Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

quarta-feira, 29 de setembro de 2021

Espanha - Amadores descobrem tesouro romano no fundo do mar da baía de Portitxol

Um conjunto de 53 moedas de ouro dos séculos IV e V foi descoberto graças a um achado casual na baía de Portitxol, na Espanha. Será estudado, restaurado e exposto no museu local


Todos os Verões, os cunhados Luis Lens e César Gimeno e respectivas famílias passam as férias em Xàbia, um dos principais pontos turísticos da província de Alicante, na costa mediterrânea da Espanha.

O seu principal hobby é praticar o mergulho com snorkel, “um equipamento técnico de 10 euros que consiste numa máscara, tubo, barbatanas e calções”, brinca Lens.

O seu objectivo é desfrutar do panorama submarino e “limpar o lixo” que encontram à passagem. No último 23 de Agosto, um brilho numa rocha na baía de Portitxol, a cerca de sete metros de profundidade, fez Lens imaginar que tinha encontrado “o que parecia ser uma moeda de 10 cêntimos de euro”.

Continuou a mergulhar e decidiu resgatá-la. “Estava num pequeno orifício, como de um gargalo”, relata. Ao subir a bordo, limpou-a e descobriu “uma imagem antiga, como um rosto grego ou romano”, e pensou que era uma jóia perdida.

Lens e Gimeno mergulharam de novo no local do achado e, “com um saca-rolhas de um canivete suíço, do barco”, trouxeram à superfície em “algumas horas” o que afinal configurou um tesouro formado por 53 moedas de ouro da época do fim do Império Romano, entre os séculos IV e V, “encravado em uma fenda na rocha”.

Trata-se de um dos maiores conjuntos da Europa com essas características, segundo os especialistas.

Os descobridores do tesouro, em conclave familiar, decidiram no dia seguinte notificar a descoberta à autarquia de Xàbia. “Levamos as oito moedas que tínhamos encontrado num pote de vidro com um pouco de água de mar”, rememora Lens. A partir daí, ele e o cunhado voltaram três vezes ao local das moedas, acompanhados por especialistas em arqueologia submarina da Câmara, da Universidade de Alicante (UA) e da Guarda Civil espanhola.

Em três momentos, tiraram do fundo do mar 53 moedas, três pregos provavelmente de bronze e restos de chumbo muito deteriorados, que parecem fazer parte de um cofre, conforme detalha a UA. “É algo incrível, o sonho de toda criança de encontrar um tesouro”, descreve Lens.

“Os conjuntos de moedas de ouro não são habituais”, afirma Jaime Molina, catedrático de História Antiga da Universidade e responsável científico por uma escavação que há três anos vem investigando a baía de Portitxol, “onde os barcos procedentes da Bética [Andaluzia] aportavam antes de partir para as Baleares, a caminho de Roma”.

Menos comum ainda é que esses tesouros se encontrem em “perfeito estado de conservação”, como o resgatado pelos dois cunhados. A equipa liderada por Molina conseguiu identificá-las e relacioná-las com os imperadores Valentiniano I (3 moedas), Valentiniano II (7), Teodósio I (15), Arcádio (17) e Honório (10). Também há uma peça sem identificar.

“Não há restos de navios afundados na zona onde foram achadas”, observa Molina, “por isso provavelmente tratou-se de uma ocultação voluntária perante a chegada dos bárbaros” à costa da Península Ibérica, “neste caso, os alanos”. “Este achado fala-nos de um contexto de medo, de um mundo que se acaba, o do Império Romano”, sentencia.

Segundo os indícios, as moedas devem ter pertencido a “um dominus, um grande proprietário, um latifundiário da região”. Entre os séculos IV e V, “as cidades estão em declínio e o poder deslocara-se para as grandes propriedades no campo”, declara o catedrático da UA. “O comércio apaga-se e as fontes de riqueza passam a ser a agricultura e o gado”, prossegue.

Perante o avanço dos bárbaros, um destes senhores da época terá “decidido juntar as moedas de ouro, que não circulavam, mas eram acumuladas para fixar a riqueza de uma família”, num cofre que afundou na baía. “E a seguir deve ter morrido, porque não voltou para resgatá-lo”, especula Molina.

Depois do seu estudo, no qual tentarão determinar “a fundição onde foram cunhadas, entre os anos 360 e 409, a liga utilizada e sua circulação”, ou seja, “toda a informação de história económica” que as peças puderem oferecer, o tesouro será restaurado pelo Instituto Universitário de Arqueologia e de Património Histórico da Universidade de Alicante e depois deve ser exibido no Museu Arqueológico e Etnográfico Soler Blasco, em Xàbia.

O governo da Comunidade Valenciana, onde fica Alicante, já destinou 17800 euros para a escavação subaquática do lugar da descoberta. E as famílias de Lens e Gimeno recordarão para sempre uma “aventura única e excepcional”… In “Jornal Tribuna de Macau” – Macau com “Agências internacionais”


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