Jet Aviation PT [detida pela I-Jet] passando esta a ser o nosso novo acionista”, acrescentou.

O novo dono da EuroAtlantic, o alemão Abed El Jaouni, fundou várias empresas nos ramos do imobiliário e da aviação. Começou a carreira como piloto na companhia aérea alemã Lufthansa e criou a Cirrus Middle East (agora I-Jet), em 2004, no Líbano. In “Bom dia Europa” - Luxemburgo

sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Timor-Leste – Contribui com ajuda financeira para a cooperação técnica de apoio orçamental à Guiné-Bissau

A Agência de Cooperação de Timor-Leste entregou ao Governo da Guiné-Bissau, no âmbito da cooperação técnica entre os dois países, um apoio financeiro de 300 mil dólares



"É com grande honra que o Governo e o povo de Timor-Leste decidem entregar 300 mil dólares de cooperação técnica de apoio orçamental", afirmou Libório Pereira, representante da Agência de Cooperação de Timor-Leste em Bissau.

Segundo Libório Pereira, o apoio enquadra-se na "determinação do Governo de Timor-Leste em contribuir para a paz e segurança internacional através do apoio de ações que promovam a consolidação de regimes democráticos, o respeito dos direitos humanos e cumprindo os mais altos valores da solidariedade internacional".

Nas declarações à comunicação social, após a assinatura do donativo na sede da agência de cooperação timorense em Bissau, Libório Pereira felicitou também os guineenses pela forma como decorreu a votação para as eleições presidenciais no domingo.

"Em nome do Governo da Guiné-Bissau tenho o prazer de agradecer este gesto de solidariedade de Timor-Leste no quadro das relações bilaterais de cooperação entre os dois países", afirmou o ministro das Finanças guineense, Geraldo Martins.

O ministro das Finanças lembrou também que Timor-Leste tem apoiado a Guiné-Bissau em vários domínios e que o dinheiro terá "boa utilização" no quadro do Orçamento Geral de Estado de 2019. In “Sapo Timor-Leste” com “Lusa”

Guiné-Bissau – Carlos Lopes apela a um debate sobre os problemas nacionais aos dois candidatos que se apresentam na segunda volta das eleições presidenciais

Economista guineense Carlos Lopes enaltece o civismo demonstrado pelos eleitores guineenses

Bissau – O economista guineense Carlos Lopes disse quarta-feira que os dois candidatos que vão disputar a segunda volta das Presidenciais na Guiné-Bissau devem fazer um esforço para ter um apelo nacional e não um apelo étnico, religioso e regional.

Segundo a Comissão Nacional de Eleições, Domingos Simões Pereira, apoiado pelo Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), e Umaro Sissoco Embaló, apoiado pelo Movimento para a Alternância Democrática (Madem-G15), vão disputar a segunda volta das eleições presidenciais da Guiné-Bissau.

Domingos Simões Pereira foi o candidato que obteve maior percentagem de votos, 40,13%, enquanto Umaro Sissoco Embalo obteve 27,65% dos votos.

Os resultados não surpreenderam Carlos Lopes que enalteceu e felicitou “o civismo demonstrado pelos guineenses e um pouco em contradição com o ambiente de alguma hostilidade da parte de uma camada de candidatos presentes que utilizaram um discurso de ódio e de hostilidade e desqualificação dos oponentes”.

“A Guiné Bissau viveu durante bastante tempo uma crise intensa e precisa de transformação. Os guineenses demonstraram que havia um comportamento cível que eu espero que se reproduza também na segunda volta”, prosseguiu o antigo assessor de Kofi Annan nas Nações Unidas, que atualmente leciona na África do Sul.

Segundo o académico, “do ponto de vista da matemática eleitoral era difícil que qualquer dos candidatos pudesse alcançar a vitória na primeira volta, tendo em conta os partidos que os apoiam e tendo por base o cálculo das últimas legislativas”.

Em relação à segunda volta, Carlos Lopes disse que os dois candidatos “têm de fazer um esforço para ter um apelo nacional e não um apelo étnico, religioso, regional”.
E acrescentou: “Têm de ter um discurso pacífico e preponente”.

Assumido apoiante de Domingos Simões Pereira, por considerar que este “tem um projeto com cabeça, tronco e membros”, O economista referiu que a Guiné-Bissau tem atualmente “características de um estado que não consegue fazer aquilo que chamamos de reprodução económica normal, precisa de muletas.

Para sair desta situação, prosseguiu, é preciso “uma proposta de transformação do país que tenha reflexo nas instituições da República, entre as quais a Presidência da República”.

A taxa de abstenção destas eleições, que se realizaram domingo, foi a mais elevada desde, pelo menos, 2005, situando-se nos 25,63%.

O Presidente cessante, José Mário Vaz, falhou a reeleição, sendo o quarto mais votado, com 12,41% dos votos.

O ex-chefe de Estado ficou atrás do candidato apoiado pela Assembleia do Povo Unido – Partido Democrático da Guiné-Bissau (APU-PDGB) e pelo Partido da Renovação Social (PRS), Nuno Nabian, que conseguiu 13,16% dos votos.

Em quinto lugar ficou o ex-primeiro-ministro Carlos Gomes Júnior, que conseguiu 2,66%, seguido de Baciro Djá, com 1,28%.

Os restantes seis candidatos ficaram abaixo de 1%: Vicente Fernandes (0,77%), Mamadu Iaia Djaló (0,51%), Idriça Djaló (0,46%), Mutaro Intai Djabi (0,43%), Gabriel Fernando Indi (0,36%) e António Afonso Té (0,19%).

Segundo o cronograma eleitoral para as eleições presidenciais da Comissão Nacional de Eleições, a segunda volta vai realizar-se em 29 de dezembro. In “Agência de Notícias da Guiné” – Guiné-Bissau com “Lusa”

Sérvia - A peça portuguesa “Um Édipo – o drama ocultado” estreia-se no Teatro Nacional de Nis

A peça “Um Édipo – o drama ocultado”, de Armando Nascimento Rosa, estreia-se no sábado, no Teatro Nacional de Nis, sul da Sérvia, numa encenação do jovem ator e encenador Jug Djordjevic, revelou o dramaturgo à Lusa.

Armando Nascimento explicou que a estreia de “Um Édipo”, naquela cidade do sul da Sérvia, se deve sobretudo “ao labor de Tatiana [Manojlovic, a tradutora], porque de outra forma a peça não era conhecida naquele país”.

O dramaturgo nascido em Évora, em 1966, fala da tradutora Tatjana Manojlovic, uma estudiosa sérvia radicada em Portugal há vários anos, doutorada em literatura dramática portuguesa, “que traduziu o texto para servo-croata”, estando a obra editada no país desde 2011.

A área de interesse desta tradutora incide, sobretudo, em obras que dialoguem com o teatro antigo e os mitos gregos, acrescentou, sublinhando que a edição de “Um Édipo – o drama ocultado” na Sérvia foi igualmente acompanhada de peças de Hélia Correia e Augusto Sobral.

Sobre o encenador, o autor diz conhecê-lo apenas de algumas mensagens trocadas no Facebook.

“É um encenador muito jovem, que terminou a sua formação, também superior, em Artes Cénicas, na Universidade de Belgrado. Percebi que já tem experiência de encenação, que já foi distinguido, por outras encenações que fez” e que também tem trabalhado como ator, afirmou o dramaturgo.

“As únicas informações que tenho sobre esta produção tem sido das mensagens que temos trocado em inglês, através do Facebook”, referiu, mostrando-se, contudo, feliz pela estreia da peça naquela cidade sérvia.

Apesar de não ter a certeza de quem partiu a ideia de encenar a peça, Armando Nascimento Rosa está convencido de que a ideia terá partido do diretor artístico daquela sala de espetáculos, que o convidou para assistir à estreia.

Um Édipo – o drama ocultado” estreou-se em Portugal em 2003, no Teatro da Comuna, num projeto pontual com encenação de Miguel Loureiro.

A obra está também editada, desde 2006, nos Estados Unidos da América, com o título “An Oedipus – The untold story”. No mesmo ano, foi encenada no Queen Anne Court da Universidade de Greenwich, por Pippa Guard.

“É sinal de que são os textos que fazem a sua viagem própria”, já que sobe à cena pelo interesse que despertou nos criadores sérvios depois de a terem lido, disse o autor.

Um Édipo – o drama ocultado” parte da tragédia de Sófocles, atribuíndo, porém, o comportamendo de Édipo a um “crime sexual cometido por seu pai”.

Laio, o pai de Édipo, terá seduzido o jovem Crísipo, filho de Pélope e da ninfa Axíoque quando, depois de banido de Tebas por Zeto e Anfião, fugiu com Pélope. Na altura, ter-se-á enamorado de Crísipo e tê-lo-à raptado, fazendo com que este se suicidasse de vergonha.

Dr. Feelgood – em viagem para Belle Reve”, texto que obteve o Prémio Nacional de Teatro Bernardo Santareno, em 2011, é a outra peça de Armando Nascimento Rosa publicada em Belgrado, desde 2014, também com tradução de Tatjana Manojlovic.

O dramaturgo estará presente na estreia da obra, na cidade natal do imperador Constantino, com o apoio do Instituto Politécnico de Lisboa, em cuja Escola Superior de Teatro e Cinema (ESTC) leciona há 21 anos, e do Centro de Investigação em Artes e Comunicação (CIAC).

Armando Nascimento Rosa faz parte do CIAC, estrutura com sede na Universidade do Algarve, com parceria com a ESTC do IPL. In “Bom dia Europa” - Luxemburgo com “Lusa”


quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Guiné-Bissau - Resultado provisório da 1ª volta das eleições presidenciais 2019


Comissão Nacional de Eleições da Guiné-Bissau


França - Vai ser lançada uma campanha para aumentar a inscrições de alunos em português

Em causa está a reforma do ensino secundário francês que poderá ter impacto no ensino de Português a nível universitário naquele país



A reforma do ensino secundário em França, aprovada pelo Governo francês e que terá eco em 2021 poderá afetar o ensino da língua portuguesa também a nível universitário. “Poderá efetivamente ter um impacto direto no número de alunos que procuram uma especialização em português na universidade francesa”, avançam Adelaide Cristóvão, coordenadora do ensino português em França e Ana Paixão, diretora da Casa de Portugal-André de Gouveia e Leitora do Camões, I.P. na Universidade de Paris VIII.

As duas responsáveis explicam que muitos alunos que chegavam à universidade tinham aprendido português como terceira língua viva (LV) no secundário (lycée). Com a nova reforma do ensino secundário podem continuar a fazê-lo, mas já não tem a mesma pontuação no exame do 12° ano, “e esse facto reduz o número de alunos a optarem por estudar português como terceira língua”.

O português continua a ser ensinado como até aqui, como língua viva 1 (LV1), a partir do 6° ano, ou como LV2, a partir do 7° ano. A reforma do ensino secundário veio fazer-se sentir no 11° e 12° anos (1ère e Terminale). Para os dois últimos anos da escolaridade é agora criada uma área de especialidade: a LLCE – Línguas, Literaturas e Culturas Estrangeiras, que contemplava apenas o inglês, o espanhol, o alemão e o italiano, ou seja, com o português a ficar de fora nessa especialidade.

A Coordenação do EPE em França e o Embaixador de Portugal no país, Jorge Torres Pereira, juntaram esforços, que contaram também com o apoio de Embaixadores dos outros países lusófonos, no sentido de solicitar ao Ministério da Educação francês a inclusão do Português no LLCE, tendo sido mesmo enviada carta ao Ministro da tutela.

“Conseguiram-se resultados positivos. A especialidade LLCE foi alargada ao português em alguns liceus das academias de Paris, de Versailles e de Créteil e também à Guiana Francesa onde o português é muito ensinado”, sublinham Adelaide Cristóvão e Ana Paixão. Atualmente, as negociações prosseguem no sentido do português integrar a especialidade em todo o território francês.

O movimento associativo juntou-se à iniciativa. Foi o caso da Associação para o desenvolvimento dos estudos portugueses, brasileiros, da África e da Ásia lusófonas (ADEPBA), que enviou cartas ao Ministro da Educação francês e organizou abaixo-assinados que contribuíram para os resultados obtidos.

Momento político “é favorável”

Partiu ainda do Embaixador português a iniciativa de criar a Comissão de Acompanhamento do Português em França (CAPEF) que agrega professores, decisores políticos, associações, empresários, diplomatas e ainda a Embaixada do Brasil e a Coordenação do Ensino Português.

Adelaide Cristóvão e Ana Paixão revelam que a comissão está a preparar uma campanha para aumentar o número de inscritos em língua portuguesa logo a partir da primária, mas sobretudo no 2° e 3° ciclos (collège), “mobilizando pais e alunos não só de origens lusófonas, mas de vários horizontes geográficos, no sentido de afirmar a língua portuguesa em todas as suas vertentes”.

Em meio à movimentação já gerada, sublinham que o momento político das relações entre Portugal e França “é particularmente favorável”, dando como exemplo o Acordo de Cooperação Educativa e Linguística celebrado entre os dois países e recentemente ratificado e que reuniu a primeira comissão de acompanhamento no passado dia 16 de outubro, em Lisboa.

Apontam ainda outras iniciativas relevantes “para o bom entendimento político, escolar, académico, ou cultural” entre Portugal e França: a assinatura de parcerias ‘Erasmus +’ entre a academia de Paris e vários agrupamentos escolares da região de Lisboa em dezembro de 2019, a participação da Universidade de Lisboa no projeto das Universidades europeias lançado pelo Presidente Macron, a presença de França enquanto membro observador da CPLP desde junho de 2018 ou o lançamento da ‘Saison croisée/Programação cruzada’ Portugal – França em 2021.

“Neste contexto favorável das relações bilaterais entre os dois países, continuaremos a trabalhar pela afirmação da Língua Portuguesa no ensino primário, secundário e universitário francês, continuando a missão de a incluir em diferentes áreas académicas, neste momento marcante da celebração do centenário do ensino do português na universidade francesa”, asseguram. Ana Pinto – Portugal in “Mundo Português”

CPLP - IV reunião de Ministros dos Assuntos do Mar com o lema “mobilidade e economia azul”




Mindelo – A ilha de São Vicente acolheu a IV reunião de ministros dos assuntos do Mar da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e que culminou com a assinatura da Carta do Mindelo.

O encontro teve a assinatura de três documentos, sendo a Carta do Mindelo, segundo o ministro da Economia Marítima, José Gonçalves, o “documento chapéu”, que reflecte os compromissos assumidos pelos Estados presentes, “no sentido de poder pilotar esta grande empreitada que é a economia azul”, sublinhou.

Sendo assim, a Declaração do Mindelo é, conforme a mesma fonte, uma declaração de compromisso, que tem todos os “considerandos” e vem na sequência de outras declarações anteriores.

“É um documento basilar e que estrutura o que cada país vai fazer da sua parte para dar andamento a este compromisso assumido colectivamente entre a nossa comunidade”, explicou.

José Gonçalves assegurou que, no caso de Cabo Verde, há “vários projectos”, sendo que Cabo Verde Ocean Week (semana dos oceanos), e que acolheu a reunião ministerial, um deles com todas as suas facetas, entre as quais a de trazer conferencistas de renome internacional para reflectir sobre o mar.

Por outro lado, ajuntou, o país vai adoptar uma “Carta Estratégia de transição para a economia azul”, um documento cuja versão final deverá ser apresentada ainda nesta semana do mar, que decorre até sexta-feira.

“É precisamente como é que vamos tratar a estratégia de investimento para a economia azul e que perpassa tudo que é área do mar.

O mar para nós é tudo, não há sector dentro da nossa economia que não esteja a ele ligado directo ou indirectamente”, considerou.

Durante a IV reunião ministerial dos assuntos do mar da CPLP, que teve como lema “mobilidade e economia azul”, foram ainda assinados a Carta de Parceria de combate ao lixo marinho, discutido em 2016 em Díli (Timor-leste) e o plano de acção 2019-2021 de implementação da Declaração de Mindelo

“São estes documentos estruturantes que nós assinamos e comprometemo-nos realmente com tudo aquilo que é a defesa do mar e da sua saúde”, reiterou José Gonçalves.

No encontro, em que se fez também o lançamento do Portal da CPLP para os assuntos do mar, estiveram presentes, além de Cabo Verde, representantes de Angola, Brasil, Guiné-Bissau e Portugal.

O evento faz parte da programação da Cabo Verde Ocean Week que acontece por estes dias na cidade do Mindelo, com conferências, reuniões, actividades culturais e desportivas e outras mais. In “Inforpress” – Cabo Verde

quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Portugal - Investigadora da Universidade de Coimbra distinguida com prémio internacional de Literatura Gastronómica

O livro “Comer como uma Rainha – O receituário real do século XVI ao século XX”, de Guida Cândido, investigadora da Universidade de Coimbra (UC), foi distinguido com o prémio de Literatura Gastronómica 2019, atribuído pela Academia Internacional de Gastronomia.

O prémio vai ser entregue hoje, dia 27 de novembro, pelas 19h, no Grémio Literário, em Lisboa, pelo presidente da Academia Internacional de Gastronomia, em cerimónia presidida pelo Primeiro-Ministro, e contará com a presença da Ministra da Saúde, da Diretora-Geral de Saúde e dos Embaixadores de Portugal e Espanha, entre outras individualidades.

Editado pela D. Quixote | Leya, o livro resulta de um longo trabalho de investigação realizado na área da história da gastronomia. A investigadora Guida Cândido conta que consultou fontes antigas onde estudou «os hábitos alimentares dos últimos 5 séculos em Portugal, fazendo uma contextualização histórica de alguns pratos icónicos que se destacaram no receituário português ao longo de diferentes épocas e reinados (o livro analisa 5 períodos relativos a 5 rainhas distintas)», e preparou também 50 receitas adaptadas aos nossos tempos, que fotografou e compõem o livro.

A Academia Internacional de Gastronomia, juntamente com a Academia Portuguesa de Gastronomia e com as suas congéneres de outras nacionalidades, desta vez elegeu o livro Comer como uma rainha na categoria de Literatura Gastronómica, sendo que outras categorias são igualmente premiadas. No ano passado, José Avillez venceu na categoria de Chef.

Guida Cândido formou-se em História de Arte pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC), onde também concluiu o Mestrado em Alimentação: Fontes, Cultura e Sociedade com média final de 18,4 valores, o que lhe valeu a atribuição de uma Bolsa de Mérito do Ensino Superior. É investigadora colaboradora do Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos (CECH) da FLUC e do grupo luso-brasileiro DIAITA. Atualmente é aluna bolseira da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) no programa de doutoramento em Patrimónios Alimentares: Culturas e Identidades da FLUC.

Esta distinção vem juntar-se aos anteriores prémios atribuídos ao seu livro «Cinco Séculos à Mesa – 50 receitas com História», igualmente publicado pela D. Quixote | Leya, distinguido com o Best Gourmand Awards e Livro do Ano Cookbook Fair 2017. Universidade de Coimbra - Portugal

Macau - Uma microdemocracia como forma de promover a educação artística na Escola Portuguesa de Macau

“Arte na Escola” é o nome do projecto promovido na Escola Portuguesa de Macau (EPM) pela associação de pais da instituição, no sentido de introduzir a educação artística nas disciplinas escolares. O projecto, cujo tema é “Microdemocracia: O que podemos fazer?”, pretende suscitar o pensamento crítico dos estudantes, no sentido de encontrar soluções para os problemas da escola



A democracia é o tema do projecto “Arte na Escola”, que vai chegar aos alunos da Escola Portuguesa de Macau (EPM) pela Associação de Pais da Escola Portuguesa, em parceria com a Fundação de Serralves, a Casa de Portugal em Macau, a Fundação Oriente e a associação cultural BABEL. Dezanove das turmas da EPM farão parte deste projecto, que começou ontem, e que vai dar aos alunos um “espaço de confluência entre estética, ética e política”, explicou Margarida Saraiva, membro da associação de pais, ao Ponto Final. No trabalho final, os alunos vão apresentar um livro com aquilo que dizem estar mal na escola e o projecto será exposto em Serralves, no Porto.

O projecto surge no âmbito da flexibilização curricular, decretada pelo Ministério da Educação português. “No âmbito desse decreto-lei, as escolas têm oportunidade de introduzir uma série de novos projectos em tempo curricular, e o que aconteceu aqui foi que a Associação de Pais da Escola Portuguesa tinha um projecto de inclusão de educação artística em tempo curricular”. Na prática, a EPM vai dar espaço – dentro das aulas de Educação Cívica, Educação Tecnológica e Educação Visual – para a educação artística.

“Nós assumimos a arte como um espaço de confluência entre estética, ética e política”, referiu Margarida Saraiva, explicando o tema, “Microdemocracia: O que podemos fazer?”, que foi decidido pela Fundação de Serralves: “O projecto tem a ver com o olhar a escola, pensar o que é que se gostaria de se mudar na escola. Em assembleia, as crianças vão eleger um problema que acham que é fundamental e, para esse problema, vão apresentar uma solução. Essa solução é transformada num objecto plástico, uma espécie de livro onde os pais, professores e todas as pessoas que visitarem a exposição vão perceber o que é que as crianças acham que deve ser mudado na escola que é delas”.

Margarida Saraiva assume que o objectivo é fomentar “o pensamento crítico e criativo” dos estudantes: “A nossa participação em comunidade e em sociedade depende destas duas coisas, saber observar e ter um sentido crítico em relação àquilo que se observa e, por outro lado, ter a capacidade de ultrapassar o estado puro e simples de crítica para avançar com propostas criativas e implementáveis na comunidade em que estamos a agir”.

A primeira fase do projecto teve início ontem e decorre até Dezembro. Depois, em Fevereiro de 2020, os educadores da Fundação de Serralves vão ter contacto directo com as crianças e trabalhar com elas no desenvolvimento do projecto. “Os trabalhos realizados serão expostos na escola e um trabalho de cada uma das turmas será enviado para Serralves. Os alunos vão participar na exposição final do projecto da Fundação de Serralves, que acontece anualmente”, indicou a também curadora do Museu de Arte de Macau. Ainda em Fevereiro, será implementada a segunda fase do projecto.

Amanhã, os encarregados de educação terão oportunidade de conhecer o projecto mais a fundo, através de um ‘workshop’ que servirá para apresentar o conceito. Também os professores envolvidos tiveram uma sessão de formação para o projecto. André Vinagre – Macau in “Ponto Final”

andrevinagre.pontofinal@gmail.com

Brasil - Dois milhões de bebês lusófonos salvos por tecnologia brasileira de Bancos de Leite Humano




Os responsáveis brasileiros pela rede de Bancos de Leite Humano estimam que a tecnologia terá salvo cerca de dois milhões de bebés e aposta agora é no apoio aos países lusófonos.

Detentor da maior rede de bancos de leite humano (BLH) do mundo, o Brasil, que conta com 34 anos de experiência no setor, instalou na semana passada, no estado do Rio de Janeiro, a Coordenação Técnica da rede da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, que funcionará na Secretaria Executiva da Rede Brasileira de Leite Humano, na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Esta nova coordenação técnica dedicada à CPLP, será responsável por dar assessoria técnica aos países lusófonos, programas de treino presencial, cursos e ensino à distância, trocas de experiências, e apoio à construção de projetos.

Além do país sul-americano, também Portugal, Cabo Verde, Moçambique e, desde a passada segunda-feira, Angola, beneficiam da tecnologia brasileira.

Segundo dados contabilizados desde 2009 até ao corrente ano, foram beneficiados pelos bancos de leite 1 927 564 recém-nascidos no Brasil, 890 em Portugal, 4079 em Cabo Verde, e 78 em Moçambique. Angola, por ter inaugurado esta semana o seu primeiro banco de leite humano, ainda não apresenta números.

Em relação ao volume de leite doado nos quatro países, o valor ultrapassa os dois milhões de litros.

O coordenador da Rede Global de Bancos de Leite Humano, João Aprígio Guerra de Almeida, contou como a expansão do projeto começou, e revelou que o intuito é alargar a tecnologia brasileira a outros Estados da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

“O Brasil começou a receber um conjunto de pedidos de vários países, para que compartilhássemos essa boa prática brasileira com os países irmãos. Obviamente, começamos pela América do Sul, mas a procura foi crescendo e sentimos a necessidade de criar o primeiro fórum sobre o tema, que ocorreu em 2005”, destacou o coordenador.

“Para nossa surpresa, os resultados foram crescendo de uma forma muito rápida. Em 2007, num importante fórum de cooperação, que inclusive nos une, a Portugal e ao Brasil, pediram-nos que encaminhássemos o projeto para uma cooperação multilateral, onde todos os países, de forma irmã, pudessem discutir a experiência”, disse à Lusa João Aprígio.

Em 2008, começa então o programa ibero-americano de BLH, sediado na Fiocruz do Rio de Janeiro.

“Portugal começa a colaborar formalmente no projeto, e surgem aí os pedidos vindos de África, cuja primeira demanda veio de Cabo Verde, onde começamos no Hospital Agostinho Neto, em Praia, e, em seguida, Moçambique, que foi um projeto que demorou mais tempo, tendo sido inaugurado apenas no ano passado”, indicou o especialista brasileiro.

Na prática, o Brasil transfere os princípios que fundamentam a sua tecnologia de bancos de leite, e ajuda os países a adaptá-los à sua realidade local.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) considerou o Banco de Leite Humano uma das iniciativas que mais contribuiu para a redução da mortalidade infantil na década de 90 em todo o mundo e conferiu à Rede Brasileira, o Prêmio Sasakawa de Saúde, em 2001.

Questionado se no futuro próximo outros países da CPLP serão abrangidos por esta tecnologia, João Aprígio revelou que, no próximo ano, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe sediarão eventos sobre o tema “leite humano como salvaguarda da vida”.

“Teremos na Guiné-Bissau e em São Tomé e Príncipe workshops sobre como as ações de BLH podem colaborar com os países no âmbito da agenda 2030, e como podem contribuir para o sistema de saúde neonatal desses países”, indicou.

A partilha da tecnologia de bancos de leite humano com países lusófonos faz parte da agenda do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, por intermédio da agência brasileira de cooperação (ABC), do Ministério da Saúde, e da Fiocruz.

No momento, o Brasil lidera largamente o posto de país como maior número de BLH, com 224, enquanto que Portugal, Cabo Verde, Moçambique e Angola têm apenas um banco cada, segundo a Fiocruz.

“Este é o resultado de muito tempo de trabalho, de investimento, pesquisa, desenvolvimento tecnológico e inovação. (…) As nossas metas são reduzir a mortalidade infantil, com ênfase na componente neonatal, assim como na diminuição da incidência de doenças crônicas não transmissíveis”, concluiu o especialista.

Os BLH são responsáveis pela promoção do aleitamento materno e execução das atividades de recolha, processamento e controlo de qualidade do leite produzido nos primeiros dias após o parto (colostro), leite de transição e leite humano maduro, para posterior distribuição sob prescrição médica ou nutricionista. In “Mundo Lusíada” – Brasil com “Lusa”

terça-feira, 26 de novembro de 2019

A capitania de São Paulo sob o governo de d. Bernardo Lorena

“A História é um carro alegre/Cheio de um povo contente/Que atropela indiferente/Todo aquele que a negue.” (Canción por la unidad  latinoamericana Pablo Milanés)
          
                                                  I
BRASÍLIA – É corrente a assertiva que diz que a História é escrita pelos vencedores. Não estamos aqui para polemizar. Mas não podemos deixar de ressaltar que o bom historiador é aquele que sabe separar o joio do trigo. E é o que faz Adelto Gonçalves nesse seu O Reino, a Colônia e o Poder: o governo Lorena na capitania de São Paulo 1788-1797 (São Paulo, Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2019). Consciente disso, logo à página 77, ele adverte: 
         
(...) “os historiadores precisam se servir de fontes escritas cujos autores, uns mais outros menos, são sempre ligados à cultura dominante. Não que tenham sido todos mentirosos, mas a maneira como encaravam a História sempre os condenava à deturpação. Sem contar que a imensa maioria dos papéis que restaram nos arquivos oficiais só mostram a visão dos poderosos, daqueles que detinham posições de mando”. 

Experiente e escrupuloso, ele não se deixa influenciar por vieses políticos e outras tendências deturpadoras da História, que, às vezes, empolgam historiadores mais apressados.  Por outro lado, podemos dizer que Adelto não se deixa fascinar pelo canto da sereia:  casos e detalhes pitorescos da vida dos personagens, relevados, que muito despertam a curiosidade do leigo, mas que nada acrescentam aos rumos da História. O que nos acrescentaria saber onde o imperador fez xixi? E outros “achismos” e opiniões manietadas dos ditos revisionistas de plantão. Não. Adelto se atém aos fatos: interpreta-os e os transforma em História.  

Para escrever a História desse período colonialista que foi o governo de d. Bernardo José Maria da Silveira e Lorena (1756-1818), consultou arquivos de aquém e de além-mar. O resultado desta vasta e minuciosa especulação foi um grande painel — social, econômico e político — onde se registra o embate entre poderes ligados, mas distintos, como a Igreja, a burguesia e os representantes da Corte, aliás, vistos com desconfiança pelos poderosos locais. E todos, militares, religiosos, burgueses e autoridades administrativas, na dança pelo poder, se ajuntam e traem, em alianças as mais espúrias, com o intuito de aquinhoarem riquezas e se mostrarem bem vistos aos olhos da Coroa.

Para termos uma ideia dessa convivência conflitiva ente o poder e o clero, citamos a intriga entre Lobo de Saldanha, governador e capitão-general da capitania de São Paulo (1775-1782), e o influente padre José da Silva de Oliveira Rolim, acusado pelo governador de manter uma vida promíscua. Episódio que, embora desenrolado em outra capitania, a de Minas, respinga na capitania paulista. E não resistimos em transcrever este parágrafo, que é, de fato, uma pérola:

“A “vida dissoluta” de que o acusava Lobo de Saldanha, certamente, adviria do fato de que, irmão de Francisca da Silva de Oliveira (1732-1796), a famosa Chica da Silva, havia se envolvido com a filha desta, sua sobrinha putativa. Teria também deflorado a própria sobrinha, Quitéria, arranjando-lhe casamento de conveniência, com o ânimo de continuar a relação ilícita e, em razão da revolta do marido, ameaçou-o de morte, segundo denúncia de Joaquim Silvério dos Reis, delator das movimentações para a projetada revolta de 1789” (pág. 161). 
  
                                                         II
Em trabalho exaustivo, que requereu uma longa temporada de pesquisas em Lisboa, Adelto retrata — e podemos dizer que o termo é exato — um dos períodos de maior desenvolvimento da capitania de São Paulo: os nove anos do governo de d. Bernardo José Maria da Silveira e Lorena. Para tanto, espanou o pó e espantou as traças — se é que os arquivos lusitanos são tratados com o mesmo descaso dos de cá — de documentos seculares, guardados, dentre outros, pelo Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Academia das Ciências de Lisboa, Coleção Pombalina da Biblioteca Nacional de Portugal e o Arquivo Histórico Ultramarino. No Brasil, recorreria ainda ao Arquivo Nacional do Rio de Janeiro, ao Arquivo Público Mineiro e ao Arquivo do Estado de São Paulo, para citarmos apenas os mais importantes.

Sempre que nos referirmos a São Paulo, uma pergunta é recorrente: por que este se tornou o mais rico e desenvolvido Estado brasileiro? Se lermos este volume com cuidado, certamente, encontraremos algumas dicas. E, dentre tantas, ficamos aqui especulando se esta não seria determinante: a “lei do porto único”?  Editada em 1789, essa “lei”, assim impropriamente chamada pela historiografia, pois não passava de uma determinação do governador, permitia que o porto de Santos recebesse navios diretamente de Lisboa, sem a intermediação do Rio de Janeiro, o que aumentava o tempo e acrescentava despesas ao preço final das mercadorias.

Para reforçar essa ideia, transcrevemos este parágrafo à página 361: “Lorena tomou uma decisão que seria fundamental para abrir literalmente o caminho para o desenvolvimento da capitania, determinando que toda carga produzida na capitania teria de passar primeiro pelo porto de Santos. A medida permitiu que o porto de Santos passasse a receber mais navios e a fazer o comércio diretamente com Portugal”.

                                              III              
Adelto, porém, não escreve para polir o bronze das estátuas. Ao contrário, algumas saem das suas páginas até um tanto arranhadas. Para darmos apenas um exemplo, citamos o bandeirante Bartolomeu Bueno da Silva, o Anhanguera (ou Diabo Velho, como a ele se referiam os indígenas Goyazes), que, apesar de ter sido considerado um grande descobridor de ouro e prata, a ele colou-se a má fama de “matador de índios”.  

Por último, é bom lembrar que essas quatrocentas páginas, nas mãos de historiadores burocratas, poderiam se tornar deveras enfadonhas, mas nas mãos de um bom escritor — Adelto é um bom romancista! —, tornam-se leves e atraentes, como se estivéssemos, junto com o autor, descobrindo e desvendando cada falcatrua — oficial ou contrabandeada — de políticos, párocos ou burgueses locais.

Infelizmente, ao fecharmos este volume, temos que admitir que o País pouco ou nada mudou dos tempos coloniais de outrora aos novos tempos republicanos de agora: a corrupção, as grandes fraudes e a malversação dos bens públicos continuam a ser a tônica do Estado.

                                                         IV
Adelto Gonçalves, paulista de Santos, é doutor em Letras na área de Literatura Portuguesa e mestre na área de Língua Espanhola e Literaturas Espanhola e Hispano-americana pela Universidade de São Paulo (USP). Foi professor em várias universidades e jornalista desde 1972, atuando como assessor de imprensa na área empresarial.

Professor Adelto, como é conhecido e respeitado nos meios acadêmicos e jornalísticos, é um escritor vastamente premiado. Citaremos apenas alguns dos mais importantes: 1986, prêmio Fernando Pessoa da Fundação Cultural Brasil-Portugal, Rio de Janeiro, participando do livro Ensaios sobre Fernando Pessoa, com o trabalho “O ideal político de Fernando Pessoa”; prêmios Assis Chateaubriand, 1987, e Aníbal Freire, 1994, ambos da Academia Brasileira de Letras; em 2000, com a biografia Gonzaga, um poeta do Iluminismo (Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999), seu trabalho de doutorado em Letras pela USP, o prêmio Ivan Lins de Ensaios da União Brasileira de Escritores e da Academia Carioca de Letras.

Como jornalista seu currículo é tão vasto e importante quanto o de acadêmico. Escreveu para O Estado de S. Paulo, Empresa Folha da Manhã, Editora Abril e A Tribuna, de Santos, tendo sido correspondente da revista Época em Lisboa (1999-2000). É colaborador da revista Vértice, de Lisboa. Escreve regularmente para o quinzenário de As Artes Entre as Letras, do Porto, e Jornal Opção, de Goiânia. É sócio correspondente e assessor cultural e de imprensa do Centro Lusófono Camões da Universidade Estatal Pedagógica Hertzen, de São Petersburgo, Rússia.

Apesar de todos esses títulos de suma importância, não podemos deixar de destacar a sua face de ficcionista. Sim, ele ainda encontrou disposição e tempo para praticar a grande ficção, com livros de contos, ensaios e romances.
     
Em 1980, com seu romance de estreia, Os vira-latas da madrugada, ganhou menção honrosa do Prêmio Nacional de Romance José Lins do Rego. E é sobre ele que queremos nos deter, não apenas pela sua qualidade literária, como também pelas condições históricas, posto que foi um dos primeiros a retratar o golpe militar de 1964, mesmo que sem proselitismo partidário, mostrando fatos, como as invasões dos sindicatos dos trabalhadores de Santos e a desumana e vexatória prisão de velhos e respeitáveis sindicalistas, tratados como bandidos comuns. O livro, já em segunda edição, pela Editora Letra Selvagem, de Taubaté-SP, está nas livrarias e, independentemente de quaisquer vieses ideológicos, vale a pena ser conferido, porque seus personagens são, de fato, verossímeis e comoventes. Wil Prado - Brasil

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O Reino, a Colônia e o Poder: o governo Lorena na capitania de São Paulo – 1788-1797, de Adelto Gonçalves, com prefácio de Kenneth Maxwell, texto de apresentação de Carlos Guilherme Mota e fotos de Luiz Nascimento. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 408 páginas, R$ 70,00, 2019. Site: www.imprensaoficial.com.br

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Wil Prado, jornalista, é contista e romancista, autor de Sob as Sombras da Agonia (Lisboa, Chiado Editora, 2016) e do e-book Um Vulto dentro da Noite (Amazon). E-mail: wil.prado@hotmail.com

Tanzãnia - Investigador conta 'pegada' portuguesa através da diáspora

Um projeto de investigação que vai resultar num documentário pretende contar a 'pegada' portuguesa na Tanzânia, através da diáspora goesa, sobretudo em Dar es Salaam e Zanzibar, disse à Lusa o investigador Pedro Pombo



"Por um lado, queremos centrarmo-nos nas celebrações do centenário do clube de Dar es Salaam, que vai reunir grande parte da diáspora goesa que tem uma relação forte com a Tanzânia e é muito importante para a África oriental, e, por outro, mostrar como esta comunidade se espalhou naquele território depois das independências" africanas e indianas, explicou o docente português à margem de uma palestra em Macau.

"Interessa-nos muito essa memória, essa geração que viveu períodos históricos marcantes e cujas memórias não estão registadas, na sua maioria", sublinhou o professor na Universidade de Goa, cujo trabalho cobre as áreas de arte e linguística antropológica, no que concerne as influências cruzadas entre Moçambique, Tanzânia, a costa ocidental da Índia (especialmente Goa e Diu) e a Ásia Oriental.

O trabalho de campo está agendado para final de dezembro, prevê-se que demore três semanas, e vai resultar num documentário para a RTP, um projeto conjunto com a realizadora Nalini Elvino de Sousa, portuguesa de origem goesa que é também diretora de uma organização não-governamental que se dedica ao intercâmbio cultural e linguístico.

Os vestígios da 'pegada' portuguesa, em especial a partir do final do século XIX, não deixa dúvidas, frisou Pedro Pombo de que os goeses "tinham uma grande facilidade de se moverem entre os territórios portugueses e britânicos", muito pelo facto de dominarem as línguas dos dois países e pela sua qualificação cultural, pelo acesso ao ensino superior.

"Muitos trabalhavam na administração, muitos eram advogados, em empresas de construção de estradas ou do caminho de ferro, muitas famílias dedicavam-se ao comércio e há casos também muito interessantes de músicos, arquitetos e fotógrafos", acrescentou.

As declarações foram prestadas numa palestra promovida pela Fundação Rui Cunha, em parceria com a Universidade de Macau - Centro de Investigação e Estudos Luso-Asiáticos (CIELA) do Departamento de Português.

A iniciativa intitulada de Diálogos Interculturais - Goa, Diu e Sri Lanka consistiu em duas apresentações que se centraram no diálogo entre influências culturais múltiplas no Índico, especificamente em Goa, Diu e no Sri Lanka, desde o património imaterial (sistemas sociais, canção e dança), e património material (arquitetura, arte e artesanato).

Mahesh Radhakrishnan, etnomusicólogo e antropólogo linguístico, professor da Faculdade de Arqueologia e Antropologia da Universidade Nacional da Austrália, a equipa de pesquisa da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, foi outro dos convidados, tendo abordado o tema dos vestígios da tradição luso-asiática nos domínios da dança, música e letras ainda mantidas pelas comunidades descendentes de portugueses na costa leste do Sri Lanka.

A palestra conjunta fez parte da promoção do CIELA de temas relacionados com a língua portuguesa e as culturas influenciadas por uma matriz portuguesa na Ásia. In “Notícias ao Minuto” – Portugal com “Lusa”