Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

quinta-feira, 31 de julho de 2025

São Tomé e Príncipe - Professores de matemática concluem formação intensiva para melhorar ensino

O reforço da qualidade do ensino da matemática constitui uma das prioridades estratégicas do Ministério da Educação. Neste âmbito, está em fase de conclusão um curso de capacitação destinado aos professores de matemática do ensino secundário.


Ao todo, 64 professores participam nesta formação intensiva, que combina sessões presenciais e online. A iniciativa, promovida pelo Ministério da Educação com apoio financeiro da Fundação Calouste Gulbenkian, procura reforçar as competências pedagógicas dos docentes e melhorar o ensino da matemática em São Tomé e Príncipe.

“Estamos empenhados em reforçar as competências dos professores e em introduzir metodologias inovadoras, com o objetivo de alcançar melhores resultados no ensino da matemática nos próximos anos”, afirmou Maider de Sousa, técnico do Ministério da Educação, Cultura, Ciência e Ensino Superior.

Isabel Orbigo, da Associação Portuguesa de Matemática, é uma das formadoras. Destaca o empenho dos participantes e mostra-se confiante numa melhoria significativa do desempenho dos professores.

“Os professores demonstram grande abertura para melhorar. Sentem a necessidade de partilhar experiências, explorar novos manuais e documentos, e conhecer diferentes perspetivas. Essa atitude é muito encorajadora”, destacou Isabel Orbigo, formadora.

Iniciada em dezembro, a formação aproxima-se da sua fase final com a realização do Bootcamp de Matemática São Tomé e Príncipe 2025, que consolida os conhecimentos adquiridos ao longo dos sete meses.

“Senti-me desafiado a voltar a estudar para me manter atualizado. O intercâmbio de ideias com os colegas e o contacto com novas técnicas vão permitir-me aperfeiçoar o processo de ensino-aprendizagem”, sublinhou Hernâni Teixeira, professor de Matemática.

O curso é coordenado pela Direção-Geral do Planeamento e Inovação Educativa e decorre no Instituto Superior de Educação, em São Tomé. José Bouças – São Tomé e Príncipe in “Téla Nón”


Macau - “A menina da casa grande”: de budista a missionária na China

Lançado no mês passado no território, o livro “A menina da casa grande” conta a história de Ng Iun Peng, uma mulher desconhecida, que viveu a ocupação japonesa, a guerra civil chinesa e a Revolução Cultural, acabando por se refugiar em Macau

Pode ser desconhecida do grande público, mas a sua vida está longe de ser comum. Nascida em 1928, em Cantão, Ng Iun Peng passou pela ocupação japonesa, pela guerra civil chinesa e pela Revolução Cultural. Foi em Macau que se refugiou, acabando depois por viver em Portugal, durante a ditadura do Estado Novo. Viria a passar os seus anos de reforma como missionária na China continental, mas morreu em Braga, em 2022.

O livro está dividido em três partes, que seguem a vida da protagonista, conta a autora Maria Helena do Carmo ao Ponto Final. “A primeira passa-se enquanto a personagem é nova — desde menina até se tornar adulta é passada na China e uma parte no território, quando ela, depois de 1949, se refugia em Macau”, diz, acrescentando: “É aí que conhece o marido e se casa”.

Já a segunda parte versa sobre a vida em Portugal, na década de 50 e 60. “Ela vai para Lisboa e passa por bastantes dificuldades, é mesmo infeliz nessa fase”, recorda. “Depois, como é bastante fecunda [teve 10 filhos], tem problemas com a sogra e é uma vida muito difícil até chegarmos ao fim da segunda parte, quando já tem os filhos crescidos”, conta.

Por último, a autora centra-se nos anos em que Peng está reformada, a partir da década de 90, em Portugal e, posteriormente, quando decide voltar para o território, onde tem três filhos a morar. “Vai para Macau e depois resolve ser missionária em Cantão”, explica.

Os altos e baixos de uma vida

Peng nasceu em Cantão e cresceu numa moradia com um terreno muito grande. “Era onde o meu avô [Ng Yun] vivia com as sete mulheres e é a casa onde ela cresceu até fugirem para Macau”, conta ao Ponto Final um dos filhos, Joaquim Pereira.

Foi uma vida cheia de provações. “Quando tinha 14 anos, foi raptada pelos japoneses para ir trabalhar para um hangar e fazer a escavação, mas conseguiu fugir com outros prisioneiros que lá estavam”, diz a autora do livro. “A minha mãe assistiu a muitas execuções na China continental”, diz também Joaquim Pereira. “Andou semanas pelo meio da selva, viu muitos mortos, pestilência, aldeias dizimadas”, recorda o filho. “Devido àquilo que viu, teve tanto medo que nunca nos ensinou chinês — tinha medo que Mao Tsé-Tung viesse a Portugal buscar-nos”, lamenta o descendente.

Depois, durante a guerra civil chinesa, como o pai era rico e nacionalista, perdeu tudo e teve de sair da China continental. “O pai tinha terras consideráveis, tinha empresas e indústrias, comércio, era bastante rico”, diz a escritora.

Apreciador de ópio e com bastantes contactos em Macau, partiu para o território, juntamente com a sua primeira mulher e a filha Peng. “A primeira senhora do pai é que foi para Macau, porque era sempre a primeira senhora que acompanhava o marido, e levou a Peng porque gostou sempre muito da miúda desde pequenina”, conta.

Depois, já no território, a protagonista da história veio a trabalhar em Macau numa fábrica de tabaco, além de ter dado aulas de matemática numa escola chinesa, até conhecer o marido, um português chamado Fernando, que era electricista e que estava ali a cumprir o serviço militar. “Casou e foi preciso uma autorização do Vaticano, baptizou-se no dia em que se casou, mas sem fé nenhuma, para poder vir para Portugal”, diz. Conforme conta o filho Joaquim Pereira, como o pai era de um estrato social inferior, o avô acabou por cortar relações com Peng. “Foi ao funeral dele, mas nunca mais o viu em vida e sei que o meu avô era muito conhecido em Macau [médico e conhecido no meio das Letras]”, diz o descendente.

Portugal não foi fácil. “Descontextualizada do seu ambiente e cultura, chegou cá e só encontrou adversidades e, ainda por cima, sofreu alguma rejeição por ser chinesa”, declara a autora do livro. O marido também mudou de comportamento, assim que chegaram ao país europeu. “Ela gostava bastante do marido para se sujeitar a várias coisas, o marido chegava a bater-lhe”, recorda.

Mas Peng foi sempre superando os altos e os baixos da vida. “Começou a ganhar a sua vida na costura — ela comprou uma máquina de costura na Feira da Ladra, em Lisboa. Só tinha 25 escudos para pagar, mas valia 250 escudos e o senhor aceitou vendê-la”, conta. “Foi para ela um ganha-pão — começou a fazer aventais de plástico e depois comprou outra máquina, chegando a ter oito máquinas a trabalhar com empregadas e tudo”, acrescenta. Porém, considerando a saúde do marido, tiveram de sair de Lisboa e assentar em Vila Real. “É a segunda vez na vida que perde a sua independência económica”, lamenta a autora.

Na última fase da vida, já estava reformada e, em vez de se limitar a desfrutar, optou por partir para Macau e trabalhar como missionária na China continental.

O contacto com o cristianismo

Nos anos 50, quando Peng chegou a Portugal, mal falava português. “Ela vai à Feira do Livro e encontra um livro em chinês. Perguntou quanto custava e o vendedor disse-lhe que podia levar, que ninguém sabia ler isto”, conta. “Era a altura do maoismo, as pessoas tinham medo. Era uma bíblia e acabou por mudar a vida dela”, diz, acrescentando: “Ela era budista, vegetariana e aqui não encontrou nenhum templo da sua religião”. Começou então a dedicar-se ao cristianismo.

“A minha mãe, com 82 anos, teve um chamamento ‘divino’ e foi como missionária para Cantão”, conta Joaquim Pereira. “Ela conversava com a Rute [filha] e teve um sonho com imagens específicas do sítio onde era, e ela e a minha irmã, ao fim-de-semana, saíam de Macau e iam as duas correr as províncias até encontrar o sítio do sonho”, diz o filho. “Havia duas referências: muitos pobres na rua e um restaurante muito conhecido por causa dos frangos”, acrescenta.

Num desses passeios na China continental, depois de sentir o cheiro a frango assado esbarraram na casa dos sonhos de Peng, na zona de Xi Man Kou, que significa Porta do Oeste, na cidade de Cantão. “Entraram e, olhando pela janela das traseiras, a mãe disse: ‘esta é a rua do meu sonho’”. A partir dessa altura, a mãe quis alugar ali uma casa e iniciar o seu trabalho de evangelismo cristão.

Foi nessa altura que acabou por ficar conhecida como Maria Teresa de Cantão, dado o seu trabalho junto dos pobres daquela zona. “Ali, mesmo em frente a um templo budista, levava uma cuvete com arroz e dizia, quando se abria, ‘Jesus ama-te’”, recorda o filho. Por isso, a irmã tentava sempre ir ao fim-de-semana fazer companhia à mãe, com receio de alguma retaliação.

Os filhos: as maiores fontes

A oportunidade para escrever este livro surgiu pelo contacto com Joaquim Pereira, um dos filhos de Peng, que era o professor de patuá de Maria Helena do Carmo, no curso leccionado no Centro Científico e Cultural de Macau, em Lisboa. “No primeiro ano do curso, a senhora estava já muito doente, numa fase final, e houve algumas vezes em que teve de interromper para ver a mãe, que estava muito mal”, diz a autora. “Ele foi contando aspectos da vida e eu achei aquilo muito interessante, podíamos fazer os dois”, continua. “Ele foi fornecendo gravações, documentos e coisas para eu ir fazendo”, diz.

Já com alguns livros publicados, a escritora refere que este é o primeiro que faz sobre uma mulher desconhecida. “Isto despertou-me interesse, porque eu queria escrever sobre uma pessoa anónima”, afirma, salientando que se tratava de uma pessoa “extraordinária”. Quanto mais se foi informando e estudando as gravações feitas pelos filhos, mais empatia ganhou pela protagonista do livro.

Os filhos de Peng, Joaquim Pereira, Ana Rute e Vítor Ng Alves, foram particularmente importantes para a recolha de informações. “O Joaquim veio aqui para a minha casa num fim-de-semana com a irmã [Rute], que foi quem mais viveu com a mãe até aos 17 anos, e contaram uma série de histórias”, recorda.

“Senti, como mulher e mãe, o que aquela mulher passou ao longo da vida”, refere. “Nasceu rica, tinha um curso médio e depois teve de ser mulher a dias e fazer limpezas para tratar dos filhos. Ela não olhou a nada para que os filhos estudassem, o marido achava que não deviam, mas ela sempre lutou por isso”, diz.

Cientes da riqueza que era a história de Peng, os filhos foram fazendo essa recolha de testemunhos em vida. Expressando-se em patuá cantonense, foi também com a ajuda dos descendentes que a escritora conseguiu perceber algumas das coisas gravadas.

De tiragem limitada, “A menina da casa grande” foi escrito por Maria Helena do Carmo e editado pelo Instituto Internacional de Macau. Luciana Leitão – Macau in “Ponto Final”


Guiné Equatorial - Assinados seis protocolos em encontro de empresários

O Encontro Anual de Empresários chineses e lusófonos realizou-se pela primeira vez na Guiné Equatorial, entre 28 e 30 de Julho. Com a participação de mais de 500 representantes e empresários, o evento visou promover a cooperação comercial e industrial entre a China e as empresas locais e potenciar o papel de Macau como plataforma sino-lusófona


O Encontro de Empresários para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa decorreu entre segunda e quarta-feira em Malabo, a capital da Guiné Equatorial. Sob o tema “A Industrialização Impulsiona o Desenvolvimento Agrícola”, o evento deste ano resultou na realização de 120 bolsas de contactos e na assinatura de seis protocolos de cooperação, abrangendo áreas como arbitragem e resolução de disputas, produtos agrícolas, serviços jurídicos, transportes e tecnologias de informação.

Para esta edição, o Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento (IPIM) organizou uma delegação de cerca de 40 empresários oriundos do interior da China, de Macau e de Hengqin, envolvidos nos sectores de mercadorias, finanças, comércio electrónico transfronteiriço, agricultura, ‘big health’, tecnologia médica, serviços profissionais e turismo. No total, reuniram-se em Malabo mais de 500 representantes dos governos e do sector empresarial da China e dos países de língua portuguesa.

Diz o IPIM que, entre as diversas actividades que marcaram o Encontro de Empresários, destacaram-se uma exposição de produtos locais, uma sessão de promoção com o tema “Relações Económicas e Comerciais Bilaterais entre a China e a Guiné Equatorial” e visitas a granjas e projectos culturais e turísticos. Sendo este um dos países com maior produção de cacau, um dos principais temas de interesse relacionou-se com a possibilidade de adquirir grãos de cacau em bruto directamente de África – e não apenas através de distribuidores do interior da China, como acontece actualmente.

“Através das bolsas de contacto, foi-nos possível conhecer diferentes empresas e inteirar sobre possíveis áreas de cooperação, destacando-se a energia, a educação e oportunidades de comércio para diferentes produtos”, afirmou Li Jie, director da Perfeição Companhia, uma empresa de consultoria para investimentos e ligações comerciais entre a China e os países de língua portuguesa. “Esperamos poder, através deste evento económico e comercial, compreender o mercado da Guiné Equatorial e, posteriormente, estabelecer contactos após o nosso regresso à China”.

Recordando que a Guiné Equatorial aderiu ao Fórum de Macau em 2022, contribuindo para uma mais aprofundada parceria entre as duas regiões, o presidente da Câmara de Comércio da Guiné Equatorial disse esperar que este encontro venha promover ainda mais “a cooperação económica e empresarial” entre a China e as comunidades lusófonas.

Em comunicado, o IPIM acrescenta que as empresas locais puderam neste evento “perceber as inúmeras oportunidades trazidas pelo desenvolvimento da integração entre Macau e Hengqin para os investidores internacionais, manifestando interesse em visitar [as duas regiões] ‘in loco’ para explorar o vasto mercado chinês através das vantagens da plataforma” sino-lusófona de Macau. O organismo compromete-se ainda a continuar a “organizar e a participar em actividades económicas e comerciais, como a ‘2.ª Exposição Económica e Comercial China-Países de Língua Portuguesa’, que se realizará em Outubro, em Macau”.

O Encontro de Empresários é uma iniciativa de negociação e cooperação entre empresas lançada em Macau em 2003, que já contou com 16 edições, mais de 6800 participantes e cerca de 3900 sessões de bolsas de contacto. A próxima edição será realizada em Moçambique, seguindo o regime rotativo que tem acontecido desde 2005. Carolina Baltazar – Macau in “Ponto Final”


Depois da União Europeia e Suíça, tarifaço chega ao Brasil

Quem viu a presidente da Suíça confessar a impotência da Suíça, "um país pequeno" disse ela, para fazer frente ao presidente Trump, imaginou que dias difíceis viverá o Brasil, mesmo sendo um país muito maior! Mas não poderia imaginar a ousadia de Trump em desfechar uma tentativa de atentado à soberania brasileira, utilizando da pressão econômica e política contra o STF e contra o governo brasileiro.

Ainda há alguns dias, Trump reafirmava indiretamente estar decidido a punir o Brasil ao mostrar, numa entrevista, sua preocupação por Bolsonaro, definindo-o como um homem de bem injustiçado, que não deveria ser processado.

Os temores se confirmaram com a decisão do presidente Trump de utilizar o tarifaço como instrumento político e de chantagem contra o Brasil, mais especificamente contra o ministro do STF Alexandre de Moraes, enquadrando-o na lei Magnitsky.

No domingo, numa propriedade de Trump na Escócia, era a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, praticamente obrigada a apertar a mão de Trump, que "comemorava" a celebração de um acordo comercial de exportação e importação com os Estados Unidos, considerado uma derrota pela maioria da imprensa e políticos europeus, um acordo qualificado de capitulação, humilhação e submissão pela correspondente do jornal suíço Le Temps.

O tarifaço imposto por Trump à Suíça é de 31%, as negociações prosseguem nos EUA, mas como diz a presidenta Karin Keller-Sutter, às vésperas da Festa Nacional suíça, "nós não somos uma superpotência. Temos uma certa força econômica mas não política, temos de levar isso em conta. Agora está nas mãos dos Estados Unidos, nas mãos do presidente Donald Trump".

Com esse tipo de capitulação declarada, a Suíça dá a impressão de não estar negociando com Trump mas esperando um favor.

Porém, antes dessa declaração ser tomada como submissão e aceitação de uma derrota, a presidenta suíça acrescenta, numa tentativa de salvar as aparências: "mas não devemos nos fazer mais pequenos do que somos".

Difícil de reagir diante de um Trump prepotente, cheio de si, capaz mesmo de dar um ultimato a Putin para acabar com a guerra à Ucrânia, valendo-se de sua maioria absoluta na Câmara, Senado e na Suprema Corte, agindo com a arrogância de um ditador ou imperador absolutista.

A orgulhosa alemã Ursula von der Leyen, representando os 27 países da União Europeia, foi obrigada a ir à Escócia para negociar com Trump, no intervalo de suas partidas de golfe, e obter a diminuição das tarifas aduaneiras de 30% a 15% para os produtos europeus exportados para os EUA, enquanto os produtos norte americanos entrarão livremente na Europa.

Uma verdadeira capitulação contra a qual os europeus não vão usar o instrumento anti-coerção, a prometida "bazuca europeia" contra a pressão de Trump. A União Europeia terá de comprar petróleo, seus derivados, armamentos e investir nos EUA uma parte de sua economia, sem contrapartida dos norte-americanos.  Até agora, só a China foi capaz de peitar o super-presidente Trump.

Um ex-presidente do Banco Mundial, Prêmio Nobel de Economia de 2001, Joseph Stiglitz, elogiou a atual resistência do presidente Lula ao tarifaço de Trump e esperava reação semelhante, que não houve, de outros líderes mundiais. Tão logo foi conhecida a decisão de Trump de manter o tarifaço contra o Brasil, acompanhado do vergonhoso enquadramento do ministro Alexandre de Moraes na lei Magnitsky, o presidente Lula, falando em nome de todos os brasileiros, repudiou o ataque de Trump à nossa independência e à soberania brasileira.

O economista Stiglitz também se referiu ao ataque dos seguidores de Bolsonaro aos prédios dos Três Poderes, em Brasília, já presos e punidos severamente, e ao ataque do Capitólio pelos seguidores de Trump, já anistiados, afirmando serem mais firmes as instituições brasileiras.

Outro Prêmio Nobel de Economia, em 2008, Paul Krugman, defendeu a decretação de um impeachment de Trump depois de ter taxado em 50% as exportações brasileiras.

E aqui, diferente das taxas aduaneiras para a Suíça e União Europeia, entra outro fator. O tarifaço contra o Brasil não é só uma regulamentação econômica aduaneira, mas tem um objetivo político: punir o Brasil e utilizar o tarifaço como chantagem contra os ministros do STF, para proteger o ex-presidente Bolsonaro, prestes a ser condenado à prisão por tentativa de golpe, para implantar uma ditadura no Brasil.

Os dois prêmios Nobel de Economia não falaram, mas Trump parece agora também interessado em utilizar o tarifaço para fazer também chantagem ao Brasil, a fim de permitir aos EUA a exploração dos minerais estratégicos brasileiros.

Mostrando ser um especialista em chantagens, Trump parece oferecer ao Brasil, com a entrega da exploração dos minerais estratégicos aos EUA, uma variante à anulação do processo de Bolsonaro e decretação de anistia geral aos golpistas. Essa variante eliminaria o atual despertamento do nacionalismo em defesa das instituições brasileiras, contra a ameaça de pressão e intervenção norte-americanas no Executivo e Judiciário.

Uma reação visível no distanciamento de uma parte da direita à armadilha montada, nos EUA, pelo deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro com apoio de Paulo Figueiredo, neto do ditador João Figueiredo, para salvar Jair Bolsonaro ao preço de uma crise econômica no Brasil. A trama de Eduardo Bolsonaro, pela qual tem sido qualificado como entreguista e traidor da pátria, tem provocado crescimento de Lula nas sondagens, divergência entre os líderes do agronegócio e queda dos prováveis candidatos bolsonaristas à presidência Tarcísio, Zema e Caiado. Rui Martins – Suíça

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Rui Martins é jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. Criador do primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas, que levou à recuperação da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu “Dinheiro Sujo da Corrupção”, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto Carlos, “A Rebelião Romântica da Jovem Guarda”, em 1966. Vive na Suíça, correspondente do Expresso de Lisboa, Correio do Brasil e RFI.

 

quarta-feira, 30 de julho de 2025

Portugal – Universidade de Coimbra quer aumentar eficiência energética em habitações através de materiais que funcionam como “baterias térmicas”

A Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) está a coordenar o projeto internacional “Optimizing Energy Efficiency with PCM Integration in Portuguese Residences (3D-EE-Struct)”, que pretende aumentar a eficiência energética das habitações portuguesas, através da integração de Materiais de Mudança de Fase (PCMs), em elementos construtivos como paredes, tetos e pavimentos. 



De acordo com Ajitanshu Vedrtnam, investigador da Associação para o Desenvolvimento da Aerodinâmica Industrial (ADAI) da FCTUC, estes materiais funcionam como “baterias térmicas”, regulando naturalmente a temperatura interior ao armazenar calor durante o dia e libertá-lo quando necessário, reduzindo a dependência de sistemas ativos de aquecimento e arrefecimento.

«O 3D-EE-Struct centra-se particularmente em estruturas leves de construção, adaptadas ao clima português e tem como principais objetivos reduzir o consumo energético e as emissões de gases com efeito de estufa nas habitações, desenvolver estratégias práticas e validadas para a integração de PCMs em novas construções e reabilitações, bem como otimizar a localização e o tipo de PCM, através de modelação computacional avançada e testes laboratoriais», descreve o especialista.

Para além disso, os especialistas visam fornecer soluções inovadoras e aplicáveis que melhorem o conforto térmico interior ao mesmo tempo que reduzem significativamente as faturas energéticas.

«Esperamos conseguir poupanças energéticas até 25% nas necessidades de aquecimento/arrefecimento em pequenas habitações, autoajuste da temperatura interior até 5–8 °C, durante os períodos de verão e inverno, e criar diretrizes práticas e claras para arquitetos, construtores e decisores políticos interessados em implementar soluções energéticas baseadas em PCM», revela Nelson Soares, professor do Departamento de Engenharia Mecânica da FCTUC e investigador da ADAI.

A equipa pretende, ainda, validar os modelos de simulação, utilizando um apartamento real em Coimbra, fornecer apoio a soluções habitacionais acessíveis e adaptadas ao clima, reduzindo a dependência de sistemas mecânicos de aquecimento e arrefecimento, e disponibilizar novas ferramentas científicas e estruturas que beneficiarão futuras investigações e aplicações comerciais no setor da construção sustentável.

Este projeto, coordenado pela Universidade de Coimbra e com a colaboração de especialistas de Portugal, EUA, Eslováquia e Índia, foi contemplado com uma bolsa de aproximadamente 173 mil euros, no âmbito das Bolsas de Pós-Doutoramento Marie Skłodowska-Curie, atribuídas pela Agência Executiva Europeia de Investigação (REA), através do programa Horizonte Europa. Universidade de Coimbra - Portugal



Moçambique - O sentido de responsabilidade no conto “Decadência” de Eduardo Quive

As escolhas, feitas de forma racional ou sob influência de emoções, têm impacto no crescimento ou no declínio de quem as faz. O conto “Decadência”, um dos que compõe o livro Mutiladas (2024), do escritor moçambicano Eduardo Quive, descreve como a vida do protagonista é afectada pelas suas decisões.

No conto, é apresentada a história de Vitorino, um trompetista que faz digressões por vários países africanos, mas que tem de parar de tocar, depois de ter sido acometido pela tuberculose. De volta a Moçambique, e precisando de cuidados, percebe que só existe uma pessoa, do seu passado, a quem possa recorrer.

No auge da carreira, Vitorino Vitorino chega a actuar para delegações de chefes de Estado, porém, o que Rosália Mboa canta, na sua música intitulada “Pima Nhana”, “Tudo o que voa, vem para baixo, de vez em quando (…)”, acontece com Vitorino. Quando a sua carreira despenca, ele não só vai abaixo como lá permanece.

A situação enfrentada pela personagem de Eduardo Quive sugere que nenhuma das decisões tomadas por Vitorino, aquando do seu sucesso, inclui fazer investimentos que lhe gerassem renda, ter poupança ou manter relações saudáveis com familiares e/ou amigos na sua terra natal. O protagonista acomoda-se, assumindo suas conquistas como definitivas.

Vitorino atribui a culpa da sua miséria ao destino e à má sorte. Este aspecto leva à reflexão o conceito de locus de controle, um termo da Psicologia Social da Aprendizagem que, segundo Puerto (2023), é a percepção que uma pessoa tem sobre as causas dos eventos na sua vida.

O controle pode ser interno, quando o indivíduo atribui as causas ao seu comportamento, ou externo, quando atribui as causas a factores que não dependem de si.

Os pensamentos do personagem, como “(…) é lixado o destino” e “azar demais”, evidenciam que o seu locus de controle é externo, o que contribui para que ele se mantenha na inércia e não considere buscar mudanças, já que se vê como um interveniente passivo da sua própria vida.

O cenário descrito no conto não é diferente do de histórias reais que já foram tornadas públicas no nosso país. Jovens que alcançam o sucesso e perdem-se nas excentricidades, esquecendo-se de usar as oportunidades que têm para construir bases sólidas e um património sustentável. Quando, por alguma razão, “vêm para baixo”, tal como Vitorino, o seu comportamento é de vitimização. Culpam o destino, o azar e até as pessoas ao seu redor, menos a si próprios, transferindo a outrem a responsabilidade pela sua pobreza financeira e/ou mental.

O personagem do conto “Decadência” refere, num dos diálogos ao longo da narrativa, que tinha “o mundo a seus pés”, uma expressão que sugere “ter poder”, o implica controlo. A ocorrência pode levar à interpretação de que, em situações positivas, pode-se ter a tendência a assumir o locus de controle interno, atribuindo o protagonismo ao esforço individual, o que já não acontece com facilidade nas situações negativas.

Independentemente do tipo de crença predominante em cada um, um conselho válido a ser seguido é o que é dado por Rosália Mboa, ainda na música mencionada, anteriormente: “Pima nhana hiku gwira nhana, a mundzuku wa wena uta hi lava” (modera na forma com que te achas superior, porque amanhã podes precisar de nós). Afinal, quer se esteja em ascensão ou em decadência, os seres humanos precisam uns dos outros.

Com a história do trompetista, portanto, Eduardo Quive suscita uma reflexão sobre a importância de se fazer escolhas conscientes para que se evite sucumbir ao remorso. Jéssica Ponte – Moçambique in “O País”

Texto resultado das actividades na oficina de escrita sobre crítica de arte, na Fundação Fernando Leite Couto


Macau - Finalizados trabalhos de reparação da estátua de Luís Vaz de Camões

Já foram concluídos os trabalhos de renovação do busto de Camões, indicou o Instituto para os Assuntos Municipais ao Jornal Tribuna de Macau, acrescentando que o Instituto Cultural já inspeccionou o local. Recorde-se que a terceira estrofe de “Os Lusíadas” que consta na parte detrás do pedestal onde assenta o busto de Luís Vaz de Camões estava praticamente ilegível


O Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) indicou que “os trabalhos de renovação da estátua [de Camões] já foram terminados”. Recorde-se de que a terceira estrofe de “Os Lusíadas” que consta na parte detrás do pedestal onde assenta o busto de Luís Vaz de Camões estava praticamente ilegível.

Confrontado com esta situação em Julho do ano passado, o IAM tinha dito ao JTM que “já tinha verificado que as inscrições estão a desaparecer” e que estava a “acompanhar” a situação, tendo acrescentado que seriam realizados trabalhos de manutenção. Agora, o organismo indicou também ao Jornal Tribuna de Macau que “já foi feita uma inspecção pelo Instituto Cultural”.

A estrofe que já estava praticamente incompreensível era a número 81 do Canto VI:

“E ainda, Ninfas minhas, não bastava/ Que tamanhas misérias me cercassem,/ Senão que aqueles que eu cantando andava/ Tal prémio de meus versos me tornassem:/ A troco dos descansos que esperava,/ Das capelas de louro que me honrassem,/ Trabalhos nunca usados me inventaram,/ Com que em tão duro estado me deitaram”.

Num artigo de opinião publicado neste jornal no ano passado, o investigador António Aresta alertou para esta questão, dizendo que a estância precisava de ser reescrita. “Luís de Camões merece este desvelo, 500 anos depois”, defendeu.

Os dois primeiros excertos que constam do pedestal em pedra na Gruta de Camões ainda se conseguiam ler. Dizem respeito à estrofe 95 do Canto VI e à estância 42 do Canto VIII.

O Jardim de Luís de Camões, um dos mais antigos de Macau, foi criado em meados do século XVIII. Na Gruta, constituída por três grandes rochedos facetados, encontra-se então o busto de Camões, da autoria do escultor Manuel Maria Bordalo Pinheiro.

Diz-se que, em meados do século XVI, Camões (1524-1580) viveu em Macau durante dois anos, onde terá terminado, na Gruta que tem hoje o seu nome, a obra “Os Lusíadas”. “Com o patrocínio de 600 francos de um rico comerciante português de Macau, Lourenço Marques, genro de Manuel Pereira, a gruta foi renovada em 1849, sendo aí colocado um busto do poeta. Foi também erigido um pavilhão sobre a gruta, o qual já não existe. O último restauro da gruta data de 1866 e o busto do poeta foi refundido em bronze”, pode ler-se na página do património cultural de Macau. Catarina Pereira – Macau in “Jornal Tribuna de Macau”


Macau - Apoios atribuídos pela Fundação Macau quadruplicaram no primeiro semestre

A Fundação Macau concedeu quase 1,6 mil milhões de patacas de apoio financeiro entre Janeiro e Junho deste ano, um aumento significativo de quatro vezes mais em relação ao período homólogo do ano passado. Além dos subsídios dados a associações tradicionais, destacam-se os apoios para a Universidade de Macau relativos à aquisição de um terreno para o novo campus em Hengqin, envolvendo uma verba superior a mil milhões de patacas


Nos primeiros seis meses deste ano, a Fundação Macau deu aprovação a mais de mil pedidos de apoio financeiro, cujo montante de financiamento atingiu 1,59 mil milhões de patacas. O valor total representa uma subida acentuada de 306% em relação ao mesmo período do ano passado, quando foram canalizados 391 milhões de patacas.

O valor atribuído no primeiro trimestre deste ano foi de 1,26 mil milhões de patacas, equivalendo a um aumento anual de 556%, enquanto o do segundo trimestre foi de 325 milhões de patacas (+64%), segundo consta na lista de apoio financeiro actualizada pela entidade na Plataforma de divulgação pública das informações dos Serviços da Supervisão e da Gestão dos Activos Públicos.

Analisando os dados, a diferença no valor total concedido pela Fundação Macau no primeiro semestre do ano deveu-se principalmente a dois projectos aprovados a pedido da Universidade de Macau (UM). A instituição de ensino superior foi beneficiária de uma verba de 373,4 milhões de patacas em Janeiro, de 659,8 milhões de patacas em Fevereiro, e também de 139,2 milhões de patacas em Junho, o que totalizou em mais de 1,17 mil milhões de patacas.

A Fundação Macau indicou que foram apoios financeiros para a UM relativamente à aquisição de um terreno para fins educativos na Zona de Cooperação Aprofundada entre Guangdong e Macau em Hengqin. Os três pagamentos correspondem à “primeira prestação” e “última prestação” do subsídio, avançou o organismo.

A Fundação Macau financiou em Janeiro com 50 milhões de patacas a Fundação Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau, no âmbito do projecto do satélite “Macau Science Satellite-2”.

Nesse sentido, ao contrário do habitual, as associações tradicionais de Macau deixaram de ser as maiores entre as entidades beneficiárias. Das associações tradicionais, a União Geral das Associações dos Moradores de Macau continua, como habitualmente, a ser a entidade que recebeu mais subsídios, tendo angariado 36 milhões de patacas, com os montantes de 16,6 milhões e de 19,3 milhões de patacas nos dois trimestres, respectivamente.

Segue-se a Federação das Associações dos Operários de Macau, com um total de 28,7 milhões de patacas de subsídio recebido até Junho. A Associação Geral das Mulheres foi atribuída com 27,6 milhões de patacas, enquanto a Aliança de Povo de Instituição de Macau, associação ligada à comunidade de Fujian, recebeu 14 milhões de patacas.

Os apoios financeiros foram principalmente para as despesas de funcionamento das associações, bem como subsídios para organização de actividades comunitárias.

As entidades de matriz portuguesa estão também entre as beneficiadas. A Fundação Escola Portuguesa de Macau foi concedida com um montante de apoio financeiro de 9,8 milhões de patacas na primeira metade do ano, em termos de subsídios para actividades e despesas para o ano lectivo. Registou-se assim um acréscimo de 20% no valor de apoio financeiro obtido por este organismo em relação ao mesmo período do ano transacto.

Por sua vez, a Casa de Portugal em Macau recebeu um financiamento de 7,5 milhões de patacas, cuja maioria serviu para despesas de funcionamento da associação, além de apoio financeiro para actividades.

A Fundação Macau concedeu à Associação Promotora da Instrução dos Macaenses um apoio financeiro de 765 mil patacas. Já a Associação dos Macaenses recebeu 2,1 milhões de patacas, enquanto a Associação dos Jovens Macaenses angariou 121 mil patacas de subsídio para actividades. Catarina Chan – Macau in “Ponto Final”


terça-feira, 29 de julho de 2025

Portugal - Investigadora adverte que “euforia” à volta do batuco não é um ganho prático

Lisboa – A investigadora e dinamizadora cultural Crisálida Correia alertou em Lisboa (Portugal) que a crescente “euforia” à volta do batuco não é um ganho prático, estrutural e de conteúdo na valorização deste género musical cabo-verdiano.

A investigadora, que falava à Inforpress à margem de uma mesa-redonda denominada “Batuku – da proibição ao valioso contributo para o nascimento da Nação Cabo-verdiana”, lembrou que o batuco é um dos elementos culturais e de identidade mais ancestral na vida dos cabo-verdianos.

Para Crisálida Correia, que é autora do livro “Baskudja Identidade” (Vasculhar Identidade, em português), sobre a ancestralidade e identidade cabo-verdiana, apesar de o batuco ter ganhado alguma visibilidade nos últimos anos fora e dentro de Cabo Verde, a nível de identidade ainda não ganhou nada.

“Hoje existe uma crescente euforia à volta do batuco, mas a nível prático ainda não ganhou nada”, insistiu a activista cultural.

Segundo ela, batuco, que é um dos elementos culturais que mais lutou pela dignidade do povo cabo-verdiano, tem que fazer o seu percurso sozinho.

“Batuco fez um percurso desde a proibição, mas, hoje está a ser conhecido. Conhecimento do público não é ganho. Ganho é quando o batuco tomar o seu lugar na história enquanto arte mais ancestral de Cabo Verde e quando houver lei que o protege de verdade e lhe dá o protagonismo real”, defendeu.

Questionada se a elevação do batuco a Património Nacional Imaterial se não é um ganho, disse que não, insistindo que a nível prático, estrutural e de conteúdo ainda não ganhou nada.

Na ocasião, lamentou o facto de o batuco actualmente não ser uma música de intervenção como outrora, alertando que o reduzir apenas ao divertimento e dança vai pôr fim a este género musical mais ancestral de Cabo Verde.

A mesa-redonda, contou com a participação do dinamizador cultural e líder da Comunidade Mochinhos do Interior Moisés Varela, que partilhou a experiência desse grupo de batuco de Santa Cruz.

O evento, organizado pelo Centro Cultural de Cabo Verde (CCCV), em Lisboa (Portugal), enquadra-se no âmbito das comemorações dos 50 anos da independência de Cabo Verde, assinalados a 05 de Julho, e para assinalar o Dia Nacional do Batuco e do Dia da Mulher Africana, celebrados anualmente a 31 de Julho.

Paralelamente ao evento, que contou com participação especial das batucadeiras Finka Pé e do projecto Falas Afrikanas, foi exibido o filme "Marina", de Ricardo Leote, com produção da Editora Noz Raiz.

O Dia Nacional do Batuco foi instituído em 2021, com o objectivo reconhecer a sua importância como Património Nacional além de louvar os intérpretes e aqueles que ajudaram na criação do universo cultural diversificado que expressa, no batuco, a alma cabo-verdiana e reconhecer os direitos humanos, os direitos dos cidadãos, das populações e das mulheres.

O batuco é um género musical cabo-verdiano, tradicionalmente executado por mulheres, que se baseia na percussão e no canto e dança. É um património cultural de Cabo Verde, principalmente na ilha de Santiago. In “Inforpress” – Cabo Verde


França – Português Paulo Carneiro selecionado para residência artística na cidade de Paris

O realizador e argumentista português Paulo Carneiro foi selecionado para integrar a Residência CROMO, um programa internacional sediado em Paris que apoia a investigação e a criação artística

A residência decorrerá a partir de setembro e será nesse âmbito que o cineasta irá desenvolver o argumento da sua próxima longa-metragem, intitulada “Sónia Vai”, cuja rodagem está prevista para acontecer na Pontinha, nos arredores de Lisboa.

Através de uma publicação nas redes sociais, o realizador expressou a sua satisfação com esta oportunidade.

A participação de Paulo Carneiro nesta residência é possível graças ao apoio do Camões – Centro Cultural Português em França, da Cité internationale des arts e da Fundação Calouste Gulbenkian, em Paris.


Acrescente-se que “A Savana e a Montanha”, o mais recente filme de Paulo Carneiro, viu a sua estreia mundial este ano, na Quinzena dos Cineastas de Cannes. O filme é o retrato da comunidade de Covas do Barroso, no norte de Portugal, quando esta descobre que a empresa britânica Savannah Resources planeia construir a maior mina de lítio a céu aberto da Europa a poucos metros das suas casas. Perante esta ameaça iminente, o povo decide organizar-se para expulsar a empresa das suas terras.

O filme será exibido a 2 de agosto no Green Montenegro International Filmfest, em Montenegro. In “Bom dia Europa” - Luxemburgo


Portugal - Conselho das Comunidades Portuguesas Europa aprova moção de reconhecimento a Aristides de Sousa Mendes

O Conselho Permanente do Conselho das Comunidades Portuguesas aprovou por unanimidade, no passado dia 26 de julho, uma moção para recordar o nascimento de Aristides de Sousa Mendes, diplomata português que durante a Segunda Guerra Mundial ajudou milhares de pessoas a escapar ao regime Nazi

“O Conselho Permanente, nesta data reunido, aprova por unanimidade esta moção para registar e lembrar o nascimento, a 19 de julho de 1885, portanto, há 140 anos, na vila de Carregal do Sal, do ilustre compatriota Aristides de Sousa Mendes, diplomata português reconhecido por desobedecer a uma diretiva imoral do Governo de Portugal à época, que proibia a emissão de vistos de viagem a refugiados que procuravam desesperadamente fugir da perseguição nazista”, lê-se na introdução da moção, esta segunda-feira tornada pública pelos conselheiros das comunidades portuguesas.

“Ultrajado nos anos posteriores até que morresse na miséria, jamais deixou de cumprir com a defesa da justiça, da liberdade e da dignidade da pessoa humana, por isso, e finalmente, em 2020 a Assembleia da República concedeu-lhe Honras de Panteão Nacional, tendo em vista homenagear e perpetuar a memória de Aristides de Sousa Mendes enquanto homem que evocou o seu exemplo na defesa dos valores da liberdade e dignidade”, lê-se ainda.

A moção, que não recebeu qualquer abstenção ou voto contra por parte dos membros do Conselho Permanente, termina com a esperança de que “o seu exemplo seja o legado para os portugueses e portuguesas que vivem em Portugal ou nas comunidades espalhadas pelo mundo”. In “Bom dia Europa” - Luxemburgo


Brasil - Editora Rua do Sabão recebe o escritor moçambicano Adelino Timóteo

O renomado escritor moçambicano Adelino Timóteo desembarca no Brasil para uma agenda literária que reafirma os laços históricos e culturais entre África e Brasil. O autor será o convidado de honra da Festa Literária de Irecê (Flirecê), no interior da Bahia, e também participará de uma mesa especial, dedicada à sua trajetória e obra, na Casa Motiva, em Salvador, na Flipelô (Festa Literária Internacional do Pelourinho).


Durante sua passagem pelo Brasil, o autor lançará "Nós, os do Macurungo", publicado pela Editora Rua do Sabão. O novo livro chega após o sucesso comercial de suas obras anteriores no país, "Os oito maridos de Dona Michaela da Cruz" e "A biblioteca debaixo da cidade", que conquistaram leitores e ampliaram o reconhecimento de sua literatura entre o público brasileiro. A obra que será lançada no Brasil é ambientada em um dos bairros da cidade da Beira, o Macurungo, mergulhando em memórias coletivas e individuais marcadas por afetos, perdas e resistências. Com uma prosa poética e intensa, Adelino Timóteo amplia o alcance da literatura moçambicana, oferecendo um retrato íntimo e profundo da vida em um bairro africano.

Segundo Heider de Assis, gerente de comunicação da Editora Rua do Sabão: “A visita de Adelino Timóteo reafirma o compromisso da Rua do Sabão com o intercâmbio cultural entre os países lusófonos e oferece ao público brasileiro a chance de se conectar com uma literatura marcada pela força da memória, da identidade e da linguagem. A presença do autor na Bahia — estado que é símbolo da herança afro-brasileira — representa um momento de celebração e reconexão.”

Nós, os do Macurungo

Em Nós, os do Macurungo, o moçambicano Adelino Timóteo compartilha suas memórias da infância vivida no bairro Macurungo, na cidade da Beira. A localidade aparece como esplendorosa síntese e amostra de todo o país, refletindo as mentalidades, os hábitos e os tipos humanos de uma época crucial na história de Moçambique. O livro é mais do que um relato pessoal; é uma tentativa de resgatar e preservar a memória coletiva de um período esquecido ou negligenciado pela sociedade contemporânea.

Editora: Editora Rua do Sabão

• Data da publicação: 8 agosto 2025

• Edição: Português

• Número de páginas: 200 páginas SERVIÇO: Festa Literária Internacional de Irecê (Flirecê) Data: [31 de julho até 3 de agosto] Local: Irecê/Bahia Mesa na Casa Motiva – Flipelô Data: 08 de Agosto Local: Salvador/Bahia

Mais informações e agendamento de entrevistas:

comunicacao@editoraruadosabao.com.br


segunda-feira, 28 de julho de 2025

Moçambique - Nália Agostinho inaugura individual “Rasgo na Névoa” no Camões

A artista plástica Nália Agostinho vai inaugurar, esta terça-feira, a exposição de pintura “Rasgo na Névoa”, no Centro Cultural Português em Maputo. A individual conta curadoria de Jorge Dias e com texto de apresentação de José dos Remédios


Ao fim de dois anos sem expor, Nália Agostinho regressa às individuais de pintura. Com a mostra “Rasgo na névoa”, a artista plástica apresenta uma travessia visual e sensível, numa tentativa de tornar visível o que muitas vezes permanece encoberto, tanto no plano íntimo como no colectivo.

Com curadoria de Jorge Dias, a exposição de pintura surge do desejo de artista romper camadas de silenciamento, de confusão, de não-dito, que se acumulam sobre o corpo, sobre a história, sobre a memória. No entanto, não se trata de uma proposta conclusiva. Pelo contrário, é um gesto de abertura, de interrupção do silêncio, de criação de uma fresta por onde se possa respirar, ver, sentir. É um espaço de escuta e de presença.

Durante a produção da individual de pintura, Nália Agostinho revela que “Aprendi a aceitar a névoa como parte do caminho, não como um erro ou obstáculo, mas como um território fértil de sensações e intuições. Nem tudo precisa de ser claro de imediato”.

Segundo disse a artista, que tem exposto em Moçambique, África do Sul, Portugal e Espanha, o processo criativo exigiu coragem para estar no não-saber, para habitar as ambiguidades. E confessa: “Houve momentos em que precisei de escavar memórias, revisitar feridas, desmontar certezas. Mas foi também um tempo de reencontro com a minha voz, com a minha própria pulsação criativa, após períodos de bloqueio e transição. Aprendi que o rasgo nem sempre é brusco, por vezes é lento, quase imperceptível. Mas, uma vez feito, transforma tudo à sua volta”.

Ao nível mais simbólico, a individual de pintura de Nália Agostinho representa o momento em que algo se revela, mesmo que parcialmente, mesmo que por instantes. É a fresta por onde passa a luz, o som, o corpo que se afirma. É o gesto de romper com silenciamentos, tanto internos como externos. “A névoa, para mim, representa o estado em que muitos de nós vivemos: entre sobrecargas emocionais, pressões sociais, histórias interrompidas. Já o rasgo é o acto de resistência, um gesto íntimo e político de ver e de ser vista”, reforçou a artista: “Representa também o feminino na sua força suave, na capacidade de criar a partir da névoa, de costurar o invisível com delicadeza, sem medo da vulnerabilidade”.

De acordo com o ensaísta José dos Remédios, que assina o texto de apresentação da mostra, “Com uma determinação inabalável, identificada nos traços contínuos e nos objectos propostos, Nália Agostinho tão-somente dá ouvidos à imaginação criativa, que, geralmente, se complementa com a definição do corpo, mas quando a alma é, disfarçadamente, a realização maior. Quer dizer, os acrílicos sobre tela, combinados com carvão e pastéis, integram uma mostra movediça no lugar da imprevisibilidade temática e estética”. E o ensaísta diz mais, ao sublinhar que, em “‘Rasgo na névoa’, a pretensão preponderante vai além da imagem aparente. Na verdade, o que move a artista é um conflito tácito entre os anseios minimalistas e as realizações experimentalistas, entre a cólera e o afecto, o caos e a esperança, claro está, que se dilui no efeito às vezes sombrio da cor”.

No Camões – Centro Cultural Português em Maputo, “Rasgo na névoa” estará patente entre 29 de Julho, com inauguração às 17h30, e 15 de Agosto.

Sobre a artista

Nália das Dores R. J. Agostinho nasceu em 1990, em Maputo. É formada em Ciências Políticas, em Trento. Filha de amantes da música e das artes, Nália foi estimulada desde cedo a explorar a sua criatividade e a olhar o mundo através das diversas formas de expressão artística.

Formada na Escola Nacional de Música, em 2006, no entanto, foi em 2018, após seu retorno a Moçambique, que a sua verdadeira paixão pela pintura floresceu, quando a necessidade de se expressar de maneira mais profunda e autêntica se tornou urgente. A sua arte é um espaço de fusão, onde o visível e o invisível, o micro e o macro, o espiritual e o terreno se encontram.

Nália Agostinho já expôs na Casa da Cultura, no Centro Cultural Moçambicano- Alemão, na FACIM, no 16 Neto, em Maputo; na Xavier Gallery, e na Gallery K, em Joanesburgo, África do Sul; no Espaço Espelhos d’Agua, em Lisboa, Portugal; no Delírio Estúdio, em Madrid, Espanha. In “O País” - Moçambique


Portugal - Carlos Ascenso André conquistou o Prémio D. Diniz

Carlos André, professor coordenador honorário da Universidade Politécnica de Macau, conquistou o Prémio D. Diniz, atribuído pela Fundação da Casa de Mateus pela tradução de “Arte de Amar”


O júri do Prémio D. Diniz distinguiu, entre as obras publicadas em 2023, o professor Carlos Ascenso André, professor honorário da Universidade Politécnica de Macau e presidente do Conselho Científico da Academia das Ciências de Lisboa, pela sua tradução de “Arte de Amar”, de Ovídio (Quetzal), anunciou a Fundação da Casa de Mateus.

Segundo a Fundação, a nova versão de “Arte de Amar”, de Ovídio, destaca-se como “a primeira tradução portuguesa feita directamente do original latino e publicada em edição bilíngue”. “Esta obra insere-se num notável movimento editorial de regresso aos clássicos, revelando ao leitor contemporâneo toda a riqueza e complexidade do verbo ‘amar’, tal como o concebeu Ovídio, da sedução à transgressão, da liberdade à obsessão, do prazer à sátira”, refere a mesma nota, ao justificar o prémio atribuído a Carlos André, antigo director da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e ex-coordenador do Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa do então Instituto Politécnico de Macau.

Por outro lado, no que respeita às publicadas em 2024, o júri do Prémio D. Diniz, composto por Fernando Pinto do Amaral (presidente), Pedro Mexia e Mário Cláudio, decidiu distinguir J. Rentes de Carvalho, pela sua obra “Cravos e Ferraduras” (Quetzal).

“Cravos e Ferraduras”, de J. Rentes de Carvalho, oferece um “retrato acutilante” de Portugal, atravessando os 50 anos do 25 de Abril. “Com o olhar arguto que lhe é característico, o autor reúne dezenas de textos -contos, crónicas e textos diarísticos – em que observa o país de ontem e de hoje, revelando, com rara mestria, as suas continuidades e contrastes”, destaca a Fundação da Casa de Mateus.

Para o júri do prémio, Rentes de Carvalho “faz com os portugueses o que fez em com os holandeses, vê gente com virtudes e defeitos, manhosos como só nós sabemos, enquanto doseia, como só ele sabe, o sarcasmo e a empatia”.

Instituído pela Fundação da Casa de Mateus em 1980, o Prémio D. Diniz distingue anualmente uma obra de poesia, ensaio ou ficção ou a tradução portuguesa de uma obra fundamental do cânone literário. Em 2023 foi atribuído a Jorge Calado, com “Mocidade Portuguesa” (Imprensa Nacional-Casa da Moeda), e em 2022 a José Tolentino Mendonça, com “Introdução à Pintura Rupestre” (Assírio & Alvim). A lista de premiados inclui, entre outras personalidades, Agustina Bessa Luís (1980), José Saramago (1984), Eduardo Lourenço (1995), António Lobo Antunes (1999), Maria Teresa Horta (2011) ou Jorge Silva Melo (2021).

O prémio tem o apoio da Direcção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas. A cerimónia de entrega dos prémios terá lugar na Fundação da Casa de Mateus, em data a anunciar. In “Jornal Tribuna de Macau” - Macau


Portugal - Faculdade de Letras da Universidade do Porto e Câmara de Miranda do Douro unidas na promoção da língua e cultura mirandesas

Parceria visa reforçar o ensino, a investigação e a valorização da língua e cultura mirandesas, património do Nordeste Transmontano


No passado dia 8 de julho, a Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP) e a Câmara Municipal de Miranda do Douro celebraram um protocolo de colaboração com o objetivo de reforçar a cooperação técnico científica entre as duas instituições na promoção da língua e cultura mirandesas.

O protocolo agora assinado pela Diretora da FLUP, Paula Pinto Costa, e pela Presidente da Câmara Municipal, Helena Barril, prevê a realização de cursos, projetos de investigação, iniciativas culturais e outras ações que contribuam para a dinamização e salvaguarda do uso da Língua Mirandesa, dentro e fora do território de origem.

Para a Câmara Municipal de Miranda do Douro, esta colaboração constitui, nas palavras de Helena Barril, “um passo importante na salvaguarda e promoção do património identitário” da região.

Por sua vez, Paula Pinto Costa lembra que “enquanto instituição de ensino superior dedicada ao estudo das humanidades, a FLUP assume com responsabilidade e orgulho o compromisso de contribuir para a valorização da diversidade linguística e cultural do nosso país”.

“O mirandês é uma expressão viva dessa riqueza, e esta parceria reforça a nossa dedicação à investigação, ao ensino e à difusão de patrimónios que integram a identidade portuguesa”, refere a Diretora da FLUP.

Mais de duas décadas a defender a Língua Mirandesa

Desde 1999 que, por lei aprovada por unanimidade na Assembleia da República, foram reconhecidos os direitos linguísticos dos falantes de Língua Mirandesa, património linguístico de origem asturo-leonesa, ainda falado por cerca de 1500 a 5000 pessoas na Terra de Miranda, abrangendo o concelho de Miranda e algumas aldeias confinantes dos concelhos de Mogadouro e de Vimioso.

O mirandês é um testemunho vivo da diversidade cultural e histórica do país, cuja preservação requer um esforço contínuo de valorização e difusão. O declínio do número de falantes registado nas últimas décadas tem levado ao concretizar de medidas urgentes para a salvaguarda e persistência deste património imaterial.

É a esse “combate” que se tem dedicado José Francisco Meirinhos, principal dinamizador do protocolo agora celebrado e responsável pelas correspondentes atividades que serão geridas durante o próximo triénio.

Há vários anos que o docente da FLUP organiza regularmente na Faculdade iniciativas relacionadas com a valorização da Língua e Cultura Mirandesa, como colóquios, conferências e apresentações de livros. Foi também José Francisco Meirinhos quem impulsionou, em 1999, a realização da reunião final para a aprovação da Convenção Ortográfica da Língua Mirandesa na FLUP.

Nesse mesmo ano, foi criado um grupo informal, o Centro de Estudos Mirandeses (CEM), que, embora de funcionamento pontual, tem desempenhado um papel importante na dinamização de atividades, na publicação de obras e na colaboração com entidades locais.

O CEM colabora com a Biblioteca da FLUP, constituindo e atualizando um fundo bibliográfico e documental dedicado ao mirandês e à cultura mirandesa. Mais recentemente, o seu trabalho passou também por uma parceria com a Wikimedia Portugal, no apoio ao desenvolvimento da Biquipédia, l’anciclopédia lhibre an lhéngua mirandesa.

Desde 2019, a FLUP oferece, ainda, um curso livre de Língua Mirandesa, reforçando o seu compromisso com a difusão desta língua minoritária. Universidade do Porto - Portugal