Descobertas, que mereceram destaque de capa de revista científica, abrem portas para novas formas de intervenção precoce no cancro da mama
Investigadores
do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S)
produziram uma mosca avatar para descobrir de que forma as lesões benignas da
mama se tornam cancerígenas.
Para
tal, a equipa introduziu na mosca da fruta Drosophila melanogaster um
gene humano envolvido no cancro da mama, identificaram as moléculas chave
responsáveis pela progressão de lesões benignas para malignas e validaram estas
descobertas em células mamárias humanas.
As
conclusões foram publicadas na revista científica Disease Models & Mechanisms,
com honras de capa, e permitem identificar as mulheres com lesões mamárias
benignas que têm maior risco de desenvolverem cancro da mama.
Os
tumores da mama podem ser classificados como benignos ou malignos. Os tumores
benignos são caracterizados pela presença de uma massa anormal de células não
cancerígenas que geralmente não é problemática. Contudo, apesar de alguns
tumores benignos nunca se tornarem malignos e não necessitarem de tratamento,
outros podem transformar-se em células cancerígenas, crescendo e espalhando-se
para outras partes do corpo.
Apesar
disso, todas as mulheres diagnosticadas com lesões da mama não cancerígenas
recebem tratamento farmacológico com fortes efeitos secundários porque
atualmente os médicos não conseguem prever que tumores não cancerígenos irão ou
não progredir para uma doença maligna.
Existe,
por isso, uma clara necessidade de definir novos testes capazes de identificar
as mulheres que irão beneficiar do tratamento e excluir aquelas que não
necessitam de passar por tratamentos desnecessários e nocivos.
Para
atingir esse objetivo, os grupos de investigação do i3S liderados por Florence
Janody (Cytoskeletal Regulation & Cancer), Joana Paredes (Cancer
Metastasis) e Eurico Morais de Sá (Epithelial Polarity & Cell Division)
criaram uma mosca avatar que contém um gene humano que codifica a P-caderina,
uma molécula que está presente em grande quantidade tanto em células não
cancerígenas como em células de cancro da mama.
Método mais rápido e mais barato
Florence
Janody explica que “o uso de moscas avatares para descobrir de que forma o
cancro se desenvolve tem a grande vantagem de ser mais barato e mais rápido do
que fazer experiências similares em células humanas”.
Os
autores mostraram que as células da mosca humanizada com a P-caderina se
comportam de forma semelhante às células humanas da mama que sofrem o
desenvolvimento de cancro e também identificaram que as moléculas MRTF-A e SRF,
quando ativadas pela P-caderina, convertem células não cancerígenas em células
de cancro.
Os
investigadores usaram também uma linha celular humana de mama para acompanhar o
desenvolvimento do cancro ao longo do tempo, desde um estadio “normal” passando
por não cancerígeno até um estadio de cancro da mama, para confirmar estas
observações.
Conforme
a mosca avatar já indicava, explica Florence Janody, “concluímos que a presença
de grandes quantidades da molécula P-caderina em células não cancerígenas da
mama leva à sua progressão para células de cancro através da estimulação das
moléculas MRTF-A e SRF”.
Lídia
Faria, estudante do Programa Doutoral em Biologia Molecular e Celular da
U.Porto e primeira autora do trabalho, sublinha que esta descoberta “é
igualmente crucial ao nível da intervenção precoce porque ao identificarmos
moléculas que impulsionam a progressão do cancro, podemos agir atempadamente e
prevenir esta progressão».
O
facto de a presença das moléculas P-caderina, MRTF-A e SRF em tumores da mama
não cancerígenos poder prever a sua evolução para células cancerígenas
permitirá desenvolver novas abordagens para identificar mais eficazmente as
mulheres com lesões pré-cancerígenas que realmente irão beneficiar de
intervenções terapêuticas mais invasivas. Universidade do Porto - Portugal
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