Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

segunda-feira, 29 de agosto de 2022

Timor-Leste - Combate à subnutrição foi a prioridade máxima do arranque do mandato do Presidente da República

O Presidente timorense disse ontem que o combate à subnutrição infantil foi a prioridade máxima do arranque do seu mandato, mostrando-se convicto que dois programas a implementar ajudarão a resolver o problema em cinco anos


“A prioridade máxima logo no arranque foi o combate à subnutrição infantil. É imperativo moral e ético o combate à extrema subnutrição infantil”, disse José Ramos-Horta, em entrevista à Lusa, por ocasião dos seus primeiros 100 dias de mandato, marcados no fim de semana.

“Não há para mim alguma prioridade maior que esta. É uma questão ética e moral, mas é também um investimento no futuro deste país e todos aplaudiram: o Governo e os parceiros internacionais”, vincou.

Ramos-Horta disse que desde que tomou posse viu já “muitos sinais claros de que isto vai avançar”, com o Governo a incluir o combate nas suas prioridades para 2023, sendo que mesmo depois das eleições legislativas “qualquer que seja o Governo” deverá manter essa prioridade.

Explicou ter desenvolvido “uma parceria forte com a Unicef que fez um plano concreto”, que prevê apoiar crianças ainda na fase de gestação e da nascença até aos três anos para combate o nanismo e o raquitismo.

“Isso custa 10 milhões de dólares por ano, durante cinco anos. Ao mesmo tempo, um outro projeto de 27 milhões por ano, durante cinco anos, para abrir 400 ou 500 escolas pré-primárias porque 70% das crianças timorenses não frequentam o pré-primário”, disse. “Com menos de 200 milhões de dólares, em cinco anos podemos eliminar a subnutrição infantil”, afirmou.

Desde que tomou posse, Ramos-Horta tem vindo a apostar numa aproximação crescente à população, com a abertura simbólica dos portões do Palácio Presidencial a crianças, vendedores ambulantes e artistas.

Uma agenda intensa que inclui ainda dois pedidos de fiscalização de constitucionalidade ao Tribunal de Recurso e esforços de diálogo com vários quadrantes políticos.

O chefe de Estado disse que depois da sua eleição e tomada de posse, e no quadro da promessa de campanha de dissolução do parlamento e convocatória de eleições antecipadas, acabou por prevalecer o “realismo e o pragmatismo”.

Inicialmente, disse, a sua preocupação e de Xanana Gusmão – líder do CNRT, principal partido que apoiou a sua candidatura – era garantir que as cerimónias de tomada de posse e dos 20 anos da restauração da independência, em 20 de Maio, “decorressem em total normalidade, civilidade”.

Uma visita à Indonésia estreou as visitas ao estrangeiro de Ramos-Horta, que incluirão ainda este mês uma deslocação à Austrália, posteriormente uma participação na Assembleia Geral da ONU e, em novembro, uma visita prevista a Portugal.

Os primeiros 100 dias de mandato ficaram marcados por alguma polémica, nomeadamente a decisão de se encontrar com ex-líderes pró-integracionistas e das milícias responsáveis por parte da violência antes e depois do referendo de independência, em 1999.

Um encontro na metade indonésia da ilha de Timor-Leste que, disse, foi “mal interpretado por algumas organizações não-governamentais”, mas que defendeu como medida para resolver “uma herança” da administração transitória da ONU que governou Timor-Leste entre o referendo e a independência, em 2002.

“O ambiente foi extremamente positivo. […] Tenho por hábito em qualquer sítio onde tenho ido, e irei, havendo comunidade timorense, encontro-me sempre com os timorenses. Não vou fazer exceção de não me encontrar com os timorenses que estão na Indonésia”, disse. “Eles querem, não necessariamente voltar de vez. Muitos têm filhos ali, alguns são avós, mas querem pelo menos a possibilidade, a liberdade de poderem visitar Timor-Leste, sem medos do legado de indiciamento feito pela UNTAET. Esta é a minha preocupação”, disse.

Ramos-Horta defendeu que o Estado timorense deveria “ter a coragem” de dar instruções à Procuradoria-Geral da República para arquivar os processos que envolvem essas pessoas, medida que se insere nos esforços de reconciliação levados a cabo em Timor-Leste.

“Se vamos fazer julgamento comecemos com nós próprios. É uma caixa de Pandora. Comecemos com o massacre de Aileu, de 1975, quando pessoas que nunca fizeram mal a ninguém, foram massacrados, da UDT. Depois em Same, ou depois a crise interna da Fretilin ao longo de anos em que tantos da Fretilin foram mortos por questões de ideologia e acusações”, afirmou. “Então vamos julgar só os indonésios, só as milícias de 1999? Conhecemos tantas experiências pelo mundo fora. Timor-Leste, se não tivesse feito a política de moderação e reconciliação, não seria o que é hoje”, disse. António Sampaio - Agência Lusa in “Ponto Final”



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