Os idosos portugueses foram os que tiveram piores resultados num estudo que avaliou o envelhecimento saudável em pessoas com 70 anos ou mais de cinco países europeu
O
trabalho, que recrutou em cinco países mais de 2000 idosos sem doenças crónicas
incapacitantes e sem grandes limitações físicas e que na parte portuguesa foi
coordenado pelo reumatologista José Pereira da Silva, do Centro Hospitalar
Universitário de Coimbra, concluiu que os idosos mais saudáveis são os da
Áustria e da Suíça.
Os
idosos portugueses, todos da região Centro, tiveram os piores resultados dos
cinco países envolvidos, uma situação que o especialista, em declarações à
agência Lusa, diz não ser surpreendente, embora sublinhe que “estas diferenças
existem, mas são corrigíveis”.
“Não
são uma consequência inelutável da idade. Seria importante haver um programa
para perceber porquê e introduzir medidas corretivas (…). Temos de encontrar
soluções à nossa capacidade [financeira]”, acrescenta.
O
especialista diz também que o facto de terem sido recrutadas pessoas
relativamente saudáveis e independentes “torna estes resultados mais
alarmantes”.
“Todos
[os países envolvidos] são reconhecidamente mais ricos, em média, do que
Portugal, e o nível educacional é diferente [mais elevado], mas esta é a
realidade. Por outro lado, estamos muito orgulhosos da nossa longevidade média,
pois temos das esperanças de vida mais altas do mundo, mas não é com qualidade.
E isto merece atenção e deve debater-se seriamente”, afirma.
As
conclusões do estudo atribuem a Portugal uma prevalência de envelhecimento
saudável na ordem dos 8,8%, em comparação com os 36,7% de França, 37,6% da
Alemanha, 51,2% da Suíça e 58,3 da Áustria. Independentemente do país de
origem, indicam ainda que os valores de envelhecimento saudável estão
associados à idade, a mais baixos índices de massa corporal, ao sexo feminino e
a uma melhor condição física.
Questionado
sobre os motivos destas diferenças, que o estudo não analisou, José Pereira da
Silva admite várias hipóteses. “Os recursos económicos individuais são muito
importantes, a pessoa poder ir ao médico, comprar medicamentos, alimentar-se
bem, ir ao ginásio (…)”.
“Há
também a dimensão dos recursos técnicos da sociedade, como a que distância está
a pessoa de um centro de exercício físico, ou quantos ginásios existem a custo
acessível para um idoso, ou de que forma os serviços médicos promovem ou não os
hábitos saudáveis”, acrescenta.
O
especialista aponta igualmente a introdução do modelo das USF [Unidades de
Saúde Familiar] na clínica geral, sublinhando que “representou um grande
benefício”: “pela primeira vez passou a ser o médico e o serviço de saúde que
vai atrás do cidadão, por exemplo, se ele não estiver vacinado”.
“São
pontos muito positivos onde se pode ir mais longe, sem necessariamente
representarem um enorme custo que enquanto povo não pudéssemos comportar”,
refere.
Considera
que estas diferenças também têm que ver com as tradições dos diversos países e
lembra: “nós temos, de longe, a prevalência de carência de vitamina D mais
elevada. Nos países com melhores resultados, as pessoas são suplementadas e nós
não somos. Ainda que seja debatível a importância da vitamina D, é apenas um
indicador da presença de promoção da saúde pelos serviços”.
Recorda
que em todos os países que comparam com Portugal neste estudo a relação entre o
estado de saúde geral e o nível educacional “é direta e significativa” e que é
mais forte do que a relação poder económico/estado de saúde.
“As
pessoas não sabem, não têm acesso e depois não fazem as melhores escolhas”,
diz.
Por
outro lado, sublinha a importância que o poder político devia dar ao tema,
exemplificando: “Portugal tem uma secretaria de Estado da Juventude, mas não há
nenhuma para a terceira idade. Somos cada vez mais um país de velhos, cada vez
mais frágeis e continuamos a fazer questão de que só os novos tenham oportunidades
de serem saudáveis”.
O
especialista adianta ainda que os media também podem fazer a diferença,
lembrando a importância dos programas de educação para a saúde nas televisões,
“em vez de estarem meia hora a vender produtos que nem têm comprovação
científica”.
Além
do estudo agora publicado, o especialista aponta outros que espelham diferentes
indicadores da saúde dos idosos portugueses, como um que mostra que estes são
também dos que têm um estado de saúde mais frágil (prevalência de 13,7%, a
Áustria teve 0%) ou o que indica uma maior prevalência (34,5%) de carência de
ferro (que leva à anemia). O mínimo foi registado nos idosos franceses, com
24%. In “Sapo 24” – Portugal com “MadreMedia / Lusa”
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