A exploração dos recursos da biodiversidade de forma insustentável ou descontrolada, com destaque para o corte de árvores, abate indiscriminado de animais, tem contribuído para a degradação desenfreada da fauna e da flora. Em consequência disso, a vida selvagem está cada vez mais ameaçada
Numa
entrevista ao Jornal de Angola, em alusão ao Dia Mundial da Vida Selvagem, que
se assinala, hoje, a directora do Instituto Nacional da Biodiversidade e
Conservação (INBC), Albertina Nzuzi, reconheceu que, apesar de grandes esforços
para a conservação das espécies selvagens, estas ainda se encontram sob fortes
ameaças.
A
directora disse que há uma fraca recuperação que se verifica, sobretudo,
naquelas espécies de grande porte, que são mais fáceis de observação e mais
vulneráveis às actividades humanas, como o elefante, hipopótamo e o crocodilo.
Salientou
que a frequência de acontecimentos de conflito homem/animal pode ser um indício
do crescimento da população animal de espécies de grande porte. "Estas
causas associam-se aos índices elevados de pobreza e de desemprego na
população, fraca consciência ambiental, presença de espécies invasoras,
conflito homem-animal, escassos recursos humanos, técnicos e financeiros
disponíveis para corresponder aos desafios da conservação e fiscalização”,
disse Albertina Nzuzi.
Contribuição sustentável
A
contribuição das plantas e dos animais selvagens para o desenvolvimento
sustentável e bem-estar da humanidade é usada para o desenvolvimento económico,
promovendo a rentabilidade económica das florestas e da fauna, assim como das
áreas de conservação, com vista à diversificação das fontes das receitas de um
Estado.
Nesse
âmbito, a directora do INBC apelou para a aplicação de políticas de gestão
sustentável. Por isso, defendeu que as Áreas de Conservação Angolana, que
oferecem grande concentração da biodiversidade, rica em flora, fauna e espécies
raras, devem ser protegidas para a sua sustentabilidade.
De
acordo com a ambientalista, a fauna e flora têm papel preponderante na
manutenção de um ambiente saudável, permitindo a prestação dos serviços
necessários à manutenção da vida humana, tais como alimento, polinização e
dispersão de plantas, manutenção do equilíbrio de populações e controle de
pragas.
Destacou,
também, a importância que os animais possuem para a manutenção do equilíbrio na
natureza. "São eles que dispersam sementes, plantando árvores, controlam
populações de espécies que, quando em excesso, podem ser prejudiciais às nossas
culturas (lavras ou criações), e ainda produzem remédios importantes para a
cura de muitas doenças”.
Perigos à vida selvagem
Em
função desses detalhes, a directora referiu que cada pequeno animal tem a sua
função específica na natureza, e a sua ausência causa prejuízos incalculáveis
para a humanidade. "Quanto mais espécies ameaçadas existirem, maior é o
risco sofrido pelo ambiente em que essas espécies se encontram, ou seja, existe
uma redução da qualidade dos recursos ambientais, como água, solo fértil, ar e
produtos oriundos da natureza”, esclareceu.
A
vida selvagem angolana enfrenta grandes perigos face às várias actividades
humanas que interferem nos esforços de conservação da biodiversidade, entre
elas a caça furtiva ou colocação de laços nos principais pontos de passagem ou
de abeberamento dos animais, criação privada de domésticos que, em certos
casos, acasalam com selvagens, causando a hibridação entre os mesmos, como o
caso de burros com zebras, no Parque Nacional do Iona.
No
que toca ao abate indiscriminado, Albertina Nzuzi disse que a matança de
animais selvagens acontece todos os dias. Referiu que os animais abatidos podem
ser encontrados nos mercados ou nas vias públicas, onde são vendidos (carne
fresca, seca ou fumada).
"Em
termos de números, não conseguimos quantificar, mas dizer que a situação é
preocupante”, disse, para avançar que "os decretos executivos 469/15 de 13
de Julho, e 137/13, de 6 de Maio, têm
sido aplicados pelos órgãos de Defesa e Segurança, assim como pelo Ministério
Público, em colaboração com o sector do Ambiente.
Desafios na conservação
Disse
que várias são as pressões que impulsionam a mudança significativa da
biodiversidade. Com o crescimento demográfico e o desenvolvimento da difusão
tecnológica industrial, os problemas ambientais são cada vez mais evidenciados.
E,
muitas são as pressões provocadas pela desflorestação, como o aumento dos
campos agrícolas, uma vez que a população local usa ainda técnicas remotas,
como as queimadas para preparação de terras com vista a praticar a agricultura
de subsistência.
A
colheita do carvão vegetal também tem contribuído para as perdas das florestas,
bem como a produção de madeira para uso comercial e doméstico e o abate
indiscriminado de animais, vendidos nas grandes cidades são alguns exemplos
mais marcantes da influência exercida pela acção humana.
Por
outro lado, a degradação da terra provoca a redução e a perda de produtividade
biológica e económica do solo. A exploração ilegal de recursos minerais, causa
um impacto ambiental considerável, altera intensamente as áreas mineradas e
vizinhas, onde são feitos os depósitos de estéreis e de declino.
Estratégia da Biodiversidade prevê bons resultado
Para
inverter a situação, o país tem levado a cabo programas de sensibilização da
população em todas às esferas da sociedade e contribuído com pesquisas
científicas para a identificação de novas espécies endémicas, de caracterização
do estado de conservação e o conhecimento da distribuição da flora.
De
acordo com a directora do INBC, cerca de 34% das aves de Angola encontram-se
listadas como espécies em situação de risco, devido à degradação dos seus
habitats. Várias outras correm riscos de extinção, por causa da pressão
resultante da acção humana. "A redução de habitats florestais, elevadas
taxas de desflorestamento e as queimadas descontroladas podem ser um factor de
risco importante”.
Para
fazer face à essas situações, e no quadro do cumprimento das obrigações da
Convenção sobre a Diversidade Biológica, de que Angola é Parte Integrante, o
país, através do Ministério da Cultura, Turismo e Ambiente (MCTA), tem
elaborado e aprovou a Estratégia Nacional da Biodiversidade e um Plano de
Acção.
Estes
importantes documentos visam, durante o período 2019-2025, servir como linhas
mestras que devem guiar as acções de conservação, preservação, protecção e
restauração da biodiversidade angolana.
Este
plano assenta nas metas gizadas pelo Governo, no Plano de Desenvolvimento
Nacional de (PDN 2018-2022) e na Estratégia Nacional a Longo Prazo "Angola
2025”, com a visão estratégica até 2025.
Nesta
estratégia, estão distribuídas as responsabilidades de conservação a todos os
sectores e províncias que, directa ou indirectamente, lidam com recursos da
biodiversidade.
O
Dia Mundial da Vida Selvagem, neste ano, celebra-se sob o lema
"Recuperando espécies-chaves para a restauração de ecossistemas”, com
vista a chamar a atenção para o papel crítico que as espécies-chave (plantas e
animais) desempenham na garantia da saúde do ecossistema, onde muitos estão
ameaçados ou em perigo de extinção.
Espécies em vias de extinção
A
biodiversidade é a variabilidade de organismos vivos de todas as origens,
compreendendo os ecossistemas terrestres, marinhos ou outros aquáticos e os
complexos ecológicos de que fazem parte. É nela onde ocorrem todas as
actividades realizadas no meio rural, tais como a agricultura, pecuária, pesca
artesanal, corte de arvores, recolha de frutos silvestres, caça e outras.
A
directora salientou que o país tem elaborada a Lista Vermelha das Espécies de
Angola, na qual constam três espécies extintas, 29 ameaçadas de extinção, 100
vulneráveis e 18 invasoras.
As
espécies de maior risco são, na sua maioria, as de grande porte, as espécies
protegidas e com maior valor económico dos seus componentes, como elefante,
papagaio cinzento e o chimpanzé (Grandes Símios).
"O
valor dessas espécies faz com que elas sejam abatidas indiscriminadamente a fim
de obter lucro fácil, resultado da comercialização das suas partes (chifres,
barbatanas, pele, marfim, etc.).
A
redução da taxa de perda de habitats naturais, incluindo florestas, ainda é
considerada um desafio para o país, visto que se perdem, em média anual, mais
ou menos 106 mil hectares de florestas naturais e 370 hectares de plantações.
Ou seja, uma taxa de desflorestação de cerca de 0,20 à 0,25 por cento. Manuela
Gomes – Angola in “Jornal de Angola”
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