Dois
irmãos de Anadia decidiram investigar e explorar as propriedades do bambu, uma
matéria-prima natural que lhes permitiu construir uma bicicleta “retro contemporânea”,
na qual a natureza é combinada com a tecnologia e através da qual se promove a
mobilidade sustentável.
Joana
Saavedra e Tiago Saavedra vivem na Curia, no concelho de Anadia, e foi a
curiosidade que os levou a dar os primeiros passos na investigação de uma
matéria-prima natural, que viria a ser a chave de uma ‘startup’ – a Bambu Bicycles -, que nasceu há
pouco mais de um ano.
É
precisamente neste concelho do distrito de Aveiro, apelidado por muitos de
“capital das duas rodas”, que os dois irmãos pensam, desenham e produzem, com
as próprias mãos, bicicletas com o “quadro feito em bambu”, uma fibra natural
que têm vindo a estudar depois de terem vivido na China.
“Vivi
seis anos na China e apaixonei-me pelo bambu. A dada altura, desafiei o meu irmão
Tiago, que tem o curso de Design de Produto, a fazer um ‘workshop’ de bambu e
ele adorou”, recordou à agência Lusa Joana Saavedra, uma jovem de 36 anos
licenciada em Economia pela Universidade do Porto.
Tiago
Saavedra, de 31 anos, aproveitou para estudar as características desta fibra
natural e, apesar de inicialmente ter tido algumas renitências sobre a sua
utilização em bicicletas, acabou rendido a este tipo de material, sustentável e
elegante.
“Somos
os dois muito curiosos e não começámos nisto como ideia de negócio. Fui
adquirindo competências e trabalhando com diferentes tipos de bambu, até que
lhe comecei a tomar o gosto”, destacou.
Depois
de alguns protótipos, chegaram a um modelo que decidiram experimentar numa
viagem que os levou do Porto até Santiago de Compostela, em 2019.
Ao
longo de três dias e meio de viagem e cerca de 300 quilómetros de percurso,
Joana, Tiago e o irmão mais novo do clã Saavedra experimentaram três
bicicletas, que tinham sido acabadas de construir de véspera.
As
bicicletas “portaram-se lindamente” ao longo de todo o percurso, revelando-se
como único obstáculo a inevitável dor de pernas, a acusar a pouca preparação
física.
“Em
2020, candidatámo-nos ao “Acredita Portugal”, escrevendo o projecto que
tínhamos na cabeça e, em 10 mil candidatos, chegámos aos 21 finalistas. Mas,
foi em Maio ou Junho de 2021, quando decidi regressar a Portugal, que começámos
a fazer isto a ‘full time’”, referiu Joana Saavedra.
Os
dois jovens passaram a construir as próprias bicicletas de bambu, sendo os
primeiros a criá-las em Portugal.
Depois
de algumas “criações”, afinadas ao longo dos meses, é com bambu vindo da
Indonésia que constroem um “quadro elegante, que pode ser personalizado
consoante a vontade do cliente”.
Tiago
Saavedra consegue montar uma bicicleta em aproximadamente 40 horas de trabalho,
que pelo meio exigem muita paciência, entre os diferentes passos e aplicação de
produtos.
No
entanto, como “é tudo muito manual”, a entrega de uma bicicleta personalizada
ao cliente pode demorar dois a três meses. “Não vendemos apenas uma bicicleta,
mas todo um conceito, todo um estilo de vida. Decidimos usar o bambu para
promover a mobilidade sustentável e inspirar as pessoas a viverem uma vida mais
verde e mais sustentável, incentivando o uso de energias limpas e a redução da
pegada de carbono”, sustentou a irmã mais velha.
Actualmente,
vão passando por algumas feiras nacionais e internacionais, onde expõem os seus
modelos, o que lhes tem permitido realizar algumas vendas.
Para
o futuro, estes entusiastas do bambu não esperam chegar a um negócio
“megalómano”, mas pretendem continuar a trabalhar esta fibra natural com o ‘know-how’
que têm vindo a adquirir, tornando todo o processo de fabrico mais rápido.
“As
características do bambu são únicas. São resistentes, garantem um conforto
extra, com absorção de vibrações e impactos, sendo mais flexível”, descreveu
Tiago Saavedra, que informou ainda que esta bicicleta “retro contemporânea”
pesa 13,5 quilogramas, tem um custo de cerca de 2500 euros e uma garantia de 10
anos.
Para
além das bicicletas, a fibra do bambu foi ainda utilizada para criar um par de
meias, lançado no mercado em Junho, que se diferencia “pelo conforto, pela
regulação do odor e ser antitranspirante”.
Em
curso têm ainda o desenvolvimento de um suporte de parede para bicicletas,
também ele construído em bambu. In “Jornal Tribuna de Macau” – Macau com “Lusa”
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