Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

quarta-feira, 15 de março de 2023

Macau - “Associações como a Casa de Portugal têm de ser tratadas de forma diferente”

O mês de Março já vai a meio, mas as associações continuam à espera dos subsídios pedidos à Fundação Macau. Amélia António diz que “é impossível viver assim”, principalmente para associações, como a Casa de Portugal, “que têm uma actividade permanente”. A presidente da Casa de Portugal volta a contestar os critérios e lamenta que não haja uma diferença entre as entidades que têm uma actividade regular e as que apenas realizam iniciativas esporádicas. De entre os eventos para este ano, quer que haja continuidade do Arraial de São João


“A situação tem de ser vista e analisada de forma diferente. As associações não são todas iguais e aquelas cuja actividade é permanente não podem ser tratadas da mesma maneira”, começou por dizer, ao Jornal Tribuna de Macau, Amélia António, presidente da Casa de Portugal, numa altura em que continua a expectativa em relação à atribuição de subsídios “e quando isso irá acontecer”.

A advogada de profissão considera que “a maioria das associações de Macau não tem uma almofada”, ou seja, não possuem dinheiro disponível e são obrigadas a recorrer ao crédito bancário, “que mesmo assim não é fácil”, porque é necessário “pagar juros e apresentar garantias”.

“Quem é que gere uma associação nestas condições?”, questiona Amélia António, lembrando que algumas actividades da Casa de Portugal são “permanentes”, como é o caso da Escola de Artes e Ofícios, pelo que têm encargos próprios. “Têm de trabalhar sempre, não podem parar”, frisou, observando ainda que também há os projectos a que as associações concorrem, “como é também o nosso caso”.

No ano passado, a Casa de Portugal só recebeu o primeiro subsídio em Agosto “e por este andar a situação poderá repetir-se, o que nos vai criar muitos problemas”, lamentou a responsável pela associação de matriz portuguesa, para quem “no passado isto não acontecia desta forma”, desde logo a retenção de 10% do subsídio antes do final do ano, ficando pendente até que as contas sejam apresentadas à Fundação Macau.

“A falta desse montante significa desde logo que ficamos descalços, uma vez que era necessário para actividades de Dezembro”, explicou Amélia António.

As associações têm de entregar um relatório de auditoria, porém, este só pode ser apresentado “depois das contas estarem fechadas”. Portanto, acentuou, “isso leva bastante tempo e as nossas necessidades permanecem, com o dia-a-dia da escola, as instalações, os pagamentos aos formadores, e outras despesas”.

Organizar actividades novas sem dinheiro “é difícil”

A presidente da Casa de Portugal referiu que a associação “anda a recompor as coisas e a perceber a nova situação, uma vez que são muitas vertentes que mexem umas com as outras”. Sem os indispensáveis subsídios, “torna-se quase impossível trabalhar”, ou pelo menos “saber com o que podemos contar, o que vai acontecer”, insistiu.

Na actividade para 2023, nomeadamente no que diz respeito a algumas coisas novas, tudo vai depender dos fundos. “Queríamos fazer algumas coisas novas, mas não posso estar agora a anunciar, porque não sabemos que dinheiro vamos ter para isso”, ressalvou Amélia António.

A presidente da Casa dá o exemplo do Arraial de São João, no qual a sua associação tem colaborado na organização desde o primeiro ano, juntamente com outras entidades (que praticamente não dispõem de subsídios para o efeito), e que estava a crescer antes da pandemia. “É um evento colectivo, bastante popular e que ultrapassa já fronteiras. Estava a crescer”, salientou.

Agora, quando quase todas as restrições pandémicas foram anuladas, a presidente da Casa de Portugal volta a colocar questões: “Abraça-se de novo o projecto para que haja continuidade ou não? Tem interesse turístico, cultural, ou não? Eu penso que tem e que deveria continuar, porque é um cartaz de Macau”.

Amélia António ainda não teve grande oportunidade de expor ao novo Cônsul-Geral de Portugal, cara a cara, todas as preocupações da sua associação. “Tivemos apenas uma conversa de apresentação, juntamente com outras associações, e por isso não deu para entrar em grandes detalhes, foi apenas um resumo”, esclareceu.

Relativamente ao primeiro contacto com Alexandre Leitão, “o que posso para já dizer é que mostrou interesse e vontade”. “Interesse em conhecer e vontade para fazer o que for possível para tentar resolver os problemas que as associações têm pela frente, que é uma história antiga. O novo Cônsul terá muito trabalho para perceber as realidades”, afirmou.

Por outro lado, para já, Amélia António não quer pensar nas eleições agendadas para este ano e que, tudo indica, deverão reconduzir a actual presidente para mais um mandato, uma vez que não se perfilha até esta altura um sucessor. “Temos primeiro de fazer uma assembleia geral, para aprovação de relatório e contas, que espero seja durante este mês de Março, e só depois então debruçar-me sobre as eleições”, concluiu a número um da Casa de Portugal, que ocupa o cargo desde 2005. Vitor Rebelo – Macau in “Jornal Tribuna de Macau”


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