É já amanhã que se realiza o Congresso Internacional que assinala os 450 anos da publicação de “Os Lusíadas”, de Luís Vaz de Camões, a partir de várias partes do mundo, incluindo Macau. No território, Sara Augusto, docente na Universidade Politécnica de Macau, vai debruçar-se sobre o tema “Invocando as Musas: os trabalhos e as leituras”. Segundo explicou ao Jornal Tribuna de Macau, a sua intervenção tem que ver principalmente com o ensino da Literatura Portuguesa e sobretudo de “Os Lusíadas”, no âmbito do Português Língua Estrangeira
Realiza-se
este sábado o Congresso Internacional dos 450 anos da publicação de “Os
Lusíadas”, que aconteceu precisamente a 12 de Março de 1572. A iniciativa
acontece a partir de várias partes do mundo.
A
primeira parte intitula-se “Camões e a Ásia” e contará com um discurso do Rei
de Ternate, Sultão Hidayatullah Sjah, bem como com uma mensagem do Reitor da
Universitas Khairun de Ternate, Dr. M. Ridha Ajam, a partir da Indonésia. Após
a inauguração do evento segue-se a comunicação “Traduzir ‘Os Lusíadas’ para
indonésio”, por Danny Susanto, pelas 15h40 (hora de Macau); a sessão “450 anos
depois, ‘Os Lusíadas’ em turco”, por Ibrahim Aybek (16h00); e “‘Os Lusíadas’ em
árabe: características da tradução”, por Abdeljelil Larbi (16h20).
Sabri
Zekri vai depois tentar responder à questão “Porquê traduzir Camões para
farsi?” (16h40); Taraneh Arabzadeh falará sobre “Publicar Camões no Irão”
(16h55) e Felipe de Saavedra vai debruçar-se sobre “Camões e a Indonésia”
(17h10). Segue-se depois uma sessão intitulada “Intertextualidades Lusíadas em
textos escritos por naturais goeses em língua portuguesa (1702-1713)”, pelas
17h30, conduzida por Regina Célia Pereira da Silva; e “Imagens do Oriente e
dos orientais n’‘Os Lusíadas’”, por João Oliveira (17h50). Para terminar o
painel, Filipa Araújo apresentará “Camões, o poeta que ‘do Oriente as portas
vem abrindo’” (18h10). Após as comunicações haverá um espaço de debate.
A
segunda parte, por sua vez – “‘Os Lusíadas’: 450 anos de fascínio” -, divide-se
em duas, a primeira das quais se intitula “Camões Contemporâneo”, e começa
pelas 18:00 em Macau, com a intervenção de Sara Augusto. A docente da
Universidade Politécnica de Macau vai debruçar-se sobre o tema “Invocando as
Musas: os trabalhos e as leituras”. Ao Jornal Tribuna de Macau, Sara Augusto
explicou que a sua intervenção tem que ver principalmente com o ensino da
Literatura Portuguesa e sobretudo de “Os Lusíadas” de Camões, no âmbito do
Português Língua Estrangeira (PLE).
“A
relação que a literatura portuguesa continua a estabelecer com Camões e com ‘Os
Lusíadas’ demonstra a sobrevivência de uma das obras mais emblemáticas da nossa
literatura e que marcou a produção literária do século XVI, de acordo com o
contexto histórico, cultural e poético”, apontou a docente, acrescentando que a
sua comunicação se situa no campo da didáctica da literatura.
Segundo
Sara Augusto, a sua intervenção pretende levantar um conjunto de problemas que
se oferecem à leitura da epopeia por parte de alunos com alguma proficiência da
língua portuguesa. “Problematizo, sim, mas tento também estabelecer uma prática
que tenho experimentado e que parece resultar relativamente bem”, acrescenta.
A
docente explicou que este é um tema sobre o qual se costuma debruçar, no
sentido em que lhe interessa a forma como decorre o processo de
ensino-aprendizagem, não só de “Os Lusíadas”, mas também da lírica camoniana e
outros períodos e respectivas obras e autores de épocas também recuadas.
Questionada
sobre se há desafios neste âmbito, Sara Augusto disse que “são imensos”. “Em
primeiro lugar, está em causa a leitura de textos literários que, por si só, já
apresentam elevado nível de estranhamento e especificidade, que os distancia da
expectável comunicação eficaz da linguagem do quotidiano. Depois, a leitura
implica um conhecimento do contexto de produção, capaz de influenciar a
produção poética. Trata-se de períodos literários que implicam códigos
poéticos, formais e temáticos, instituídos com algum rigor e que permitem
orientar a leitura, o que não deixa de ser um aspecto a considerar e que em
muito pode facilitar a abordagem, tanto minha como dos alunos”, prosseguiu.
Mas
os desafios não se ficam por aqui: “Resta falar nas dificuldades que os alunos
sentem com o vocabulário erudito e com a importância e o efeito dos recursos
estilísticos. Penso que com uma escolha criteriosa dos textos literários e uma
leitura motivadora os alunos podem ver o seu esforço recomendado: conseguirem
ler obras que fazem parte do cânone e da memória colectiva dos portugueses”.
Quanto
ao Congresso em si, a docente afirmou que “nunca é demais a celebração de uma
efeméride deste tipo, tendo em conta a importância que Os Lusíadas têm tanto na
literatura portuguesa como europeia”. “Representa a capacidade de, utilizando
modelos clássicos da Antiguidade, actualizados entretanto na literatura
italiana renascentista, construir uma longa narrativa em verso, extremamente
engenhosa e erudita, onde se reúne grande parte do conhecimento da época, e se
celebra, como tema principal a viagem de Vasco da Gama para a Índia, momento
alto da expansão marítima portuguesa e da história da Europa”, considera.
Sublinhando
que a obra de Camões é sobretudo conhecida dos falantes de língua portuguesa,
portugueses ou não, que fizeram a sua formação escolar em língua portuguesa,
apontou ainda que Camões faz parte do cânone literário e dos programas da
escola secundária. “Quando falamos do nível universitário e contamos com alunos
maioritariamente falantes de chinês, mandarim ou cantonense, a minha esperança
é de que os meus alunos passem a conhecer a obra de Camões, mesmo que de forma
simbólica, ou seja, identificarem, sobretudo, as estrofes da Proposição de Os
Lusíadas, onde se afirma a intenção e o impacto esperado, e conhecerem alguns
dos sonetos mais exemplificativos da poética maneirista, de forma a poderem
observar como foram alvo de constante intertextualidade ao longo dos séculos.
Este contacto permite também aos alunos uma oportunidade de perceberem melhor
alguns espaços de excelência em Macau”, afirmou.
Depois
de Sara Augusto, seguem-se as intervenções de Maria Antonietta Rossi sobre o
tema “Sebastião da Gama e ‘Os Lusíadas’” (18h20), Cândido Oliveira Martins com
“Receção de Camões na escrita de José Régio” (18h40), Maria do Carmo Pinheiro
Silva Cardoso Mendes com a sessão “O português de todos os tempos: Agustina
Bessa-Luís leitora de Luís Vaz de Camões” (19:00), e Maria Eduarda Miranda
Paniago & Caio Gagliardi com “Leitura e (re)escritura de ‘Os Lusíadas’: a
navegação poética de Manuel Alegre” (19h20). Esta parte termina também com uma
discussão.
Camões, a obra e a edição
Pelas
20h00 em Macau, inicia-se o painel “Camões, da sua época até ao século XIX”.
Será então a vez de Vitor Amaral de Oliveira, com “Camões e D. Sebastião, um
par romântico”, e de Aude Plagnard, que se vai debruçar sobre o tema “As vidas
francesas de Luís de Camões” (20h20). Depois José Carlos Canoa vai falar sobre
“As grandes colecções camonianas dos séculos XIX e XX” (20h40) e Gil Clemente
Teixeira vai conduzir uma sessão intitulada “Cruzar pequenos mundos de poesia:
a recepção de ‘Os Lusíadas’ (1572) no poema ‘Ulyssippo’ (1640) de António de
Sousa de Macedo” (21h00). “’Os Lusíadas’, um espelho de príncipes” será
abordado por Isabel Rio Novo (21h20), enquanto “O amor na ‘ilha namorada’ d’’Os
Lusíadas’” será conduzido por Marcelo Lachat. No fim deste painel haverá o
lançamento de livros e um debate.
A
terceira parte do Congresso começa pelas 23h00, intitulando-se “A obra de
Camões e a sua edição”. Maria do Céu Fraga será a primeira, falando sobre
“Camões e o soneto pastoril: tradição e novidade”, seguindo-se depois Barbara
Spaggiari, com “Para a edição crítica das ‘Cartas’ de Luís de Camões” (23h20).
“A música em Camões: concordâncias musicais no ‘Cancioneiro de Paris’” será a
última comunicação e caberá a Fábio Vianna Peres (23h40).
No
fim, decorrerá um painel conclusivo – “As edições em curso da obra camoniana: a
edição crítica de ‘Os Lusíadas’ pelo CIEC, a edição Camoniana de Genebra, e a
edição do teatro camoniano” – com as intervenções de Telmo Verdelho, Barbara
Spaggiari e José Camões (00h00). A moderação estará a cargo de Felipe de
Saavedra.
No
Congresso haverá participações especiais de estudantes de Cultura Portuguesa,
História de Portugal e Língua Portuguesa da Universitas Indonesia.
As
sessões podem ser acompanhadas online, através do YouTube
(https://www.youtube.com
/c/LuísdeCamõesYT).
IPOR diz que encontro “é altamente benéfico” para a obra
de Camões e sua divulgação
Apesar
de não estar envolvido na organização do Congresso, o Instituto Português do
Oriente (IPOR) considera que estas iniciativas são sempre importantes “para
aprofundar o conhecimento da obra de um poeta que, quase 500 anos depois da sua
morte, continua a ser enigmática mesmo para os que a estudam diária e
compulsivamente”. Para Joaquim Coelho Ramos, este aprofundar de conhecimentos
“tem sempre consequências positivas a nível geral, na medida em que abre novos
caminhos para uma obra cuja importância há muito ultrapassou as fronteiras
nacionais, mas também a nível específico, na medida em que permite a todos os
que o desejem, um acesso mais descodificado a certos aspectos da epopeia”.
Sublinhando que o interesse pelo poema a nível internacional não é de hoje, o
director do IPOR apontou ao Jornal Tribuna de Macau que “este tipo de encontros
científicos, com partilha de visões e de leituras ancoradas em bases culturais
diferentes (decorrente, justamente, do carácter internacional dos
participantes) é altamente benéfico quer para a obra, quer para a sua
divulgação”. Apesar de considerar que a divulgação de “Os Lusíadas” tem sido
bem feita pelas instituições portuguesas em várias partes do mundo,
nomeadamente em cátedras patrocinadas pelo Instituto Camões, Coelho Ramos
defende também que “talvez haja espaço para um maior apoio à divulgação dos
trabalhos de investigação, nomeadamente ao nível da sua difusão através de uma
rede de investigadores ou centros de investigação internacionais”. Catarina Pereira
– Macau in “Jornal Tribuna de Macau”
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