Mais de 60% dos quase 18000 cabo-verdianos que emigraram nos cinco anos anteriores ao recenseamento geral da população de Cabo Verde, realizado em 2021, foram para Portugal, acentuando a procura anterior, segundo dados oficiais
Segundo
dados do relatório sobre migrações do Instituto Nacional de Estatísticas (INE)
de Cabo Verde, nos cinco anos anteriores ao quinto Recenseamento Geral da
População e Habitação (RGPH-2021) emigraram para Portugal 11111 cabo-verdianos
(61,9%), 3196 (17,8%) para os Estados Unidos da América e 1182 (6,6%) para França.
“A
maioria dessa população saiu do país para estudar (39,6%). Seguem-se os que
saíram do país por motivo de agrupamento familiar (23,4%) e os que foram à
procura de trabalho (20%). Verifica-se também que 9,4% saíram do país por
questões de saúde”, identifica o relatório do INE.
O
documento acrescenta que a percentagem de cabo-verdianos a procurarem Portugal
como destino de emigração cifrou-se em 55% no período de 2000 a 2010.
“As
percentagens dos que foram para os Estados Unidos, quase que se manteve constante
em relação a 2010 (18%), e a dos que foram para França era de quase 9% no mesmo
ano”, lê-se.
Dos
17961 cabo-verdianos que o INE identificou como na situação de emigrante nos
últimos cinco anos antes do RGPH-2021, 10322 possuíam o ensino secundário e 2269
ensino médio ou superior.
Cabo
Verde tinha, em 2021, uma população residente de 491233 pessoas, uma ligeira
redução face a 2010, segundo dados definitivos do quinto RGPH-2021, anunciados
em abril passado pelo INE, mas muito abaixo das estimativas, que apontavam para
mais de meio milhão de habitantes.
Os
governos cabo-verdiano e português assinaram em 19 de outubro, na Praia, um
memorando de entendimento sobre Mobilidade Laboral, numa altura em que se
multiplicam ações de recrutamento de empresas portuguesas no arquipélago, para
vagas em áreas como hotelaria, restauração ou motoristas, com milhares de
candidatos cabo-verdianos a comparecerem a entrevistas para algumas dezenas de
vagas, na sequência da alteração da ratificação do acordo de mobilidade da
Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e da alteração da lei de
vistos em Portugal.
“Garantir
que há uma articulação permanente entre os organismos cabo-verdianos e os
organismos portugueses para garantir que as pessoas que vão trabalhar para
Portugal vão com a salvaguarda de todos os seus direitos, o seu enquadramento
de legislação laboral e promover o trabalho digno, procurando também que seja
feito o encontro entre as empresas que estão a identificar oportunidades de
trabalho e Cabo Verde, com uma grande intervenção também do IEFP de Cabo Verde,
para que previamente as pessoas possam também identificar as sugestões para não
ficarem em situação de vulnerabilidade ou de algum tipo de fragilidade”, disse
na ocasião a ministra do Trabalho de Portugal, Ana Mendes Godinho.
Pelo
menos 35 empresas portuguesas manifestaram interesse em recrutar trabalhadores
em Cabo Verde, mas os governos dos dois países querem centrar a condução desses
processos nos respetivos institutos de emprego para evitar redes, abusos ou
exploração em Portugal.
“A
nossa preocupação é a simplificação do processo para garantir que não há redes,
que muitas vezes até tiram vantagem de processos difíceis. E, portanto, isso
acabou, não há. É mesmo simplificar, porque quanto mais simples são os
processos mais estamos a promover a transparência e a mobilidade feita de uma
forma simples, mas também a garantir que a salvaguarda dos direitos das pessoas
que estejam em situação de mobilidade”, disse ainda a ministra Ana Mendes
Godinho.
Segundo
a governante portuguesa, através do Instituto de Emprego e de Formação
Profissional (IEFP) de Portugal já foi feito um levantamento junto das empresas
portuguesas que têm neste momento ofertas de emprego para trabalhadores
cabo-verdianos, “de forma estruturada” para organizar “estes processos de
mobilidade” e assim “evitar situações que são indignas para as próprias
pessoas”.
“No
âmbito deste levantamento que fizemos, foram sinalizadas ofertas de emprego por
parte de 35 empresas portuguesas que manifestaram interesse e ofertas de
emprego já concretas, que identificam logo o salário que se propõe a pagar, as
condições e exatamente que têm para oferecer. No fundo, garantindo a
transparência no processo, mas também organização e planeamento”, acrescentou. In “África
21” – Brasil com “Lusa”
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