Um evento musical assinalou a passagem do 35º aniversário da Fundação Oriente, realizado no sábado no exterior da Casa Garden, onde marcaram presença algumas dezenas de convidados. Na mesma ocasião, Ana Paula Cleto despediu-se oficialmente do cargo de delegada da instituição, no qual será substituída por Catarina Cottinelli, a partir de Abril. Ana Paula Cleto agradeceu às associações culturais, aos artistas, aos criadores, ao Governo de Macau, “por terem ajudado a fazer um melhor trabalho”, nestes 13 anos em que foi responsável pela Fundação Oriente no território, considerando que a instituição “desempenhou um importantíssimo papel no espaço cultural e não só”
Espectáculo
ao ar livre nos jardins da Casa Garden, com canções brasileiras de Bossa Nova,
interpretadas por Jandira Silva, e de fado, na voz de Rita Portela, preencheram
o final de tarde de sábado de algumas dezenas de convidados, onde não faltaram,
entre outros, Raimundo do Rosário, Secretário para os Transportes e Obras
Públicas e Alexandre Leitão, Cônsul de Portugal para Macau e Hong Kong.
Lá
estiveram também diversos artistas e associações culturais do território, para
um evento que serviu para assinalar os 35 anos da Fundação Oriente (FO), ao
mesmo tempo que marcou a despedida oficial de Ana Paula Cleto como delegada da
instituição, cargo que irá ser ocupado, a partir de Abril, por Catarina
Cottinelli.
No
seu discurso e antes das actuações musicais, Ana Paula Cleto agradeceu todo o
apoio prestado neste período em que foi delegada da Fundação Oriente em Macau,
associações culturais, artistas, criadores, Governo e amigos, “que ajudaram a
fazer um melhor trabalho”, desejando depois sucesso à sua sucessora.
Logo
a seguir ao programa musical e no decorrer de um cocktail que juntou bastantes
convidados, Ana Paula Cleto falou ao Jornal Tribuna de Macau sobre o período em
que esteve envolvida na orientação das actividades da FO em Macau, reforçando a
ideia de a presença da Fundação Oriente, “antes da minha participação como
delegada”, já desempenhava – porque nasceu aqui a 18 de Março de 1988 – “um
papel importantíssimo para o espaço cultural e não só, também educativo,
filantrópico, social”.
A
delegada cessante da FO diz que “é importante relembrar que a Fundação é sócia
fundadora do Instituto Português do Oriente e tem ainda hoje uma presença muito
forte naquele Instituto, isto para além de ter sido igualmente importante no
lançamento da Escola Portuguesa”.
Num
balanço da sua permanência no cargo, Ana Paula Cleto considera que “foi um
trabalho de continuidade daquilo que a Fundação Oriente vinha fazendo há vários
anos, mas, claro, todos nós somos pessoas diferentes umas das outras”.
Recordando a passagem dos seus antecessores, João Amorim e Rui Rocha, defendeu
que “todos nós fizemos um bom trabalho”.
Projectos delineados até ao final do ano
A
ainda delegada, uma vez que irá gozar férias antes de oficialmente sair do
cargo e passar o testemunho a Catarina Cottinelli, deixa projectos já aprovados
para todo o ano de 2023. “Eu defini esse plano, porque é estabelecido no ano
anterior, fui que o programei, só que não sou eu que os vou concretizar”.
No
entanto, garante, “vou dar apoio à Catarina Cottinelli, sempre que me for
solicitado, porque estou disponível para ajudar”.
A
saída, decidida de livre vontade, em pleno período da pandemia, “acabou por ser
uma consequência disso mesmo”, apesar de reconhecer que se não fosse a pandemia
talvez não tivesse decidido sair tão cedo.
“Não
estou arrependida. Foi uma decisão que começou a ser tomada há um ano, muito
pensada, é perfeitamente tranquilo, não há nenhum problema com isso. Mas, é
verdade também que a pandemia, aquilo que nós vivemos em Macau e o facto de
termos estado aqui fechados, sem fim à vista, provocou em mim alguns
sentimentos. Quero ser uma pessoa livre e isso não era uma condição que se
adaptava à minha maneira de ser. Sou uma mulher de espírito livre. Aguentei,
estive aqui estoicamente dois anos e meio sem sair, mas é altura de pensar na
vida”, relata Ana Paula Cleto.
Após
13 anos no cargo, diz que vai a Portugal por cinco meses e regressará a Macau
para mais três. “Tenho aqui uma casa, o meu marido tem uma empresa em Macau”,
portanto, a ligação vai continuar. “Não concebo a ideia de nunca mais vir a
Macau, esta é a minha terra, vivi aqui mais tempo do que em Portugal”,
confessa. “Tenho projectos pessoais e familiares e quero dedicar-me mais à
família, quero estar em Portugal, quero estar entre Portugal e Macau, mas não
tinha condições para estar aqui em permanência”.
Ana
Paula Cleto, de 62 anos, e em Macau há 33, sente-se feliz por ter decidido fazer
a partir de agora só aquilo que quer. “Estou feliz por aquilo que acho que fiz,
mas um pouco triste porque gosto da Fundação”.
No
que diz respeito à sua sucessora, salienta que Paula Cottinelli “tem muito boas
ideias, tem muita energia, portanto boa onda e penso que isso pode dar
continuidade ao trabalho que tem sido feito até agora”. “Tenho fé e acredito
que ela vai fazer tão bem ou melhor do que eu”.
A
concluir a entrevista, Paula Cleto considera que “valeu a pena todo este tempo
em que tenho permanecido em Macau, onde tenho sido muito feliz”, depois de ter
chegado com 29 anos. “Os anos mais importantes são os do amadurecimento e aqui
tive a possibilidade de conhecer gente dos mais variados quadrantes, de todos
os lados, isso dá-nos uma mundividência que não é possível vivendo só em
Portugal”.
Catarina Cottinelli quer reforçar ligação com comunidade
chinesa
Catarina
Cottinelli esteve quase sempre ao lado de Ana Paula Cleto durante o evento que
decorreu na Casa Garden, o que demonstra a proximidade que existe entre as duas
e terá também como objectivo o trabalho em conjunto nesta fase de transição.
“Conto
muito com ela, até porque o programa para este ano está já delineado e será
importante o apoio da Paula Cleto neste período inicial quando eu assumir
oficialmente o cargo”, disse a arquitecta, para quem o contacto com o exterior
será muito importante, nesta altura em que estão abertas as fronteiras, “para
que possamos trazer mais gente, não só de Portugal como de outros países”.
Numa
curta conversa, Catarina Cottinelli falou de uma aposta também no reforço da
relação com a comunidade chinesa e da Grande Baía em particular.
A
nova responsável pela Fundação Oriente em Macau espera “contar com toda a
gente” para dar continuidade ao que tem sido feito e “a Paula fez um óptimo
trabalho”.
Monjardino pede garantias para os portugueses
Carlos
Monjardino, presidente da Fundação Oriente, apelou à preservação dos interesses
dos cidadãos portugueses que vivem em Macau. No dia do 35º aniversário da
instituição, Monjardino disse à Rádio Macau que espera que os governantes da
RAEM “mantenham algumas garantias consagradas pelos portugueses” e que estes
“não percam as condições que sempre tiveram em Macau”. Carlos Monjardino deverá
visitar o território em Abril, antes de Ho Iat Seng se deslocar a Portugal. Vitor
Rebelo – Macau in “Jornal Tribuna de Macau”
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