Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

terça-feira, 13 de dezembro de 2022

Reino Unido – Aumenta a pobreza

O aumento da pobreza no Reino Unido está a levar pessoas a alimentarem-se com ração, enquanto outras aquecem comida no radiador de aquecimento ou com velas.

A denúncia foi feita por Mark Seed, director de um projecto comunitário de alimentação em Trowbridge, no leste de Cardiff, capital do País de Gales.

Análise da BBC dos dados do Censo britânico de 2021 indica que seis das comunidades mais carentes do País de Gales, uma das quatro nações que compõem o Reino Unido, estão naquele distrito.

No entanto, ONG advertem que famílias em dificuldades não se encontram apenas em áreas há muito associadas à pobreza e pede que as políticas se concentrem nas pessoas, e não nos lugares.

A situação em Cardiff retrata um cenário desafiador que muitos enfrentam no Reino Unido por causa do aumento da inflação – relatos como o de Seed somam-se aos de muitos outros cidadãos que vivem em diferentes partes do país.

Quase um terço das mães ou pais solteiros está a deixar de comer uma das refeições do dia para sobreviver, segundo um levantamento recente do grupo Which? sobre as famílias mais atingidas pela crise inflacionária no país.

Membros de três em cada 10 famílias monoparentais entrevistados disseram que evitam uma refeição como resultado do aumento dos preços dos alimentos. No total, a mesma situação ocorre em 14% dos domicílios que participaram do estudo.

“As famílias em todo o Reino Unido estão a enfrentar dificuldades devido ao aumento do custo de vida, sendo as famílias monoparentais as mais afectadas pela crise”, disse Rocío Concha, directora de política e activismo da Which? ao jornal britânico The Guardian.

“Arco da pobreza”

Trowbridge fica no que Seed chama de “arco da pobreza” de leste a oeste de Cardiff. Muitas pessoas na cidade galesa de Cardiff estão a lutar para comer e aquecer-se neste inverno devido à inflação, diz Seed, que cometa “ainda fico impressionado com as pessoas a comer ração”.

“[Há] pessoas que tentam aquecer a comida no radiador ou com uma vela. São histórias verídicas chocantes”, acrescenta.

“Cardiff é uma cidade próspera, mas tem bolsões de pobreza que são simplesmente inaceitáveis”, diz Seed, que relata que as pessoas não ganham o suficiente para pagar pelo essencial.

A crise inflacionária só agravou a situação. “[As pessoas] dizem-nos que trabalham todas as horas que podem”, explica.

The Pantry, o banco de alimentos administrado por Seed, oferece comida de boa qualidade a preços muito baixos para mais de 160 pessoas.

Uma delas é Elizabeth Williams, de 54 anos, que diz que o projecto “faz uma grande diferença” e aproxima as pessoas, mas admite que a sua situação está muito difícil. “Normalmente, tento não gastar para melhorar as coisas na minha casa”, referiu.

Ela e o companheiro não trabalham, enquanto o filho, que mora com eles, trabalha muitas horas. “Mesmo com meu filho a trabalhar e a contribuir, é difícil, porque ele também tem que viver e tem necessidades. Tem vários problemas de saúde e está a aguardar uma cirurgia”, explicou.

Durante décadas, o oeste de Gales e a região dos vales receberam financiamento adicional da União Europeia (UE) porque estavam entre as regiões mais pobres da Europa, mas Cardiff não era incluída porque, em termos de padrão de vida médio, não é considerada uma região carente.

Victoria Winckler, directora da ONG galesa The Bevan Foundation, alerta sobre os perigos de estereotipar grandes áreas ou cidades como carentes ou prósperas. “O estereótipo é que Cardiff é próspera e os vales são pobres, mas os números mostram que não é bem assim”, salientou.

“Há áreas de Cardiff que são prósperas, sim, mas também há áreas bastante significativas da capital galesa onde as pessoas não vivem tão bem”, acrescenta.

Para a organização, é fundamental que os supermercados garantam que os preços sejam fáceis de comparar e que haja variedade de oferta para diferentes orçamentos.

“Como os preços continuam a subir, é fundamental que todas as pessoas tenham acesso a alimentos saudáveis e acessíveis para elas e suas famílias”, acrescenta Concha, da Which?.

Os últimos dados oficiais mostram que a inflação de alimentos no Reino Unido atingiu 16,4% em Outubro, o nível mais alto desde 1977.

Isso deve-se principalmente ao forte aumento de produtos da cesta básica, como leite, manteiga, queijo, massas e ovos.

Os domicílios monoparentais e os aposentados destinam parcela maior dos seus rendimentos à alimentação, electricidade e gasolina, cerca de 30%. Para casais com filhos, esse percentual cai para 25%, segundo cálculos oficiais.

No entanto, todas as famílias estão a gastar significativamente mais do que no ano passado em produtos essenciais.

Uma mulher de 40 anos disse aos entrevistadores que nalgumas semanas mal consegue alimentar os filhos. Outra pessoa acrescentou: “Não estou a comer adequadamente para poder alimentar e vestir os meus filhos e ainda ter o suficiente para (pagar pela) electricidade.”

Segundo dados revelados esta semana pela Confederação da Indústria Britânica, a economia do Reino Unido caminha para uma contração de 0,4% no próximo ano devido à inflação e ao receio das grandes empresas em investir. In “Jornal Tribuna de Macau” – Macau com “Agências Internacionais”

 

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