O artista apresenta no território 13 pinturas suas com paletas de quatro cores: azul, vermelho, verde e amarelo. A exposição de Inu Bere é uma apresentação de obras que carregam “reflexões e memórias” de três anos vividos no Brasil e espera ser, ao mesmo tempo, um momento de “angústia e esperança”, neste tempo de pandemia
O
pintor timorense Inu Bere vai inaugurar uma exposição de pintura, amanhã, pelas
18h30, na galeria de exposições do edifício do Complexo da Plataforma do Fórum
de Macau, no âmbito do ciclo de exposições “Policromias lusófonas” e da 13.ª
Semana Cultural entre a China e os Países de Língua Portuguesa. A mostra estará
patente até dia 5 de Dezembro.
O
autor timorense de 24 anos apresenta-se em Macau com o intuito de trazer “tanto
de angústia quanto de esperança”, neste tempo de pandemia. “O que passaria com
um jovem distante, de um lugar selvagem, que nunca conheceu um prédio alto, que
estaria pensando em uma metrópole caótica? Esta exposição é uma apresentação de
obras que carregam as reflexões e memórias das situações que enfrentei durante
os três anos e meio da minha vivência no Brasil. Mas a pintura é um ser com sua
própria vida. Timor está lá, nas pinceladas, nas cores, nas intenções e nas
emoções”, afirma o autor, citado em comunicado de imprensa.
Inu
Bere traz 13 obras com paletas de quatro cores, em duas fases: na primeira, o
azul e o vermelho e, na segunda, verde e amarelo. “São obras de um alguém que,
humildemente, está a tentar viver como cria e criar como vive, que tenta usar
uma linguagem universal sem esquecer a sua origem. Um artista que busca a
profundidade de significados nas suas obras, a qualidade plástica e o impacto
nos espectadores; mas que busca também suscitar sempre reflexões sobre as
situações enfrentadas pelo mundo”, notou o artista.
Para
Danilo Henriques, nas telas, “Bere expressa a universalidade da experiência
humana ainda que a partir da perspectiva da condição humana timorense, cruzando
fronteiras e imergindo na língua e na cultura através da sua residência
artística em outro dos países da nossa família lusófona, o Brasil por um
período de mais de três anos e meio”, acrescentou.
O
delegado de Timor-Leste junto ao Fórum Macau refere ainda que a escolha de
paletas de cores duplas contidas feita por Inu Bere contidas “marcam as telas e
as impregnam com uma ferocidade e vigor que lembra ‘Lés Fauves’ no início do
século passado”. “Inu espera provocar, em suas próprias palavras, ao mesmo
tempo ‘angústia e esperança’ neste momento de pandemia através destas telas,
sentimentos que sinto que ele conseguiu convocar”, notou ainda.
Brasil mudou a vida de Inu
Inu
Bere nasceu em 1997 e é natural de Aileu, Timor-Leste. Iniciou a sua formação
artística na escola de artes visuais Arte Moris, na capital, Díli. Depois de
participar em várias actividades de formação naquele país, bem como na
Indonésia e no Brasil, concluiu a sua licenciatura em Artes Visuais na
Universidade do Vale do Paraíba, no Brasil.
Actua
em campos artísticos como pintura, gravura em metal e xilogravura, bem como
desenhos e aguarela. Fez a sua primeira exposição individual em 2007 e, desde
então, expôs em mais de três dezenas de mostras individuais e colectivas, quer
no seu país, quer em países ou regiões como Portugal, Brasil, Macau e Japão. É
já um nome destacado no cenário cultural artístico em Timor-Leste.
Inu
Bere publicou em 2020 no Brasil, em conjunto com a académica Lidiane Maria
Maciel, um trabalho académico intitulado “Trajetória de mobilidade e
representações sociais do Timor-Leste pelas memórias de Inu Bere”. Trata-se de
um “ensaio-entrevista” em que a proponente, a socióloga Lidiane Maria Maciel,
convida o jovem artista visual Inu Bere a reconstruir a sua trajectória de
mobilidade desde Timor-Leste até ao Brasil. É um trabalho que se inspira, em
primeiro lugar, nas provocações da produção de um conhecimento pós-colonial. “O
artista foi estimulado pelas questões da socióloga a reconstruir o passado de
luta por independência do seu país através da sua história familiar e da sua
trajectória de mobilidade internacional”, pode ler-se no resumo do trabalho
académico.
O
ciclo de exposições “Policromias lusófonas” apresenta-se ao público, entre os
meses de Junho a Dezembro. A sequência de exposições visitando vários domínios
das artes plásticas reúne talentos vindos de Angola, Brasil, Cabo Verde,
Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe, Timor-Leste e Macau,
exibindo pintura, escultura, fotografia e instalação.
Para
além do ciclo de exposições, workshops relacionados com os países de
língua portuguesa, a decorrem em formatos ‘online’ e ‘offline’.
A
organização, com as “Policromias lusófonas” pretendem edificar um políptico
mensal em que, através de estéticas multifárias das paisagens, das gentes, dos
corpos ou dos mais simples objectos quotidianos, se recuperem os tempos, os
espaços e os modos das possíveis simbioses culturais e das inesperadas
comunhões cúmplices que só as artes visuais conseguem mesmo oferecer à
redescoberta dos encontros entre a China e os países de língua oficial
portuguesa. “As “Policromias lusófonas” estendem-se em antes e depois dos
discursos plásticos para entretecer perenes harmonias de formas,
representações, sugestões e diálogos por onde adejam as cores muitas dos
admiráveis tesouros das artes e dos artistas da China (Macau) e dos países
lusófonos”, pode ler-se ainda na apresentação do projecto disponibilizado à
comunicação social. Gonçalo Pinheiro – Macau in “Ponto
Final”
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