Uma crítica divertida, em jeito de revista, vai dar corpo a mais uma peça teatral do grupo Dóci Papiaçám di Macau, a ser exibido ao público em finais de Maio, encerrando a 33ª edição do Festival de Artes de Macau com uma versão ampliada e inédita de três espectáculos. “Oh, Que Arraial!” é o nome do espectáculo, que, segundo Miguel de Senna Fernandes, constitui uma sátira sobre o regresso do território a uma “vida normal”, depois de terem terminado as restrições da pandemia. “O autêntico carnaval que tem pautado a atribuição de subsídios às associações, por exemplo, merece uma sátira como esta”, diz o director do grupo
Está
levantado o véu sobre o tema do próximo espectáculo do Grupo de Teatro Dóci
Papiaçám di Macau, que este ano encerrará o Festival de Artes de Macau, em
finais de Maio, naquela que será a 33ª edição do evento.
A
peça teatral apresenta o nome em português de “Oh, Que Arraial!” e em patuá
“Chau-Chau La-Lau Di Carnaval”, numa alusão ao momento do território no
regresso à normalidade, com a chegada de muitos turistas, ultrapassada que está
a fase negra da pandemia, que praticamente fez parar a economia local. Esta realidade
será abordada durante as cerca de duas horas de duração do espectáculo, que já
está a ser preparado há duas semanas e que terá lugar no Grande Auditório do
Centro Cultural de Macau.
A
sinopse, numa versão mais curta do texto original, todo ele escrito por Miguel
de Senna Fernandes, refere que “Macau na era pós pandemia volta a abrir as
portas para os turistas”. E acrescenta: “Num novo programa cultural de
revitalização dos bairros, o nosso bairro é seleccionado como experiência
piloto, onde terá lugar um arraial, a culminar com um espectáculo de
variedades”.
No
texto, escrito pelo criador da peça de teatro, lê-se ainda que “a notícia é
recebida com muito agrado e todos se prontificam para aderir à festa,
oferecendo-se para actuações diversas. Todavia, para atrair o maior número de
pessoas, e para espanto do bairro, é contratado um artista de fora para
abrilhantar a festa”.
Miguel
de Senna Fernandes vai mais longe ao considerar que tudo o que se está a passar
em Macau é um autêntico carnaval, ou arraial, “no bom sentido”. “Por um lado é
a chegada dos turistas, por outro o crescimento da economia” e, a nível
interno, “uma espécie de carnaval, com a dificuldade das associações em obter
subsídios e a depararem-se com os critérios agora adoptados pelo Governo, que
só apoia carnavais para atrair turistas”.
“E
porque não fazer uma peça aludindo a este momento de Macau?” – pensou o
director dos Dóci Papiaçám di Macau, para quem “o carnaval ou o arraial, é tudo
festivo e que, diga-se, não está errado e não deixa de ser hilariante”.
“Vai
ser engraçado e penso que o público vai gostar, porque há margem para muita
piada”, assegurou Miguel de Senna Fernandes ao Jornal Tribuna de Macau.
Trata-se
de uma peça tipo “revista”, onde serão inseridos momentos com música, “por
isso, é mesmo um teatro revisteiro”. “Não é um musical tradicional, não temos
condições para isso, mas é uma forma de entretenimento”, explicou.
Recorde-se
que, na edição do ano passado do Festival de Artes, o grupo Dóci Papiaçám di
Macau apresentou a peça “Lorcha di Amor” (Cruzeiro do Amor). Os dois
espectáculos protagonizados em 2022 voltaram a conquistar o público local,
sendo que, entre a assistência, destacaram-se personalidades como o director do
Gabinete de Ligação do Governo Central, o Comissário do Ministério dos Negócios
Estrangeiros da China na RAEM, a Secretária para os Assuntos Sociais e Cultura,
o Secretário para os Transportes e Obras Públicas e a presidente do Instituto
Cultural.
Peça será exibida durante três dias
A
introdução de trechos musicais tem sido adoptada já há quatro ou cinco anos,
algo que “tem sido bem recebido pelo público”. Desta vez, os espectadores terão
igualmente a possibilidade de assistir a alguns vídeos, adiantou ainda o líder
do núcleo de divulgação do patuá.
O
espectáculo vai ser exibido durante três dias, no fim-de-semana de 26, 27 e 28
de Maio, o que nunca havia acontecido desde que o grupo iniciou a produção de
peças de teatro, há 30 anos. Além disso, desta feita acontecerá não no meio do
Festival de Artes de Macau, mas no dia de encerramento, “a nosso pedido, porque
assim temos mais tempo para preparar”, revelou Miguel de Senna Fernandes.
Os
ensaios de “Oh, Que Arraial!” estão na fase de acerto das primeiras cenas, que,
para o autor do guião, “são fundamentais”. O advogado e escritor, que foi o
responsável por todos os textos das peças de teatro do grupo desde o arranque
em 1993, volta a escrever diálogos para todos os participantes que estarão em
palco, cerca de 16.
A
partir de 1993, só se registaram duas interrupções nos espectáculos levados à
cena, uma em 1998 e outra em 2020, neste último caso devido à pandemia, quando
“já tínhamos uma história a meio”, relembra Miguel de Senna Fernandes.
O
grupo Dóci Papiaçám di Macau completa assim 30 anos de existência e de produção
de espectáculos, e a nova peça será por isso a grande aposta em termos de
comemorações do aniversário.
Miguel
de Senna Fernandes recorda a primeira actuação do grupo: “Estreámos a 30 de
Outubro de 1993 e nessa altura foi apenas um mero apontamento, integrado na
inauguração do Teatro D. Pedro V, porque o grande cartaz era a presença do
cantor português Fernando Tordo”.
A assistir
àquele espectáculo esteve o então Presidente português, Mário Soares, além de
outras individualidades, entre as quais o Governador Rocha Vieira. A peça
intitulada “Olâ Pisidente” em patuá (“Ver o Presidente”, em português), foi
apresentada precisamente em honra do Chefe de Estado de Portugal.
No
que diz respeito a outros eventos que acontecerão neste ano de aniversário do
grupo, está agendada uma festa, “com um jantar comemorativo, onde haverá
certamente um palco e muita gente que quererá participar, mas ainda não sabemos
em que termos”, adiantou o líder dos Dóci Papiaçám di Macau.
Miguel
de Senna Fernandes confessou ainda que será um ano complicado a nível pessoal:
“Tenho igualmente as celebrações do centenário do meu pai e não vai ser fácil
gerir tudo isto, mas faço com todo o gosto”. Vitor Rebelo – Macau in “Jornal
Tribuna de Macau”
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