Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

sexta-feira, 24 de setembro de 2021

Macau - Português não é a primeira língua da maioria dos alunos da Escola Portuguesa de Macau

Na Escola Portuguesa de Macau, os jovens cuja primeira língua falada não é o Português já representam mais de metade do total de alunos, o que constitui um desafio para a instituição delinear estratégias específicas, segundo o presidente da direcção. Manuel Machado referiu ao Jornal Tribuna de Macau que esse número tem vindo a crescer devido à grande procura da Língua Portuguesa

O presidente da direcção da Escola Portuguesa de Macau (EPM) reconhece que os “desafios são muitos” no que toca aos jovens cuja primeira língua falada não é o Português, um grupo que representou 51% dos alunos matriculados no estabelecimento de ensino no ano lectivo de 2020/2021, passando a estar em maioria pela primeira vez na história da instituição. Em concreto, 341 estudantes num universo de 667 registados no início do ano lectivo anterior não eram falantes nativos de Português – 231 tinham o Chinês como primeira língua, 90 o Inglês e 20 outros idiomas.

“A tendência de alunos cuja primeira língua falada não é o Português é para estabilizar. Este ano houve bastantes pedidos de matrícula na EPM que não puderam ser atendidos pelo facto de alguns candidatos não terem o domínio suficiente da Língua Portuguesa para acompanhar o nosso currículo. Acredito que não haverá um grande aumento nesta percentagem nos próximos anos, até porque temos um espaço limitado, e tudo depende da procura”, referiu Manuel Machado.

O mesmo responsável clarificou a forma como é feita a distinção curricular entre os alunos capazes de terem o ensino normal em Português e outros que necessitam de um “reforço”, o chamado programa de “Português Língua Não Materna” (PLNM).

“Os alunos do PLNM têm um currículo que lhes permite ter mais aulas semanais e terem exames nacionais adaptados, porque estão em condições de o fazer, por serem alunos que de uma maneira geral não têm a Língua Portuguesa como primeira língua. Estes dados são retirados dos boletins de matrícula, mas a constatação dos professores é de que há mais alunos a necessitarem de frequentar o PLNM do que aquilo que está registado nestes boletins”, referiu.

Manuel Machado também salientou ser necessário um planeamento detalhado para identificar os alunos que necessitam de mais ajuda no ensino da Língua Portuguesa.

“Os desafios são muitos desde há vários anos. São muitos porque, enquanto EPM, com currículo português e língua veicular portuguesa, ao admitirmos alunos que não são fluentes e não dominam bem o português o suficiente para poderem fazer o acompanhamento do nosso currículo, temos de lhes dar ferramentas necessárias. E isso passa pelo delinear de estratégias muitas claras e objectivas no sentido de ir ao encontro das necessidades que os alunos apresentam, por forma a que, ao longo dos anos, seja possível auxiliá-los para que tenham sucesso no seu processo de ensino e de aprendizagem”, salientou.

No período de férias do Verão, durante duas semanas, foram dadas aulas de português a uma série de crianças que terminaram o 2º ano, “com o objectivo de não esquecerem a língua e ajudar a colmatar certas lacunas apresentadas por estes alunos no sentido de lhes facilitar a frequência no 3º ano”, revelou.

Para o presidente da direcção, o aumento da procura de alunos deve-se à maneira como os encarregados de educação de diversas comunidades olham para a EPM enquanto opção viável para o futuro dos seus filhos.

“É o resultado de um crescimento que tem vindo a acontecer ao longo do tempo. A EPM tem de facto sido procurada por elementos de todas as comunidades residentes em Macau, nomeadamente aquelas que não dominam o português. É pelo nosso currículo e pela possibilidade dos alunos irem estudar para Portugal depois do ensino secundário e pelas características próprias da nossa escola, que são atractivas para os encarregados de educação”, assegurou.

Número de alunos subiu 26% desde 2015

De acordo com os dados da EPM analisados por este jornal, o número total de alunos tem registado uma curva ascendente contínua nos últimos anos. Actualmente, a instituição conta com 39 turmas com 694 alunos, cerca de mais 30 do que no final do ano anterior e mais 25,95% do que os 551 contabilizados em 2015/2016. Há seis anos, os alunos que não tinham o Português como primeira língua falada representavam apenas 29% do total.

O curso de português como língua estrangeira da EPM registou 112 alunos no fim do ano lectivo do ano passado e prevê-se a abertura de “seis turmas para este ano”. Quanto à matrícula por via de ensino A ou B, “houve alguma diminuição na via A (frequência obrigatória do Mandarim), sobretudo no ensino secundário” no último ano lectivo.

No capítulo dos docentes, a EPM conta agora com 64, sendo que “um está a tempo parcial e seis estão a tempo inteiro no âmbito do protocolo que a Fundação da EPM tem com a DSEDJ [Direcção dos Serviços de Educação e de Desenvolvimento da Juventude] em escolas da RAEM, e há alguns a tempo parcial”, explicou Manuel Machado.

Há também quatro profissionais de ensino especial e duas psicólogas. “Houve uma diminuição no número de psicólogas (eram cinco no ano passado) mas já existem pessoas contactadas em Portugal que poderão vir quando houver abertura de fronteiras”, assegurou. O número de alunos com necessidades especiais subiu de 66 no final do ano lectivo passado para 69 actualmente.

Já sobre o pessoal especializado, o presidente da direcção esclareceu que a escola tem direito “a seis elementos, mas ainda estamos com cinco porque não tem sido fácil a contratação de mais uma pessoa devido às habilitações que são exigidas”.

Sobre os resultados dos alunos no ano passado, houve algumas reprovações, contudo, Manuel Machado destacou duas do 1º ciclo. “As duas reprovações no 2º ano têm a ver com a necessidade que se sentiu dos alunos repetirem, mas foi conversado com os professores e encarregados de educação, e estes deram o seu aval para as crianças repetirem o ano”, indicou.

Propinas em alta

O valor das propinas da EPM de 2021/2022 aumentou em todos os ciclos, relativamente ao ano lectivo passado, segundo confirmou Manuel Machado. O montante anual mais elevado é do ensino secundário, fixado em 44060 patacas, seguindo-se do 3º (41710), 2º (37510) e 1º ciclo (35010). O valor aumentou 4720 patacas no ensino secundário, 4470 no 3º ciclo, 4020 no 2º ciclo e 3750 no 1º ciclo em relação ao período 2020/2021.

Já o montante dos subsídios atribuídos pela DSEDJ manteve-se inalterado em relação ao ano lectivo transacto. Para o 1º e 2º ciclos o organismo concede 23140 patacas. Para o 3º ciclo e ensino secundário o montante atinge 25480 patacas.

Assim, o valor a pagar pelos encarregados de educação (portadores de BIR) também aumentou para 11870 no 1º ciclo, 14370 no 2º e 16230 no 3º, e para 18580 no ensino secundário. Martim Silva – Macau in “Jornal Tribuna de Macau”


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