A
importância da língua para construir um imaginário coletivo é evidente e mesmo
para muitas pessoas é a marca mais característica e definitiva. Assim, igualar
língua e sentimento nacional (ou nacionalista) muitas vezes caminhárom de mãos
dadas durante os séculos XIX e XX, os séculos das nações. Caminhárom juntos e
em sentidos contrários, porque as nações sem Estado é claro que se constroem
enfrentando a naçom do Estado, como mínimo. Um confronto que é o marco e a
fonte da qual nascem as articulações das realidades administrativas
plurilingues como há tantas por volta de todo o mundo, nomeadamente na Europa e
no Estado espanhol.
Assim
sendo, no pacto constitucional vigorante em Espanha institucionalizou-se a
oficialidade do resto de línguas, embora nom de todas, juntamente com o
castelhano, que sempre foi. Apesar desta novidade, que só tinha um breve
precedente na legalidade republicana da década de 30, o castelhano continuou a
ser a língua que toda a cidadania tem o dever de conhecer ficando o resto de
línguas só com o direito de serem usadas, mas sem ser obrigatório o seu
conhecimento. Ainda assim, em vários Estatutos de Autonomia, como é o caso do
galego, reconheceu-se uma mínima diferença legal com o castelhano, é por isso
que o nosso idioma foi caracterizado como “língua própria”.
Este
conceito de língua própria foi usado pola vez primeira na Catalunha e ainda que
nunca se chegou a concretizar numa definiçom jurídica nítida sim que valeu para
fomentar políticas de discriminaçom positiva, embora na Galiza fossem sempre
escassas, que se baseavam nesse conceito. É por isso que nom é de estranhar que
desde o seu nascimento coletivos contrários ao galego como o anteriormente
conhecido como ‘Galicia Bilingue’ -hoje com um nome que transparenta muito
melhor os seus objectivos: ‘Hablamos Español’- atacárom o facto de o galego ser
considerado ‘língua própria’ da Galiza e o castelhano nom. Apesar de as
consequências jurídicas serem realmente quase imperceptíveis, apesar de
levarmos mais de 40 anos em que a língua própria continua a perder espaços e
presença, apesar de todo isto, pessoas ideólogas desse pensamento uniformizante
como o caso do professor Blanco Valdés continuam a insistir na necessidade de
que o galego perda esta sua característica de língua própria.
Apoiam
a sua tese, precisamente, no facto de já nom ser majoritária nas camadas mais
jovens da populaçom assim como na sua perda da condiçom de língua mais falada,
tal e como indicava um inquérito da empresa Sondaxe recentemente. Tal e como
indicam todas as demoscopias e pesquisas dos últimos anos e décadas. Estas
pessoas e coletivos colocam o castelhano na Galiza num plano de língua
assediada, que luita pola sua sobrevivência, totalmente irreal e afastado da
realidade das nossas ruas. Isto é assim tam evidente que assim que deixárom de
desfrutar da amplificaçom mediática do seu discurso diluírom-se com grande
rapidez.
Coletivos
e pessoas que procuram usar as línguas para dividir em vez de para multiplicar.
Pessoas que sob um falso cidadanismo realmente acabam aderindo à visom mais
tradicional e organicista da consciência nacional, neste caso da espanhola, que
identifica naçom e língua. Pessoas que talvez nom sejam quem de explicar como
um nacional irlandês fala hoje inglês igual que um nacional argentino fala
castelhano. Frente a estes discursos da divisom compre construir o discurso
multiplicador, esse em que a língua própria, a galega, é interpretada como
português.
Uma
focagem multiplicadora em que nom se negam as potencialidades das línguas, em
que uma pessoa galega consegue falar galego (português), castelhano e
desejavelmente também inglês. E isto independentemente da adscriçom nacional
que deseje ter essa pessoa. Este é o caminho que deveríamos promover
coletivamente, uma estratégia que salvaguarde o próprio, que o eleve dando-lhe
caráter internacional, que nos ajude a olhar até Porto, Lisboa, Rio, Salvador,
mas também até os PALOP, sem deixar de sermos nexo com Buenos Aires, México ou
Caracas, nem com Madrid, Bilbao ou Barcelona. E quem nos dera poder incorporar,
neste nosso mapa, também New York, Londres ou Sidney. Miguel Penas – Galiza in “Portal
Galego da Língua” com “Nós Diario”
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Miguel R. Penas -
Nascido em 1976, o compostelano Miguel R. Penas é Licenciado em História pola
Universidade de Santiago de Compostela (USC). Desde 2001 trabalha
profissionalmente no âmbito da comunicaçom, no campo privado, institucional e
associativo. Foi dos fundadores do Portal Galego da Língua (PGL) e primeiro
diretor da Através Editora. Atualmente é o presidente da AGAL.
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