As preocupações quotidianas dos jovens e efeitos de desastres não inibiram os poetas de falar do efeito terapêutico e didático da forma de expressão. A Unesco proclamou a celebração em 1999
Este
21 de março é o Dia Mundial da Poesia. Proclamada há 24 anos, a data promove a
homenagem à poesia, à diversidade das línguas e a trocas entre culturas.
Em
Moçambique, os jovens dizem que a inspiração não esmoreceu perante
circunstâncias como desastres naturais e outras questões que os afetam. Eles
falam da arte da declamação como terapia e ferramenta didática.
Da periferia para o mundo
Na
conversa com a ONU News, na capital Maputo, Lorna Zita enfatizou a arte e a
poesia como elementos do seu trabalho como revisora e editora da antologia Best
New African Poets, destinada a poetas e escritores do continente africano.
A
poeta considera que o seu trajeto para a literatura foi inspirado pela
professora Olinda, nos arredores de Maputo. Foi ela quem descobriu o talento na
sala de aula, enquanto frequentava a escola Primária de Khurula, no bairro da
Maxaquene.
Lorna
Zita usa o nome artístico “Black Melanin” e considera a poesia o elemento que
abriu as portas dela para o mundo.
“Ela
representa tudo aquilo que eu sempre acreditei e sonhei, gerar mudanças na
sociedade, comunidade onde eu estou inserida. A poesia provou-me que é possível
uma menina da periferia vencer as barreiras da vida e projetar-se para o mundo.
Foi através dela que eu me projetei para o Brasil, Reino Unido, Zimbabwe e
vários outros lugares onde tive oportunidade de fazer colaborações …eu seria
praticamente um ser sem luz sem a poesia, posso assim dizer.”
Já
o escritor Álvaro Fausto Taruma é autor de quatro livros publicados em
Moçambique e Portugal. Ele considera difícil definir a poesia, que inspira os
seus “rabiscos” em livro onde a temática central se alterna entre amor e morte.
“Poesia é um espaço de encontro e de admiração com o mundo. Para mim, toda a leitura do mundo resume-se na poesia. Tudo aquilo que vejo e que me permite parar e observar mais uma vez é poesia. A poesia é tudo aquilo que me proporciona ver o mundo de uma segunda vez e de uma segunda perspectiva.”
Poesia é terapia e algo didático
Jovens
de Maputo falaram do papel da poesia para as sociedades e como esta forma de
expressão terá contribuído para os jovens escritores. Álvaro Taruma falou da
função didática.
“Primeiro,
porque a poesia nos ensina a imaginar. A imaginação é uma forma de conhecimento
também. Então, a partir da poesia nós experimentamos várias possibilidades no
sentido cívico. O que funda as nossas sociedades e as diferencia é o
pensamento. Para o desenvolvimento deste pensamento, a poesia tem um caráter
fundamental.”
A
poeta reconhece que a poesia a fez conhecer o mundo, porém atribui-lhe a função
terapêutica
“Eu
sempre fui uma menina muito calma e que tinha dificuldade em partilhar as
minhas dores com as pessoas Eu encontrava isso através da escrita, tinha um
diário que escrevia tudo aquilo que me acontecia e escrevia a poesia de uma
forma intuitiva, sem saber que tinha uma veia artística para isso. A poesia foi
uma espécie de terapia e continua sendo nos dias de hoje. Mais que uma
ferramenta de libertação, eu considero a poesia como uma ferramenta de consciencialização.”
Álvaro
Fausto Taruma, é formado em sociologia com habilitação em Antropologia.
Atualmente cria conteúdo para cinema, rádio, televisão e meios digitais junto a
marcas comerciais e agências criativas em Moçambique, Angola e Portugal.
Lorna
Zita é produtora cultural, poeta. É também colaboradora da revista alemã
Contemporary and Mentoring Programme.
O
Dia Mundial da Poesia foi instituído durante a 30ª Conferência Geral da
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, Unesco em
1999. Ouri Pota – Moçambique ONU News
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