Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

sexta-feira, 11 de março de 2022

Congresso Internacional assinala 450 anos da publicação de “Os Lusíadas” de Camões

É já amanhã que se realiza o Congresso Internacional que assinala os 450 anos da publicação de “Os Lusíadas”, de Luís Vaz de Camões, a partir de várias partes do mundo, incluindo Macau. No território, Sara Augusto, docente na Universidade Politécnica de Macau, vai debruçar-se sobre o tema “Invocando as Musas: os trabalhos e as leituras”. Segundo explicou ao Jornal Tribuna de Macau, a sua intervenção tem que ver principalmente com o ensino da Literatura Portuguesa e sobretudo de “Os Lusíadas”, no âmbito do Português Língua Estrangeira

Realiza-se este sábado o Congresso Internacional dos 450 anos da publicação de “Os Lusíadas”, que aconteceu precisamente a 12 de Março de 1572. A iniciativa acontece a partir de várias partes do mundo.

A primeira parte intitula-se “Camões e a Ásia” e contará com um discurso do Rei de Ternate, Sultão Hidayatullah Sjah, bem como com uma mensagem do Reitor da Universitas Khairun de Ternate, Dr. M. Ridha Ajam, a partir da Indonésia. Após a inauguração do evento segue-se a comunicação “Traduzir ‘Os Lusíadas’ para indonésio”, por Danny Susanto, pelas 15h40 (hora de Macau); a sessão “450 anos depois, ‘Os Lusíadas’ em turco”, por Ibrahim Aybek (16h00); e “‘Os Lusíadas’ em árabe: características da tradução”, por Abdeljelil Larbi (16h20).

Sabri Zekri vai depois tentar responder à questão “Porquê traduzir Camões para farsi?” (16h40); Taraneh Arabzadeh falará sobre “Publicar Camões no Irão” (16h55) e Felipe de Saavedra vai debruçar-se sobre “Camões e a Indonésia” (17h10). Segue-se depois uma sessão intitulada “Intertextualidades Lusíadas em textos escritos por naturais goeses em língua portuguesa (1702-1713)”, pelas 17h30, conduzida por Regina Célia Pereira da Silva; e “Imagens do Oriente e dos orientais n’‘Os Lusíadas’”, por João Oliveira (17h50). Para terminar o painel, Filipa Araújo apresentará “Camões, o poeta que ‘do Oriente as portas vem abrindo’” (18h10). Após as comunicações haverá um espaço de debate.

A segunda parte, por sua vez – “‘Os Lusíadas’: 450 anos de fascínio” -, divide-se em duas, a primeira das quais se intitula “Camões Contemporâneo”, e começa pelas 18:00 em Macau, com a intervenção de Sara Augusto. A docente da Universidade Politécnica de Macau vai debruçar-se sobre o tema “Invocando as Musas: os trabalhos e as leituras”. Ao Jornal Tribuna de Macau, Sara Augusto explicou que a sua intervenção tem que ver principalmente com o ensino da Literatura Portuguesa e sobretudo de “Os Lusíadas” de Camões, no âmbito do Português Língua Estrangeira (PLE).

“A relação que a literatura portuguesa continua a estabelecer com Camões e com ‘Os Lusíadas’ demonstra a sobrevivência de uma das obras mais emblemáticas da nossa literatura e que marcou a produção literária do século XVI, de acordo com o contexto histórico, cultural e poético”, apontou a docente, acrescentando que a sua comunicação se situa no campo da didáctica da literatura.

Segundo Sara Augusto, a sua intervenção pretende levantar um conjunto de problemas que se oferecem à leitura da epopeia por parte de alunos com alguma proficiência da língua portuguesa. “Problematizo, sim, mas tento também estabelecer uma prática que tenho experimentado e que parece resultar relativamente bem”, acrescenta.

A docente explicou que este é um tema sobre o qual se costuma debruçar, no sentido em que lhe interessa a forma como decorre o processo de ensino-aprendizagem, não só de “Os Lusíadas”, mas também da lírica camoniana e outros períodos e respectivas obras e autores de épocas também recuadas.

Questionada sobre se há desafios neste âmbito, Sara Augusto disse que “são imensos”. “Em primeiro lugar, está em causa a leitura de textos literários que, por si só, já apresentam elevado nível de estranhamento e especificidade, que os distancia da expectável comunicação eficaz da linguagem do quotidiano. Depois, a leitura implica um conhecimento do contexto de produção, capaz de influenciar a produção poética. Trata-se de períodos literários que implicam códigos poéticos, formais e temáticos, instituídos com algum rigor e que permitem orientar a leitura, o que não deixa de ser um aspecto a considerar e que em muito pode facilitar a abordagem, tanto minha como dos alunos”, prosseguiu.

Mas os desafios não se ficam por aqui: “Resta falar nas dificuldades que os alunos sentem com o vocabulário erudito e com a importância e o efeito dos recursos estilísticos. Penso que com uma escolha criteriosa dos textos literários e uma leitura motivadora os alunos podem ver o seu esforço recomendado: conseguirem ler obras que fazem parte do cânone e da memória colectiva dos portugueses”.

Quanto ao Congresso em si, a docente afirmou que “nunca é demais a celebração de uma efeméride deste tipo, tendo em conta a importância que Os Lusíadas têm tanto na literatura portuguesa como europeia”. “Representa a capacidade de, utilizando modelos clássicos da Antiguidade, actualizados entretanto na literatura italiana renascentista, construir uma longa narrativa em verso, extremamente engenhosa e erudita, onde se reúne grande parte do conhecimento da época, e se celebra, como tema principal a viagem de Vasco da Gama para a Índia, momento alto da expansão marítima portuguesa e da história da Europa”, considera.

Sublinhando que a obra de Camões é sobretudo conhecida dos falantes de língua portuguesa, portugueses ou não, que fizeram a sua formação escolar em língua portuguesa, apontou ainda que Camões faz parte do cânone literário e dos programas da escola secundária. “Quando falamos do nível universitário e contamos com alunos maioritariamente falantes de chinês, mandarim ou cantonense, a minha esperança é de que os meus alunos passem a conhecer a obra de Camões, mesmo que de forma simbólica, ou seja, identificarem, sobretudo, as estrofes da Proposição de Os Lusíadas, onde se afirma a intenção e o impacto esperado, e conhecerem alguns dos sonetos mais exemplificativos da poética maneirista, de forma a poderem observar como foram alvo de constante intertextualidade ao longo dos séculos. Este contacto permite também aos alunos uma oportunidade de perceberem melhor alguns espaços de excelência em Macau”, afirmou.

Depois de Sara Augusto, seguem-se as intervenções de Maria Antonietta Rossi sobre o tema “Sebastião da Gama e ‘Os Lusíadas’” (18h20), Cândido Oliveira Martins com “Receção de Camões na escrita de José Régio” (18h40), Maria do Carmo Pinheiro Silva Cardoso Mendes com a sessão “O português de todos os tempos: Agustina Bessa-Luís leitora de Luís Vaz de Camões” (19:00), e Maria Eduarda Miranda Paniago & Caio Gagliardi com “Leitura e (re)escritura de ‘Os Lusíadas’: a navegação poética de Manuel Alegre” (19h20). Esta parte termina também com uma discussão.

Camões, a obra e a edição

Pelas 20h00 em Macau, inicia-se o painel “Camões, da sua época até ao século XIX”. Será então a vez de Vitor Amaral de Oliveira, com “Camões e D. Sebastião, um par romântico”, e de Aude Plagnard, que se vai debruçar sobre o tema “As vidas francesas de Luís de Camões” (20h20). Depois José Carlos Canoa vai falar sobre “As grandes colecções camonianas dos séculos XIX e XX” (20h40) e Gil Clemente Teixeira vai conduzir uma sessão intitulada “Cruzar pequenos mundos de poesia: a recepção de ‘Os Lusíadas’ (1572) no poema ‘Ulyssippo’ (1640) de António de Sousa de Macedo” (21h00). “’Os Lusíadas’, um espelho de príncipes” será abordado por Isabel Rio Novo (21h20), enquanto “O amor na ‘ilha namorada’ d’’Os Lusíadas’” será conduzido por Marcelo Lachat. No fim deste painel haverá o lançamento de livros e um debate.

A terceira parte do Congresso começa pelas 23h00, intitulando-se “A obra de Camões e a sua edição”. Maria do Céu Fraga será a primeira, falando sobre “Camões e o soneto pastoril: tradição e novidade”, seguindo-se depois Barbara Spaggiari, com “Para a edição crítica das ‘Cartas’ de Luís de Camões” (23h20). “A música em Camões: concordâncias musicais no ‘Cancioneiro de Paris’” será a última comunicação e caberá a Fábio Vianna Peres (23h40).

No fim, decorrerá um painel conclusivo – “As edições em curso da obra camoniana: a edição crítica de ‘Os Lusíadas’ pelo CIEC, a edição Camoniana de Genebra, e a edição do teatro camoniano” – com as intervenções de Telmo Verdelho, Barbara Spaggiari e José Camões (00h00). A moderação estará a cargo de Felipe de Saavedra.

No Congresso haverá participações especiais de estudantes de Cultura Portuguesa, História de Portugal e Língua Portuguesa da Universitas Indonesia.

As sessões podem ser acompanhadas online, através do YouTube

(https://www.youtube.com /c/LuísdeCamõesYT).

IPOR diz que encontro “é altamente benéfico” para a obra de Camões e sua divulgação

Apesar de não estar envolvido na organização do Congresso, o Instituto Português do Oriente (IPOR) considera que estas iniciativas são sempre importantes “para aprofundar o conhecimento da obra de um poeta que, quase 500 anos depois da sua morte, continua a ser enigmática mesmo para os que a estudam diária e compulsivamente”. Para Joaquim Coelho Ramos, este aprofundar de conhecimentos “tem sempre consequências positivas a nível geral, na medida em que abre novos caminhos para uma obra cuja importância há muito ultrapassou as fronteiras nacionais, mas também a nível específico, na medida em que permite a todos os que o desejem, um acesso mais descodificado a certos aspectos da epopeia”. Sublinhando que o interesse pelo poema a nível internacional não é de hoje, o director do IPOR apontou ao Jornal Tribuna de Macau que “este tipo de encontros científicos, com partilha de visões e de leituras ancoradas em bases culturais diferentes (decorrente, justamente, do carácter internacional dos participantes) é altamente benéfico quer para a obra, quer para a sua divulgação”. Apesar de considerar que a divulgação de “Os Lusíadas” tem sido bem feita pelas instituições portuguesas em várias partes do mundo, nomeadamente em cátedras patrocinadas pelo Instituto Camões, Coelho Ramos defende também que “talvez haja espaço para um maior apoio à divulgação dos trabalhos de investigação, nomeadamente ao nível da sua difusão através de uma rede de investigadores ou centros de investigação internacionais”. Catarina Pereira – Macau in “Jornal Tribuna de Macau”


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