O
Museu de História de Hong Kong está a preparar uma exposição sobre a centenária
presença dos lusodescendentes na região chinesa, cuja inauguração está prevista
para meados de 2023, disse ontem o coordenador do projecto. A comunidade será a
primeira a merecer destaque entre várias exposições temáticas rotativas que o
museu está a preparar, desde 2017, no âmbito de uma renovação que originalmente
estava prevista abrir ao público ainda este ano. “O lançamento da exposição foi
adiado por causa da Covid-19”, afirmou à Lusa, em Hong Kong, o investigador
Francisco da Roza. “Estamos a trabalhar para um lançamento previsto, de forma
provisória, para meados do próximo ano”, acrescentou. Num folheto sobre uma
campanha de recolha de artefactos, documentos e fotografias para a exposição, o
museu diz querer “trazer para a ribalta a excepcional história da comunidade
portuguesa em Hong Kong”.
O
museu destaca ainda “a pitoresca diversidade” dos lusodescendentes, incluindo
as tradições religiosas católicas, a gastronomia de fusão e o patuá, uma língua
crioula de base portuguesa, em risco de extinção. Os macaenses e membros da
então numerosa comunidade portuguesa em Xangai começaram a chegar logo depois
da fundação da colónia britânica, em 1841, sublinha o museu. José Maria
d’Almada e Castro foi um dos primeiros não chineses a mudar-se para a cidade,
logo no ano seguinte.
Durante
os primeiros anos do território, a comunidade eurasiática “aproveitou o talento
para as línguas e o estatuto único de ‘nem chinês nem ocidental’ para servir de
ponte entre os mercadores e funcionários do governo britânico e os chineses”,
indica.
Os
lusodescendentes “prosperaram em várias indústrias”, lembra o museu, como a
impressão, a farmacêutica e a advocacia. Ainda hoje a presença da comunidade na
justiça é visível através de Roberto Alexandre Vieira Ribeiro, um dos três
juízes permanentes do Tribunal Superior de Hong Kong. A comunidade deu também
“o seu contributo ao desenvolvimento urbano de Hong Kong”. O empresário
Francisco Soares foi o principal promotor, na década de 1920, do desenvolvimento
da zona de Ho Man Tin, onde ainda existe a Avenida Soares.
O
declínio da comunidade começou em 1967, quando a então colónia britânica
sentia, inclusive através de atentados bombistas, o impacto da Revolução
Cultural na China. A imigração dos lusodescendentes continuou depois da crise
mundial do petróleo em 1973. Para recolher artefactos, documentos e fotografias
para a exposição, Francisco da Roza foi à Califórnia, nos Estados Unidos, e a
Toronto e a Vancouver, no Canadá, entre a diáspora da comunidade eurasiática.
A
pandemia impediu, no entanto, o coordenador do projeto de ir à Biblioteca
Nacional da Austrália, em Melbourne, para investigar os documentos pessoais do
jornalista, escritor e historiador lusodescendente José Maria Braga (1898-1988),
que viveu em Macau e Hong Kong. Entre as instituições da comunidade que ainda
sobrevivem na região administrativa especial chinesa, contam-se o Clube de
Recreio e o Clube Lusitano. In “Ponto Final” – Macau com “Lusa”
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