Na
última segunda-feira em Brasília, o Senado promoveu sessão especial remota para
o lançamento da obra inédita Vozes do Brasil: a linguagem política na
Independência (1820-1824).
O
livro reúne 20 panfletos publicados entre 1820 e 1824, conhecidos como
panfletos da Independência, que foram impressos, na época, no Brasil e em
Portugal. O material pertence a Biblioteca Oliveira Lima, da Universidade
Católica da América, em Washington, nos Estados Unidos. A reunião também foi
destinada a celebrar o 199ª aniversário de independência do país, celebrado em
2021.
O
requerimento para que a sessão pudesse ser realizada foi de autoria do senador
Randolfe Rodrigues (Rede-AP), coordenador da Comissão Especial Curadora
destinada a elaborar e viabilizar a execução das comemorações em torno do tema
“O Senado Federal e os 200 anos da Independência do Brasil”.
Na
abertura da sessão, o senador disse que os arquivos de Oliveira Lima foram
entregues à Universidade de Washington ainda na década de 1920 e, após cem
anos, esses documentos voltam ao Brasil, para que os brasileiros possam
entender como foi esse processo de formação da sua independência.
Randolfe
Rodrigues classificou o lançamento da obra como uma apresentação da “certidão
de nascimento” do país, e afirmou que este é o evento mais importante a menos
de um ano das comemorações do bicentenário de independência.
“O
nosso 199º aniversário da independência, às vésperas do bicentenário, deveria
ser celebrado para que nós refletíssemos sobre o País a que chegamos, as
conquistas que tivemos, a República, a democracia. O 199º aniversário, que
antecede o bicentenário, não deveria servir para pedir o banimento da nossa
democracia; não deveria servir para pedir o fechamento das instituições do
Estado democrático de direito, Congresso, Supremo Tribunal Federal; não deveria
servir para fazer apologia a restaurações autoritárias. O 199º aniversário
deveria servir para nós refletirmos e pensarmos que nação somos e qual nação
nós queremos daqui a cem anos, quando estivermos no nosso terceiro centenário
como Nação independente. O nosso 199º aniversário deveria servir para celebrar,
para refletir, mas principalmente para celebrar as conquistas” afirmou
Randolfe, que presidiu a sessão especial.
O
parlamentar salientou que a realização da obra só foi possível graças aos
esforços da diretora da Biblioteca Oliveira Lima, Nathalia Henrich, que também
participou da sessão solene.
Nathália
Henrich destacou em sua fala que o livro servirá não apenas aos especialistas
que não podem se deslocar até Washington pessoalmente, para visitar e consultar
a coleção, mas também aos professores, estudantes e público em geral.
As
autoras da obra, as professoras Heloísa Starling e Marcela Telles de Lima,
realizaram uma seleção criteriosa dos documentos do acervo da Oliveira Lima
Library, com um objetivo em mente:
“Elas
disseram que o sentimento que permeava a obra era o de ouvir as vozes dos
brasileiros que lutaram pela liberdade no País. As vozes foram muitas e foram
variadas, expressaram um projeto de País, ideias sobre Governo e política,
assim como conceitos muito mais difusos como soberania, igualdade, liberdade e
representação, e a preocupação em trazer essas vozes que permaneceram tanto
tempo caladas, já que esses textos até hoje não haviam sido republicados para o
grande público, e eles voltam ao Brasil” explicou.
Nathalia
Henrich acredita que as diversas instituições envolvidas no lançamento estão
cumprindo com seu papel cívico de promover o conhecimento, acercar o público
brasileiro não apenas de documentos que são fonte para a história do país, mas
também enriquecido da pesquisa séria e rigorosa que acompanha.
“Nós
concretizamos assim o desejo do nosso fundador, o historiador e diplomata
Manuel de Oliveira Lima, quando decidiu doar sua biblioteca à Universidade
Católica da América, aqui em Washington, e criar um espaço de difusão do
conhecimento sobre a história e sobre a cultura do Brasil nos Estados Unidos,
que irradiaria de volta para o Brasil e também iluminaria o mundo” ressaltou em
sua fala na sessão solene.
A
diretora da biblioteca Oliveira Lima ressaltou a importância da obra para o Brasil
em meio ao momento de crise política e de pandemia.
Histórias da época
Heloísa
Sterling, professora da Universidade Federal de Minas Gerais e uma das autoras
da obra, lembrou em sua fala durante a sessão que os panfletos reunidos na obra
mostram que, na efervescência daqueles anos, eles eram materiais acessíveis a
todos.
“Você
pode surpreender a cidade inteira numa única manhã. Você vai lá, prega o
panfleto com cera de abelha na parede e na porta de uma residência, nos lugares
de maior circulação de pessoas, mas os panfletos também podem ser distribuídos
de mão em mão. E, numa sociedade como a brasileira em que largas parcelas da
população eram pouco instruídas ou nem mesmo letradas, os panfletos davam a
volta aos obstáculos e baixavam os grandes temas da conjuntura ao nível das
ruas. Eles eram lidos em voz alta também na porta das igrejas, nas lojas, nas
tabernas, nas casas de alcouce, que são os prostíbulos, nas reuniões públicas,
nas praças. Olha que legal: um grande debate sobre as visões e os projetos de
Brasil” lembrou a professora.
Para
o jornalista e escritor Eduardo Bueno, membro da Comissão Especial Curadora do
Senado, uma celebração da independência dessa grandeza não é feita só pelo
Poder Executivo, Legislativo e Judiciário.
“É
feita por nós da sociedade civil, por nós! Nós somos agentes históricos. Nós
temos que exercer a nossa cidadania e nós que temos essa responsabilidade. Já
que estamos nesta Comissão, nós temos a obrigação de fazer com que isso chegue
aos alunos e chegue com uma história libertária, uma história envolvente, uma
história que apaixone e uma história que leve à reflexão, porque o único jeito
de construir um país menos injusto do que este é com o conhecimento” salientou
em seu discurso.
Também
fizeram uso da palavra o presidente do Instituto Brasileiro de Estudos
Políticos, Francis Bogossian e o presidente da Sociedade Brasileira para o
Progresso da Ciência, Ildeu Moreira. A sessão contou com a presença virtual de
senadores e da Diretora-Geral do Senado Federal, Ilana Trombka, que também
compõe a Comissão Especial.
Os
textos foram disponibilizados, em formato facsimilar, ao Senado por meio do
acordo de parceria com a Biblioteca Oliveira Lima. O acordo de colaboração foi
firmado em evento on-line no último dia 17 de agosto, a partir da
iniciativa da Comissão Especial Curadora.
O
livro será vendido na Livraria do Senado, por R$ 32, segundo a Agência Senado. In “Mundo
Lusíada” – Brasil com “Agência
Senado”
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