A docente, autora e investigadora Dora Gago acaba de lançar o seu último livro de contos: “Floriram por engano as rosas bravas”. Naquela que é a sua primeira obra integralmente inspirada nas vivências que teve em Macau e vários países da Ásia, e escrita no Oriente, Dora Gago homenageia Camilo Pessanha e Maria Ondina Braga. “É muito importante relembrarmos as vozes de quem nos precedeu, pois tal como refere Tiphaine Samoyault, ‘a literatura alimenta-se de literatura’”, disse ao Jornal Tribuna de Macau. Quanto ao lançamento no território, não é ainda conhecido local nem data
Intitulado
“Floriram por engano as rosas bravas” é o último livro de contos de Dora Gago,
investigadora e professora na Faculdade de Artes e Humanidades da Universidade
de Macau, que conta já com uma série de obras publicadas. O título, como a
própria autora apontou, foi “roubado” da obra Clepsidra, de Camilo Pessanha.
“O
poema ‘Floriram por engano as rosas bravas’ é um dos meus preferidos de
‘Clepsidra’ e desde que o li pela primeira vez, há talvez uns 30 anos, esse
verso ficou-me gravado na memória. Terminada uma primeira versão destes contos,
pensei que se enquadrava, pois remete para um desfazer de ilusões da vida em
geral, do amor, para a efemeridade e transitoriedade, enfim, para uma série de
temáticas que se entrecruzam nestes contos. Acima de tudo, a escolha deste
título pretende homenagear Camilo Pessanha que, aliás, protagoniza um dos
contos”, disse ao Jornal Tribuna de Macau.
A
ideia para este livro de contos de inspiração macaense e asiática partiu da
necessidade de registar “múltiplas vivências, aprendizagens e experiências” que
foram marcando a vida de Dora Gago em Macau, um espaço “tão rico e cultural”.
Além de Macau, também aquilo que viveu noutros países da Ásia faz parte desta
obra. “Este é o primeiro livro integralmente inspirado e escrito na Ásia. No
entanto, Macau e a Ásia já emergem, embora de forma ainda reduzida, no meu
livro de contos ‘Travessias-contos migratórios’, publicado em 2014, e em alguns
poemas do livro ‘A Matéria dos Sonhos’, de 2015”, explicou a autora.
Os
10 anos de vivências em Macau e as experiências que teve em viagens pela Ásia
são o mote para os contos que integram a obra, em concreto, as pessoas que foi
conhecendo e as “diversas notícias” que leu nos jornais do território. A título
de exemplo, Dora Gago menciona os contos intitulados “o suicídio”, baseado num
caso ocorrido em 2015, no Ocean Gardens; e “o anúncio”, que ficciona o
assassinato de Kim Jong-Nam, ocorrido no aeroporto de Kuala Lumpur, em 2017.
“No caso do conto intitulado ‘a terra prometida’, foi motivado por uma viagem a
Chiang Rai, Tailândia, na qual visitei a aldeia das Karen, as mulheres girafa”,
explicou a este jornal.
Além
de Camilo Pessanha, a autora refere que homenageia ainda Maria Ondina Braga,
que também viveu em Macau e cujo centenário se comemora este ano: “É muito
importante relembrarmos as vozes de quem nos precedeu, pois tal como refere
Tiphaine Samoyault, ‘a literatura alimenta-se de literatura’”.
A
“viagem” da escrita deste livro em particular começou há já alguns anos, tendo
agora culminado com a sua publicação pela editora Húmus. “O processo de escrita
foi demorado, embora os contos sejam muito curtos e de uma estrutura
aparentemente simples. O meu trabalho foi muito ao nível da contenção. Aliás, o
Miguel Torga dizia que escrevia a tirar palavras do texto. Eu segui um processo
semelhante. Escrevi o primeiro conto no início de 2016, por isso, posso dizer
que demorou uns cinco anos”, contou Dora Gago.
“Neste
livro de Dora Nunes Gago, estamos diante de 24 narrativas curtas (contos),
organizadas numa estrutura bem significativa, pois o conto inaugural (“A
chegada”) tem como contraponto no derradeiro conto (“A partida”), assumindo
assim uma organização temporal e cíclica, podendo descortinar-se mesmo nesses
contos de fronteira as funções respetivas de pórtico e de conclusão. A reforçar
esta leitura estão afirmações espácio-temporais que vão ancorando estes contos
numa determinada geografia e atmosfera, ao mesmo tempo que traçam o balanço
crítico de experiência existenciais”, escreve José Cândido de Oliveira Martins
no prefácio.
O
eventual lançamento do livro em Macau ainda é uma incógnita: “Espero que sim,
que o livro possa ser lançado em Macau, mas ainda não sei a data nem o local”.
Dora
Gago encontra-se actualmente de licença em Portugal, onde já estão agendados um
lançamento na Biblioteca Municipal de Alvito (Alentejo) a 2 de Abril e um outro
a 29 de Abril, na Biblioteca Municipal de São Brás de Alportel (Algarve), a sua
terra natal. Para já, o público em Macau pode adquiri-lo via online, no site da
Húmus, Wook ou Bertrand. Catrina Pereira – Macau in “Jornal
Tribuna de Macau”
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