Em
caso de incêndio florestal, é altamente complexa a missão de decidir quando e
como retirar as pessoas em risco, pois implica múltiplos fatores. Para ajudar
as entidades competentes, uma equipa da Universidade de Coimbra (UC), em
colaboração com a Escola Nacional de Bombeiros (ENB) e o Centro de Inovação e
Competências da Floresta (SERQ), está a estudar novos planos de emergência para
as comunidades, considerando os mais diversos cenários.
Trata-se
do projeto “EVACUAR FLORESTA
- Decisões e Planos de Evacuação em Cenários de Incêndio Florestal”, que tem
como objetivo principal criar um sistema de apoio à tomada de decisão, «para a
proteção da comunidade em risco em caso de incêndio rural e ainda mitigar
problemas no contexto de uma evacuação. Para os incêndios urbanos já existem
planos de evacuação desenvolvidos, mas o mesmo não acontece nos incêndios
florestais», diz Aldina Santiago, coordenadora do estudo e docente da Faculdade
de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC).
Atualmente,
fundamenta, o que existe para o suporte à tomada de decisão «é muito reduzido
em termos técnicos e científicos e depende em muito da sensibilidade do
comandante no teatro das operações. Muitas das vezes, esta escolha é criticada,
ou porque é feita de forma muito antecipada ou porque é feita de forma tardia».
Assim, o resultado final do projeto, que conta com 270 mil euros de
financiamento da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), é apoiar as
entidades governamentais e locais «na proteção das pessoas envolvidas, criando
indicações específicas sobre a forma e mecanismos a utilizar para proteger e
tornar mais resiliente cada uma das comunidades, face às suas particularidades
e desenvolvimento do incêndio. A proteção das pessoas de uma determinada
comunidade tem de ser pensada e discutida muito antes dos incêndios; as
possíveis soluções têm de estar acauteladas através de planos de emergência e
evacuação; a evacuação parcial ou, em casos extremos, total é uma dessas
soluções, mas não é a única».
Numa
primeira fase do projeto, iniciado há um ano e que se estende até 2023, os
cientistas focaram-se na caracterização e estudo do que já existe no que
respeita a estratégias associadas à proteção das pessoas em cenário de incêndio
rural, não só em Portugal, mas também em outros países que são fustigados pelos
fogos florestais, como, por exemplo, Espanha, Itália, Grécia, Austrália e EUA
(Califórnia).
Nesses
estudos, os cientistas observaram que «se antigamente a política era “ficar em
casa e esperar”, atualmente começa a optar-se por evacuações preventivas.
Portugal começa também a seguir esta estratégia, ou seja, nos últimos anos, a
estratégia de proteção tem vindo a alterar, em resultado do paradigma dos
incêndios atuais (incêndios de grandes proporções e que facilmente se propagam
à interface urbano-floresta)», indica Aldina Santiago.
A
equipa tem, também, efetuado trabalho de campo junto das comunidades escolhidas
para casos de estudo, nos concelhos da Lousã e Sertã. No caso do município da
Lousã, foram escolhidas as localidades de Cerdeira e Cabanões. Segundo a
coordenadora do projeto, estas escolhas não foram «aleatórias, foram
consideradas as suas especificidades. Cabanões é uma localidade isolada, de
difícil acesso, com uma população reduzida (menos de 25 pessoas), envelhecida e
com algumas limitações de mobilidade; já a Cerdeira, é uma localidade com
componente turística significativa, com uma população muito variável, tanto ao
longo da semana, como ao longo do ano. É difícil saber quantas e onde as
pessoas estão nesta localidade e na sua envolvente; esta incerteza é sem dúvida
um dos fatores que dificulta a proteção destas pessoas em caso de incêndio».
Em
paralelo, com recurso a métodos numéricos avançados, a equipa está a trabalhar
em modelos que permitem simular a propagação do incêndio e a evacuação das
pessoas. «Estas simulações estão a ser calibradas com dados de incêndios
reportados na literatura, mas esperamos vir brevemente a simular os incêndios
ocorridos nas últimas semanas em Portugal. Cruzando resultados, conseguimos
estudar o impacto de possíveis soluções, possíveis alternativas para proteção»,
esclarece Aldina Santiago.
Os
sistemas de modelação e simulação de evacuação «são ferramentas essenciais para
planeamento e tomada de decisão. Durante a evacuação e o incêndio, o
comportamento das pessoas também é um fator determinante; o que as pessoas
fazem, e quando o fazem, depende muito da distribuição no espácio-temporal dos
eventos num cenário de catástrofe, sendo a educação da população para esta
temática igualmente determinante para o sucesso deste processo», conclui. Universidade
de Coimbra - Portugal
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