Sete anos após o início do projeto, já foram reintroduzidos no território português e espanhol 94 linces-ibéricos. Atualmente, e contando também com a reprodução na natureza, já vivem mais de 200 linces em liberdade no Baixo Alentejo e no Sotavento Serrano do Algarve
No
passado dia 24 de fevereiro, em Alcoutim, foram reintroduzidos na natureza mais
dois exemplares de lince-ibérico, o Sismo e a Senegal. Aquela que foi a
primeira solta de linces-ibéricos a ter lugar no Algarve vai acrescentar mais
dois exemplares à comunidade de cerca de 200 linces-ibéricos que vivem
distribuídos por um vasto território, em Portugal, que se estende entre os
concelhos de Serpa e de Tavira.
Para
o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), trata-se de uma
«história de sucesso resultante de uma consistente cooperação Ibérica», que se
constata sete anos após o início do processo de reintrodução desta espécie.
Um pouco de história
Segundo
o ICNF, no último quartel do século XX, não existia em território continental
português nenhuma população estável de lince-ibérico. Os últimos exemplares
observados nas décadas de 70 e 80 constituíam já indivíduos isolados, residuais
ou dispersantes, provenientes de movimentos transfronteiriços entre Espanha e
Portugal.
Os
censos então realizados em Portugal e em Espanha apontavam para um efetivo
inferior a 100 animais em toda a península ibérica, território de onde esta
espécie é endémica, o que agravava o estatuto de “criticamente em perigo de
extinção” atribuído pela UICN já em 1996.
Desde
os anos setenta do século XX que a situação da espécie despoletou diversas
iniciativas, quer pelas entidades da administração central, responsáveis pela
conservação da natureza, quer por diversas ONG.
A
situação em Espanha, embora menos crítica, também era de acentuada redução de
efetivos em liberdade, pelo que os dois Estados ibéricos celebraram, em 1 de
outubro de 2004, em Santiago de Compostela, por ocasião da XX Cimeira
Luso-Espanhola, o “Memorando de Entendimento para a Cooperação sobre a
Águia-Imperial e o Lince-Ibérico”.
A
partir daqui foram estabelecidas inúmeras iniciativas para consolidar este
objetivo comum de preservação das espécies endógenas, que acabou por culminar
na cedência de Espanha de 14 machos e seis fêmeas, para integração no Centro
Nacional de Reprodução em Cativeiro de Lince-Ibérico (CNRLI), que foi entretanto
construído pela empresa Águas do Algarve, e inaugurado em maio de 2009, no
concelho de Silves, como medida de sobrecompensação ambiental pela construção
da Barragem de Odelouca e do Túnel de Ligação Funcho-Odelouca.
A
concretização efetiva ocorreu em outubro de 2009, com a chegada ao CNRLI da
primeira fêmea cedida a Portugal pela Junta Autónoma de Andaluzia, a Azahar. A
esta fêmea sucederam-se outros exemplares, que constituíram a base do núcleo
reprodutor fundador do Centro.
Uma comunidade em crescimento
Ao
todo, já foram reintroduzidos no território português e espanhol 94
linces-ibéricos. Estes animais libertados são provenientes de qualquer um dos
cinco centros de reprodução existentes na península Ibérica, sendo a sua
proveniência decidida por um Comité de Cria em Cativeiro de Lince-Ibérico
(CCCLI), que congrega representantes técnicos e científicos de Espanha e de
Portugal.
Esta
equipa estabelece, em função do seu perfil genético, os animais e os locais
onde são libertados, tal como decide previamente os emparelhamentos
(acasalamentos) efetuados anualmente nos centros de reprodução.
Sete
anos após o início do processo de reintrodução, são agora referenciados cerca
de 200 exemplares em Portugal, distribuídos por um território que se estende
entre os concelhos de Serpa e de Tavira.
Durante
o ano passado, registou-se ainda a ocorrência de 9 nascimentos na região do
Algarve, existindo ainda um amplo território que poderá vir a ser ocupado pela
espécie.
Segundo
o ICNF, o sucesso desta operação deve-se também à colaboração de proprietários
e de gestores de herdades e de zonas de caça, à gestão sustentável do
território, à abundância de coelho-bravo, à atitude favorável evidenciada pela
população local relativa à presença do lince e à conectividade da população de
linces do Vale do Guadiana com as comunidades presentes noutras áreas de
Espanha, fundamental para o incremento da variabilidade genética. In “Mood
Sapo” - Portugal
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