O presidente do Observatório da China defendeu ontem que os países de língua portuguesa devem aprofundar o seu relacionamento com a China, rejeitando a ideia de que Pequim deixe os países em que investe presos à dívida
“Diz-se
que a China tem a trapaça de deixar os países presos a dívida, (…) mas as
importações de África foram, desde 2020, de 1,2 triliões, enquanto as
exportações para África foram de 1,27, portanto valores equilibrados”, disse
Rui Lourido, numa conferência sobre a China que decorre no Centro Científico e
Cultural de Macau, em Lisboa.
Em
declarações à Lusa à margem da conferência, o historiador reiterou que “não há
essa perspetiva de os países ficarem presos na armadilha da dívida, até porque
a China perdoou a grande parte das dívidas acumuladas dos países, não só de
língua portuguesa como de outros em África”.
Na
sua intervenção, o responsável começou por defender a necessidade de
“desmistificar a campanha, a retórica anti-China que tem assoberbado” os
‘media’. “Desde a sua entrada na Organização Mundial do Comércio, a China
contribui com cerca de 30% do crescimento mundial e o mundo estaria em
recessão, não fosse o actual desenvolvimento da China. Vimos que, na pandemia,
a própria China sustentou que o mundo desenvolvido não entrasse em descalabro”,
disse Lourido, para quem a presença chinesa no comércio mundial “beneficiou
milhões de pessoas em todo o mundo, especialmente em países em
desenvolvimento”, mas também no mundo desenvolvido.
Referindo-se
a África, o historiador lembrou que a China é já o quarto investidor e um dos
maiores parceiros comerciais do continente e o principal parceiro de países
como a África do Sul ou Angola. “O volume de comércio da China em África subiu
cerca de 38% nos primeiros três quartos de 2021. O investimento direto na
indústria africana cresceu cerca de 10% e o valor dos novos contratos assinados
também aumentou cerca de 22%”, exemplificou.
Lourido
sublinhou que Pequim “não se interessa só por tirar matérias-primas”, mas
também pelo desenvolvimento dos países, investindo em “infraestruturas
essenciais ao desenvolvimento do futuro económico desses países”, como a
ferrovia, a energia, as telecomunicações ou mesmo escolas e unidades de saúde.
Além
disso, os investimentos chineses criaram “mais de 4,5 milhões de empregos em
África”, mas Pequim “não impõe a sua visão política (…) como fazem os Estados
Unidos e a União Europeia”.
O
investigador defendeu que todos os países lusófonos têm relações privilegiadas
com Pequim, lembrando que entre 2014 e 2021 todos eles fizeram acordos
económicos significativos com a China, alguns deles, como Portugal, parcerias
estratégicas.
Para
o responsável, os Estados lusófonos “devem aproveitar o desenvolvimento
económico da China para a sua autonomia no contexto de África e, porque não, no
contexto europeu”.
Entre
os países de língua portuguesa, o Brasil é atualmente o principal parceiro da
China, imediatamente seguido por Angola, sendo que a balança comercial com
estes dois países “é desvantajosa para a China”. O terceiro país lusófono nas
relações com a China é Portugal, seguido de Moçambique e Timor-Leste e, depois
Cabo Verde, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe, disse o investigador.
Questionado
sobre se os países lusófonos devem ter alguns cuidados nas suas relações
económicas com a China, Rui Lourido lembrou que Pequim, nas suas relações
internacionais, “tem a política do ganha-ganha, ou seja, é um ganho mútuo.
Admitiu que países como Moçambique ou Angola devem ter preocupações com a
sustentabilidade, no sentido de evitar a poluição e o desmatamento, mas
sublinhou que isso ocorre com outros investidores também. “O capitalismo é
igual em todos os países”, afirmou, alertando, no entanto, que os próprios
países de língua portuguesa “são responsáveis e têm de exigir uma negociação,
não só em pé de igualdade com a China, mas tendo em atenção ao comércio
marginal que se aproveita disso”. In “Ponto Final” – Macau com “Lusa”
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