Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

quarta-feira, 30 de novembro de 2022

Macau - Jovens macaenses promovem sessão de patuá para crianças

“Brincâ cô Patuá” é um workshop desenhado por Teresinha Gabriel em coordenação com Paula Carion e que vai ser promovido pela Associação dos Jovens Macaenses. António Monteiro explicou à Tribuna de Macau que a associação pretende aproximar a nova geração do patuá, e explicar a sua importância para Macau e para a comunidade macaense


A Associação dos Jovens Macaenses (AJM) vai promover a realização de um workshop dedicado ao patuá, intitulado “Brincâ cô Patuá”. O presidente da associação, António Monteiro, explicou que o objectivo é “fazer com que a nova geração consiga ter um contacto mais profundo com o patuá” – e para isso, nada melhor que fazê-lo com recurso a actividades dinâmicas.

“Achámos engraçado fazê-lo através de jogos com as palavras, e frases, para pelo menos terem um conhecimento auditivo, terem uma aproximação com o dialecto. Porque as crianças ouvem o chinês, português ou inglês, mas como parte da identidade, a velha geração cresceu a falar patuá com os avós, e agora com a associação podíamos tentar forçar um bocado essa ligação porque ainda temos gente que conhece o patuá”, afirmou em declarações ao Jornal Tribuna de Macau.

Sublinhando que o patuá está bastante bem preservado e promovido, António Monteiro defendeu que a aprendizagem do dialecto é importante, mesmo que, ressalvou, a ideia não seja que as pessoas um dia venham a falar este crioulo. O objectivo é também dar a conhecer o seu valor e importância para Macau e para a comunidade macaense.

Segundo explicou, o workshop – que vai decorrer a partir das 15h00 do próximo sábado, no auditório do Instituto Internacional de Macau – conta com a coordenação de Paula Carion, também ligada à AJM e aos Dóci Papiaçám di Macau; e com tutoria de Teresinha Gabriel, que tem base de formação na área da Educação e está ligada ao Centro de Explicação e Educação “Lekka”, tendo também lançado não há muito tempo um livro para crianças em chinês, português e patuá. “Poder ter alguém que fale patuá e alguém que sabe como leccionar e ensinar através de jogos é um bom começo”, apontou.

O público-alvo são crianças com conhecimento da língua portuguesa, entre os 6 e os 12 anos. António Monteiro explicou depois que sendo o patuá um crioulo de base portuguesa seria difícil crianças que não conhecem a língua compreenderem a mensagem, daí a actividade ser desenhada para este grupo específico.

Através de um primeiro contacto com frases ou palavras, a ideia é que estas possam eventualmente ser usadas no quotidiano por esta nova geração. A actividade – desenhada por Teresa Gabriel, em coordenação com Paula Carion – inclui jogos de palavras que têm de ser adivinhadas através de gestos corporais, dinâmicas em que as partes do corpo devem ser ditas em patuá, e partilhas de conhecimento através de desenhos sobre palavras no crioulo de Macau.

António Monteiro disse a este jornal que a continuidade deste tipo de actividades vai depender da adesão e também do feedback dos participantes. As inscrições encontram-se ainda abertas, com limitação de participação, podendo ser enviado um email à AJM através de:

a.jovens.macaenses@gmail.com. Catarina Pereira – Macau in “Jornal Tribuna de Macau”


Portugal - Cientistas da Universidade de Coimbra criam ferramentas inteligentes para ajudar a prevenir erros informáticos

Um projeto liderado por Henrique Madeira, professor catedrático do Departamento de Engenharia Informática (DEI) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), demonstrou que é possível, através de ferramentas inteligentes, detetar se um programador está ou não a compreender o software que está a ler, verificar ou construir e, desta forma, ajudar a prevenir possíveis bugs (erros).

O “Base – Biofeedback Augmented Software Engineering” é um projeto interdisciplinar que agrega investigadores de vários domínios científicos, designadamente neurociências, biomédica e inteligência artificial e engenharia de software. Da parte das neurociências, a equipa, coordenada pelo Professor Miguel Castelo Branco, procura identificar as zonas do cérebro envolvidas no erro humano no contexto de produção de software, tentando perceber, por exemplo, se existe um padrão de ativação cerebral quando se descobre um bug.

Já o grupo de biomédica e inteligência artificial, coordenado pelo Professor Paulo de Carvalho, investiga processos não intrusivos de medir a carga cognitiva de programadores, bem como avaliar estados cognitivos de stress, distração ou fadiga de programadores. Por sua vez, a equipa do professor Henrique Madeira, de engenharia de software, é responsável por desenvolver novas ferramentas de apoio ao programador de software, isto é, ferramentas que consigam prever os próprios erros do programador.

Segundo Henrique Madeira, «o problema da falta de qualidade de software há muito que é investigado, mas não na perspetiva do elemento mais importante no processo da construção do software, o programador». Nesta linha de investigação, o projeto BASE já obteve alguns resultados tangíveis.

Um primeiro resultado foi demonstrar, de uma forma prática, que é possível «dotar o ambiente de desenvolvimento de software de novas funções para ajudar o programador, particularmente indicar o código que deve ser (re)visto com mais cuidado. A pessoa está a programar e a ferramenta vai marcando, a amarelo ou a vermelho, as zonas de código que devem ser revistas», explica o investigador.

A partir daqui, foi desenvolvida a iReview, uma ferramenta já patenteada, que avalia «a qualidade das reviews (revisões)» de um programador. Por exemplo, «um módulo de software é produzido por um autor, sendo depois revisto por outro elemento da equipa, que pode detetar erros e enviar de volta para o autor corrigir, ou pelo contrário, não se aperceber de possíveis bugs e enviar o módulo para produção. A interação entre quem programa e quem verifica é extremamente falível, e a iReview pretende especificamente identificar essas falhas», considera.

Em concreto, a iReview avalia a qualidade da revisão feita pelo revisor, indicando se a revisão deve ou não ser repetida. Caso sinalize a necessidade de repetição, são apontadas as zonas do código que têm de ser analisadas com mais atenção, explicando ainda a razão pela qual é necessária uma segunda revisão.

No âmbito do projeto, está também a ser desenvolvida a ferramenta iMind, que é uma «generalização» da iReview, idealizada com o objetivo de ajudar indivíduos a compreender conteúdos digitais, como, por exemplo, no estudo de uma língua estrangeira. «O processo é o mesmo, mas a ler um texto em vez de rever código de software. Por exemplo, se houver uma passagem que a pessoa não entenda no texto, a ferramenta indica de forma automática a tradução ou dá uma sugestão. Ainda estamos longe de atingir este resultado, mas pelo menos já provámos que a ferramenta consegue indicar se a pessoa entendeu um parágrafo ou não», afirma.

Para chegar a estes resultados, a equipa do BASE começou por estudar o elemento central do projeto, o programador, desde a parte da neurociência, porque é a nível mental que cometemos erros, até à manifestação dos mesmos a nível fisiológico, uma vez que essas reações se podem traduzir em ferramentas que ajudam os programadores.

Para tal, foram realizadas várias experiências com equipamentos sofisticados, envolvendo a participação de dezenas de voluntários. Essencialmente, os grupos de programadores executavam tarefas típicas de engenharia de software. «Fizemos três tipos de experiências, recorrendo a ressonâncias magnéticas, eletroencefalogramas, equipamentos para o sistema nervoso autónomo, sensores cardíacos e rastreadores oculares, que permitiam, no fundo, recolher uma enorme quantidade de informação durante os momentos em que eles desempenhavam essas tarefas», descreve o investigador, que acredita que «os resultados deste projeto vão ter muito impacto, pelo menos o potencial de impacto é muito grande».

O BASE resulta de um consórcio entre o Centro de Informática e Sistemas da Universidade de Coimbra (CISUC), do Departamento de Engenharia Informática da FCTUC, o Coimbra Institute for Biomedical Imaging and Translational Research (CIBIT) da Universidade de Coimbra, e o Politécnico de Milão, tendo sido financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), no valor de 239 mil euros. Universidade de Coimbra - Portugal

 

Internacional - Biólogos marinhos pedem que as pessoas não desistam da Grande Barreira de Coral após relatório da UNESCO

Biólogos marinhos pediram ao mundo que não desista da Grande Barreira de Coral da Austrália


O apelo vem dias depois de um relatório conjunto do Centro do Património Mundial da UNESCO e da União Internacional para a Conservação da Natureza recomendar que o recife “seja inscrito na Lista do Património Mundial em Perigo”.

Estendendo-se por 2253 quilômetros ao longo da costa nordeste da Austrália, a selva subaquática é uma das grandes maravilhas do mundo natural.

Mas este ecossistema está ameaçado pelo branqueamento de corais e espécies invasoras.

O relatório da UNESCO é bem-vindo, diz Katie Chartrand, bióloga marinha da James Cook University. Mas ela está preocupada que isso possa prejudicar o investimento em projetos para salvar o recife.

"É bem-vindo de várias maneiras porque é o que todos nós sabemos", diz ela.

"[No entanto] também não queremos perder a ajuda de que precisamos da comunidade global."

Eles querem mostrar que o recife ainda está vibrante, muito vivo e indo bem, acrescenta Chartrand.

“Mas é difícil, eu acho, chegar a um acordo com a complexidade e a história do que é o recife e qual será a sua trajetória”.

O que diz o relatório da UNESCO sobre a Grande Barreira de Corais?

Funcionários da agência cultural da ONU e da União Internacional para a Conservação da Natureza divulgaram um relatório na segunda-feira alertando que, sem uma ação climática “ambiciosa, rápida e sustentada”, o maior recife de coral do mundo está em perigo.

O relatório da IUCN recomenda que o governo federal da Austrália e as autoridades estaduais de Queensland adotem metas de redução de emissões mais ambiciosas. Diz que eles devem estar alinhados com os esforços internacionais para limitar o aquecimento futuro a 1,5 graus Celsius.

O texto critica os esforços recentes para impedir o branqueamento em massa e evitar que a poluição contamine as águas naturais do recife, dizendo que eles não foram rápidos nem eficazes o suficiente.

Emissões desenfreadas levam ao aumento da acidez da água, que pode ser tóxica.

Mais dinheiro precisa ser encontrado para aumentar a qualidade da água e impedir o declínio do local, conclui o relatório.

Mas as autoridades ambientais da Austrália anunciaram que farão lobby contra a inclusão da Grande Barreira de Corais na lista de patrimónios da humanidade da UNESCO.

Eles argumentam que as críticas à inação sobre a alteração climática estão desatualizadas. O atual governo foi eleito em maio deste ano, destituindo os conservadores que estavam no poder desde 2013.

A designação “em perigo” é uma coisa boa ou má?

Segundo Chartrand, o reconhecimento do risco é bem-vindo porque a luta do recife está sendo destacada internacionalmente.

Por outro lado, poderia ameaçar o financiamento para salvar o recife.

“O facto de que isso pode prejudicar a percepção do estado do recife, acho que é uma grande preocupação para muitos”, diz ela.

Chartrand acrescenta que os esforços de base para incentivar as comunidades a apoiar as iniciativas climáticas e pressionar o governo a agir são muito mais fáceis se “as pessoas sentirem que há algo pelo que lutar”.

“Se as pessoas estão a assumir que o recife está morto ou ameaçado porque já está à beira, acho que será um desafio maior para obtermos o apoio de que precisamos para garantir que tenhamos um recife no futuro”, afirmou.

O feedback das autoridades australianas, tanto em nível federal quanto estadual, também será analisado antes que a UNESCO faça qualquer proposta oficial ao comité do Património Mundial. Euronews.green


 

Portugal - Patrono da Marinha do Brasil é homenageado com monumento


Nesta terça-feira, dia 29, a Marinha do Brasil homenageou o Almirante Tamandaré com a inauguração de um monumento ao Almirante Joaquim Marques Lisboa, o Marquês de Tamandaré, em Famalicão da Nazaré, numa cerimônia que contou com diversas presenças, como o Embaixador do Brasil em Portugal, Raimundo Carreiro Silva, o Almirante da Marinha Brasileira André Macedo, o deputado do PS pelo circulo de Leiria na Assembleia da República Salvador Formiga, Presidente da Junta de Famalicão, José Filipe Ramalho, e Walter Chicharro, Presidente da Câmara Municipal da Nazaré.

O herói brasileiro, como é chamado, tem origens no concelho da Nazaré, sendo filho de um natural da freguesia de Famalicão, Francisco Marques Lisboa, patrono de pilotagem no Brasil, razão pela qual foi instalado mais um monumento em sua homenagem junto ao Centro Escolar daquela povoação.

O Almirante Joaquim Marques Lisboa, Marquês de Tamandaré, é Patrono da Marinha Brasileira, a quem dedicou a sua vida num período crítico da História do país, tendo participado ativamente da formação do Brasil.

“As qualidades de Tamandaré, comprovadas por suas ações bem-sucedidas, são exemplos, não somente para os bons marinheiros, mas para os brasileiros de todos os tempos; relembrá-las é um exercício de patriotismo e inspiração. Após a Independência do Brasil, proclamada em 7 de setembro de 1822, foi preciso expulsar as tropas lusitanas fiéis às Cortes de Lisboa. Cedo se percebeu a necessidade de criar uma Esquadra brasileira, com homens leais, para projetar poder e obter a adesão da Bahia, do Maranhão, do Pará e da Cisplatina (atual Uruguai)”, informa a Agência Marinha de Notícias.

O Diretor do Centro de Comunicação Social da Marinha (CCSM), Contra-Almirante Carlos André Coronha Macedo, representando o Comandante da Marinha, Almirante de Esquadra Almir Garnier Santos, na cerimônia, destacou que a história do Almirante Tamandaré é também uma síntese da relação entre Brasil e Portugal. “O processo de independência do Brasil, cujo bicentenário comemoramos neste ano de 2022, nos impele a reconhecer toda a importância da nossa herança portuguesa, que tanto moldou os traços mestiços e sincréticos que nos engrandecem e nos diferenciam pela tolerância, bravura, receptividade e criatividade”, explicou.

Coordenado pela Marinha Brasileira, o evento faz parte do projeto de Valorização dos Vultos Navais, no ano do Bicentenário da Independência do Brasil. Além do monumento em Portugal, mais outras três estátuas de Tamandaré foram inauguradas este ano no Brasil: em Fortaleza (CE), em Maceió (AL) e em Florianópolis (SC).


O Marquês de Tamandaré

Nascido em 13 de dezembro de 1807, Joaquim Marques Lisboa, o Marquês de Tamandaré, patrono da Marinha, dedicou 66 anos de serviço à Marinha do Brasil e participou de episódios decisivos na formação do país, a exemplo das lutas pela independência do Brasil e a Guerra do Paraguai.

Além de militar exemplar e exímio marinheiro, o Almirante Tamandaré teve trajetória marcada pela honradez e pela extrema lealdade à Nação Brasileira, cujos interesses do Brasil sempre estiveram acima da sua própria vontade ou dos seus interesses pessoais.

Em virtude dos grandes feitos de Tamandaré, a Marinha lançou, neste ano, um sítio com detalhes sobre a vida do “velho marinheiro“, como também era conhecido. Fazem parte do acervo documentos alusivos ao herói nacional, como fotos, testamento, além do livro sobre a história do Almirante, informou a Agência Marinha de Notícias. In “Mundo Lusíada” - Brasil




 

terça-feira, 29 de novembro de 2022

Macau - Rota das Letras recorda Saramago, reflecte sobre o “Romance dos Três Reinos” e mostra autores locais

Está de regresso o Rota das Letras – Festival Literário de Macau. Desta vez, ao longo dos próximos dois fins-de-semana, a iniciativa divide-se entre a Livraria Portuguesa e o Art Garden. Na sua 11.ª edição, o festival acompanha as efemérides dos centenários do nascimento de José Saramago e de Maria Ondina Braga. A publicação integral do “Romance dos Três Reinos” comemora o 5.º centenário e, por isso, o Rota das Letras propõe uma reflexão sobre a obra. Por outro lado, o festival vai também dar a conhecer as obras mais recentes de vários autores locais


O Rota das Letras – Festival Literário de Macau está de volta. Desta vez, a iniciativa divide-se entre os primeiros dois fins-de-semana de Dezembro: Entre 2 e 4 de Dezembro, na Livraria Portuguesa; e entre 9 e 11 de Dezembro, no Art Garden. Saramago, Maria Ondina Braga, James Joyce, T. S. Eliot e Virginia Woolf são alguns dos nomes em foco.

Esta, que é a 11.ª edição do Festival Literário, começa então esta sexta-feira, na Livraria Portuguesa, com a apresentação, a partir das 18h30, dos mais recentes trabalhos dos autores chineses de Macau Lawrence Lei e Cheong Kin Han. As suas obras, “Rostos Mascarados” e “Ying”, respectivamente, foram distinguidos na 13.ª edição dos Prémios Literários de Macau. Ainda na sexta-feira, Wong Teng Chi apresenta uma performance onde explora temas como a observância social e questões de identidade e género.

Já sábado as primeiras sessões destinam-se ao público infantil e começam pelas 11h com a Livraria Júbilo a mostrar os trabalhos da ilustradora Yang Sio Maan. Logo depois, Tony Lam fará a apresentação de uma aventura para crianças que se passa em boa parte nos subterrâneos do Templo de A-Má.

Da parte da tarde, é proposta uma reflexão sobre o importante contributo da literatura para a História. A sessão – que terá como oradores os professores Wang Di e Wang Sihao, da Universidade de Macau, estando a moderação a cargo de Yao Jingming – vai centrar-se no 5.º centenário da primeira publicação integral do “Romance dos Três Reinos”.

Mais tarde, acontece um diálogo sobre a ficção gótica de Daniel Defoe, que escreveu o “Diário do Ano da Peste” há 300 anos. Nick Groom e William Hughes, académicos ligados à Universidade de Macau, vão explicar como a literatura de terror nos pode ajudar a compreender a pandemia do coronavírus.

Os centenários das publicações de “Ulisses”, de James Joyce, e de “A Terra Devastada”, de T. S. Eliot, também estarão em destaque numa sessão conduzida por Glenn Timmermans. O programa de sábado termina com o lançamento da segunda edição de “Macau – o Livro dos Nomes”, de Carlos Morais José. Nesta edição, são publicados 88 textos acompanhados de fotografias de Sara Augusto.

No domingo, dia 4, volta a literatura infantil, com a editora Mandarina a dar a conhecer o seu último título, “Em Casa”, que contará com a apresentação de Catarina Mesquita. A recém-criada editora Lits revela o seu primeiro livro infantil, “O Menino que Queria Ver o Mar”, um conto de António Correia que agora é publicado a título póstumo. Por fim, Andreia Martins mostra às crianças “Uma Casa com Asas”.

Na tarde de domingo é organizada uma sessão online com vários autores lusófonos – Krishna Monteiro, Manuel da Costa, Hélder Macedo, entre outros – sobre o seu contributo para uma nova antologia bilingue de contos lusófonos, traduzidos para chinês, “Viagens”.

Finalmente, serão celebrados os centenários do nascimento de José Saramago e de Maria Ondina Braga. No tributo a Saramago serão apresentados trabalhos de Miguel Real e José Luís Peixoto que têm como referência a vida e a obra do único escritor português até aqui distinguido com o Prémio Nobel da Literatura. A sessão contará também com a participação da artista chinesa de Macau Kay Zhang, que, em conversa com Carlos Marreiros, falará sobre o seu projecto artístico inspirado no “Ensaio sobre a Cegueira”, de Saramago. Maria Ondina Braga será recordada com a projecção do documentário “O que Vêem os Anjos”, de Tiago Fernandes. Haverá também uma evocação da autora, a cargo da Professora Vera Borges.

No fim-de-semana seguinte, entre 9 e 11 de Dezembro, o Rota das Letras muda-se então para o Art Garden, sede da associação Art for All (AFA), onde será apresentado o projecto plurianual “A Room of One’s Own”, que é baseado na obra de Virginia Woolf e que inclui uma série de sessões de debate, seminários, concertos e performances que vão explorar o tema da condição feminina. A primeira mesa-redonda acontece pelas 18h30 e junta Agnes Lam, Glenn Timmermans e a psicanalista Natalie Si num debate sobre o conceito de literatura feminina e as suas implicações psicológicas, a partir da obra de Virginia Woolf.

Virginia Woolf continuará como tema central no concerto do músico meditativo de Hong Kong Paul Yip, que se junta aos poetas locais M. Chow e Isaac Pereira e à bailarina Tina Kan, inspirando-se na escrita poética da autora britânica para criarem um espectáculo que combina a palavra, a música e o gesto.

De 10 a 11 de Dezembro, terão também lugar seminários subordinados ao mesmo tema. Agnes Lam e a psicoterapeuta Jojo Lam, vão dirigir uma série de workshops experimentais sobre a condição feminina com elementos literários e teatrais de experiências sociais e terapêuticas. Ainda no sábado haverá uma sessão de poesia onde poderão ouvir-se poemas de José Craveirinha, de T.S. Eliot e de outros poetas, de diferentes espaços e tempos.

No domingo, dia 11, a fechar esta edição do Festival Literário recordar-se-á o II Raid Macau-Lisboa, que é agora tema de um livro de banda desenhada; Shee Va irá fazer a apresentação de “Uma Breve História Cultural do Chá da China”, de Rui Rocha; João Rato e vários outros fotógrafos amadores do território mostram o trabalho conjunto recentemente lançado, intitulado “Macau: My Story”; e a revista Halftone dá a conhecer a sua 4.ª edição, que inclui trabalhos de João Nuno Ribeirinha, David Lopo, Dinamene, Sofia Mota, Alina Bong e Barry Tsang. André Vinagre – Macau in “Ponto Final”


PALOP - Investigadores unem-se para elaborar a história da luta de libertação


Cidade da Praia – Investigadores dos PALOP irão elaborar a história da luta de libertação dos mesmos para as futuras gerações, informou o presidente da Fundação Amílcar Cabral (FAC), referindo que o projecto tem a duração de três anos.

Em declarações à imprensa, à margem da segunda reunião metodológica das comissões de trabalho para a elaboração da história da luta de libertação dos Países Africanos de Língua Portuguesa (PALOP), realizada pela Fundação Amílcar Cabral, o presidente da referida fundação, Pedro Pires, adiantou que o projeto HLL-PALOP conta com o financiamento inicial do Presidente da Angola, João Lourenço.

Destacou a importância da elaboração da história objectiva com sentido e significado a aquilo que de liberdade fizeram e, ao mesmo tempo, perspectivar a história que terá continuidade mesmo com o passar dos anos.

“Portanto, é uma ideia de narrar, contar, mas ao mesmo tempo de fixar os aspectos mais importantes do nosso percurso como povo e combatentes da liberdade para fixar e apresentar para as próximas gerações. O projecto já arrancou, temos estado a trabalhar já há mais de seis meses na organização desses trabalhos”, asseverou.

Apesar dos trabalhos terem iniciados e com financiamento inicial, o referido projecto, adiantou Pedro Pires, carece de mais financiamentos e que provavelmente será necessário envolver mais historiadores da temática da libertação, visando a sua conclusão

“Temos uma equipa em Cabo Verde constituída por três historiadores, em Angola temos mais historiadores, em São Tomé estão presentes aqui três historiadores, a Guiné temos dois historiadores (…), as equipas já estão constituídas e estamos com alguma dificuldade com a equipa Moçambicana”, especificou.

“Os trabalhos já começaram, talvez não com aquele ritmo que gostaríamos que tivesse, mas os trabalhos há começaram”, precisou, lembrando que a decisão da criação da equipa para a elaboração dessa história foi aprovada por unanimidade na conferência extraordinária dos chefes de Estado dos PALOP, em Abril de 2021.

Para o resgate dessa memória recorrer-se-á, igualmente, à recolha de documentação existente nos vários arquivos, seja das instituições portuguesas, sobretudo dos arquivos da polícia política, como nos espólios de famílias, dos arquivos das organizações partidárias e dos arquivos pessoais dos vários protagonistas que participaram activamente na defesa da causa comum da libertação.

A produção historiográfica disponível sobre esta temática, apesar de algumas iniciativas nacionais e regionais, sobretudo dos centros universitários, ainda é escassa, com a agravante de uma parte significativa da produção dada a estampa se revelar manifestamente tendenciosa, criando um viés histórico que convém ser devidamente esclarecido.

Perspectiva-se com o projecto a publicação de três volumes da História sobre a Luta de Libertação Nacional dos PALOP, devendo o 1°. volume abarcar o período que vai dos meados do séc. XIX aos meados do séc. XX.

O 2°. volume será dedicado à Luta Armada propriamente dita, nas suas vertentes clandestina, armada e diplomática, enquanto o 3°. volume deverá ser dedicado à história da gestão das zonas libertadas pelos movimentos que conduziram a luta pela independência dos PALOP.

A primeira reunião metodológica das comissões de trabalho foi realizada em Luanda (Angola), no passado mês de Março. In “Inforpress” – Cabo Verde


 

Portugal - Obra “Uma Pedra Contra o Firmamento” do cabo-verdiano José Luiz Tavares apresentada em Lisboa

Lisboa – A obra “Uma Pedra Contra o Firmamento”, do cabo-verdiano José Luiz Tavares, é apresentado na próxima sexta-feira, 02 de Dezembro, no Centro Cultural Cabo Verde (CCCV), em Lisboa, e estará a cargo de Pires Laranjeira e Zetho Gonçalves.

Segundo a organização do evento, a obra abarca um período de 23 anos, 1999/2022, em que o autor compila discursos, intervenções, entrevistas, “polémicas cívicas e literárias”, notas antropológicas, históricas, paisagísticas, políticas e sociais sobre Cabo Verde, estudos sobre a sua obra, e um poema sobre a “marginalidade poética, contraposta a uma certa marginalidade social”.

De acordo com a mesma fonte, o livro “intenso e extenso”, com cerca de 600 páginas, é um “testemunho para durar e perdurar”, no ano em que o autor comemora 55 anos de vida, e 35 de escrita.

José Luiz Tavares nasceu a 10 de Junho de 1967, em Tarrafal de Santiago, Cabo Verde, e estudou literatura e filosofia em Portugal, onde vive.

Publicou vários trabalhos, nomeadamente “Paraíso apagado por um trovão”, “Agreste matéria mundo”, “Polaróides de distintos naufrágios”, “Rua antes do céu”, “Prólogo à invenção do dilúvio/prólogo a la invención del diluvio”, “Ku ki vos/ Com que voz”, “Instruções para uso posterior ao naufrágio” e “Com o fósforo duma só estrela/Com el fósforo de una sola estrella”.

Os poemas do escritor, que é membro da Academia Cabo-verdiana de Letras, estão traduzidos para inglês, espanhol, francês, alemão, neerlandês, italiano, catalão, letão, finlandês, russo, mandarim e galês, sendo que ele já traduziu Camões, Pessoa e João Cabral de Melo Neto para a língua cabo-verdiana.

O poeta já foi agraciado com prémios como Prémio Revelação Cesário Verde em 1999, Prémio Mário António de Poesia, Fundação Calouste Gulbenkian em 2004, Prémio Jorge Barbosa, Associação de Escritores Cabo-verdianos em 2006, Prémio Pedro Cardoso, Ministério da Cultura em 2009, Prémio de Poesia Cidade de Ourense (Espanha”), em 2010, e prémio BCA/Academia Cabo-verdiana de Letras, em 2016.

Por três vezes consecutivas – 2008, 2009 e 2010 – recebeu o Prémio Literatura para Todos do Ministério da Educação do Brasil, por livros destinados a neo-leitores jovens e adultos, Prémio Vasco Graça Moura /Imprensa Nacional Casa da Moeda (2018), e em Outubro foi seleccionado para a primeira edição das Bolsas de Residência Literária Eça de Queiroz, que tem por objectivo promover a produção literária em língua portuguesa.

A apresentação da obra “Uma Pedra Contra o Firmamento”, de José Luiz Tavares, está marcada para as 17:00 (16:00 em Cabo Verde). In “Inforpress” – Cabo Verde


Moçambique - Clévia Guivala e Larsan Mendes estreiam-se em livro pela Editorial Fundza


Hoje, a Editorial Fundza lançou no Camões – Centro Cultural Português em Maputo, os livros A rapariga sem reflexo, de Clévia Guivala, e O amor que há em ti, de Larsan Mendes.

O amor que há em ti, de Larsan Mendes, é um romance cuja história gira em torno da família Mabungo. Nessa ficção de amor e desconfiança, o leitor é convidado a embarcar numa viagem imprevisível e a questionar a essência das coisas, através da visão das personagens. No enredo, o amor é sustentado por Ana Maria e Mateus. São eles que transformam momentos de caos em esperança, numa conexão de eventos entre o romântico e o surpreendente.

Segundo avança a nota de imprensa da Editorial Fundza, a primeira versão de O amor que há em ti foi escrita em 2018 e, em 2019, o livro foi menção honrosa do Prémio Literário INCM/Eugénio Lisboa, em Portugal. O livro constituído por aproximadamente 350 páginas é uma tentativa de a autora fazer com que os seus leitores aprendam sobre algo que possam aplicar na vida enquanto se divertem com a leitura.

Quanto ao livro A menina sem reflexo, de Clévia Guivala, é uma história motivacional através da qual a autora pretende inspirar sobretudo as raparigas. A protagonista da história, Lupi, é uma jovem determinada, sonhadora e concentrada. No entanto, ao apaixonar-se por quem julga ser o homem da sua vida, passa a agir pela emoção em detrimento da razão que sempre a caracterizou.

Com a história, acrescenta a nota de imprensa da Fundza, Clévia Guivala pretende demonstrar que tipo de consequências pode advir da imprudente tomada de decisões. A ideia sempre foi contar uma história e, a partir daí, libertar lições realísticas. Portanto, no livro com cerca de 130 páginas, Clévia Guivala sente-se a abrir um caminho para todas as que, como ela, sonham um dia em publicar uma obra literária.

O amor que há em ti e A rapariga sem reflexo são livros seleccionados na primeira chamada literária da Editorial Fundza, o que permitiu a ambas as autoras estrearem-se em livro.

No Camões, o livro de Larsan Mendes foi apresentado pela jornalista Yana de Almeida. Já o livro de Clévia Guivala foi apresentado pelo jornalista Jeremias Langa.

Larsan Mendes é pseudónimo de Néusia da Larsane Abílio Pelembe. Nasceu a 9 de Dezembro de 1995, em Bilene-Macia, na Província de Gaza. É formada em Engenharia de Petróleo e Gás, pela Universidade de Mineração de São-Petersburgo, na Rússia. As suas histórias são baseadas na vida em geral, no que acontece no dia-a-dia, nos seus sonhos e no que imagina. Em 2019, teve menção honrosa na terceira edição do prémio literário Imprensa Nacional Casa da Moeda (INCM)/ Eugénio Lisboa, com a obra – O amor que há em ti. Em 2022, venceu o concurso de crónicas FLIB com o texto intitulado “Entre irmãos”.

Clévia Ramiro Guivala nasceu em Maputo, a 9 de Julho de 1995. Em 2009, iniciou a sua paixão pela promoção da saúde, tendo tornando-se activista no programa de saúde sexual e reprodutiva e prevenção de DTS/SIDA. É licenciada em Jornalismo pela Universidade Eduardo Mondlane. Enquanto estudante universitária, desenvolveu várias actividades, desde repórter, apresentadora de televisão, produtora de diversos scripts, incluindo, o documentário sobre Mulher no mercado de trabalho em Moçambique, desafios e perspectivas. O seu interesse pela escrita surgiu em 2014 e a sua primeira publicação foi na Revista Comunicação & Sociedade, Edição 2017. In “O País” - Moçambique


 

segunda-feira, 28 de novembro de 2022

Macau - Alunos premiados pela eloquência em português

A 20ª edição do Concurso de Eloquência em Língua Portuguesa distinguiu três alunos da Universidade de Macau, instituição organizadora. No âmbito da iniciativa, os participantes deram voz às suas interpretações de um ditado popular quer seja centrado numa perspectiva mais chinesa, a sua aplicabilidade no diálogo digital como também nas considerações de promover um discurso mais ponderado no espaço público


A Universidade de Macau (UM) realizou, na sexta-feira, o 20º Concurso de Eloquência em Língua Portuguesa, sendo que o tema desta edição focou-se na expressão popular “o homem é senhor do que pensa e escravo do que diz”. A competição reuniu um total de 11 alunos – nove do sexo feminino e dois do masculino – que transmitiram as suas interpretações da temática referida. Os três vencedores pertencem à UM.

Cheang Pak In, que está a estudar Português na UM há três anos, proferiu um discurso em que abordou o objecto central da competição de um ponto de vista chinês. Em particular, deu relevo às categorias de “senhor” e “escravo” e quais os juízos de valor a estes associados. O aluno da UM recebeu um montante de 5000 patacas, concedido pela Fundação Macau.

Ao Jornal Tribuna de Macau, Cheang Pak In referiu que o interesse em aprender a Língua de Camões deveu-se às necessidades do curso de Direito. “A razão para estudar Português, no início, era por ser um estudante de Direito e é muito necessário que eu saiba como usar a língua portuguesa como uma ferramenta” nessa área, explicou.

Questionado sobre os motivos que o levaram a aderir à competição sobre eloquência, afirmou que “decidi participar no concurso porque quero muito aumentar a minha capacidade para usar a língua portuguesa”, observando também que “isto é muito importante em Macau”. Com o intuito de perseguir estes objectivos, manifestou o interesse em ir para Portugal, nomeadamente para Lisboa, como estudante de intercâmbio, planeando realizar esta viagem no segundo semestre do próximo ano.

Patrocinado pelo Jornal Tribuna de Macau, o segundo prémio, no valor de 3000 patacas, foi conquistado por Queenie Chan Sio Kuan, aluna local. Comparativamente aos colegas do concurso, a jovem está a aprender Português há mais tempo, tendo iniciado o estudo da língua desde os nove anos de idade. Com o seu texto, intitulado “Poder e Responsabilidade das Palavras”, a estudante procurou enquadrar a temática do concurso no âmbito das redes sociais.


Falando com o Jornal Tribuna de Macau, Queenie Chan indicou que o seu cultivo da língua portuguesa nasce de um “interesse pessoal”, defendendo também que “saber falar Português vai dar uma boa saída” profissional, alimentando as expectativas de “encontrar um bom trabalho”. “E, além disso, acho que, como o Português é uma das línguas oficiais em Macau, também é bom que os residentes aprendam”, sublinhou.

A propósito do interesse em integrar esta competição, indicou que “qualquer estudante quer participar neste concurso porque de certeza que é uma prova que diz que nós conseguimos falar bem esta língua”. Encarando a sua participação como “uma grande honra”, a jovem assumiu estar “muito contente por poder participar neste concurso e, agora que recebo o prémio, ainda mais”.

Por sua vez, Xue Wenyu, que adoptou o nome português Natália, recebeu o terceiro prémio, atribuído pela Fundação Oriente, no valor de 3000 patacas. A aluna de intercâmbio de Pequim procurou também construir o discurso à volta de uma interpretação mais chinesa da expressão temática do concurso. Em particular, observou o contraste sociocultural linguístico entre a China e os povos ocidentais, denotando as diferenças de expressão dentro de diferentes comunidades.

Em declarações a este jornal, a estudante explicou que a dedicação ao estudo do Português deriva do seu gosto por línguas estrangeiras. Segundo contou, escolheu a Língua Portuguesa devido ao seu “futuro muito promissor”, além de que, actualmente, “é muito procurada no mercado chinês”. Quanto à competição propriamente dita, considerou que se tratava de “uma boa oportunidade para praticar o Português oral”.

No decorrer do evento, houve também uma sessão para a apresentação de seis outros textos que não fizeram parte do concurso, juntamente com dois momentos musicais. O júri foi composto por Anabela Ritchie, antiga presidente da Assembleia Legislativa, Miguel Senna Fernandes, presidente da Associação Promotora da Instrução dos Macaenses, Ana Paula Cleto, coordenadora da delegação de Macau da Fundação Oriente, e o jornalista Carlos Picassinos, da TDM. In “Jornal Tribuna de Macau” - Macau




Internacional - Estudo coordenado pela Universidade de Coimbra sugere mudança de paradigma no tratamento da infeção pela bactéria Staphylococcus aureus

Um novo estudo liderado por cientistas do Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra (CNC-UC), agora publicado na revista científica Nature Communications, revela que a bactéria Staphylococcus aureus (S. aureus) tem um estilo de vida intracelular (no interior da célula hospedeira) predominante, o que pode justificar a mudança dos critérios clínicos para escolha de antibióticos contra esta bactéria.


A S. aureus é uma bactéria frequentemente encontrada na pele e nas fossas nasais de pessoas saudáveis. Contudo, pode provocar doenças que vão desde simples infeções na pele (abcessos, celulite) até infeções mais graves, como pneumonia, endocardite, bacteremia (infeção no sangue), entre outras.

As bactérias multirresistentes a antibióticos são cada vez mais comuns, o que dificulta seriamente o tratamento de infeções bacterianas. A S. aureus é uma bactéria que apresenta resistência a diversos antibióticos e constitui atualmente a segunda causa mais comum de morte associada à resistência antimicrobiana a nível mundial e a primeira em Portugal.

O estudo apresenta uma análise em larga escala de 191 isolados clínicos de S. aureus, provenientes de doentes com osteomielite (infeção óssea), artrite infeciosa, bacteremia e endocardite, e a sua interação com vários tipos de células hospedeiras (células alvo da bactéria) ao longo do tempo. Este estudo revela «que apesar de a S. aureus ser normalmente descrita como sendo um patógeno extracelular, a quase totalidade dos isolados clínicos de S. aureus testados neste estudo (mais de 98%) foram internalizados por vários tipos de células hospedeiras, em contexto laboratorial. Foi ainda provado que uma grande parte destes isolados tem capacidade de replicar e persistir no interior das células hospedeiras», explica Miguel Mano, um dos líderes do estudo, (investigador no CNC-UC e docente no Departamento de Ciências da Vida da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra – FCTUC).

Os resultados deste trabalho suportam a necessidade de uma mudança no paradigma no tratamento de infeções por S. aureus. «A escolha da terapia para eliminar efetivamente este patógeno, deverá considerar não só o perfil de suscetibilidade da bactéria a antibióticos, como é feito atualmente, mas também os diversos estilos de vida intracelular da S. aureus. A terapia escolhida deverá assegurar a sua eliminação no interior das células, pois a falta de efeito intracelular dos antibióticos pode levar à falha do tratamento, traduzindo-se em infeções recorrentes e/ou crónicas», elucida Ana Eulálio, líder deste estudo (investigadora no CNC-UC e no iBiMED, Universidade de Aveiro).

Este trabalho foi realizado em colaboração com investigadores do Centro Internacional de Investigação em Infecciologia (CIRI) (Lyon, França), Centro Nacional de Referência para Estafilococos, Instituto de Agentes Infecciosos (Lyon, França) e Centro de Biotecnologia, Conselho Nacional de Investigação de Espanha (CNB-CSIC). Beneficiou de financiamento através da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), do Consórcio ERA-NET Infect-ERA e do European Horizon 2020 Marie Sklodowska-Curie. Universidade de Coimbra - Portugal


Portugal - Projeto da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto sobre cancro de mama e obesidade vence bolsa de investigação

Projeto distinguido pela LPCC e pela Ausonia pretende alcançar estratégias terapêuticas específicas para doentes obesos com cancro de mama


Um projeto sobre as alterações metabólicas no cancro de mama no doente obeso, que está a ser liderado por Carla Luís, investigadora da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), foi recentemente distinguido com uma bolsa de investigação no valor de 13500 euros pela Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC) e a Ausonia.

Focado na identificação das diferenças metabólicas existentes em pacientes com cancro de mama obesos e com peso normal, este projeto está a ser realizado no âmbito da colaboração entre um grupo de investigadores da FMUP e o Instituto Português de Oncologia do Porto Francisco Gentil, EPE (IPO-Porto).

“O nosso grupo analisou mais de 2 mil doentes com cancro de mama diagnosticados no IPO-Porto e os resultados preliminares demonstraram diferenças significativas em doentes com diferentes índices de massa corporal”, revela Carla Luís, estudante do Programa Doutoral em Metabolismo – Clínica e Experimentação da FMUP, a desenvolver a sua investigação no grupo «Metabesity» do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S) da U.Porto.

Os dados mostram, por exemplo, que os doentes com cancro de mama e obesidade são diagnosticados numa idade mais tardia e que têm frequentemente menos história familiar de cancro. Observam-se também diferenças no estádio do tumor, na incidência de cancro bilateral, no tipo de cirurgias, entre outras.

Identificar terapias específicas

De acordo com os autores, o cancro e a obesidade são duas patologias intimamente ligadas, sendo o cancro de mama um dos tipos de cancro mais influenciado pela obesidade.

Face ao aumento da obesidade e da incidência crescente do cancro de mama, “é necessária uma abordagem mais incisiva acerca dos efeitos da obesidade neste tipo de cancro por parte da comunidade científica”, constata Carla Luís, que é também licenciada em Biologia pela Faculdade de Ciências (FCUP) e mestre em Medicina e Oncologia Molecular pela FMUP.

Com este projeto, os investigadores acreditam que poderão ser identificados mecanismos metabólicos que caracterizem os doentes de cancro de mama com excesso de peso e obesidade, “podendo estes beneficiar de estratégias terapêuticas específicas dirigidas às alterações metabólicas, e distintas dos doentes com peso normal”.

Para além de Carla Luís, integram ainda esta equipa de investigação os cientistas Raquel Soares (FMUP/ i3S), Rúben Fernandes (Universidade Fernando Pessoa), Deolinda Sousa Pereira (IPO-Porto) e Rute Fernandes (IPO Porto).

No âmbito da 4.ª edição das Bolsas de Investigação Médica LPCC/Ausonia – Cancro da Mama, esta iniciativa atribuiu ainda uma outra bolsa de investigação a um projeto do i3S sobre cancro da mama que visa melhorar o diagnóstico, tratamento e prevenção da doença metastática. Universidade do Porto - Portugal


A vida de Bocage: sátira, censura, pobreza

Para investigar a vida de Bocage em suas minúcias, Adelto Gonçalves percorreu todas as biografias e estudos importantes sobre o autor

 

                                                                    I

“Bocage, alistado na Marinha, cursou a respectiva Academia, embarcou para a Índia, foi boêmio no Rio de Janeiro, passou três anos em Goa e Damão, desertou fugindo para Macau, regressou a Lisboa, onde a vida livre e as sátiras o atiraram para a prisão e o hospício. Morreu doente e pobre, traduzindo nos seus versos a sua vida e o seu tempo”.

Essa síntese da vida de Bocage (1765-1805), feita no prefácio de Bocage, o Perfil Perdido pelo professor catedrático de Literatura da Universidade de Lisboa, Fernando  Cristóvão, bem caberia em similaridade àquela feita por Nabokov sobre um personagem no início de seu romance Gargalhada na escuridão, em relação à qual o escritor russo acrescenta: “Eis aí toda a história, e bem poderíamos abandoná-la neste ponto, se não houvesse vantagem e prazer em contá-la. Embora haja espaço mais do que suficiente numa pedra tumular para conter, encadernada em musgo, a versão resumida da vida de um homem, os pormenores são sempre bem recebidos”.

É o que faz o professor e escritor Adelto Gonçalves ao investigar a vida de Bocage em suas minúcias, percorrendo todas as biografias e estudos importantes sobre o autor, cotejando e contrapondo-os às suas novas descobertas e correções oriundas de exaustivas pesquisas em arquivos e fontes primárias como trabalho de pós-doutoramento na Universidade de São Paulo (USP), que teve sua primeira edição em 2003, em Portugal, pela Editorial Caminho, de Lisboa, e que agora sai em nova edição, com excelente projeto gráfico e ilustrações, pela Imprensa Oficial do Estado de São Paulo.

A vida do poeta português, propagandeada pelo senso comum como “agitada e de boemia” em geral para promover seleções mais vendáveis de sua poética, se decompõe nessa biografia quando a acompanhamos inserida em detalhes na sociedade da sua época histórica e cultural que, agitada e contraditória, se expressa na obra de Bocage transitando do neoclassicismo das Arcádias aos primeiros momentos do romantismo.

 

                                                        II

Pode-se dizer que, mais que boémia, o que fez Bocage foi sobreviver em miserabilidade, passando por punições, prisões e fugas em meio ao período histórico em que viveu, marcado pela morte do rei d. José, pelo reinado de d. Maria I, pela onipresença e em seguida queda e afastamento do poderoso marquês de Pombal, bem como pelo jugo sofrido sob a intendência repressiva e policialesca do intendente-geral da Polícia Pina Manique, durante o reinado de D. Maria I. No contexto da Campanha do Rossilhão, também denominada Guerra dos Pirenéus ou Guerra da Convenção, campanha militar em que Portugal participou ao lado da Espanha e do Reino Unido contra a França revolucionária, Pina Manique agiu visando à repressão das ideias oriundas da Revolução Francesa, proibindo a circulação de livros e publicações e fazendo perseguição a diversos intelectuais, especialmente maçons, que ele culpava de terem conspirado a favor da revolução, e atingindo diretamente a vida de Bocage, defensor do ideário revolucionário.

Nesse contexto, já na corte, as publicações feitas por Bocage, além de negociadas nas minúcias das trocas de palavras para serem aprovadas, demandava o recurso habitual humilhante a que se submetia, de escrita de poemas laudatórios aos poderosos, tanto para facilitar a publicação de livros quanto para garantir migalhas de sinecuras para sua sobrevivência, numa existência pendular que ia da “euforia do amor e da paixão romântica à impiedade e à disforia do desespero e do arrependimento”, na ótima síntese feita no prefácio por Fernando Cristóvão. 

A dificuldade de existência sob despotismo tendo-se ideias de mudança da sociedade pode ser bem descrita num dos eventos mais notáveis da Real Mesa Censória: a proibição de 122 obras e a grande fogueira feita em 1770 no Terreiro do Paço com a queima de livros de Voltaire, Bayle, Rousseau, abade Raynal, Boulanger e La Mettrie, considerados nefandos em seu ateísmo e materialismo e ameaça à religião.

Adelto Gonçalves esmiuça essa vida, contraditória pelas circunstâncias, que, se fez vivas à liberdade e à ciência, assim como sátiras violentas aos poderosos, impôs-se escrever, de forma humilhada, ode de arrependimento em gesto de perdão ao policial Pina Manique, sinalizando que “Meu ser evaporei na lida insana”, assim como, depois da subversão de ideias de inspiração francesa, decaiu na religiosidade aceita das homenagens à paixão de Cristo e à pureza de Conceição da Virgem Santíssima, finalizada com o último respiro abençoado por frei José Maria, que lhe fez o trabalho de “conforto espiritual”.

                                                       III

A pesquisa de Adelto Gonçalves, pela necessidade de esclarecimento de fatos biográficos que misturam bens patrimoniais particulares com os do Estado, bem como sinecuras e relacionamentos de familiares que repercutem na vida do poeta, compreende um traçado da árvore genealógica da família de Bocage que é pontuada pela análise escrutinada com informações primárias de arquivo, o que resulta numa compreensão excelente de como se dava a vida social naquela época e como era possível ser poeta em tal contexto.

Da análise dessa árvore genealógica saem um avô francês corsário que bandeou de sua pátria para o lado português, negócios, bens acumulados, a prisão do pai de Bocage, as relações familiares e suas negociações de subsistência, bem como a intriga em torno de uma casa de família tida como onde nasceu Bocage pelos historiadores e que, crescendo como uma personagem no livro de Adelto Gonçalves, se desmascara com as pesquisas em arquivos.

De minúcia em minúcia, o pesquisador vai percorrendo a vida de Bocage, primeiro nos rastros de Camões, depois por sua passagem pela Índia integrado à Marinha, a deserção e a fuga, o retorno a Lisboa, a expulsão do Parnaso e a convivência disputada com os poetas da época - a “guerra dos vates”, bem como as relações com personagens como o aeronauta balonista Lunardi, os amores, a aspiração à plena liberdade numa corte controladora e provinciana que o leva à prisão sob guarda do intendente Pina-Manique.

Essa autoridade policial impõe um processo de “reeducação” do poeta, que acaba coroado por loas de Bocage à família real, em um elogio dramático escrito e recitado no Teatro do Salitre. Destacam-se também as distantes relações familiares do poeta, as censuras sofridas, o trabalho de tradutor, revisor e reescritor de textos alheios, as perseguições pela Inquisição, as publicações e tiragens de livros e a morte anunciada, com a reaproximação de velhos amigos e antigos desafetos promovida por frei José Maria.

Configurando-se em uma biografia exaustiva e rigorosamente documentada, o trabalho do pesquisador analisa os embates relacionados à memória de Bocage entre seus partidários e José Agostinho de Macedo, feroz opositor, destacando-se também o relato do último período da vida do poeta em suas  negociações com os censores da Real Mesa da Comissão Geral sobre o Exame e Censura de Livros e seu trabalho na Oficina Tipográfica, Calcográfica, Tipoplástica e Literária do Arco do Cego, onde foi tradutor e revisor.

 

                                                       IV

Entre os livros publicados por Adelto Gonçalves, soma-se a essa biografia de Bocage, além de livros de contos e romances, a também minuciosa biografia de Tomás Antônio Gonzaga, Gonzaga, um poeta do Iluminismo, publicada pela Editora Nova Fronteira em 1999, escrita como tese de doutoramento, que ganhou o Prêmio Ivan Lins de Ensaios da União Brasileira de Escritores e da Academia Carioca de Letras.

As duas biografias, de Gonzaga e de Bocage, ao fazerem a reconstrução da vida no século XVIII, combinando história e literatura com o rigor da pesquisa em arquivos, estimulam a releitura da obra poética desses autores, de forma a compreendê-las em suas nuances, marcadas pelo contexto histórico e social, sem os clichês costumeiramente aplicados a esses poetas. Ademir Demarchi - Brasil

_____________________________

Bocage, o perfil perdido, de Adelto Gonçalves, com prefácio de Fernando Cristóvão, professor catedrático de Literatura da Universidade de Lisboa. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2021, 520 páginas, R$ 85,00. Site: https://www.editoraimprensaoficial.sp.gov.br/

____________________________________________

Ademir Demarchi (1960) nasceu em Maringá-PR e vive em Santos-SP. Cursou Letras-Francês na Universidade Estadual de Maringá-PR (UEM), mestrado na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e doutorado na Universidade de São Paulo (USP) em Literatura Brasileira. Editou a revista Babel, de poesia, crítica e tradução, e o selo Sereia Ca(n)tadora, de livros artesanais. É autor de Os mortos na sala de jantar (2007); Passeios na Floresta (2007); Do Sereno que Enche o Ganges (2007); Ossos de Sereia (2010); Pirão de Sereia, que reúne sua obra poética de 30 anos (2012); 101 Poetas – Antologia de experiências de escritas poéticas no Paraná do século XIX ao XX (2 vols., 2014), o livro com crônicas publicadas em jornal Siri na lata (2015),  O amor é lindo, poemas (Patuá, 2016), Espantalho, ensaios (Editora Nave, 2018) e Contrapoéticas, ensaios (Editora Nave, 2020), entre outros.