Quem
viu a presidente da Suíça confessar a impotência da Suíça, "um país
pequeno" disse ela, para fazer frente ao presidente Trump, imaginou que
dias difíceis viverá o Brasil, mesmo sendo um país muito maior! Mas não poderia
imaginar a ousadia de Trump em desfechar uma tentativa de atentado à soberania
brasileira, utilizando da pressão econômica e política contra o STF e contra o
governo brasileiro.
Ainda
há alguns dias, Trump reafirmava indiretamente estar decidido a punir o Brasil
ao mostrar, numa entrevista, sua preocupação por Bolsonaro, definindo-o como um
homem de bem injustiçado, que não deveria ser processado.
Os
temores se confirmaram com a decisão do presidente Trump de utilizar o tarifaço
como instrumento político e de chantagem contra o Brasil, mais especificamente
contra o ministro do STF Alexandre de Moraes, enquadrando-o na lei Magnitsky.
No
domingo, numa propriedade de Trump na Escócia, era a presidente da Comissão Europeia,
Ursula von der Leyen, praticamente obrigada a apertar a mão de Trump, que
"comemorava" a celebração de um acordo comercial de exportação e
importação com os Estados Unidos, considerado uma derrota pela maioria da
imprensa e políticos europeus, um acordo qualificado de capitulação, humilhação
e submissão pela correspondente do jornal suíço Le Temps.
O
tarifaço imposto por Trump à Suíça é de 31%, as negociações prosseguem nos EUA,
mas como diz a presidenta Karin Keller-Sutter, às vésperas da Festa Nacional
suíça, "nós não somos uma superpotência. Temos uma certa força econômica
mas não política, temos de levar isso em conta. Agora está nas mãos dos Estados
Unidos, nas mãos do presidente Donald Trump".
Com
esse tipo de capitulação declarada, a Suíça dá a impressão de não estar
negociando com Trump mas esperando um favor.
Porém,
antes dessa declaração ser tomada como submissão e aceitação de uma derrota, a
presidenta suíça acrescenta, numa tentativa de salvar as aparências: "mas
não devemos nos fazer mais pequenos do que somos".
Difícil
de reagir diante de um Trump prepotente, cheio de si, capaz mesmo de dar um
ultimato a Putin para acabar com a guerra à Ucrânia, valendo-se de sua maioria
absoluta na Câmara, Senado e na Suprema Corte, agindo com a arrogância de um
ditador ou imperador absolutista.
A
orgulhosa alemã Ursula von der Leyen, representando os 27 países da União Europeia,
foi obrigada a ir à Escócia para negociar com Trump, no intervalo de suas
partidas de golfe, e obter a diminuição das tarifas aduaneiras de 30% a 15%
para os produtos europeus exportados para os EUA, enquanto os produtos norte
americanos entrarão livremente na Europa.
Uma
verdadeira capitulação contra a qual os europeus não vão usar o instrumento
anti-coerção, a prometida "bazuca europeia" contra a pressão de
Trump. A União Europeia terá de comprar petróleo, seus derivados, armamentos e
investir nos EUA uma parte de sua economia, sem contrapartida dos
norte-americanos. Até agora, só a China
foi capaz de peitar o super-presidente Trump.
Um
ex-presidente do Banco Mundial, Prêmio Nobel de Economia de 2001, Joseph
Stiglitz, elogiou a atual resistência do presidente Lula
ao tarifaço de Trump e esperava reação semelhante, que não houve, de outros
líderes mundiais. Tão logo foi conhecida a decisão de Trump de manter o
tarifaço contra o Brasil, acompanhado do vergonhoso enquadramento do ministro
Alexandre de Moraes na lei Magnitsky, o presidente Lula,
falando em nome de todos os brasileiros, repudiou o ataque de Trump à nossa
independência e à soberania brasileira.
O
economista Stiglitz também se referiu ao ataque dos seguidores de Bolsonaro aos
prédios dos Três Poderes, em Brasília, já presos e punidos severamente, e ao
ataque do Capitólio pelos seguidores de Trump, já anistiados, afirmando serem
mais firmes as instituições brasileiras.
Outro
Prêmio Nobel de Economia, em 2008, Paul Krugman, defendeu a decretação de um impeachment de
Trump depois de ter taxado em 50% as exportações brasileiras.
E
aqui, diferente das taxas aduaneiras para a Suíça e União Europeia, entra outro
fator. O tarifaço contra o Brasil não é só uma regulamentação econômica
aduaneira, mas tem um objetivo político: punir o Brasil e utilizar o tarifaço
como chantagem contra os ministros do STF, para proteger o ex-presidente
Bolsonaro, prestes a ser condenado à prisão por tentativa de golpe, para
implantar uma ditadura no Brasil.
Os
dois prêmios Nobel de Economia não falaram, mas Trump parece agora também
interessado em utilizar o tarifaço para fazer também chantagem ao Brasil, a fim
de permitir aos EUA a exploração dos minerais estratégicos brasileiros.
Mostrando
ser um especialista em chantagens, Trump parece oferecer ao Brasil, com a
entrega da exploração dos minerais estratégicos aos EUA, uma variante à
anulação do processo de Bolsonaro e decretação de anistia geral aos golpistas.
Essa variante eliminaria o atual despertamento do nacionalismo em defesa das
instituições brasileiras, contra a ameaça de pressão e intervenção
norte-americanas no Executivo e Judiciário.
Uma
reação visível no distanciamento de uma parte da direita à armadilha montada,
nos EUA, pelo deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro com apoio de Paulo
Figueiredo, neto do ditador João Figueiredo, para salvar Jair Bolsonaro ao
preço de uma crise econômica no Brasil. A trama de Eduardo Bolsonaro, pela qual
tem sido qualificado como entreguista e traidor da pátria, tem provocado
crescimento de Lula nas sondagens, divergência entre os líderes do agronegócio
e queda dos prováveis candidatos bolsonaristas à presidência Tarcísio, Zema e
Caiado. Rui Martins – Suíça
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Rui Martins é
jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. Criador
do primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas,
que levou à recuperação da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos
emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu “Dinheiro Sujo da
Corrupção”, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto
Carlos, “A Rebelião Romântica da Jovem Guarda”, em 1966. Vive na Suíça,
correspondente do Expresso de Lisboa, Correio do Brasil e RFI.
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