Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

Macau – Presidente da Casa de Portugal preocupada com quebra de funcionários públicos portugueses

Amélia António, advogada e presidente da Casa de Portugal, disse à Tribuna de Macau que a não reposição de funcionários públicos portugueses é algo que a preocupa, principalmente em determinadas áreas como a Medicina, Direito ou Educação. Por outro lado, defendeu que mesmo que haja oportunidades de emprego na RAEM será difícil trazer pessoas de Portugal. “O clima, a ideia que se instalou relativamente à situação de Macau é de difícil aceitação por muitas pessoas”, afirmou

A não reposição de funcionários públicos portugueses é uma questão que inquieta a presidente da Casa de Portugal, que aponta que há áreas-chave em que o fenómeno é particularmente preocupante. “Não vejo portugueses a vir para a Função Pública e da própria Função Pública têm saído pessoas que fazem cá falta. Em termos oficiais não vejo que as pessoas que saem sejam repostas por outras com o mesmo tipo de formação, sobretudo por causa da língua”, afirmou Amélia António em declarações ao Jornal Tribuna de Macau.

“Isso preocupa-me, porque há muitas áreas onde faz falta, por um lado, a formação e a preparação das pessoas e, por outro, a abertura que isso significa em termos de cabeça, em termos de troca de ideias. Tudo o que seja estreitar um universo é mau”, defendeu a também advogada há mais de 30 anos no território.

Questionada sobre a que sectores se referia, Amélia António disse que as mais óbvias são a Medicina e o Direito, “duas áreas particularmente preocupantes”, mas também a Educação. “O Ensino é muito importante e a todos os níveis. Para Macau desempenhar o papel que supostamente se lhe atribui, o Ensino é muito, muito importante”, apontou. “Estas são áreas de formação que mexem com a vida das pessoas e por isso são particularmente preocupantes”, frisou.

De acordo com as estatísticas disponibilizadas pelos Serviços de Administração e Função Pública, o número de trabalhadores vindos de Portugal tem vindo a decrescer ao longo dos últimos anos. Em concreto, desceu de 276 em 2019 para 265 em 2020. E no ano passado a tendência manteve-se, com um total de 244 funcionários públicos naturais de Portugal.

Já no que respeita ao sector privado, Amélia António admite que “se as coisas melhorarem bastante” possa haver abertura para pessoas com certo tipo de formação. “Mas tudo vai depender do clima que aqui se viver”, prosseguiu.

Interesse em vir?

Se os portugueses continuarão interessados em vir para o território havendo oportunidades, Amélia António disse que é difícil avaliar neste momento, mas considera que não haverá muita facilidade em trazer pessoas. “A sensação que tenho é exactamente a oposta. Neste momento, mesmo havendo hipóteses de trabalho, não é fácil recrutar pessoas para Macau, porque o clima, a ideia que se instalou relativamente à situação de Macau é de difícil aceitação por muitas pessoas”.

“Acho que tem sido muito negativa a campanha que tem sido feita relativamente a Macau. Falo do clima que se vive, falo das pessoas que têm saído, e algumas delas demasiado zangadas com Macau, e que vão passando uma mensagem negativa que desencoraja muito as pessoas”, acrescentou.

Amélia António sublinhou que muitas pessoas têm abandonado o território, o que representa uma “perda” para a comunidade. Na sua perspectiva, a questão do emprego dependerá do impacto que as medidas agora implementadas venha a ter. “Se a vida normalizar, pode ser que haja possibilidade de algumas pessoas voltarem ou de virem novas pessoas para certas funções”, apontou.

Recentemente, as autoridades da RAEM anunciaram uma mudança de direcção na política de combate à covid-19 e desde então têm sido muitas as alterações às medidas implementadas. Ainda que as quarentenas para quem chega do estrangeiro se mantenham no esquema “5+3”, agora já é permitido que as pessoas infectadas cumpram isolamento domiciliário.

A advogada olha para as alterações com “optimismo”, no entanto, lamentou que não tenha havido uma evolução ao longo do tempo: “Isto põe as pessoas nervosas, porque julgam que estão muito seguras e depois de repente acham-se inseguras. Mas isso era um caminho que tinha de ser feito. Tenho esperança de que este caminho seja para um futuro melhor”.

Recorde-se de que não há muito tempo o deputado José Pereira Coutinho disse, em entrevista à Lusa, que tem dúvidas sobre se vão continuar a existir oportunidades de emprego no território para os portugueses, tal como acontecia no passado. Catarina Pereira – Macau in “Jornal Tribuna de Macau”


Sem comentários:

Enviar um comentário