Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

terça-feira, 9 de novembro de 2021

Macau - “Role-plays” vistos como “produtivos” pelos estudantes de português da Universidade de Macau

Um estudo que teve por base respostas a um questionário feito a alunos de três turmas do quarto ano da licenciatura em Português da Universidade de Macau mostra que as actividades comunicativas e de representação na sala de aula constituem uma motivação para a maioria – quase 70% – no que respeita à aprendizagem do Português. Estes métodos são importantes principalmente ao nível da produção e compreensão oral. O autor, Manuel Duarte João Pires, da Universidade Sun Yat-sen, defende que este tipo de interacção é uma forma de levar para as aulas “problemáticas do mundo actual”, estimulando uma “atitude crítica” por parte dos alunos, preparando-os para o futuro “enquanto cidadãos de um mundo intercultural”


Na perspectiva dos estudantes de Português da Universidade de Macau (UM), os ‘role-plays’ constituem uma estratégia de ensino “produtiva e motivante” possibilitando uma “aplicação prática” das matérias estudadas. Esta é uma das conclusões do estudo “‘Role-Play’ como estratégia de ensino de língua: a perspectiva de estudantes de Português na China”, conduzido por Manuel Duarte João Pires, da Universidade Sun Yat-sen. Em concreto, quase 70% disseram que este tipo de aulas constitui uma maior motivação para aprender Português, e mais de metade consideram que a licenciatura deveria incluir mais aulas de ‘role-play’.

O estudo tem por base questionários feitos a 69 alunos – 50 do sexo feminino e 19 do sexo masculino – de três turmas da disciplina de Produção Oral em Português pertencente ao quarto ano de estudos da licenciatura em Português da UM. O autor nota que as turmas são compostas por alunos originários de Macau e da China Continental com “bastante similaridade” em termos de idade e contexto sociocultural. A questão da proficiência em Português também foi considerada: “os alunos destas turmas são finalistas da licenciatura, tendo realizado experiências de intercâmbio em Portugal e no Brasil no ano transacto, pelo que teoricamente terão maior fluência do que os estudantes dos outros anos de ensino”.

Os métodos de ‘role-play’ – dramatizações ou representações na sala de aula – são parte de um ensino que prepara os alunos para a cidadania intercultural e para os desafios da sociedade actual, apresentando-se como uma opção flexível que potencia a iniciativa e a interacção e que possibilita desempenhar diferentes papéis sociais e recriar diversas situações na sala de aula, explica o autor no estudo consultado pelo Jornal Tribuna de Macau. “Os ‘role-plays’ são interpretados como forma de fomentar a interacção e a cooperação entre os elementos da turma, de motivar os alunos para a aprendizagem da língua e de trabalhar as competências linguísticas”.

A maioria dos alunos (67,6%) disse que este tipo de aulas constitui uma maior motivação para aprender Português, enquanto 53,6% consideram que se deveriam incluir mais aulas de ‘role-play’ na licenciatura. “Através da pesquisa e do debate que os alunos efectuam a propósito deste tipo de actividades comunicativas, têm oportunidade para explorarem os seus conhecimentos sobre diferentes temáticas e também de trabalhar recursos como a expressão oral, a argumentação e a discussão e exposição de ideias”.

Quase todos revelaram também a importância destas actividades para trabalhar aspectos que consideram importantes como a capacidade de iniciativa, de criatividade e originalidade na realização de tarefas; a prática de resolução problemas e de tomada de decisões; ou a aquisição de conhecimentos a nível de organização, estruturação e apresentação de argumentos e trabalhos.

“Deste modo – mais do que o resultado final em si das actividades de role-play – as diferentes fases envolvidas neste processo (brainstorming, criação, organização e estruturação do trabalho, exposição escrita e oral, discussão e argumentação) constituem oportunidades únicas para os estudantes trabalharem um conjunto de características de grande utilidade e pertinência, não só enquanto falantes de língua, mas sobretudo enquanto cidadãos”, refere o autor.

As respostas destes estudantes de Português da UM foram “expressivas” no que respeita à utilidade e importância destes métodos para o desenvolvimento das competências linguísticas – sobretudo a produção e a compreensão oral – mostrando o apreço dos estudantes por estes métodos de ensino. Em concreto, 89,9% responderam que estas actividades são úteis para aprender Português e 88,4% disseram que as aulas de ‘role-plays’ são importantes para desenvolver as competências linguísticas. As competências que mais trabalharam com estes métodos foram a produção oral (87,5%), seguida da compreensão oral (59,4%), produção escrita (45,3%) e compreensão escrita (29,7%).

Questões sociais e culturais

O autor aponta que “o ensino de língua estrangeira deve promover uma atitude participativa e dinâmica dos estudantes para que as suas acções em relação às questões sociais e culturais da sociedade possam ter um alcance global”. “O presente estudo salienta a atitude favorável dos estudantes de Macau para que as actividades de ‘role-play’, devidamente estruturadas e contextualizadas, possam ajudar a fazer da sala de aula um espaço privilegiado para desenvolver competências, discutir e pôr em prática os valores de cidadania necessários para fazer frente aos desígnios da sociedade actual”, pode ler-se.

“O feedback positivo dos alunos em relação à motivação associada às actividades de ‘role-play’ [67,6%], a preferência por trabalhar em grupo [86,8%] e por realizar actividades que abordem o debate sobre questões sociais, culturais [56,5%] e profissionais [47,8%] são bastante demonstrativas da importância da sala de aula como espaço privilegiado para a difusão dos valores da cidadania intercultural e para a aprendizagem da língua de forma interactiva, de modo a ajudar os alunos a desenvolver as suas competências individuais, interpessoais e organizacionais ao mesmo tempo que adquirem conhecimentos e constroem responsabilidades”, indica o estudo.

Sobre este aspecto, é referido que estas actividades, além de diversificarem os conhecimentos sociais e culturais dos estudantes, para lá dos conteúdos estritamente linguísticos, também criam no espaço da sala de aula “um ensino mais prático que fomente a participação e a reflexão crítica dos estudantes acerca de questões sociais”. “Algumas actividades na área da tradução simultânea, do ensino, do jornalismo ou da área empresarial, entre outras, podem ser simuladas em aula para fomentar um ensino que se aproxime mais dos interesses práticos e profissionais dos alunos”.

Nos dias que correm, prossegue, “é essencial promover um ensino prático e interactivo em que a sala de aula não seja um espaço estanque ou alienado das expectativas e dos vários desafios que a sociedade apresenta aos seus cidadãos e aos estudantes, em particular”.

Sublinhando que, por vezes, devido a questões de cultura de ensino-aprendizagem ou de planeamento metodológico das instituições e dos professores, o ensino da língua encontra alguma “relutância” em libertar-se dos métodos mais tradicionais, Manuel Duarte João Pires defende no estudo que “os métodos de ‘role-play’ são uma forma de trazer para a sala de aula as problemáticas do mundo actual, trabalhando estas temáticas num ambiente de interacção, e estimulando uma atitude crítica, participativa e dialogante que também prepare os estudantes para o futuro enquanto cidadãos de um mundo intercultural”. Catarina Pereira – Macau in “Jornal Tribuna de Macau”


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