Uma
pesquisa da socióloga Laura Martins de Carvalho comparou a construção da
agricultura urbana em regiões de vulnerabilidade social, em bairros localizados
na Zona Leste de São Paulo, e em Lisboa, Portugal.
Segundo
a autora do estudo, em declarações ao Jornal da USP, as hortas portuguesas são
institucionalizadas e a prefeitura local financia os projetos envolvidos nessa
vertente.
Já
em São Paulo, as iniciativas são horizontalizadas, democráticas e surgem da
base comunitária. Os agricultores urbanos fazem autogestão. Produzem, colhem,
vendem e partilham despesas e lucros.
Em
Portugal, o cultivo de hortaliças, verduras e chás está associado à terapia
ocupacional do cultivar e plantar a terra e de garantir a continuidade dos
sistemas naturais em territórios urbanos.
Enquanto
que no Brasil, a necessidade básica de comida no prato do dia a dia da família
é que move os agricultores urbanos a empreender.
A
agricultura urbana também é meio de resistência contra desigualdades
estruturais na Zona Leste de São Paulo. Dentre os agricultores, as mulheres vem
assumindo um protagonismo em suas comunidades que as ajudam na superação de
inúmeras violações vividas no âmbito social e familiar.
A
tese Agricultura urbana em contextos de vulnerabilidade social na zona leste de
São Paulo e em Lisboa, Portugal foi defendida esse ano, 2021, sob a orientação
da professora Cláudia Bógus, da FSP.
Brasil
Segundo
um estudo da USP, as hortas comunitárias resistem à urbanização na maior
metrópole do Brasil. Em São Paulo, as iniciativas periféricas trazem novas
perspectivas de vida aos agricultores urbanos, homens e mulheres que vivem em
condições de vulnerabilidade social.
A
USP vem atuando nesse caminho auxiliando estas iniciativas com pesquisas e
estudos que permitem viabilizar novos empreendimentos ou incentivar os já
existentes. Estes locais acabam se tornando campos férteis para a Universidade
desenvolver estudos e experimentos em educação e segurança alimentar, cultivos
de ervas medicinais e geração de conhecimento.
Estas
“hortas comunitárias” vão surgindo cada vez mais nesta São Paulo que é a maior
metrópole brasileira, com cerca de 12,3 milhões segundo dados do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2021 – distribuídos numa área
de 1521 quilômetros quadrados (km²). Elas brotam em cantos cinzentos das
regiões centrais da cidade ou em pedaços de chão esquecidos nas periferias.
Não
se sabe ao certo quantas são, mas já passam de centenas, algumas com um caráter
mais social de produzir alimentos saudáveis e gerar renda para quem há muito já
foi esquecido pelo mercado de trabalho, ou como mote de sobrevivência contra
desigualdades estruturais. E outras, instaladas em bairros de classe média,
possuem um valor mais simbólico de resistência à frenética urbanização da
cidade e mostram uma nova relação de consumo com o alimento.
De
acordo com informações da Secretaria do Verde e Meio Ambiente, da Prefeitura de
São Paulo, a plataforma Sampa+rural, que reúne iniciativas de agricultura,
turismo e alimentação saudável, registra atualmente 103 hortas urbanas na
capital paulista. No site da plataforma é possível visualizar a localização das
hortas espalhadas pela cidade.
USP
Para
além das pesquisas sobre o tema e dos saberes científicos que resultam em
benefício dessa nova demanda social da cidade, a USP parte para projetos
concretos como o da “Horta da Faculdade de Medicina”, plantada na laje de um
dos edifícios da Faculdade de Medicina.
Além
dos benefícios proporcionados pelos alimentos produzidos e colhidos no local de
forma orgânica, o espaço também serve de discussão para vários assuntos, como o
das práticas integrativas junto à medicina tradicional. Thais Mauad, uma das fundadoras
e coordenadora da horta, crê que é importante se pensar nos fatores que estão
na gênese das doenças. “O ambiente da horta nos remete a origem do nosso
alimento e sua importância para manter uma boa saúde”, diz
Na
grade curricular da FMUSP existe a disciplina “Medicina Culinária”. De acordo
com a docente, trata-se de uma disciplina optativa que já é ministrada há três
anos. “Oferecemos uma vez por ano e, neste 2021, tivemos uma enorme procura,
por mais de 100 alunos, e estamos ministrando na forma on-line para os campi de
Ribeirão Preto e Bauru, além da capital”, conta. Na matéria, professores da
FMUSP, profissionais e chefes gastronômicos ministram aulas e oficinas que
abordam o impacto da alimentação na saúde dos pacientes. In “Mundo
Lusíada” - Brasil
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