Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

quarta-feira, 15 de setembro de 2021

Brasil - Bombeiro transforma destroços em instrumentos musicais


Davi Lopes conseguiu combinar duas das suas maiores paixões – ser bombeiro e fabricante de instrumentos – utilizando destroços de incêndios e demolições de edifícios para fazer instrumentos de cordas de alta qualidade que agora estão em mãos de músicos como Gilberto Gil e Paulinho da Viola.

Embora tenha começado aos 15 anos fazendo violões, violinos, cavaquinhos e bandolins de madeira nobre e outras madeiras velhas que resgatou intactas de fogueiras, Lopes ganhou fama inesperada no Brasil este mês após a exibição de um documentário contando a história dos instrumentos feitos com os destroços do incêndio que destruiu o Museu Nacional.

Tenente do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro, Lopes já fez cinco instrumentos – dois violões, um bandolim, um cavaquinho e um violino – com os destroços do museu mais antigo do Brasil e o de maior arquivo, que se incendiou em Setembro de 2018.

“O plano é fazer entre 10 a 12 instrumentos. Cinco estão prontos. O objectivo é tornar os instrumentos representativos dos diferentes ritmos musicais do Brasil, como o cavaquinho para o samba”, disse Lopes em entrevista à EFE.

Os instrumentos estão temporariamente nas mãos de músicos renomados que patrocinaram a sua preparação, entre eles Gil, Da Viola, Hamilton de Holanda e Paulinho Moska, alguns dos quais já os utilizam nos espectáculos, mas – quando o Museu de 200 anos estiver reconstruído – todos serão exibidos lá.

Os restos da bilheteira do Museu, que era feito de madeira de jacarandá, foram utilizados ​​para os violões, juntamente com os móveis e vigas de pinho da floresta, canela amarela e outras madeiras nobres adequadas para instrumentos.

Mas como o seu trabalho com os destroços do Museu Nacional foi transformado num documentário pela Globonews, Lopes agora tem planos de realizar outros projectos semelhantes a partir dos restos de um piano centenário e da madeira da antiga Casa da Moeda.

“Tudo começou com a história de ser músico. Comecei a estudar música muito cedo, aos 10 anos, na igreja que frequentava e aos 15 entrei numa escola de música”, disse Lopes no apartamento de uma Vila Militar – já que os bombeiros no Brasil têm estatuto de militar – e onde montou uma pequena, mas bem equipada oficina.

“Em 1997, entrei para o Corpo de Bombeiros e tornou-se uma paixão. Comecei a combinar as duas paixões naquele mesmo ano, quando fui combater um incêndio e vi que no meio dos escombros havia boas madeiras intactas”, referiu.

Lopes disse que já tinha adquirido uma paixão pela madeira, algo que herdou da sua família de artesãos, e isso permitiu-lhe reconhecer madeiras nobres como o mogno nos escombros de grandes casarões que se incendiaram no Rio de Janeiro.

“Com este conhecimento por madeiras, vi que podia fazer algo e combinar todas as minhas paixões: música, instrumentos e trabalho de combate a incêndios. A partir de 2000, comecei a recolher lenha de incêndios, já pensando em instrumentos e em 2007 tive a oportunidade de fazer um curso de fabrico de instrumentos em São Paulo onde aprendi o ofício e as técnicas”, conta.

“No início, quando resgatei lenha dos incêndios, os outros bombeiros e até músicos disseram-me que eu estava maluco porque essa madeira não dava para fazer instrumentos de madeira nobre. Mas o facto é que, apesar de ter que se fazer um enorme esforço para limpar e restaurar a madeira, no fundo ela é a mesma que é usada pelos fabricantes de instrumentos”, explica, adiantando que “quando comecei a mostrar os instrumentos que fiz com os destroços, os meus colegas bombeiros começaram a apoiar-me e a trazer-me madeira que haviam encontrado”, salientou

Lopes admitiu que no início fazia instrumentos por hobby, mas agora fá-lo profissionalmente e nalguns casos demora quase um mês a fazer instrumentos especialmente encomendados por músicos pelos quais pode cobrar preços bem acima do mercado.

Na noite do incêndio no Museu Nacional estava de folga do trabalho, mas “desci até ao quartel, vesti o uniforme e fui ajudar a resgatar o que pude” das ruínas. “Naquele momento, a minha intenção era salvar os objectos (do museu), mas nesse mesmo dia tive a ideia de fazer alguma coisa com o que restou, fazer alguns instrumentos e vendê-los para ajudar na reconstrução do Museu”, disse.

A publicidade resultante do documentário ajudou-o a impulsionar o seu novo projecto: criar uma fundação onde irá oferecer aulas de música para crianças carentes e formação a novos fabricantes de instrumentos, “uma profissão que corre o risco de morrer”. In “Jornal Tribuna de Macau” – Macau com “Agências Internacionais”


 

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