A
insegurança e violência no Brasil estão entre as principais razões que levaram
os brasileiros chegados nos últimos anos a Portugal a deixar o país, somando-se
assim aos motivos políticos, econômicos e sociais, segundo associações de
imigrantes.
“Sem
dúvida nenhuma que a violência no Brasil é um dos principais motivos que levam
os brasileiros a querer mudar de país, tendo Portugal (…) como destino
preferido”, afirmou a presidente da Associação Sociocultural Luso-brasileira de
Apoio à Integração em Portugal (UAI), com sede em Braga, Alexandra Gomide.
Para
ela, o impacto direto desse fator na decisão de emigrar percebe-se desde logo
pelo tipo de comunidade que tem chegado a Portugal, composta por “muitas
famílias”.
“São
os pais tentando trazer os filhos para um ambiente mais seguro”, disse.
“A
gente vê hoje mais famílias inteiras a mudarem-se do que pessoas individuais em
busca de uma vida melhor, o fator inicial da imigração”, reforçou.
Mas
também porque “a grande maioria” dos imigrantes brasileiros que chegam à UAI
nos últimos anos “referem isso” mesmo, ou seja, dizem que “querem trazer os
filhos para um ambiente mais seguro”, frisou.
Por
isso, Alexandra Gomide coloca a violência “em primeiro lugar” na lista dos
fatores com mais peso na decisão de emigrar dos brasileiros que nos últimos
anos chegaram a Portugal.
Apesar
de considerar que aquela decisão acaba sempre por ser o resultado de “um
somatório de fatores”, onde a instabilidade política “desgastante” no Brasil e
a procura de um emprego melhor e melhores condições de vida também são fatores
de peso.
Portugal,
“além de oferecer segurança, pode oferecer uma boa educação e um bom sistema de
saúde”, afirma.
O
país também oferece outras facilidades, por ser um país que fala português e um
destino onde o processo de obtenção de documentos e da cidadania pode ser mais
rápido.
A
UAI está a atender “em média 80 novas famílias por mês”, adiantou.
Outro
indicador que no entender de Alexandra Gomide é revelador de que a insegurança
e a violência que hoje se vive no Brasil tem um peso significativo nas decisões
de emigrar é que “as grandes cidades [do Brasil] são as que mais perdem
brasileiros”.
“A
grande maioria vem das grandes cidades, Rio de Janeiro, muitos, pelo menos aqui
em Braga (…)”, adiantou.
Ressalvando,
porém, que isso não quer dizer que não cheguem a Portugal muitos brasileiros
também vindos de pequenas cidades: “Porque, na verdade, a gente vive um
contexto no Brasil em que a violência está bem disseminada”, salientou.
“Às
vezes a pessoa vive no interior, nem lida tanto com essas situações, mas no
noticiário passa tanta coisa negativa, tanta coisa ruim que o medo ali já foi
instalado. Por isso, às vezes, a pessoa nem viveu [a violência] num contexto
real, mas sai de medo de vir a acontecer”, acrescentou.
Quando
emigrou para Portugal, há seis anos, a insegurança e a violência já era “uma
coisa que incomodava” e com a qual os brasileiros aprenderam a lidar, recordou.
“Tem
determinadas situações que para a gente já faz sentido, o andar abraçado com a
bolsa, o não usar o telemóvel na rua. (…) A gente vive numa tensão extremamente
grande lá. Mas passa a ser normal”, confessou. “Aqui a gente aprende a viver
livre”, concluiu.
Já
para a presidente da Casa do Brasil de Lisboa, Cyntia de Paula, a insegurança e
a violência no país da América Latina é apenas um dos vários fatores que hoje
pesam na decisão dos brasileiros de emigrarem, mas até não é dos mais
relevantes para alguns grupos.
“A
questão da emigração recente [de brasileiros] é multifacetada”, porque “são
muitos os motivos pelos quais as pessoas escolhem emigrar”, afirmou.
Na
sua opinião, “está muito ligada à questão econômica e política”, a primeira
muito por causa da subida da inflação, que começou a sentir-se no Brasil muito
antes do que em Portugal, e a segunda pelo discurso do atual Governo, liderado
por Jair Bolsonaro, com o qual as pessoas não se identificam, ou que gera
receios de segurança para minorias étnicas ou raciais ou mesmo para certas
comunidades como a LGBT, ou até ativistas.
O
executivo de Jair Bolsonaro “não tem um discurso claro contra qualquer forma de
violência” e “não há um discurso de igualdade, de defesa dos direitos humanos
de respeito pelas minorias”, neste momento no Brasil, justificou. Pelo
contrário, o discurso do executivo brasileiro é até, por vezes, “xenófobo e
homofóbico”, podendo “fomentar a discriminação e a violência”, considerou.
Isso
faz com que haja “uma maior procura desses grupos, pelo descontentamento
político e por luta política de proteção” por Portugal.
Por
outro lado, salientou, “o Brasil é imenso e a relação com a violência é
diferente, dependendo da cidade de onde vem [o imigrante brasileiro] (…)”,
referiu, acrescentando que “nas cidades pequenas, essa questão é percepcionada
de uma forma diferente de quem vem das grandes cidades”, frisou.
Assim,
considerou que é “importante”, quando se fala das motivações dos brasileiros
para emigrar, “pensar no Brasil em termos continentais e não como um bloco
único de pessoas, com realidades econômicas e sociais todas iguais”, porque o
país “é muito diferente de um sítio para o outro” e hoje “chega [a Portugal]
gente de qualquer lugar do Brasil”.
Assim,
concluiu: “Claro que algumas pessoas e alguns grupos” vêm pela questão da
insegurança e da violência, “sobretudo das grandes cidades” onde ela se sente
mais. “Mas as pessoas não vêm só dessas cidades”.
Por
isso, esse motivo “pode influenciar, sim, alguns processos migratórios, mas as
motivações são muito variadas” para os imigrantes brasileiros, desde o querer vir
estudar, ou trabalhar, à procura de melhores condições de vida, ou mesmo querer
empreender, frisou. In “Mundo Lusíada” – Brasil com “Lusa”
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