O
ministro da Defesa de Moçambique, Jaime Neto, disse ontem que se fez história
com o arranque da primeira missão de formação militar da União Europeia (UE) no
país, para preparar tropas para Cabo Delgado.
“Estamos
a fazer história”, referiu durante o lançamento da Missão de Formação da União
Europeia (EUTM, sigla inglesa) na parada da Companhia de Fuzileiros
Independente da Katembe, Maputo.
A
missão é o “caminho certo” para a especialização, profissionalização e
modernização das Forças Armadas e de Defesa de Moçambique (FADM), sublinhou o
governante, que quer tropas com autonomia para enfrentar qualquer ameaça, como
a insurgência no Norte do país.
Para
a UE, depois do Mali, República Centro Africana e Somália, esta é a quarta
missão do género em que 140 militares de 10 países europeus, sobretudo de
Portugal, vão formar cerca de 1100 oficiais, sargentos e soldados moçambicanos
ao longo de dois anos – seis companhias de comandos e cinco de fuzileiros. À
medida que forem sendo formados, vão para o terreno, combater as forças
insurgentes e “proteger a população”, disse o chefe do Estado-Maior General das
FADM, Joaquim Mangrasse.
As
duas primeiras companhias formadas pela EUTM estarão prontas daqui a quatro
meses, uma no Chimoio, centro do país, onde serão formados os comandos, outra
de fuzileiros em Maputo. “Estamos juntos” é uma expressão tipicamente
moçambicana e que o brigadeiro-general Nuno Lemos Pires do exército português,
comandante da missão no terreno, adoptou como ideia chave da missão.
Na
prática, a formação consiste em praticar operações de combate, mas não só:
haverá uma forte componente dedicada à protecção da população, em especial de
mulheres e crianças – sendo que em Cabo Delgado tem havido vários relatos de
violação de direitos humanos, de um lado e doutro da barricada.
Na
óptica de Nuno Lemos Pires, “a melhor coisa que pode acontecer” às tropas
moçambicanas é serem aclamados como “protectores” quando chegarem às aldeias e
vilas, razão pela qual vão ser formadas “tanto a combater, como a proteger os
direitos humanos, mulheres e, muito importante, proteger as crianças, que são o
futuro de Moçambique”, sublinhou.
As
autoridades moçambicanas, portuguesas e da UE apertaram mãos, satisfeitas
perante o desfile militar que marcou o arranque de uma missão preparada por
consenso dos estados-membros e “em tempo recorde” após o pedido de ajuda do
Governo de Moçambique, feito há um ano. Isso mesmo referiu António Gaspar,
embaixador da UE em Maputo, realçando que esta é apenas uma componente da forte
ajuda que a Europa vai dirigir para Cabo Delgado no novo quadro de apoio
financeiro que este ano arranca.
A
EUTM segue as pisadas da cooperação militar portuguesa em Moçambique, com
décadas e no âmbito da qual mais recentemente foram formados fuzileiros,
caçadores especiais e controladores aerotáticos das FADM, levando 200 homens
capacitados para Cabo Delgado. Agora, a iniciativa europeia permite “alargar” e
“estender” esta formação, realçou o ministro da Defesa português, João Gomes
Cravinho, no evento de ontem.
Os
custos comuns para a EUTM Moçambique, a serem cobertos através do novo
Mecanismo Europeu de Apoio à Paz (MEAP), estão avaliados em 15 milhões de euros
para o período de dois anos, incluindo equipamento não-letal. Uma tranche
urgente de quatro milhões foi desbloqueada em julho para fornecer o material
necessário para a formação das duas primeiras companhias, ação que agora
arranca, para durar quatro meses.
A
província de Cabo Delgado é rica em gás natural, mas aterrorizada por rebeldes
armados, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.
Desde Julho, uma ofensiva das tropas governamentais com o apoio do Ruanda a que
se juntou depois a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC)
permitiu aumentar a segurança, recuperando várias zonas onde havia presença de
rebeldes, nomeadamente a vila de Mocímboa da Praia, que estava ocupada desde
Agosto de 2020. In “Ponto Final” - Macau
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