A Antarctic and Southern Ocean Coalition (ASOC) é a vencedora do Prémio Gulbenkian para a Humanidade 2025 pelo seu trabalho na proteção de um dos mais cruciais e frágeis ecossistemas do mundo e na preservação de um dos territórios mais remotos do planeta
O
júri independente, presidido por Angela Merkel, selecionou o vencedor de entre
212 nomeações de 115 países, pela sua liderança na proteção de regiões vitais
para a estabilidade climática global, a colaboração internacional e a advocacy
sustentada na ciência.
Desde
a sua fundação, em 1978, a ASOC reuniu organizações ambientais de prestígio de
mais de 10 países, formando uma coligação resiliente e articulada de membros,
parceiros, ativistas e apoiantes. Visto que a Antártida se encontra fora da
jurisdição de uma só nação, a cooperação multilateral tem sido essencial para a
sua proteção. Ao longo dos últimos 50 anos, a ASOC tem demonstrado, de forma
consistente, como uma voz única, assente num objetivo partilhado e num
compromisso a longo prazo, pode influenciar a governação e a preservação de um
dos ambientes mais intocados do planeta.
Apesar
da sua localização remota, a Antártida é um pilar da estabilidade global. O
Tratado da Antártida, assinado em 1959, atribuiu-lhe a designação de continente
de paz e cooperação, tornando-a reserva para fins pacíficos e de investigação
científica. Com cerca de 90% do gelo terrestre e cerca de 70% da água doce do
planeta, a Antártida é fundamental para este esforço. O Oceano Antártico
representa, por si só, cerca de 10% do oceano global e alberga quase 10.000 espécies únicas. As
suas poderosas correntes regulam as temperaturas do planeta, impulsionam os
ciclos de nutrientes e sustentam a biodiversidade marinha que constitui a base
da cadeia alimentar global. Contudo, a região encontra-se atualmente num
momento crítico, enfrentando impactos climáticos acelerados, nomeadamente
anomalias extremas na temperatura, ondas de calor marinhas e diminuição do gelo
marinho, com partes da Antártida a aquecerem mais do dobro da média global.
O
Prémio é atribuído numa altura em que as Nações Unidas declararam 2025 como o
Ano Internacional da Preservação dos Glaciares, lançando a Década de Ação para
as Ciências da Criosfera (2025-2034). A comunidade internacional está
finalmente a reconhecer o papel essencial da criosfera — os mantos de gelo, os
glaciares e as calotes polares da Terra — na regulação do clima. A liderança da
ASOC ajuda a transformar o conhecimento científico em ação global,
salvaguardando os sistemas dos quais a vida na Terra depende.
Claire Christian, Diretora Executiva da ASOC: “É uma honra para a ASOC receber o Prémio Gulbenkian
para a Humanidade, que vem afirmar e reconhecer o poder da ação coletiva e a
importância vital de proteger o Antártico e o Oceano Austral. Estas regiões
podem parecer distantes, mas são fundamentais para a saúde e o futuro do
planeta. Aceitamos este prémio em nome da nossa coligação e de todos os que
continuam a proteger um dos últimos ecossistemas ainda intocados da Terra.”
Angela Merkel, Presidente do Júri: “A região da Antártida é um ecossistema único e frágil,
particularmente vulnerável aos efeitos das alterações climáticas. Ao situar-se
fora da jurisdição de um só país, a região precisa de um nível extraordinário
de cooperação internacional para proteger e preservar este recurso precioso. O
Júri quis reconhecer as conquistas da Antarctic and Southern Ocean Coalition e
a forma como tem demonstrado que a colaboração global é possível. A Antarctic
and Southern Ocean Coalition transmite esperança às gerações vindouras e é uma
justa vencedora deste prémio.”
António Feijó, Presidente do Conselho de Administração da
Fundação Calouste Gulbenkian:
“Aliando ciência, persuasão e cooperação internacional é possível fazer face a
um dos maiores desafios globais: as alterações climáticas. O trabalho da
Antarctic and Southern Ocean Coalition mostra-nos que é essencial proteger os
lugares mais remotos da Terra, a fim de salvaguardar o nosso futuro comum. A
Fundação reconhece o trabalho feito e o compromisso inabalável da ASOC com o
planeta”.
O
Prémio é uma iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian e visa distinguir
indivíduos e organizações que lideram os esforços da sociedade para enfrentar
os maiores desafios da Humanidade: as alterações climáticas e a perda da
biodiversidade. No valor de um milhão de euros, o Prémio distingue
contribuições excecionais para a ação climática e soluções climáticas que
inspiram esperança e novas possibilidades.
Este
é o sexto ano em que o prémio é atribuído. Em 2020, no seu primeiro ano, foi
atribuído a Greta Thunberg; em 2021, foi atribuído ao Pacto Global de Autarcas
para o Clima e a Energia; em 2022, a Plataforma Intergovernamental Científica e
Política sobre a Biodiversidade e os Serviços dos Ecossistemas (IPBES) e o
Painel Intergovernamental sobre as Alterações Climáticas (IPCC) foram os
vencedores conjuntos; e em 2023, Bandi “Apai Janggut”, líder comunitário
tradicional da Indonésia, Cécile Bibiane Ndjebet, ativista e agrónoma dos
Camarões, e Lélia Wanick Salgado, ambientalista, designer e cenógrafa do
Brasil, foram igualmente distinguidos em conjunto.
Em
2024, o Prémio foi atribuído em conjunto a Andhra Pradesh Community Managed
Natural Farming (Índia), um programa estatal que apoia a transição de pequenos
agricultores, predominantemente mulheres, para a agricultura natural; a Rattan
Lal (EUA/Índia), um cientista pioneiro na abordagem da agricultura centrada no
solo; e a SEKEM (Egito) com a sua Associação Biodinâmica Egípcia, uma rede que
permite aos agricultores a transição para práticas regenerativas.
Sobre a Antarctic and Southern
Ocean Coalition
Desde
1978, a ASOC tem sido a principal voz da conservação da Antártida, trabalhando
exclusivamente para a sua proteção e a do Oceano circundante. Sendo a única ONG
ambiental convidada a participar como observadora nas reuniões do Tratado da
Antártida, a ASOC trabalha ao mais alto nível na governação polar. A sua
presença garante que as preocupações ambientais não só são ouvidas, mas também
integradas nas políticas e ações relativas à região.
A
ASOC representa a comunidade de conservação da Antártida nos corredores do
poder onde são tomadas decisões de importância global sobre o seu futuro.
Trabalhando em conjunto com os 21 membros da Coligação, parceiros, ativistas e
apoiantes, a ASOC informa e incentiva os líderes mundiais a proteger a
Antártida em prol de toda a humanidade
Sobre o Prémio Gulbenkian para a Humanidade
No
valor de 1 milhão de Euros, o Prémio Gulbenkian para a Humanidade distingue indivíduos, organizações e grupos que lideram
os esforços da sociedade para enfrentar o maior desafio enfrentado pela
humanidade: as alterações climáticas. O Prémio distingue contribuições
excecionais para a ação climática e soluções climáticas que inspiram esperança
e novas possibilidades. O Prémio é uma demonstração clara do compromisso
estratégico da Fundação Calouste Gulbenkian para com a sustentabilidade e a
equidade.
Criado
em 2019 e entregue pela primeira vez em 2020, o Prémio Gulbenkian para a
Humanidade não só reflete o legado de Calouste Gulbenkian, como também está a
criar um legado próprio, possibilitando que as pessoas façam enormes avanços no
combate às alterações climáticas. Ajudar a humanidade a ultrapassar o maior
desafio que enfrentamos constituirá o derradeiro legado do Prémio. Fundação
Calouste Gulbenkian - Portugal
Sem comentários:
Enviar um comentário