Projeto em curso nos laboratórios de Química Analítica da Faculdade de Ciências aponta ao desenvolvimento de baterias mais amigas do ambiente
O
que não se aproveita dos animais marinhos pode ser usado como matéria-prima
para os cientistas desenvolverem baterias mais amigas do ambiente. E já estão a
ser dados, nos laboratórios de Química Analítica da Faculdade de Ciências da
Universidade do Porto (FCUP), os primeiros passos para que isso aconteça.
Do
Instituto de Investigações Marinhas (IIM‐CSIC)
em Vigo chegam à FCUP materiais de resíduos marinhos e com eles, no Centro de
Investigação em Química da Universidade do Porto (CIQUP), os investigadores
fazem um processo de carbonização e chegam a materiais de carbono. No caso do
trabalho de doutoramento em Química, de Ana Teresa Brandão, o carbono deriva da
queima do glicogénio que é isolado das águas residuais da cozedura do mexilhão.
Ao
fazer a caracterização destes materiais, concluiu-se que estes têm elevado
potencial para aplicação em elétrodos para condensadores, um dispositivo de
armazenamento de energia mais sustentável utilizado no dia-a-dia em
equipamentos com motor como máquinas de lavar e também em telemóveis.
“O
nosso objetivo é aproximarmo-nos o máximo possível do potencial dos
condensadores existentes no mercado, nomeadamente os usados na indústria
automóvel. Pretendemos criar um composto que armazene energia o mais verde
possível e por isso estamos a usar um material obtido a partir de resíduos”,
explica Ana Teresa Brandão.
Três vezes mais capacidade de armazenamento de energia
No
ano passado, a jovem investigadora da FCUP conquistou uma bolsa que lhe
permitiu trabalhar duas semanas no Centro para a Ciência de Superfícies e
Nanotecnologia da Universidade Politécnica de Bucareste, na Roménia,
especialistas na aplicação na área da eletroquímica, e otimizar os resultados
da sua investigação.
A
bolsa foi atribuída no âmbito do European Academy of Surface Technology (EAST)
ao abrigo do programa “The Schwäbisch Gmünd Scientific Exchange Grant”. Na
estadia em Bucareste, Ana Teresa Brandão decorou o elétrodo com nanopartículas
metálicas e com dióxido de titânio e fez a sua caracterização a nível
eletroquímico.
“Chegámos
à conclusão que, juntando nanopartículas metálicas e dióxido de titânio amorfo,
há um efeito energético muito maior, pois são materiais com elevada área
superficial, o que faz aumentar a capacidade para armazenamento de energia”,
conta.
“Os
materiais de carbono com as nanopartículas de ouro e partículas de dióxido de
titânio possuem três vezes mais capacidade de armazenamento de energia do que
os materiais que apenas com carbono”, acrescenta.
Mas
os investigadores não se ficam por aqui. Pretendem também que estas baterias
sejam também mais seguras ao substituir um eletrólito (material que conduz
eletricidade, em estado líquido) por um eletrólito sólido. “Nas baterias temos
normalmente materiais líquidos – como eletrólitos – razão pela qual uma pilha
“se baba”, explica Ana Teresa Brandão.
Ana
Brandão é estudante do 4º ano do Doutoramento em Química no Laboratório
Associado IMS/CIQUP, sediado na FCUP e tem como orientadores Carlos Melo
Pereira, docente da FCUP e Renata Costa, investigadora da FCUP.
Este
trabalho começou a ser desenvolvido no âmbito do projeto IL4Energy, no qual
estão a ser desenvolvidas interfaces eletroquímicas para aplicação em
dispositivos de armazenamento de energia, nomeadamente em supercondensadores de
dupla camada. Universidade do Porto - Portugal
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