Exposições com porcos de peluches, ornamentos com desenhos animados japoneses e misses do Vietname. A utilização do Teatro D. Pedro V está a ser criticada por falta de elementos que respeitem o seu passado cultural. No entanto, um representante da associação de proprietários diz que estas actividades são “expressões da cultura chinesa”
Descendentes
dos fundadores do Teatro D. Pedro V criticam a forma como o espaço está a ser utilizado,
principalmente devido a exposições e ornamentos que não respeitam o que
consideram ser a sua tradição artística. Em causa está uma exposição organizada
em 2019, com peluches de porcos e fotografias de misses (alguns dos materiais
ainda estão no espaço), assim como desenhos animados japoneses e outras
decorações, que adornam o teatro construído em 1860.
Ao
HM, Henrique Nolasco da Silva, bisneto de um dos fundadores e filho de antigo
presidente da Direcção da Associação dos Proprietários do Teatro D. Pedro V,
aponta que a decoração desprestigia o espaço. “Essas exposições nada têm a ver
com o património cultural de Macau, considerando que se trata de um edifício
classificado como tendo valor cultural, não só para a RAEM como também para a
Humanidade”, começou por considerar Nolasco da Silva. “Nenhum daqueles temas
tem alguma relação, próxima ou remota, com Macau. São realizações que
desprestigiam o imóvel, desvirtuam o fim para que ele foi construído e
subvertem os pressupostos da sua classificação pela UNESCO”, acrescentou.
Questionado
sobre se o espaço tem ignorado as comunidades portuguesa e macaense, Henrique
Nolasco da Silva aceitou a hipótese e promete acompanhar o caso: “Completamente
[ignoradas]. As exposições e actividades que ali estão a ser realizadas são
legítimas, mas noutro local, não ali. Os porcos de peluche cor-de-rosa, por
exemplo, podem ficar enquadrados numa feira de domingo no Tap Seac, mas não
ali”, disse. “Esta questão do Teatro D. Pedro V deve ser objecto de uma
reflexão colectiva, pelo que o grupo de descendentes dos fundadores e
dirigentes históricos do Teatro vai continuar a dedicar-lhe particular
atenção”, prometeu.
Elogios ao Instituto Cultural
Também
Catarina Canavarro Ramos, neta de outros dos fundadores, afirmou estar preocupada
com a utilização do espaço. “A preservação física do imóvel está bem feita,
mérito do Instituto Cultural e a sua utilização pelo IC respeita a história do
Teatro, mas a utilização feita pela suposta Direcção da Associação dos
Proprietários do Teatro D. Pedro V é, como já foi dito, absolutamente
imprópria, só possível por parte de quem não faça ideia do passado do Teatro”,
apontou a descendente.
“O
indivíduo que se apresenta como Presidente da Direcção tentou vendê-lo ao IC.
Não é por acaso. Deve referir-se que essa má utilização pode estar a ser feita
com o apoio ou, pelo menos, a inércia do Clube Macau que ocupava uma parte do
edifício”, acrescentou. “Portanto, o espaço, embora preservado fisicamente, é
culturalmente abusado por essas pessoas e, nessa medida, não está a ser
preservado”, concluiu.
Responsabilidades alheias
Confrontado
com as críticas, Ma Lin Chong, representante da Direcção da Associação dos
Proprietários do Teatro D. Pedro V, explicou que o conteúdo das exposições é
dos organizadores, a quem o espaço é disponibilizado sem qualquer custo. “A
exposição já foi um evento de 2019, o espaço serve principalmente a finalidade
para emprestar.
Se
pergunta se os conteúdos da exposição são correctos ou não, se pergunta se as
pessoas se queixam ou não, cada um tem sua opinião”, afirmou Ma. “Os membros da
associação de proprietários têm autonomia para decidir, e a nossa prática é
deixar o público utilizar o espaço para qualquer actividade, desde que não
violem as leis”, acrescentou.
Nas
declarações prestadas ao HM, em momento alguns os descendentes dos fundadores
do Teatro D. Pedro V questionaram actividades ligadas à cultura chinesa, como
as estátuas taoistas, símbolos nacionais ou a realização de ópera cantonesa. A
postura demonstrada foi de aceitação da expressão artística das várias
comunidades de Macau.
Porém,
Ma Lin Chong considera que o problema dos fundadores é de promoção dos valores
chineses, como diz ter acontecido na exposição com fotografias de misses do
Vietname: “A escultura em bambu [com misses do Vietname e porcos de peluche] é
uma das artes da China. Acho que estas queixas são 100 por cento injustas. Na
verdade, a soberania de Macau já foi transferida [para a China], e a divulgação
da cultura chinesa corresponde à tendência corrente”, respondeu. João Filipe
e Nunu Wu – Macau In “Hoje Macau”
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