Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

quarta-feira, 30 de março de 2022

A CPLP quer descartar a Guiné-Bissau?

Amílcar Cabral deve estar a dar voltas na tumba, perante a indiferença dos líderes dos povos e países tidos, historicamente, como irmãos da Guiné-Bissau. Naquele país, está em curso um processo de institucionalização do caos, estimulado pelo próprio presidente da República, cujo desfecho será a transformação do país num estado falhado e, inevitavelmente, a sua entrada na órbita da francofonia, via Senegal. É em momentos assim que se confirma que a tão cantada (por alguns) "lusofonia" não passa de uma mistificação.

Um grupo de quatro partidos políticos guineenses acaba de emitir uma nota de repúdio à violenta tentativa do chefe de estado, Sissoco Embaló, de impedir a realização do congresso do PAIGC, que já devia ter ocorrido no mês que agora termina e que é visto como o arranque dos preparativos desse partido para as próximas eleições legislativas e presidenciais (2024). No fim da semana passada, forças policiais atacaram a sede do PAIGC, onde se realizava o seu comité central, para tomar decisões acerca do congresso da organização. O insólito ataque aconteceu na sequência de uma onda de sequestros, agressões e assédio de militantes e deputados do PAIGC, assim como de membros da sociedade civil, em todo o país.

Todas os dados apontam para a responsabilidade pessoal do presidente guineense nesse estado de coisas. A Guiné-Bissau é um estado semi-parlamentar ou semi-presidencial (como quisermos), mais próximo do modelo francês do que do português, mas o chefe de Estado não esconde a sua pretensão de ir além dos poderes que o modelo lhe permite. Sissoco parece particularmente nervoso com o crescimento da popularidade do PAIGC e do seu líder, Domingos Simões Pereira.

No passado dia 1 de fevereiro, o presidente não hesitou em recorrer a uma "inventona", forjando um golpe de estado que não consegue ser cabalmente explicado até agora (golpe de estado sem a participação de unidades militares é um mistério insondável), para resgatar a sua popularidade e, sobretudo, justificar as medidas repressivas que logo a seguir tomaria. Logo sete dias depois, a Rádio Capital, uma emissora independente localizada na capital do país, Bissau, foi atacada por homens armados, que destruíram os equipamentos da estação e agrediram vários funcionários e jornalistas. Seguiu-se uma manobra pantomínica, envolvendo o poder judicial, para impedir a realização do congresso do PAIGC, que deve reconfirmar Domingos Simões Pereira como seu líder.

O presidente guineense conta, na sua estratégia de marginalizar o PAIGC, com o apoio de Nuno Nabiam, que foi primeiro-ministro na sequência das eleições legislativas de 2019. As referidas eleições foram ganhas pelo PAIGC, mas sem maioria absoluta, permitindo a Nabiam, impulsionado por Sissoco, fazer uma espécie de "geringonça", tendo comprado os votos de três deputados eleitos pelo partido vencedor, o que, juntando os votos de mais outros partidos, lhe permitiu fazer maioria. Entretanto, atualmente, o presidente e o primeiro-ministro parecem estar de costas voltadas, por causa de uma história mal contada envolvendo um avião, drogas e outras "ninharias". Os observadores consideram, no entanto, que, perante o crescimento do PAIGC e do respetivo líder, Sissoco e Nabiam acabarão por entender-se novamente.

Enquanto isso, a CEDEAO resolveu enviar um contingente militar para a Guiné-Bissau, por pressão do Senegal. Tal força será composta por tropas senegalesas e nigerianas, o que leva os quatro partidos que se opõem ao presidente (PAIGC, UM, PCD e PSD) a considerar que isso visa "garantir as condições para que Umaro Sissoco Emabaló materialize a sua agenda autocrática e realize os compromissos assumidos no acordo de exploração do petróleo assinado com o Senegal".

E a CPLP? João Melo – Angola in Diário de Notícias


Aníbal João da Silva Melo - Poeta e jornalista angolano, nasceu a 5 de setembro de 1955 em Luanda, Angola.

Feitos os primeiros níveis de ensino no seu país, estudou Direito na Universidade de Coimbra e, em Luanda, na Universidade Agostinho Neto. Contudo, não concluindo este curso, licenciou-se em Comunicação Social na Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde tirou o mestrado em Comunicação e Cultura.

Regressado a Luanda, já como jornalista profissional, ingressou na Rádio Nacional de Angola (RNA) e assumiu a direção de diversos meios de Comunicação Social estatais, nomeadamente a "Agência Angola - Press Angop", o Jornal de Angola e o semanário privado Correio da Semana.

Homem ligado à atividade literária e artística, foi membro fundador da União de Escritores Angolanos. Nesta condição, foi secretário-geral entre 1992 e 1996 e Presidente da Comissão Diretiva entre 1996 e 1999.

Como outros escritores angolanos, nomeadamente Jofre Rocha, Jorge Macedo, Garcia Bires e Adriano Botelho de Vasconcelos, investiu na autenticidade afro-angolana, através do empenhamento ideológico-político.

Começando por se centrar nos temas tradicionais do imaginário africano, cantando depois o amor e os ideais da revolução, o autor João de Melo vai constituir-se como o primeiro poeta africano de Língua Portuguesa a "experimentar a poesia pictórico-visual", conforme textos dos seus livros O Caçador de Nuvens, de 1993 e Limites e Redundâncias. Caracterizada pela mistura de um realismo, aliás fortemente irónico e desvastador, com algumas "formações" surrealistas e experimentalistas, a sua poiesis, simultaneamente eco da voz de um sujeito militante e do coração de um sujeito lírico, surge então híbrida, tornando-se um marco das novas gerações literárias. Manifestando uma grande preocupação formal e linguística, os seus textos estabelecem uma relação fundamental entre a "ética e a estética".

Na verdade, o autor, assim como muitos outros das décadas de 80 e 90, assume uma postura de denúncia da corrupção e das contradições do poder, através de um sujeito de enunciação que, desiludido e desencantado com os seus referentes revolucionários, abandona o empenhado "canto social coletivo". Começando a percecionar a "crise das utopias" que vai enformar uma série de interrogações, estes jovens poetas são veículos de muitas angústias existenciais e geracionais.

Profundamente angolana, a poesia de João de Melo intertextualiza com a de outros poetas do mundo, nomeadamente Álvaro de Campos, Drummond de Andrade e Paulo Leminski.

Muito diversificada, a sua temática assenta nuclearmente no Mar e na Mulher, dois topus que se cruzam enquanto configuradores do erotismo: "Navego à vontade no teu dongo/aliso-lhe como se fosse uma mulher/?"

O tema da mulher e a sua relação com o mar aparece em João de Melo associado à figura mítica de "Kianda" (sereia), enquanto símbolo da busca da angolanidade: " /ah amada o azul terrível do mar/está todo nos teus olhos negros/eu oiço o grito da Kianda/e ximbico sem parar sem parar."

Um dos grandes nomes representativos da "res" poética, em Angola, é autor dos seguintes títulos de poesia: Definição (1985); Fabulema (1986); Poemas Angolanos (1989); Tanto Amor (1989); Canção do Nosso Tempo (1991); O Caçador de Nuvens (1993); Limites e Redundâncias,1991 (1997); Jornalismo e Política. Estudo (1991); Imitação de Sartre e Simone de Beauvoir.Contos (1998). É diretor da revista África 21 in “Porto Editora” – João de Melo (Angola) na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2022-03-30 18:12:27]. Disponível em https://www.infopedia.pt/$joao-de-melo-(angola)



 

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