Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

sábado, 18 de setembro de 2021

França – Vacina por via intranasal avança no combate contra a Covid-19, depois de Portugal e Brasil

Uma nova linha de combate contra a Covid-19 surge no horizonte: as vacinas por via intranasal, um método promissor nos testes animais, mas que ainda precisa de ser confirmado entre seres humanos. Os dados preliminares apontam para um elevado nível de proteção e uma maior capacidade de reduzir a transmissão do que as vacinas já disponíveis

Depois da portuguesa Immunethep e das brasileiras CTVacinas e da  Universidade de São Paulo, os testes clínicos em animais na França estão a apresentar resultados, a tal ponto que dois organismos públicos, o Inrae e a Universidade de Tours, apresentaram um pedido de patente para um modelo.

A diretora da equipa de pesquisa BioMAP da universidade, Isabelle Dimier-Poisson, afirmou que os testes em ratos apresentaram "100% de sobrevivência" nos exemplares vacinados desta forma e depois infectados com a covid-19. Todos os ratos não vacinados faleceram, informou a cientista.

"Os animais vacinados estão 100% protegidos contra as formas sintomáticas e, a princípio, contra as formas graves do vírus. E como têm carga viral muito reduzida, deixam de ser contagiosos, o que é um dos aspectos interessantes da via nasal", destacou Philippe Mauguin, presidente do Inrae, um instituto de investigação.

Num artigo publicado em julho na revista Science, os cientistas Frances Lund e Troy Randall destacaram que, na comparação com as vacinas intramusculares, as intranasais mostram duas camadas de proteção adicionais.

A primeira é representada pelos IgA, anticorpos que desempenham um papel crucial na função imunológica das mucosas. Depois, aparecem as células B e T de memória, que residem nas mucosas respiratórias e formam uma barreira particular contra infecções.

"Quando o vírus infecta uma pessoa, geralmente entra pelo nariz. A ideia é fechar esta porta de entrada", explica a diretora de investigação do Inserm, Nathalie Mielcarek, líder de uma equipa do Instituto Pasteur de Lille, que está a trabalhar num projeto de vacina nasal.

"Com as vacinas intramusculares a resposta imunológica nas mucosas não é muito duradoura, nem muito forte. Por isso é mais vantajoso imunizar a nível nasal", destaca a imunologista e diretora de investigação no Instituto Cochin Morgane Bomsel.

As vacinas atualmente no mercado protegem contra os casos graves de covid-19, mas são menos eficientes contra a transmissão.

Ao receber o medicamento diretamente nas mucosas nasais, os pacientes têm menos carga viral nos pulmões, "ou seja, são casos menos graves e em consequência há menos risco de transmissão", explica Nathalie Mielcarek.

No momento, existe apenas um modelo de vacina intranasal utilizado, contra a gripe, nos Estados Unidos. De acordo com a OMS, há oito tratamentos em fase de avaliação clínica. O mais avançado está a ser desenvolvido por um grupo de universidades e empresas chinesas. Além disso, há dezenas em estudo.

Quando surgiu a covid-19, o Instituto Pasteur na França, associado à empresa Theravectys, desenvolveu rapidamente uma vacina que codificava o antígeno Spike, a proteína que permite ao SARS-CoV2 penetrar as células.

"Testamos diversas vias de administração e detetamos, nos ensaios pré-clínicos, que quando a injeção era realizada por via intranasal se alcançava a erradicação completa do vírus em animais", explica a diretora de pesquisa do laboratório conjunto, Laleh Majlessi.

Outra vantagem do método intranasal é que representa uma barreira à propagação do vírus no cérebro. Além disso, esta vacina parece ser eficaz contra todas as variantes do Sars-CoV-2, segundo Laleh Majlessi.

A vacina intranasal pode ser uma maneira eficaz de aplicar uma dose de reforço, nos países onde a população já recebeu duas doses prévias.

Ao permitir a redução da transmissão do vírus "poderia permitir um retorno à vida normal antes da pandemia, sem distanciamento social e sem máscara", imagina Isabelle Dimier-Poisson. In “MadreMedia Sapo” – Portugal com “AFP”

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