O Presidente timorense disse ontem que o combate à subnutrição infantil foi a prioridade máxima do arranque do seu mandato, mostrando-se convicto que dois programas a implementar ajudarão a resolver o problema em cinco anos
“A
prioridade máxima logo no arranque foi o combate à subnutrição infantil. É
imperativo moral e ético o combate à extrema subnutrição infantil”, disse José
Ramos-Horta, em entrevista à Lusa, por ocasião dos seus primeiros 100 dias de
mandato, marcados no fim de semana.
“Não
há para mim alguma prioridade maior que esta. É uma questão ética e moral, mas
é também um investimento no futuro deste país e todos aplaudiram: o Governo e
os parceiros internacionais”, vincou.
Ramos-Horta
disse que desde que tomou posse viu já “muitos sinais claros de que isto vai
avançar”, com o Governo a incluir o combate nas suas prioridades para 2023,
sendo que mesmo depois das eleições legislativas “qualquer que seja o Governo”
deverá manter essa prioridade.
Explicou
ter desenvolvido “uma parceria forte com a Unicef que fez um plano concreto”,
que prevê apoiar crianças ainda na fase de gestação e da nascença até aos três
anos para combate o nanismo e o raquitismo.
“Isso
custa 10 milhões de dólares por ano, durante cinco anos. Ao mesmo tempo, um
outro projeto de 27 milhões por ano, durante cinco anos, para abrir 400 ou 500
escolas pré-primárias porque 70% das crianças timorenses não frequentam o
pré-primário”, disse. “Com menos de 200 milhões de dólares, em cinco anos
podemos eliminar a subnutrição infantil”, afirmou.
Desde
que tomou posse, Ramos-Horta tem vindo a apostar numa aproximação crescente à
população, com a abertura simbólica dos portões do Palácio Presidencial a
crianças, vendedores ambulantes e artistas.
Uma
agenda intensa que inclui ainda dois pedidos de fiscalização de
constitucionalidade ao Tribunal de Recurso e esforços de diálogo com vários
quadrantes políticos.
O
chefe de Estado disse que depois da sua eleição e tomada de posse, e no quadro
da promessa de campanha de dissolução do parlamento e convocatória de eleições
antecipadas, acabou por prevalecer o “realismo e o pragmatismo”.
Inicialmente,
disse, a sua preocupação e de Xanana Gusmão – líder do CNRT, principal partido
que apoiou a sua candidatura – era garantir que as cerimónias de tomada de
posse e dos 20 anos da restauração da independência, em 20 de Maio,
“decorressem em total normalidade, civilidade”.
Uma
visita à Indonésia estreou as visitas ao estrangeiro de Ramos-Horta, que
incluirão ainda este mês uma deslocação à Austrália, posteriormente uma
participação na Assembleia Geral da ONU e, em novembro, uma visita prevista a
Portugal.
Os
primeiros 100 dias de mandato ficaram marcados por alguma polémica, nomeadamente
a decisão de se encontrar com ex-líderes pró-integracionistas e das milícias
responsáveis por parte da violência antes e depois do referendo de
independência, em 1999.
Um
encontro na metade indonésia da ilha de Timor-Leste que, disse, foi “mal
interpretado por algumas organizações não-governamentais”, mas que defendeu
como medida para resolver “uma herança” da administração transitória da ONU que
governou Timor-Leste entre o referendo e a independência, em 2002.
“O
ambiente foi extremamente positivo. […] Tenho por hábito em qualquer sítio onde
tenho ido, e irei, havendo comunidade timorense, encontro-me sempre com os
timorenses. Não vou fazer exceção de não me encontrar com os timorenses que
estão na Indonésia”, disse. “Eles querem, não necessariamente voltar de vez.
Muitos têm filhos ali, alguns são avós, mas querem pelo menos a possibilidade,
a liberdade de poderem visitar Timor-Leste, sem medos do legado de indiciamento
feito pela UNTAET. Esta é a minha preocupação”, disse.
Ramos-Horta
defendeu que o Estado timorense deveria “ter a coragem” de dar instruções à
Procuradoria-Geral da República para arquivar os processos que envolvem essas
pessoas, medida que se insere nos esforços de reconciliação levados a cabo em
Timor-Leste.
“Se
vamos fazer julgamento comecemos com nós próprios. É uma caixa de Pandora.
Comecemos com o massacre de Aileu, de 1975, quando pessoas que nunca fizeram
mal a ninguém, foram massacrados, da UDT. Depois em Same, ou depois a crise
interna da Fretilin ao longo de anos em que tantos da Fretilin foram mortos por
questões de ideologia e acusações”, afirmou. “Então vamos julgar só os
indonésios, só as milícias de 1999? Conhecemos tantas experiências pelo mundo
fora. Timor-Leste, se não tivesse feito a política de moderação e reconciliação,
não seria o que é hoje”, disse. António Sampaio - Agência Lusa in “Ponto
Final”
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