Minha
intenção era a de publicar uma espécie de thriller, anunciando o
desembarque de tropas dos fuzileiros navais norte americanos, em Brasília, para
ir buscar na praça dos Três Poderes, no prédio do STF, Alexandre de Moraes e mais sete ministros,
deixando só três, e levá-los a uma prisão na Flórida, onde seriam recebidos
pelo presidente Donald Trump e por seu ajudante de ordens, o deputado federal
Eduardo Bolsonaro, sob os acordes do hino Deus Salve a América (God Bless America).
Hino
patriótico, adotado pelos países americanos ao fim da Segunda Guerra Mundial
que, nós alunos do curso secundário no Colégio Estadual Canadá em Santos,
cantávamos com emoção nas aulas de Canto Orfeônico.
A
tradução certa seria - Deus Abençoe, mas se preferiu Salve a América por
exigência silábica para cantar.
Porém,
nos dias de hoje, com Donald Trump, seria mesmo necessário Deus salvar os
Estados Unidos da América, diria o escritor inglês François Heisbourg,
consultor e conselheiro na Fundação pela Pesquisa Estratégica, que acaba de
publicar seu 23.º livro O Suicídio da América, avaliando a participação
da presidência de Trump nesse suicídio da América como potência imperial.
Entretanto,
prefiro deixar para mais tarde a intromissão de Trump e da Justiça da Flórida,
no julgamento do ex-presidente Bolsonaro por tentativa de golpe, assim como a
visão pessimista do competente analista Heisbourg sobre o declínio e fim da
potência norte-americana.
Porquê?
Para tratar da atualidade de um tema jornalístico, resumido no título de uma
reportagem do jornal suíço Le Temps: A liberdade de imprensa resiste ao
segredo bancário.
Esse
tema me leva a um período no qual conheci e me aproximei, como jornalista, do
maior inimigo do segredo bancário suíço, o sociólogo, político e militante Jean
Ziegler, cujos livros e cujo combate fizeram os bancos suíços aceitarem abrir
as contas de seus clientes, no caso de processo judicial.
No
meio desse encontro com Ziegler, que foi relator especial da ONU, professor na
Universidade de Genebra, no Instituto de Desenvolvimento e na Sorbonne,
ex-deputado federal socialista, surgiu o caso Paulo Maluf, ex-governador e
ex-prefeito paulistano acusado de corrupção e desvio de dinheiro público para
bancos suíços e paraísos fiscais.
O caso Maluf se arrastou desde o ano
2001 até março do ano passado, quando, enfim, a Justiça suíça devolveu ao
Brasil 82 milhões de reais, depositados em
contas bancárias suíças.
O
Observatório da Imprensa acompanhou o "caso Maluf", pois nesse
período a Geração Editorial, publicou meu livro O Dinheiro Sujo da Corrupção,
com prefácio de Jean Ziegler, contando como foi possível revelar o desvio do
dinheiro público paulistano com o apoio do meu colega suíço Jean Noel Cuenod,
do jornal Tribune de Genebra.
Porquê
essa recordação? Porque hoje, a imprensa suíça publica a decisão da Justiça
cantonal de Zurique, protegendo as fontes do portal jornalístico Inside
Paradeplatz, dirigido por Lukas Hassig, e especializado na praça financeira
suíça. Esse portal tinha denunciado há nove anos diversos banqueiros suíços,
entre eles o dirigente do banco Raiffeisen, já condenado em primeira instância,
mas com novo julgamento em 2026, por ter entrado com apelo contra a condenação.
Ironia
do destino, antes eram as contas bancárias protegidas pelo segredo, agora são
protegidas as fontes dos jornalistas que permitiram a descoberta de corrupção
no procedimento do ex-diretor do banco.
Para
resumir, nessa história das "contas do Maluf", escrevi um livro mas
perdi meu posto de correspondente em Genebra. Porquê? Eu mesmo não sabia, mas
foi o jornalista Carlos Aranha, da Paraíba, já falecido, quem contou para o
Observatório da Imprensa.
E,
hoje ao escrever este texto, nova surpresa: uma entrevista ao jornal Correio da
Paraíba, concedida por ocasião da publicação de meu livro, que eu não tinha
visto publicada, e aqui transcrita no Observatório da Imprensa, no
armazém Literário por Lúcio Vilar!
Na
abertura dessa entrevista, se fala na minha demissão da CBN e, mais adiante, me
refiro ao colega paraibano Carlos Aranha, que publicou também aqui no OI, sua
opinião de ter sido uma demissão pedida por Maluf. Rui Martins – Suíça
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Rui Martins -
Jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. Criador
do primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas,
que levou à recuperação da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos
emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu Dinheiro sujo da
corrupção, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto
Carlos, A rebelião romântica da Jovem Guarda, em 1966. Foi colaborador do
Pasquim. Estudou no IRFED, l’Institut International de Recherche et de
Formation Éducation et Développement, fez mestrado no Institut Français de
Presse, em Paris, e Direito na USP. Vive na Suíça, correspondente do Expresso
de Lisboa, Correio do Brasil e RFI.
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