Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

quarta-feira, 2 de março de 2022

Galiza versus Galicia

Utilizar na escrita o nh é uma tomada de postura por um galego mais nosso e mais irmão do português, frente ao ñ de Espanha, que assimila o galego ao castelhano. Mas há uma palavra fundamental que me parece um verdadeiro símbolo da identidade do galego e dos galegos: Galiza.

Segue a manter-se o debate sobre qual é a forma correta do nome da nossa nação: Galiza ou Galicia. Eu mesmo tive que padecer em tempos a imposição da segunda em algumas das minhas publicações, apesar de ter assinado o apoio à primeira. A decisão salomónica dos últimos tempos é que ambas as formas são “galegas”, corretas e legítimas. Mas isto não faz verdadeira justiça ao nome.

De novo, a postura defendida por A. López Carreira num trabalho recente semelha clara: “En canto ao nome do país, de entre as varias grafías xa existentes impúxose, por propia evolución, a de ‘Galicia’, e así se recoñecía como nosa en toda parte” (“Máis Galicia”, Sermos Galiza).

Contrariamente, como bem diz Martinho Montero Santalha num artigo de há mais de dez anos: “Galiza é a forma [galego-]portuguesa, mantida em Portugal desde os inícios da língua escrita (s. XIII) até hoje; enquanto Galicia é a forma atual castelhana, usual também na fala da Galiza desde há tempo… A oposição Galiza / Galicia é só um caso particular do confronto geral entre duas conceções da língua da Galiza e do seu futuro”; ou integrar-se com o português ou uma submissão ao castelhano (“O nome da Galiza”, Boletim da Academia Galega da Língua Portuguesa). No seu trabalho defende-se que Galiza é a forma que deve ser normativa: a) porque –com argumentos filológicos– Galiza é a forma genuína da nossa língua, enquanto Galicia é um castelhanismo difundido em tempos modernos; b) porque Galiza é a forma que se emprega no restante âmbito internacional da língua.

Galiza –como escreviam Castelao, Viqueira e as Irmandades– é a forma genuína do nome do país na nossa língua, Galicia é um castelhanismo. Não é só uma questão linguística e histórica, mas política. Não é de estranhar que o último slogan do PP fora: “Galicia, Galicia, Galicia”… Victorino Prieto – Galiza in “Portal Galego da Língua”

 

Victorino Pérez Prieto - (Hospital de Órbigo-León, 1954) é professor de universidade reformado, escritor, teólogo e pensador. Especialista em temas de cultura galega; em particular na Geraçom "Nós" e Prisciliano. Também em Raimon Panikkar, sobre quem fez as Teses de Doutoramento em Filosofia (USC) e Teologia (UPSA). Colaborador habitual em jornais (atualmente em Nós Diario) e revistas galegas (Encrucillada, Grial, A Nosa Terra...) e internacionais (Iglesia viva, Dialogal, Theologica Xaveriana, CIRPIT review, Complessitá...). Publicou mais de vinte livros individuais (A geraçom "Nós", Do teu verdor cinguido, Contra a síndrome N.N.A.Unha aposta pola esperanza, Más allá de la fragmentación de la teología el saber y la vida. Raimon Panikkar, Prisciliano na cultura galega, Prisciliano. Um cristâo livre, La búsqueda de la armonía en la diversidad...). E mais de cinquenta em colaboraçom (Diccionario Enciclopedia do Pensamento Galego, O Pensamento Luso-Galaico-Brasileiro 1850-2000, Galegos Universais...).

 

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