Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

quinta-feira, 3 de março de 2022

Angola - Biodiversidade está cada vez mais ameaçada

A exploração dos recursos da biodiversidade de forma insustentável ou descontrolada, com destaque para o corte de árvores, abate indiscriminado de animais, tem contribuído para a degradação desenfreada da fauna e da flora. Em consequência disso, a vida selvagem está cada vez mais ameaçada


Numa entrevista ao Jornal de Angola, em alusão ao Dia Mundial da Vida Selvagem, que se assinala, hoje, a directora do Instituto Nacional da Biodiversidade e Conservação (INBC), Albertina Nzuzi, reconheceu que, apesar de grandes esforços para a conservação das espécies selvagens, estas ainda se encontram sob fortes ameaças.

A directora disse que há uma fraca recuperação que se verifica, sobretudo, naquelas espécies de grande porte, que são mais fáceis de observação e mais vulneráveis às actividades humanas, como o elefante, hipopótamo e o crocodilo.

Salientou que a frequência de acontecimentos de conflito homem/animal pode ser um indício do crescimento da população animal de espécies de grande porte. "Estas causas associam-se aos índices elevados de pobreza e de desemprego na população, fraca consciência ambiental, presença de espécies invasoras, conflito homem-animal, escassos recursos humanos, técnicos e financeiros disponíveis para corresponder aos desafios da conservação e fiscalização”, disse Albertina Nzuzi.

Contribuição sustentável                                 

A contribuição das plantas e dos animais selvagens para o desenvolvimento sustentável e bem-estar da humanidade é usada para o desenvolvimento económico, promovendo a rentabilidade económica das florestas e da fauna, assim como das áreas de conservação, com vista à diversificação das fontes das receitas de um Estado.

Nesse âmbito, a directora do INBC apelou para a aplicação de políticas de gestão sustentável. Por isso, defendeu que as Áreas de Conservação Angolana, que oferecem grande concentração da biodiversidade, rica em flora, fauna e espécies raras, devem ser protegidas para a sua sustentabilidade.

De acordo com a ambientalista, a fauna e flora têm papel preponderante na manutenção de um ambiente saudável, permitindo a prestação dos serviços necessários à manutenção da vida humana, tais como alimento, polinização e dispersão de plantas, manutenção do equilíbrio de populações e controle de pragas.

Destacou, também, a importância que os animais possuem para a manutenção do equilíbrio na natureza. "São eles que dispersam sementes, plantando árvores, controlam populações de espécies que, quando em excesso, podem ser prejudiciais às nossas culturas (lavras ou criações), e ainda produzem remédios importantes para a cura de muitas doenças”.

Perigos à vida selvagem

Em função desses detalhes, a directora referiu que cada pequeno animal tem a sua função específica na natureza, e a sua ausência causa prejuízos incalculáveis para a humanidade. "Quanto mais espécies ameaçadas existirem, maior é o risco sofrido pelo ambiente em que essas espécies se encontram, ou seja, existe uma redução da qualidade dos recursos ambientais, como água, solo fértil, ar e produtos oriundos da natureza”, esclareceu.

A vida selvagem angolana enfrenta grandes perigos face às várias actividades humanas que interferem nos esforços de conservação da biodiversidade, entre elas a caça furtiva ou colocação de laços nos principais pontos de passagem ou de abeberamento dos animais, criação privada de domésticos que, em certos casos, acasalam com selvagens, causando a hibridação entre os mesmos, como o caso de burros com zebras, no Parque Nacional do Iona.

No que toca ao abate indiscriminado, Albertina Nzuzi disse que a matança de animais selvagens acontece todos os dias. Referiu que os animais abatidos podem ser encontrados nos mercados ou nas vias públicas, onde são vendidos (carne fresca, seca ou fumada).

"Em termos de números, não conseguimos quantificar, mas dizer que a situação é preocupante”, disse, para avançar que "os decretos executivos 469/15 de 13 de Julho, e  137/13, de 6 de Maio, têm sido aplicados pelos órgãos de Defesa e Segurança, assim como pelo Ministério Público, em colaboração com o sector do Ambiente.

Desafios na conservação

Disse que várias são as pressões que impulsionam a mudança significativa da biodiversidade. Com o crescimento demográfico e o desenvolvimento da difusão tecnológica industrial, os problemas ambientais são cada vez mais evidenciados.

E, muitas são as pressões provocadas pela desflorestação, como o aumento dos campos agrícolas, uma vez que a população local usa ainda técnicas remotas, como as queimadas para preparação de terras com vista a praticar a agricultura de subsistência.

A colheita do carvão vegetal também tem contribuído para as perdas das florestas, bem como a produção de madeira para uso comercial e doméstico e o abate indiscriminado de animais, vendidos nas grandes cidades são alguns exemplos mais marcantes da influência exercida pela acção humana.

Por outro lado, a degradação da terra provoca a redução e a perda de produtividade biológica e económica do solo. A exploração ilegal de recursos minerais, causa um impacto ambiental considerável, altera intensamente as áreas mineradas e vizinhas, onde são feitos os depósitos de estéreis e de declino.

Estratégia da Biodiversidade prevê bons resultado

Para inverter a situação, o país tem levado a cabo programas de sensibilização da população em todas às esferas da sociedade e contribuído com pesquisas científicas para a identificação de novas espécies endémicas, de caracterização do estado de conservação e o conhecimento da distribuição da flora.

De acordo com a directora do INBC, cerca de 34% das aves de Angola encontram-se listadas como espécies em situação de risco, devido à degradação dos seus habitats. Várias outras correm riscos de extinção, por causa da pressão resultante da acção humana. "A redução de habitats florestais, elevadas taxas de desflorestamento e as queimadas descontroladas podem ser um factor de risco importante”.

Para fazer face à essas situações, e no quadro do cumprimento das obrigações da Convenção sobre a Diversidade Biológica, de que Angola é Parte Integrante, o país, através do Ministério da Cultura, Turismo e Ambiente (MCTA), tem elaborado e aprovou a Estratégia Nacional da Biodiversidade e um Plano de Acção.

Estes importantes documentos visam, durante o período 2019-2025, servir como linhas mestras que devem guiar as acções de conservação, preservação, protecção e restauração da biodiversidade angolana.

Este plano assenta nas metas gizadas pelo Governo, no Plano de Desenvolvimento Nacional de (PDN 2018-2022) e na Estratégia Nacional a Longo Prazo "Angola 2025”, com a visão estratégica até 2025.

Nesta estratégia, estão distribuídas as responsabilidades de conservação a todos os sectores e províncias que, directa ou indirectamente, lidam com recursos da biodiversidade.

O Dia Mundial da Vida Selvagem, neste ano, celebra-se sob o lema "Recuperando espécies-chaves para a restauração de ecossistemas”, com vista a chamar a atenção para o papel crítico que as espécies-chave (plantas e animais) desempenham na garantia da saúde do ecossistema, onde muitos estão ameaçados ou em perigo de extinção.

Espécies em vias de extinção

A biodiversidade é a variabilidade de organismos vivos de todas as origens, compreendendo os ecossistemas terrestres, marinhos ou outros aquáticos e os complexos ecológicos de que fazem parte. É nela onde ocorrem todas as actividades realizadas no meio rural, tais como a agricultura, pecuária, pesca artesanal, corte de arvores, recolha de frutos silvestres, caça e outras.

A directora salientou que o país tem elaborada a Lista Vermelha das Espécies de Angola, na qual constam três espécies extintas, 29 ameaçadas de extinção, 100 vulneráveis e 18 invasoras.

As espécies de maior risco são, na sua maioria, as de grande porte, as espécies protegidas e com maior valor económico dos seus componentes, como elefante, papagaio cinzento e o chimpanzé (Grandes Símios).

"O valor dessas espécies faz com que elas sejam abatidas indiscriminadamente a fim de obter lucro fácil, resultado da comercialização das suas partes (chifres, barbatanas, pele, marfim, etc.).

A redução da taxa de perda de habitats naturais, incluindo florestas, ainda é considerada um desafio para o país, visto que se perdem, em média anual, mais ou menos 106 mil hectares de florestas naturais e 370 hectares de plantações. Ou seja, uma taxa de desflorestação de cerca de 0,20 à 0,25 por cento. Manuela Gomes – Angola in “Jornal de Angola”


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