Na Escola Portuguesa de Macau, os jovens cuja primeira língua falada não é o Português já representam mais de metade do total de alunos, o que constitui um desafio para a instituição delinear estratégias específicas, segundo o presidente da direcção. Manuel Machado referiu ao Jornal Tribuna de Macau que esse número tem vindo a crescer devido à grande procura da Língua Portuguesa
O
presidente da direcção da Escola Portuguesa de Macau (EPM) reconhece que os
“desafios são muitos” no que toca aos jovens cuja primeira língua falada não é
o Português, um grupo que representou 51% dos alunos matriculados no
estabelecimento de ensino no ano lectivo de 2020/2021, passando a estar em
maioria pela primeira vez na história da instituição. Em concreto, 341
estudantes num universo de 667 registados no início do ano lectivo anterior não
eram falantes nativos de Português – 231 tinham o Chinês como primeira língua,
90 o Inglês e 20 outros idiomas.
“A
tendência de alunos cuja primeira língua falada não é o Português é para
estabilizar. Este ano houve bastantes pedidos de matrícula na EPM que não
puderam ser atendidos pelo facto de alguns candidatos não terem o domínio
suficiente da Língua Portuguesa para acompanhar o nosso currículo. Acredito que
não haverá um grande aumento nesta percentagem nos próximos anos, até porque
temos um espaço limitado, e tudo depende da procura”, referiu Manuel Machado.
O
mesmo responsável clarificou a forma como é feita a distinção curricular entre
os alunos capazes de terem o ensino normal em Português e outros que necessitam
de um “reforço”, o chamado programa de “Português Língua Não Materna” (PLNM).
“Os
alunos do PLNM têm um currículo que lhes permite ter mais aulas semanais e
terem exames nacionais adaptados, porque estão em condições de o fazer, por
serem alunos que de uma maneira geral não têm a Língua Portuguesa como primeira
língua. Estes dados são retirados dos boletins de matrícula, mas a constatação
dos professores é de que há mais alunos a necessitarem de frequentar o PLNM do
que aquilo que está registado nestes boletins”, referiu.
Manuel
Machado também salientou ser necessário um planeamento detalhado para
identificar os alunos que necessitam de mais ajuda no ensino da Língua
Portuguesa.
“Os
desafios são muitos desde há vários anos. São muitos porque, enquanto EPM, com
currículo português e língua veicular portuguesa, ao admitirmos alunos que não
são fluentes e não dominam bem o português o suficiente para poderem fazer o
acompanhamento do nosso currículo, temos de lhes dar ferramentas necessárias. E
isso passa pelo delinear de estratégias muitas claras e objectivas no sentido
de ir ao encontro das necessidades que os alunos apresentam, por forma a que,
ao longo dos anos, seja possível auxiliá-los para que tenham sucesso no seu
processo de ensino e de aprendizagem”, salientou.
No
período de férias do Verão, durante duas semanas, foram dadas aulas de
português a uma série de crianças que terminaram o 2º ano, “com o objectivo de
não esquecerem a língua e ajudar a colmatar certas lacunas apresentadas por estes
alunos no sentido de lhes facilitar a frequência no 3º ano”, revelou.
Para
o presidente da direcção, o aumento da procura de alunos deve-se à maneira como
os encarregados de educação de diversas comunidades olham para a EPM enquanto
opção viável para o futuro dos seus filhos.
“É
o resultado de um crescimento que tem vindo a acontecer ao longo do tempo. A
EPM tem de facto sido procurada por elementos de todas as comunidades
residentes em Macau, nomeadamente aquelas que não dominam o português. É pelo
nosso currículo e pela possibilidade dos alunos irem estudar para Portugal depois
do ensino secundário e pelas características próprias da nossa escola, que são
atractivas para os encarregados de educação”, assegurou.
Número de alunos subiu 26% desde 2015
De
acordo com os dados da EPM analisados por este jornal, o número total de alunos
tem registado uma curva ascendente contínua nos últimos anos. Actualmente, a
instituição conta com 39 turmas com 694 alunos, cerca de mais 30 do que no
final do ano anterior e mais 25,95% do que os 551 contabilizados em 2015/2016.
Há seis anos, os alunos que não tinham o Português como primeira língua falada
representavam apenas 29% do total.
O
curso de português como língua estrangeira da EPM registou 112 alunos no fim do
ano lectivo do ano passado e prevê-se a abertura de “seis turmas para este
ano”. Quanto à matrícula por via de ensino A ou B, “houve alguma diminuição na
via A (frequência obrigatória do Mandarim), sobretudo no ensino secundário” no
último ano lectivo.
No
capítulo dos docentes, a EPM conta agora com 64, sendo que “um está a tempo
parcial e seis estão a tempo inteiro no âmbito do protocolo que a Fundação da
EPM tem com a DSEDJ [Direcção dos Serviços de Educação e de Desenvolvimento da
Juventude] em escolas da RAEM, e há alguns a tempo parcial”, explicou Manuel
Machado.
Há
também quatro profissionais de ensino especial e duas psicólogas. “Houve uma
diminuição no número de psicólogas (eram cinco no ano passado) mas já existem
pessoas contactadas em Portugal que poderão vir quando houver abertura de
fronteiras”, assegurou. O número de alunos com necessidades especiais subiu de
66 no final do ano lectivo passado para 69 actualmente.
Já
sobre o pessoal especializado, o presidente da direcção esclareceu que a escola
tem direito “a seis elementos, mas ainda estamos com cinco porque não tem sido
fácil a contratação de mais uma pessoa devido às habilitações que são
exigidas”.
Sobre
os resultados dos alunos no ano passado, houve algumas reprovações, contudo,
Manuel Machado destacou duas do 1º ciclo. “As duas reprovações no 2º ano têm a
ver com a necessidade que se sentiu dos alunos repetirem, mas foi conversado
com os professores e encarregados de educação, e estes deram o seu aval para as
crianças repetirem o ano”, indicou.
Propinas em alta
O
valor das propinas da EPM de 2021/2022 aumentou em todos os ciclos,
relativamente ao ano lectivo passado, segundo confirmou Manuel Machado. O
montante anual mais elevado é do ensino secundário, fixado em 44060 patacas,
seguindo-se do 3º (41710), 2º (37510) e 1º ciclo (35010). O valor aumentou 4720
patacas no ensino secundário, 4470 no 3º ciclo, 4020 no 2º ciclo e 3750 no 1º
ciclo em relação ao período 2020/2021.
Já
o montante dos subsídios atribuídos pela DSEDJ manteve-se inalterado em relação
ao ano lectivo transacto. Para o 1º e 2º ciclos o organismo concede 23140
patacas. Para o 3º ciclo e ensino secundário o montante atinge 25480 patacas.
Assim,
o valor a pagar pelos encarregados de educação (portadores de BIR) também
aumentou para 11870 no 1º ciclo, 14370 no 2º e 16230 no 3º, e para 18580 no
ensino secundário. Martim Silva – Macau in “Jornal
Tribuna de Macau”
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