Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

segunda-feira, 6 de março de 2023

Portugal - Instituto de Investigação e Inovação em Saúde cria mosca «avatar» para explicar como lesões benignas se tornam cancerígenas

Descobertas, que mereceram destaque de capa de revista científica, abrem portas para novas formas de intervenção precoce no cancro da mama


Investigadores do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S) produziram uma mosca avatar para descobrir de que forma as lesões benignas da mama se tornam cancerígenas.

Para tal, a equipa introduziu na mosca da fruta Drosophila melanogaster um gene humano envolvido no cancro da mama, identificaram as moléculas chave responsáveis pela progressão de lesões benignas para malignas e validaram estas descobertas em células mamárias humanas.

As conclusões foram publicadas na revista científica Disease Models & Mechanisms, com honras de capa, e permitem identificar as mulheres com lesões mamárias benignas que têm maior risco de desenvolverem cancro da mama.

Os tumores da mama podem ser classificados como benignos ou malignos. Os tumores benignos são caracterizados pela presença de uma massa anormal de células não cancerígenas que geralmente não é problemática. Contudo, apesar de alguns tumores benignos nunca se tornarem malignos e não necessitarem de tratamento, outros podem transformar-se em células cancerígenas, crescendo e espalhando-se para outras partes do corpo.

Apesar disso, todas as mulheres diagnosticadas com lesões da mama não cancerígenas recebem tratamento farmacológico com fortes efeitos secundários porque atualmente os médicos não conseguem prever que tumores não cancerígenos irão ou não progredir para uma doença maligna.

Existe, por isso, uma clara necessidade de definir novos testes capazes de identificar as mulheres que irão beneficiar do tratamento e excluir aquelas que não necessitam de passar por tratamentos desnecessários e nocivos.

Para atingir esse objetivo, os grupos de investigação do i3S liderados por Florence Janody (Cytoskeletal Regulation & Cancer), Joana Paredes (Cancer Metastasis) e Eurico Morais de Sá (Epithelial Polarity & Cell Division) criaram uma mosca avatar que contém um gene humano que codifica a P-caderina, uma molécula que está presente em grande quantidade tanto em células não cancerígenas como em células de cancro da mama.

Método mais rápido e mais barato

Florence Janody explica que “o uso de moscas avatares para descobrir de que forma o cancro se desenvolve tem a grande vantagem de ser mais barato e mais rápido do que fazer experiências similares em células humanas”.

Os autores mostraram que as células da mosca humanizada com a P-caderina se comportam de forma semelhante às células humanas da mama que sofrem o desenvolvimento de cancro e também identificaram que as moléculas MRTF-A e SRF, quando ativadas pela P-caderina, convertem células não cancerígenas em células de cancro.

Os investigadores usaram também uma linha celular humana de mama para acompanhar o desenvolvimento do cancro ao longo do tempo, desde um estadio “normal” passando por não cancerígeno até um estadio de cancro da mama, para confirmar estas observações.

Conforme a mosca avatar já indicava, explica Florence Janody, “concluímos que a presença de grandes quantidades da molécula P-caderina em células não cancerígenas da mama leva à sua progressão para células de cancro através da estimulação das moléculas MRTF-A e SRF”.

Lídia Faria, estudante do Programa Doutoral em Biologia Molecular e Celular da U.Porto e primeira autora do trabalho, sublinha que esta descoberta “é igualmente crucial ao nível da intervenção precoce porque ao identificarmos moléculas que impulsionam a progressão do cancro, podemos agir atempadamente e prevenir esta progressão».

O facto de a presença das moléculas P-caderina, MRTF-A e SRF em tumores da mama não cancerígenos poder prever a sua evolução para células cancerígenas permitirá desenvolver novas abordagens para identificar mais eficazmente as mulheres com lesões pré-cancerígenas que realmente irão beneficiar de intervenções terapêuticas mais invasivas. Universidade do Porto - Portugal





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