“…e aquelas memórias e cheiros ficaram-me gravados para sempre como momentos maravilhosos. À medida que fui crescendo, percebi que poderia contribuir de alguma forma como mais um elemento de regeneração do planeta – e continuo a sentir essa missão na pele. Timor cruzou-se no meu caminho e aqui estou eu a aprender e a partilhar conhecimentos”
Díli
– É português, chama-se Fernando António Pires Madeira e é formado em
agronomia, com especialização em permacultura sobre bancos de sementes e
ecoaldeias.
Além da sua especialização
formal e paixão pela natureza, o agrónomo preenche o seu tempo extra com outras
atividades diárias.
“Gosto
de ler livros técnicos e espirituais, adoro fazer desporto, tal como futebol,
ténis, hóquei em patins, entre outros. Música sempre, em todas as ocasiões, e
gosto de quase todo o tipo de música. Outra paixão é viajar e viver aventuras
na natureza”, afirmou à Tatoli.
Pires
Madeira nasceu em Portugal, mas cresceu em Macau. “Não vim de muito longe, eu
estava em Macau, onde cresci e onde decidi, com um grupo de amigos, vir para cá
desenvolver um projeto de carisma social e de desenvolvimento comunitário”.
Fernando
veio para Timor-Leste há 13 anos, altura em que iniciou um projeto de permacultura.
“No
nosso projeto, desenvolvemos várias atividades, nas quais se destaca o banco de
sementes, que armazenamos e comercializamos. Dispomos de viveiros, onde
semeamos mais de 200 espécies e variedades de plantas comestíveis presentes no
nosso banco”, contou.
Fernando
tem paixão por permacultura, pela experiência agrícola na infância com os seus
avós, “e aquelas memórias e cheiros ficaram-me gravados para sempre como
momentos maravilhosos. À medida que fui crescendo, percebi que poderia
contribuir de alguma forma como mais um elemento de regeneração do planeta – e
continuo a sentir essa missão na pele. Timor cruzou-se no meu caminho e aqui
estou eu a aprender e a partilhar conhecimentos”.
“Uma
das atividades principais do nosso projeto é o banco de sementes. Temos vindo a
reunir plantas e árvores de todos os distritos [atualmente, são municípios] de
Timor, somando mais de 200 espécies e variedades de plantas e árvores
comestíveis. Nos viveiros semeamos várias espécies para, depois, distribuir por
zonas onde elas ainda não existam”, acrescentou.
Fernando
referiu igualmente que o projeto inclui também uma vertente pedagógica, pois a
quinta recebe e desenvolve atividades para os alunos das escolas. “Damos também
formação a agricultores e ONG. Para finalizar, temos a parte do agroturismo
ético como motor financiador de todos os projetos sociais,” disse.
O
agrónomo disse que o projeto engloba ainda a conservação de água, pois “o
terreno foi desenhado e trabalhado de modo a reter água no subsolo, além de
usarmos outras técnicas como camadas vegetais para cobrir o solo, reduzindo a
evaporação”, disse.
Fernando
sublinhou que, quanto a energia, tentam reduzir o impacto ambiental não usando
ares condicionados e outras máquinas de grande consumo. “O projecto ‘Germinando
sementes’, agora sob a alçada do DaTerra, teve início em 2011”, revelou.
Fernando
Madeira referiu que o projeto tem todo o tipo de plantas e árvores comestíveis
e medicinais. “Desde tubérculos, que representam o alimento secular do povo
timorense, a variadas árvores de fruto, plantas medicinais, flores comestíveis,
ervas aromáticas e especiarias. No que
respeita à fauna, hoje em dia, temos coelhos, patos, peixes e cabras, para além
das minhocas da vermicompostagem”, mencionou.
O
projeto tem três trabalhadores permanentes, mas varia constantemente conforme o
tipo de trabalho – na altura da preparação dos viveiros, chega a ter nove
pessoas.
Fernando
António Pires Madeira realizou um sonho e continua a ser um apaixonado pela
natureza e pela contribuição para a melhoria da qualidade de vida das
pessoas.“Em Timor-Leste, o sonho é continuar a expandir de forma a criar uma
rede nacional de bancos de sementes e de agroturismo ético”, adiantando que gostaria
de implementar o projeto em Portugal.
“Futuramente,
quero levar este projeto para Portugal, especificamente para a Ilha do Pico nos
Açores”, referiu.
Madeira
afirma: “Acredito que Timor-Leste deve apostar num turismo ambiental e
cultural, que passa por preservar e enriquecer os ecossistemas, e, por outro
lado, estimular a riqueza cultural de uma forma genuína. Muitas das tradições e
costumes provêm da agricultura, que continua a ser o principal motor do país,
daí nós incentivarmos o investimento no agroturismo e num turismo ético, que
vão para além do ecoturismo. Estes trarão muitos benefícios para as futuras
gerações e só dessa forma o país conseguirá competir com lugares turísticos
vizinhos, como Bali.
A
mensagem é de esperança por um Timor-Leste e mundo melhor, mais justo, mais
sustentável e mais pacífico. Essas condições passam pela ação diária de cada um
de nós, pela forma como lidamos com o próximo, pela nossa pegada ecológica
através do que consumimos e pela nossa preocupação e ação em prol de um mundo
melhor. A mudança começa dentro de nós.
O
agrónomo terminou com uma frase que viu escrita em Bucoli, numa bandeira onde
está sepultado o herói Sahe – Vicente Reis: “A prática é o critério da verdade!”
Recorde-se
que o projeto foi reconhecido pela Agência das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (USAID, em inglês). “Sim, para nós é o reconhecimento do
trabalho que temos vindo a desenvolver ao longo dos quase 13 anos de vivência
em Timor-Leste e serve como estímulo para continuarmos a acreditar que, unidos,
podemos fazer a diferença”, concluiu. Jesuína Xavier – Timor-Leste in “Tatoli”
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