Vasco Rocha Vieira, último Governador de Macau antes da transferência, defende que Portugal deve dar maior atenção à Escola Portuguesa de Macau, nomeadamente através do fomento do diálogo com as instituições portuguesas no território. Foi o que defendeu em declarações aos jornalistas, observando que a Língua Portuguesa é um “trunfo”, uma vez que se está a “afirmar” no mundo e que a China tem nela cada vez maior interesse. Disse ainda que a visita do Chefe do Executivo a Portugal “é um grande sinal das boas relações” entre as duas partes
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de três anos depois de ter estado pela última vez no território, o último
Governador de Macau durante a administração portuguesa, Vasco Rocha Vieira,
regressou agora a Macau a propósito da atribuição, pela Universidade de Ciência
e Tecnologia de Macau (UCTM), de um doutoramento honoris causa em Ciências
Sociais. “Voltar a Macau é sempre muito agradável. Todas as pessoas que aqui
estiveram, viveram e trabalharam têm Macau no coração, como eu tenho, portanto,
voltar aqui nestas circunstâncias é muito agradável”, começou por dizer aos
jornalistas.
Rocha
Vieira falou depois do desenvolvimento da RAEM e da integração do território na
China continental – a este propósito, disse não ter receio de que a cada vez
maior aproximação ao Continente chinês possa interferir com as garantias
acordadas entre Portugal e a China aquando da transferência. O ex-Governador de
Macau considera ainda que o facto de haver “relações tão boas” com a China,
principalmente devido à história com Macau, é um “trunfo” para Portugal no seio
da União Europeia. Defendeu também que deve ser dada à Escola Portuguesa de
Macau (EPM) uma maior atenção por parte de Portugal. “O Português é um trunfo
muitíssimo grande”, observou.
“Acho
que da parte de Portugal tem de haver mais interesse pela Escola Portuguesa,
porque o Português está-se a afirmar no mundo, a China está interessada em que
o Português se desenvolva, em que as pessoas conheçam Portugal, mas é também a
maneira de, no mundo, a China poder ter, através de Portugal e neste caso da
nossa história, uma relação mais estreita com os Países de Língua Portuguesa. O
Português é um trunfo muitíssimo grande, devemos orgulhar-nos de que o
Português seja cada vez mais uma língua internacional”, afirmou Vasco Rocha
Vieira.
Em
concreto, o também curador da EPM disse que “é preciso incrementar o diálogo
entre Portugal e as instituições portuguesas que estão aqui em Macau”. Uma das
que é “talvez a mais importante” é a Escola Portuguesa, frisou, “que tem feito
um trabalho notável, reconhecido”. Rocha Vieira recordou depois que há hoje
muitas universidades chinesas que ensinam a língua de Camões, um número que tem
“crescido nos últimos anos”, e que, por isso, “temos de tirar partido desse
grande trunfo para Portugal que é o conhecimento da Língua Portuguesa”. Durante
a sua visita ao território, Rocha Vieira estará, de resto, com os elementos da
Direcção da EPM e também da Fundação da EPM.
Autonomia não pode ser “fechada”
Questionado
sobre se receia que a cada vez mais visível integração de Macau no país possa
corroer algumas das garantias acordadas entre Portugal e China aquando da
transferência de soberania, Rocha Vieira foi peremptório, disse não estar
apreensivo quanto a esta questão.
“Creio
que as garantias são dadas pelo trabalho de todos nós, por aquilo que pensamos,
dizemos, sentimos e podemos dar. E, portanto, é um compromisso de todos – das
autoridades chinesas, dos portugueses que aqui estão e das instituições
portuguesas. Sendo certo que Macau é um território único no mundo exactamente
pela miscigenação de culturas, pelo respeito mútuo das diferenças que existem e
isso é um valor extraordinário para Macau e que é reconhecido
internacionalmente”, prosseguiu.
Afirmando
que a autonomia “não pode ser uma coisa fechada”, Rocha Vieira acrescentou que
com o desenvolvimento que o território tem tido, principalmente nos últimos
anos, Macau está em condições de o fazer. “Dentro da orientação geral da China
existe a Grande Baía, acho que Macau está vocacionado para a Grande Baía muito
mais do que para a Faixa e Rota, e que é importantíssima. (…) Macau fechado não
é nada, ou é muito pouco. Portanto a abertura de Macau que se está a verificar
é extremamente importante. Acho que as coisas estão a correr bem”.
Ainda
assim, o antigo Governador frisou que “se pode sempre dizer que pode ser
melhor” – “E ainda bem que pode ser melhor, porque isso é um desafio para que
lutemos para que seja melhor”. Segundo disse, na agenda da sua passagem pelo
território está também agendada uma visita de um dia a Hengqin e à região da
Grande Baía.
Rocha
Vieira sublinhou depois ser “muito optimista” em relação ao futuro, apontando
que “Macau é um exemplo para o mundo inteiro”. “Entre Portugal e Macau houve
sempre uma relação muito estreita de cooperação, de amizade e de respeito. E
isso prolonga-se no tempo e é um valor imenso”.
Neste
sentido, defendeu que “Portugal ter relações tão boas com a China resultantes,
no fundo, principalmente de Macau, é também um trunfo para Portugal”. Na sua
opinião, Portugal pode ser “uma voz, não no sentido de influenciar destinos,
mas no sentido de dar opiniões, de aconselhar e pôr a sua experiência, amizade
e conhecimento que tem da China ao serviço da União Europeia”.
Num
mundo que hoje vive numa “instabilidade muito grande”, Rocha Vieira sublinhou
que esse papel é “importante”: “É bom que haja entidades, neste caso países,
que possam contribuir para que haja respeito, progresso e paz”. Rocha Vieira
disse também que este papel de Macau, nas boas relações históricas
sino-lusófonas continuará a existir.
“É muito bom” que Chefe visite Portugal
Por
outro lado, em relação à visita oficial do Chefe do Executivo a Portugal, o
general Vasco Rocha Vieira frisou ser “muito importante” que aquele seja o
primeiro país a receber a visita de Ho Iat Seng, desde que tomou posse, em
2019.
“Isso
é um grande sinal das boas relações e do respeito que essas relações merecem
por parte dos dirigentes chineses em relação a Portugal e de Portugal em relação
aos dirigentes chineses”, assinalou.
Apontando
que a visita surge numa boa altura, Rocha Vieira – que se encontrará também com
Ho Iat Seng em Portugal, durante a visita que decorrerá entre 18 e 22 de Abril
– acrescentou: “É sempre bom estreitarmos relações, conhecermo-nos, falarmos”.
Também
no território esteve ontem reunido com o líder da RAEM, com quem teve “sempre”
uma “relação muito boa”. “Há aqui uma relação pessoal muito amiga e respeitosa,
isso é bom porque é mais fácil as pessoas entenderem-se, falarem”.
Sem
desvendar que mensagem levaria a Ho Iat Seng, Rocha Vieira disse apenas que,
tendo em conta a relação entre ambos, seria um encontro com “verdade”.
“É
aquilo que cada um sente e os propósitos são comuns: a aproximação entre
Portugal e Macau e a resposta que temos de dar às possibilidades que se vão
abrindo, porque a China também está num processo de desenvolvimento e de
mudança muito grande. Isso merece respostas adequadas e nós estamos em
condições [para as dar] porque conhecemos a China e a China também conhece a
nossa maneira de ser”, continuou.
Rocha
Vieira deixará no sábado o território rumo a Portugal, depois de ter vindo a
convite da UCTM. Quanto ao doutoramento honoris causa que lhe foi atribuído, o
antigo Governador de Macau disse ficar satisfeito por ver que o trabalho que os
portugueses aqui deixaram é reconhecido.
A
propósito, disse ainda que o facto de haver universidades como a UCTM e também
a Universidade de Macau “contribuiu para a internacionalização” da RAEM. “A
autonomia de Macau faz-se saindo das suas fronteiras também. O ranking que hoje
as nossas universidades têm, quer a de Macau, quer esta [UCTM] é reconfortante
e é fruto de um trabalho muito sério, de gente muito competente e muito
devotada”, destacou. Catarina Pereira – Macau in “Jornal
Tribuna de Macau”
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