O presidente da CESL Asia, empresa de capital português e chinês, defende que o papel de Macau enquanto plataforma sino-lusófona "não está a funcionar", sugerindo a criação de "uma cadeia virtual" de entidades com esse papel
“Há
qualquer coisa que não está a funcionar, não está a funcionar, embora toda a
gente a elogie, [dizendo que tem] um potencial enorme, inclusivamente nós. Nós
estamos a fazê-la funcionar, mas é só metade. Há muitas coisas que podiam
funcionar melhor”, disse à Lusa António Trindade, referindo-se ao
estabelecimento por Pequim, em 2003, de Macau como plataforma para a cooperação
económica e comercial com os países de língua portuguesa (PLP).
“Então
não há muitas empresas chinesas em Portugal a fazer actividade económica? E
porque é que essas empresas não são as empresas de Macau”, questionou o
presidente da CESL Asia, que falou à Lusa por ocasião da MIECF 2022 – Fórum e
Exposição Internacional de Cooperação Ambiental de Macau. Trindade deixou outro
exemplo: “Conhece alguma empresa auditora de Portugal que esteja em Portugal e
Macau e que faça a plataforma? Zero”.
A CESL Asia, sediada em Macau, tem cerca de 500
trabalhadores, com áreas de negócio que vão dos serviços às soluções
tecnológicas. Começou este ano a comercializar em Hong Kong carne de vaca
sustentável produzida no Alentejo, tendo também interesse no mercado do
interior da China.
António
Trindade apontou dificuldades no acesso a este mercado e defendeu, nesse
sentido, a criação de “uma espécie de regime de excepção, como já existe para o
CEPA [Acordo de Estreitamento das Relações Económicas e Comerciais entre o
Interior da China e Macau], mas especificamente para a plataforma”. O CEPA,
criado em 2003, estabelece um relacionamento semelhante a parceiros de comércio
livre entre o interior da China e Macau.
“A
burocracia pode ter razão de ser, em relação à plataforma é que não tem. Porque
é uma empresa de Macau e não será muito complicado assegurar a sanidade, a
qualidade do produto, a relevância, etc., porque embora seja uma empresa
portuguesa, é uma empresa de uma empresa de Macau e da China, e a China tem
carência de carne, de carne sustentável, de proteína animal”, reforçou.
Neste
caminho em direcção ao interior do país, o responsável da CESL Asia defendeu o
estabelecimento de uma “cadeia virtual” que englobe várias entidades “que se
preocupem com Macau como plataforma”. Trindade mostrou-se optimista com o
futuro, realçando que hoje o “discurso do Governo [de Macau] é diferente, é de
mudança, de sofisticação, de acrescentar valor”.
“Ainda
ontem o secretário para a Economia veio dizer: ‘não queremos ser conhecidos
como um destino de jogo'”, lembrou, dizendo esperar que “se desenvolvam as
empresas de Macau”.
Dificuldades de investimento no sector agrícola português
O
presidente da CESL Asia lamentou também as dificuldades em Portugal para
investir no sector da agricultura, “o parente pobre da actividade económica”.
António
Trindade começou por referir “dificuldades em levantar financiamento”, já que
“os bancos têm dificuldades em investir na agricultura”. E explicou: “O banco é
que tem de apresentar o projecto ao Governo para financiar, se eles quiserem
financiar. Se não quiserem financiar e se eu tiver outras entidades que queiram
financiar, não têm a garantia do Governo”.
“Não
faz sentido nenhum”, reforçou o empresário, questionando ainda se o
financiamento serve “para apoiar os bancos ou a atividade económica”.
Fundada
em 1987, a CESL Asia, empresa de matriz portuguesa em Macau, opera na área de
serviços de alto valor na consultadoria e operação de infraestruturas críticas,
públicas e privadas, tendo adquirido em 2019, no Alentejo, o Grupo Monte do
Pasto, o maior produtor português de bovinos. Recentemente, a empresa começou a
comercializar em Hong Kong carne de vaca sustentável.
Ainda
no que diz respeito aos obstáculos ao investimento no sector agrícola, o
empresário disse que a CESL Asia “tem condições e vontade” para desenvolver no
Monte do Pasto “aquilo que se chama o uso duplo do terreno para a agricultura,
na perspectiva da agricultura – aumentar-lhe capacidade com energia solar”.
“Pois
é muito difícil (…) Portugal precisa hoje de assegurar que os terrenos são
usados para produção de alimentos, primeiramente, e depois perceber que não
pode concorrer a produção de alimentos com a produção de energia solar, tem de
trabalhar em conjunto”, explicou o responsável à Lusa.
“Um
terreno de sequeiro na zona ali do Monte de Pasto para solar aluga-se por 1500,
2000 euros o hectare por ano, se for para a agricultura aluga-se por 50 a 100
euros. É completamente irracional”, completou. In “Ponto Final” - Macau
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