Um
estudo desenvolvido no Centro de Neurociências e Biologia Celular da
Universidade de Coimbra (CNC-UC) revela que a carbamazepina, um fármaco usado
no tratamento da epilepsia, pode ser uma terapia promissora para a doença de
Machado-Joseph.
Coordenado por Luís Pereira de Almeida, docente da Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra (FFUC) e investigador principal do CNC-UC, e por Ana Ferreira, do CNC-UC, este trabalho já se encontra publicado na revista científica Neuropathology and Applied Neurobiology.
A
doença de Machado-Joseph, também conhecida como ataxia espinocerebelosa do tipo
3, é uma doença neurodegenerativa hereditária sem cura, causada por uma
alteração num gene. Essa alteração origina uma forma mutada da proteína
ataxina-3 que tende a acumular em forma de agregados no cérebro, conduzindo
também a disfunção e morte neuronal. A doença provoca problemas na marcha, no
equilíbrio, na fala, na deglutição, nos movimentos oculares e ainda no sono.
A
carbamazepina é um fármaco aprovado para outras indicações patológicas,
incluindo a epilepsia, e, por isso, pode ser rapidamente reutilizado para
tratar outras doenças, o que acaba por ser vantajoso. Com o objetivo de
encontrar novas terapias farmacológicas para tratar a doença de Machado-Joseph,
os investigadores testaram o potencial deste medicamento como promotor da
autofagia (mecanismo de eliminação de proteínas anormais), através de modelos
in vitro e in vivo da doença.
A
equipa decidiu testar este fármaco depois de ter percebido, «numa investigação anterior, que a
via da autofagia está desregulada na doença de Machado-Joseph, o que significa
que a proteína mutante não é eliminada eficazmente. Por outro lado, observámos
que a estimulação da autofagia, por uma estratégia de terapia génica, promoveu
neuroproteção em modelos da doença», explica Ana Ferreira, a primeira autora do
artigo científico.
Nas
experiências realizadas com ratinhos, «após a administração da carbamazepina,
num regime de tratamento específico, percebemos que o fármaco foi capaz de
aumentar a autofagia e promover a degradação da proteína mutante. Além disso, o
tratamento reduziu os défices motores e a neuropatologia nos modelos animais de
doença», destaca a investigadora do CNC.
Além
de Luís Pereira de Almeida e Ana Ferreira, participaram no estudo Sara
Carmo-Silva, José Miguel Codêsso, Patrick Silva e Clévio Nóbrega, também
investigadores do CNC, e Alberto Martinez e Marcondes França Jr., do
Departamento de Neurologia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade
Estadual de Campinas (Brasil).
Ao
demonstrar que o fármaco carbamazepina pode ser útil para tratar a doença de
Machado-Joseph, e possivelmente outras doenças semelhantes, este estudo
representa «um passo em frente na procura por um tratamento eficaz para esta doença
neurodegenerativa, apesar de estar longe de ser uma cura», concluem os autores
do estudo. Universidade de Coimbra - Portugal
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